Desde que liderou a rebelião contra seu Criador foi condenado a Sheol, o inferno, onde instaurou seu próprio reinado. Muitos o seguiram, porque acreditaram nele. Tornaram-se seus serviçais ou aliados. No entanto, Lúcifer se sente sozinho e cansado de sua existência. Depois de trai-Lo, sente falta de Deus, da essência divina, de uma razão verdadeira para a sua vida. Seria possível, um dia, a Ele retornar? Agora conhecido como Heylel, é na Terra que Lúcifer encontra alguém que mudaria seus sentimentos. Anna, uma bela mulher, ensinou-lhe o amor e presenteou-o com uma filha. Heylel amou ambas com todo o seu coração. Mas nem sempre é possível viver o que se deseja. Heylel não é humano e sua essência desvirtuada já não é divina. Ele é o Senhor de Sheol e seus demônios não estão contentes com a passividade de seu líder. Uma guerra se aproxima e Heylel precisará envolver nela seu bem mais precioso: sua família. Carregado de tensão, incertezas, amores, bruxas, anjos e demônios, esse romance convida o leitor a pensar que nem sempre o que sabemos é verdadeiro. Até mesmo o Diabo pode surpreender!
Ler maisMiguel, sabe que precisamos fazer algo, não há como deixarmos isso acontecer. São dois poderes que aniquilariam o mundo! Arcanjo Miguel estava sentado sobre uma imensa nuvem, que parecia prestes a se dissolver a qualquer momento. Sua cabeça estava abaixada e seus olhos focavam a Terra e além dela, observando uma morada e a cena do que parecia ser uma simples família. Rafael tinha razão, algo precisaria ser feito, mas Miguel ainda não sabia como levar aquela notícia a Ele, não poderia imaginar o quão ferido ficaria o coração de seu Pai se tocasse no nome de Lúcifer. – Tem razão, Rafael, tem toda a razão, mas esqueceu de algo importante... – Virou-se para o amigo que o olhava curioso, sem entender sobre o que falava. – Temos algo em nosso favor, um aliado importante em toda essa trajetória. – Ora... não sei, Miguel. – O anjo o fitava com temor, não acreditando que a ideia em questão fosse dar certo. – Ele é apenas um menino e não se mostrou muito eficiente até
Eu não entendo, não entendo... Como pôde? Como simplesmente permitiu que a levassem sem nem ao menos lutar, Belial? Samyaza estava enfurecida, andava de um lado para o outro gritando ao ponto de ensurdecer qualquer ser humano. Acusava Belial e sentia o desejo por sangue. Sua mente trazendo imagens dos seres feridos, seu ódio aumentando de forma desproporcional quando avisada do número de baixas naquele dia. Belial, no entanto, estava sentado em uma larga e grande poltrona. Ele a olhava caminhar agitada, encolhendo-se, ora ou outra, diante dos gritos. Sua expressão serena quase escondia a monstruosidade da besta. – Acalme-se! Vai acabar rasgando o vestido ou abrindo um buraco em meu chão. – Me acalmar?! Você quer que eu me acalme? – Sim, há muito para você aprender ainda. Nem sempre recuar quer dizer perder. Recuos estratégicos significam vitória no futuro. Já deveria saber disso. – Conte-me exatamente o que quer dizer com isso, Belial!
“A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace.” (Victor Hugo) Naiara não sabia exatamente para onde estava indo, somente corria pelos corredores da fortaleza com seus instintos a direcionarem seus passos, tendo todos ao seu redor. Sentia como se as paredes a chamassem, orientando o caminho a seguir. Somente ouvia-se o barulho dos passos e a respiração acelerada do grupo. Estava tão focada no caminho, levada por seu instinto, que não se deu conta do comitê que os esperava assim que um dos grandes corredores terminou, revelando um amplo espaço aberto. No centro dele, Belial sorria com sarcasmo e Samyaza, ao seu lado, ainda parecia usar um irritante vestido a vácuo. A menina parou de súbito, deparando-se com seus inimigos e notando que o grupo às suas costas imitou seu movimento. – Que pena! Estava tão bonita, pequena Naiara, enquanto corria ao encontro da mamãe
“Em tempo de paz convém ao homem serenidade e humildade; mas quando estoura a guerra deve agir como um tigre!” (William Shakespeare) A imagem seria maravilhosa se o objetivo não fosse atacar e destruir. Saíram em formação de V com Heylel à frente, Naiara ao seu lado direito e Agares ao seu lado esquerdo. Élida, Yekun e Abigor seguiam nas laterais. Assim que cruzaram a porta principal, depararam-se com um exército incontável de criaturas das mais variadas formas e quase todas faziam a espinha da jovem gelar de pavor. Estavam todas abaixadas sobre um joelho, reverenciando a chegada de seu mestre, um mar negro e vermelho de peles grossas, corpos gigantes e dentes afiados. Garras para as quais não se fazia necessário arma, algumas cujo longo rabo trazia em sua ponta um punhal venenoso. Heylel parou diante dos seus soldados, maravilhado. Havia um brilho diferente em seus olhos, estava claro que a guerra despertava o melhor e o pior nele. Naiara se viu tão a
– Nai... – Agares sacudia os ombros dela com gentileza. – Você está sonhando, acorde. Ela se sentou e se encolheu nos braços dele, ainda sentindo a presença de Yekun por todo o seu corpo e o gosto de seus lábios nos dela. Sentia-se culpada por algo que não fez e o cuidado de Agares a abraçando deixava a situação um pouco pior. – O que foi? Você está tremendo, com o que estava sonhando? – Não me lembro – mentiu. – Só me abraça e não me deixa, por favor. – Claro que não... Vem cá. – Puxou-a ainda mais para si, ajeitando a coberta grossa sobre ela, aninhando-a em seus braços e beijando o alto de sua cabeça. – Minha menina, não gosto de vê-la assim. Isso tudo não está lhe fazendo bem... Mas vai dar tudo certo, amanhã tudo isso terá acabado e teremos paz novamente. As palavras de Agares trariam confortado seu coração se a sua preocupação fosse realmente a luta do próximo dia. Naiara tocou os próprios lábios e sentiu o gosto de Yekun em sua boca nov
“O porto é o lugar mais seguro para um barco, mas ele não foi feito para ficar lá; seu destino é navegar.” (O livro da bruxa –Roberto Lopes) Ela ainda sentia as mãos do pai em volta da sua, ainda o sentia à sua frente e seus olhos ainda estavam focados nos dele, quando seu corpo convulsionou de uma forma dolorida. As pernas cederem e não conseguiu manter-se em pé, caiu de joelhos na frente do pai e, antes mesmo de atingir o chão, as mãos de Agares sustentavam seu corpo. Ela notou o choque no rosto do namorado, que a observava incrédulo. – Amor, seus olhos... – disse voltando a atenção para Heylel, como se pedindo ajuda. – O que tem meus olhos? – a jovem perguntou levando a mão ao rosto, limpando lágrimas quentes que caíram sem permissão. Sentiu o líquido mais espesso e, quando notou, suas mãos estavam sujas de vermelho, manchadas. Não eram lágrimas, e sim sangue. De alguma forma havia chorado sangue quando sentiu seu
– O que você quer, demônio? – perguntou endireitando a coluna e encarou a besta à sua frente com o queixo erguido. – Não adianta o teatro, Amarantha. Sei do seu feito com Samyaza e sei que não tem mais forças nem para descascar uma laranja. – Ele entrou no quarto e parou poucos passos longe dela. – Terrível, não é mesmo? Trocar a majestade de ser uma das maiores bruxas por isso... Somente uma humana sem graça e totalmente quebrável. Não houve tempo para resposta, um vulto negro envolveu Anna e sua respiração foi arrancada de seu peito. O chão veio de encontro à sua cabeça, o impacto levou-a ao desmaio sem nem ao menos conseguir lutar. Antes de se perder na escuridão, viu os olhos de Robert a encará-la em um pedindo silencioso de desculpas, tarde demais. Anna acordou em um quarto tão branco que, por alguns minutos, acreditou estar no céu. Afinal, essa era a visão que estava sendo ensinada a ter de um reino onde Deus regia todas as coisas. Seus olhos foram se a
“Uma bruxa nunca consegue ser perfeita num disfarce de princesa. Nem um lobo é convincente em pele de cordeiro. Coloque-os à prova, e todos falharão, irremediavelmente.” (Augusto Branco) Seria somente mais um dia normal para Anna, sua rotina estava traçada havia anos. Sua vida se resumia à casa, ao lado de Robert, seu marido e pastor da congregação local, e ao ministério. Era uma pessoa de bom coração, estava sempre disposta a ajudar, não havia como negar a facilidade que tinha em não somente se envolver com os problemas das pessoas ao seu redor, mas em sentir empatia por cada história contada. Após o culto de sábado à noite, Anna se despediu e, como sempre acontecia, Robert ficou mais tempo na igreja. Ela foi para casa, acompanhada de algumas mulheres da congregação. A casa estava vazia. Há meses Anna sentia um vazio diferente, como se um pedaço dela estivesse perdido no espaço, como se algo de grande importância tivesse sido tirado de sua vida, som
“Eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia.” (Caio Fernando Abreu) – Sabe que não precisa pirar por causa disso, né? – perguntou Agares sentando-se ao lado dela no telhado da torre. Ela não o olhou, continuou abraçada aos joelhos. – Como não preciso? Todos esperam que a grande filha de Lúcifer, herdeira de Sheol e, agora, descendente de Amarantha, pisque e salve a todos, destruindo os inimigos... Mas não dá, Agares, sou só uma adolescente que ainda tem problemas com o cabelo. – Deu de ombros, vencida. Ele a puxou para os seus braços e a envolveu com carinho, apoiando o queixo em sua cabeça. O perfume de baunilha do shampoo dela o inebriava e, mesmo não querendo, fazia-o se lembrar da tarde em seu quarto. – Ninguém espera que você resolva tudo, meu amor. Sabemos que é informação demais para digerir. Não quero que fique dessa forma, sobrecarregada. – Agares, se sou mesmo tudo isso, se realmente po