— Conhece meu pai? – Lauren a questionou incrédula. – Não acredito que seja o tipo de pessoa que meu pai conheça ou que gostaria que fizesse parte do seu dia a dia. – A menina à sua frente agora parecia pensar, seus olhos vagavam como se procurassem sentido no que Lauren dizia e sua expressão mudou quando, enfim, compreendeu.
— Robert? Você fala de Robert, mas não me refiro ao mortal que lhe criou. Que ele não saiba, mas é muito mal-humorado e possui uma visão extremamente limitada. Falo do seu verdadeiro pai: Heylel.
— Espere... esse nome... – Lauren sabia que já o ouvira, mas não se lembrava onde.
— É o nome de seu pai. Alguns o chamam de Estrela da Manhã... Luz da Aurora... mas acredito que seja mais conhecido como Lúcifer mesmo. – A simplicidade daquelas palavras atingiram Lauren em cheio.
Lúcifer?! A menina à sua frente, que não conseguia se definir, acabara de falar que Lauren, a estudante de 17 anos, sem graça e nunca notad
— Élida, você veio. — Claro que vim, você me chamou. Lauren e Gabriel trocaram um olhar confuso. — Não chamei não. – A pequena soltou o seu riso melodioso e, para o espanto de Gabriel, flores desabrocharam ao redor dela, da mesma forma que Lauren descrevera. — Claro que chamou, tolinha. Estava pensando que, se eu estivesse aqui, poderia lhe ajudar. Bem... aqui estou. O que você quer? — Lauren quer falar com o pai – respondeu o rapaz sorrindo para Élida, que se virou como quem parecia ter notado sua presença somente naquele momento. Analisou--o da cabeça aos pés, até que o olhar dos dois se encontrou. — Hum... interessante. Prazer, Gabriel, sou Élida – apresentou-se com educação e sorriu para ele, que gaguejou um "prazer" e se calou. Ela, então, virou-se para Lauren e se aproximou. – Mas se quer falar com o seu pai, por que está aqui? Por que simplesmente não o chamou lá onde você estava mesmo? Gabriel não conseguiu evitar, enca
O tecido leve e claro da cortina balançou com a brisa suave. O sol aquecia o quarto como se desse boas-vindas ao novo dia. Lauren despertou e se espreguiçou devagar, sentindo o corpo reagir ao dia anterior. No relógio ao lado de sua cama os números em vermelho avisavam não passar das nove da manhã do domingo, dia que provavelmente, se Gabriel não invadisse o quarto dela arrastando-a para fora, ela não sairia da cama tão cedo, a lembrança de um sonho bom, ainda ecoava em sua mente, não se lembrava de detalhes, mas pacificou sua noite. Mas não foi isso o que aconteceu, estava disposta, alerta e fervendo de curiosidade. Pulou da cama, correndo para o banheiro. O ritual matutino aconteceu de forma calma e a garota aproveitou cada detalhe, cada momento a sós no banheiro, lavando seus cabelos, sentindo o aroma de baunilha se misturar ao vapor. Já passava das doze horas quando apareceu na cozinha, a mãe tirava a mesa do almoço ao vê-la. — Ah, querida, já acordou? — Já, mãe?
— Pode me chamar de Heylel, isso para você – orientou o anfitrião apontando para Gabriel. – Quanto a você, pequena guerreira, pode me chamar de pai.Heylel começou a andar enquanto Lauren revirava os olhos para o que acabara de ouvir. Sem soltar Gabriel, acompanhou-o enquanto adentrava a casa. Por dentro, então, era ainda mais surpreendente. Os cômodos eram amplos e bem decorados, as janelas abertas permitiam a entrada do sol a iluminar todos os ambientes. Eles foram para uma das salas, que pareceu a Lauren ser o lugar com a menor quantidade de móveis. Havia três grandes sofás formando um semicírculo e, no centro dele, uma baixa mesa quadrada recheada de guloseimas que tornariam a cena perfeita, se esta não fosse a casa do Diabo. Sentaram um de frente para o outro, com o jovem que foi apresentado como Yeung no sofá à direita. Gabriel, ao lado de Lauren, ainda estava tenso.
— Onde estamos? — Você desmaiou na sala e seu... aquele homem trouxe você para cá – explicava Gabriel enquanto se levantava e andava até ela. — Cadê minhas roupas? — Elas a trocaram, não sei se teve algum pesadelo, mas estava muito agitada e suando demais. Coloquei as meias – disse quase com um sorriso, sentando-se ao lado dela. – Já faz muito tempo que estamos aqui, mas ele disse para não me preocupar. — Você está bem? – Desde que chegaram ali, essa era a primeira vez em que Lauren realmente observava o amigo. Ele estava abatido, a sombra escura sob os olhos e as sobrancelhas juntas lhe davam um ar preocupado. Ela levantou a mão e tocou, com as pontas dos dedos, a ruga que se formou no semblante masculino. – Não, você não está. — Não era o que eu havia programado para o nosso domingo afinal... Ida ao inferno e conversa amigável com Satanás? – Gabriel tentou sorrir limpando as lágrimas do rosto da amiga, que até aquele momento não havia notado
Ele explicava como se fosse algo fácil de se entender, mas a cabeça da menina dava voltas e voltas. Seus pensamentos corriam de forma desenfreada. — De. Que. Merda. Você. Está. Falando? – Toda a raiva controlada e toda aquela loucura estavam pronunciadas nas palavras dela. Ele riu, riu alto como se Lauren tivesse lhe contado a mais engraçada piada, e foi o que bastou... Como se alguém lhe tivesse possuído, a menina saltou sobre a coisa em sua janela! Num instante estava parada ao lado da porta, no outro estava no ar com as mãos espalmadas em uma formação estranha para si mesma, influenciada por um instinto que desconhecia; os braços sobrepostos e as palmas viradas em direção à escuridão. Seu pensamento foi somente um: “DESTRUA”. O grito de pavor ecoou no silêncio do quarto e a escuridão explodiu, se dissolvendo. Lauren caiu abaixada, defensiva, procurando pela criatura. Seus olhos varriam o quarto e nada encontraram. Levantou-se devagar, esperando que a coisa
Os primeiros raios de sol tocaram a face de Lauren, que se espreguiçou devagar avisando ao corpo que era hora de acordar. Seus olhos percorreram o quarto até encontrar os números em vermelho que ficavam fora do alcance de suas mãos, obrigando-a a se levantar para evitar o barulho ensurdecedor que o despertador faria a qualquer momento. A segunda-feira havia chegado, enfim, e Lauren sentou-se em sua cama. Sentia-se estranhamente exausta, com a sensação de que algo não estava onde deveria, mas não conseguia se lembrar o quê. Somente quando ouviu uma voz melodiosa que vinha da janela foi que se deu conta do porquê daquela sensação. — Bom dia, minha pequena margarida. – A recém-chegada sorria, sentada no batente da janela. — Ah, não... não... não... É tudo um terrível pesadelo! Você não está aqui, você não existe – dizia a jovem enquanto se jogava na cama e cobria a cabeça com o travesseiro. —Assim você me magoa, Naiara. Claro que existo, não há como imagin
— Já disse a ele o quanto o ama? Ela se levantou e saiu daquele lugar sem dizer nada. Élida estava ficando louca! Claro que amava Gabriel, fora criada com ele, eram amigos desde que ela se entendia por gente, estiveram lado a lado pela vida toda, foram confidentes, cúmplices, mas não o amava do modo como deu a entender... Ela não o amava, não o amava, amava? Não, não amava. Passou a vida tentando sentir-se atraída por algum menino, querendo se envolver e apaixonar-se perdidamente, mas jamais aconteceu. Passava o tempo todo com Gabriel e a presença dele bastava em quase todos os momentos e em outros, deixava a mente viajar, perdendo-se em suas lembranças, querendo saber de quem era aqueles olhos azuis. Não queria ir para casa, não estava pronta para encarar a mãe nem sabia se conseguiria se conter em não dizer nada caso se deparasse com ela. Saiu sem direção certa, somente andando pelas ruas do bairro. Não queria contato com a natureza, portanto não ch
“Através dos passos alternados de perda e ganho, silêncio e atividade, nascimento e morte, eu trilho o caminho da imortalidade.” (Deepak Chopra) Todos os vínculos que Lauren tinha com o mundo mortal foram quebrados. Heylel apagou a mente humana de cada pessoa que conhecia a garota, inclusive de seus pais. Duas semanas já haviam passado desde que ela tomou a decisão de não mais existir. Descobriu existir uma ligação entre ela e Gabriel, o que facilitava o acesso ao amigo no momento em que quisesse. Belial, no entanto, também soube disso e aprisionou-o sob o encanto de magia negra, não que isso conseguisse detê-la quando realmente queria ver o amigo, mas tal obstáculo sugava suas energias e seu corpo pagava um alto preço. Passava horas treinando com Abigor, o comandante dos exércitos de seu pai, de modo que se acostumou com o ir e vir de demônios e a forma como surgiam do nada à sua frente. Isso não mais a incomodava, sentia-se