Capítulo I - Só mais um dia

— Vai, mais alto. – A menina pedia em meio ao riso – Quero mais alto.

A risada da pequena ecoava pelo ar, preenchendo cada espaço com alegria e vida. Ele ria com a felicidade que conseguia proporcionar a ela, dentro de sua existência condenada, sentia-se, completo por faze-la sorrir.

— Isso! – ela gritou quando o balanço subiu alto, fazendo seus pés, em sua imaginação ilimitada, tocar os céu. – Viu, eu “to” chutando as nuvens.

— Está mesmo. – Concordou com ela e sua voz carregada de carinho e admiração.

Passaram algum tempo brincando e rindo um para o outro, mas ele precisava voltar, aparecia sempre que sentia a menina chamando por ele, era assim desde seu nascimento. Ainda bebe, ele a admirava no berço enquanto todos dormiam, branca como a mais alva neve, os cabelos liso e os olhos expressivos, tão escuros que pareciam engolir a própria noite. Com o passar dos anos, a necessidade que a menina sentia de entender as coisas que aconteciam em seu redor e que somente ela conseguia ver, requeria muito mais da presença dele, que passou a ser uma constante na vida dela. Ela por sua vez, havia desistido há tempos de tentar explicar o porquê ria tanto enquanto brincava “sozinha” no parquinho ou o porquê passava horas em conversas que pertencia somente ao mundo dela. Para as pessoas ao seu redor, aquilo era somente coisa de criança, amigos imaginários, para ela, era muito mais.

O balanço foi parando devagar, perdendo a força, até a menina virou-se, fazendo um cara feia, projetando um bico mimado nos lábios, enquanto cruzava os braços e olhava para trás muito contrariada.

— Agares, você disse que ficaria muitão.

— Eu sei minha linda, mas agora eu preciso ir, mas prometo voltar quando você precisar.

— Eu preciso agora, ainda não toquei naquela nuvem ali. – Ela disse apontando para um amontoado no céu, que mais parecia uma imensa bola de algodão. Ele sorrio.

— Quando você precisar de verdade Naiara, agora está só me enganando.

— Só você me chama assim estranho. – A menina mudou de assunto, não querendo perder a presença do amigo.

— É porque esse é seu nome. – Ele beliscou a bochecha dela.

— Minha mãe me chama de Lauren. – Deu de ombros sem entender.

— Já te disse que quando crescer mais, vou te contar tudo o que precisa saber. Agora pare de me enrolar. – O sorriso alargou-se nos lábios de Agares e com um jeito de carinho, bagunçou o cabelo da menina que ainda o encarava bicuda, sentada no balanço.

— Tchau diabinha.

— Tchau diabão!

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