— Já disse a ele o quanto o ama?
Ela se levantou e saiu daquele lugar sem dizer nada. Élida estava ficando louca! Claro que amava Gabriel, fora criada com ele, eram amigos desde que ela se entendia por gente, estiveram lado a lado pela vida toda, foram confidentes, cúmplices, mas não o amava do modo como deu a entender... Ela não o amava, não o amava, amava? Não, não amava.
Passou a vida tentando sentir-se atraída por algum menino, querendo se envolver e apaixonar-se perdidamente, mas jamais aconteceu. Passava o tempo todo com Gabriel e a presença dele bastava em quase todos os momentos e em outros, deixava a mente viajar, perdendo-se em suas lembranças, querendo saber de quem era aqueles olhos azuis.
Não queria ir para casa, não estava pronta para encarar a mãe nem sabia se conseguiria se conter em não dizer nada caso se deparasse com ela.
Saiu sem direção certa, somente andando pelas ruas do bairro. Não queria contato com a natureza, portanto não ch
“Através dos passos alternados de perda e ganho, silêncio e atividade, nascimento e morte, eu trilho o caminho da imortalidade.” (Deepak Chopra) Todos os vínculos que Lauren tinha com o mundo mortal foram quebrados. Heylel apagou a mente humana de cada pessoa que conhecia a garota, inclusive de seus pais. Duas semanas já haviam passado desde que ela tomou a decisão de não mais existir. Descobriu existir uma ligação entre ela e Gabriel, o que facilitava o acesso ao amigo no momento em que quisesse. Belial, no entanto, também soube disso e aprisionou-o sob o encanto de magia negra, não que isso conseguisse detê-la quando realmente queria ver o amigo, mas tal obstáculo sugava suas energias e seu corpo pagava um alto preço. Passava horas treinando com Abigor, o comandante dos exércitos de seu pai, de modo que se acostumou com o ir e vir de demônios e a forma como surgiam do nada à sua frente. Isso não mais a incomodava, sentia-se
— Agradeço o “engraçadinho”, faz tempo que ninguém vê esse meu lado. Naiara assustou-se quando encontrou o rapaz em seu quarto, sentado na poltrona no canto esquerdo. — O que você pensa...? O que está fazendo? Saia daqui agora! – berrou abrindo a porta, sabendo que não conseguiu sequer dizer uma frase completa. – Saia! — Infantil? Acabou de me chamar de criança? – O ódio a estava consumindo, ela ainda mantinha a porta aberta. – Não sabe nada ao meu respeito. Saia ou vou chamar meu pai! — E ainda não acha que é criança... – retrucou o outro enquanto se levantava e passava por ela em direção à porta. – Quando quiser saber como salvar seu menino bonzinho, me procure. – Naiara fechou a porta antes que ele pudesse sair. – Sabia. — O que sabe sobre o Gabriel? — Sobre ele bem pouco. Sobre como salvá-lo, sei um pouco mais. Vai me ouvir agora ou continuará me expulsando do seu s
“Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado.” (Clarice Lispector) Não sabia para onde havia levado a todos, somente que surgiram em uma região pedregosa e com o tempo seco. Sentiu no mesmo momento os olhos arderem, à sua frente avistava montanhas e mais nada. Olhou ao redor e encontrou a expressão dos “meninos” para ela. Espanto, admiração, surpresa, expectativa. — E agora? — Agora vamos nos encontrar com o chefe. Foi Agares quem respondeu, já se colocando a caminho, seguido de Abigor. Naiara passou por Gabriel e o puxou consigo. Ele travou no lugar, obrigando-a olhar para ele. — Você está diferente. – Disse assim que seus olhos se encontraram. — Diferente como? – Ela já sabia a resposta. — Não sei, não parece mais você mesma, Lauren. – Gabriel abaixou a cabeça, chutando o chão levemente. — Não existe mais Lauren, sabe disso. –
— Fique quietinha, Nai. – Era ele novamente, estava começando a irritá-la essa mania de surgir do nada. Não que o abraço não fosse bom, não que o corpo não tenha mesmo relaxado ao toque dele e ela quisesse se permitir permanecer ali e dormir, mas isso não poderia acontecer mais. Ele não poderia ficar invadindo o quarto dela quando bem entendesse. — Saia, Agares, ou vou gritar e meu pai irá arrancar sua cabeça antes mesmo que você possa piscar. — Pare de ser dramática. Estava me chamando, seu corpo está precisando do meu para descansar, ou acha que consigo mesmo deitar e dormir com você assim? — Assim como? — Virando na cama de um lado para o outro, gritando essa solidão toda. Não consigo, Nai – disse baixo demais, as palavras carregadas de sentimentos. Chamando por ele? Claro, ela estava se sentindo estranha, vazia, mas não estava pensando nele... ou estava? Ok, seu corpo parecia mais relaxado do que o normal naquele momento, seu sono
— Você precisa ir! – disse sem rodeios.— Ir para onde?— Para sua casa. Seus pais estão lá, sua vida está lá. Escola, amigos, clube de matemática e tudo o que você realmente é, está lá. Se estão se unindo para acabar com meu pai, não quero você no meio disso.— Já parou para me perguntar o que eu quero, Lauren?— A questão não é essa – continuou a dizer sem se deixar abalar por seu antigo nome. – A questão é que você é totalmente humano e diante de uma batalha vai me atrapalhar, vou ficar preocupada em lhe defender e vou acabar sendo abatida. – Sabia que estava magoando o garoto, mas não permitiria que ele corresse perigo. – Não posso mais me preocupar com você, Gabriel.E foi o golpe fatal. As palavras dela caíram sobre
“Uma gota de sangue escorre pelas estrelas do firmamento. Um grande arco dourado substitui a lua A luminescência gélida cobre o astro-rei.” (Pablo de Paula) Ela não choraria. Estava furiosa, queria atacar, queria ver sangue jorrar! Andava pela sala de reunião de um lado ao outro, não conseguia sentar. A imensa mesa estava cercada pelos capitães de guerra de seu pai e os melhores soldados de Agares. — Vem aqui – Agares a puxou pela cintura quando passou por ele novamente. – Pare, não podemos sair atacando sem saber quem, onde e para que o levaram... Acalme-se, Nai – pediu envolvendo-a em seus braços. — Só não entendo, Agares... Por que ele não fez nada? Por que se permitiu ser capturado? — Não sei, Nai, não sei mesmo. Ele poderia ter acabado com tudo aquilo em segundos, também não entendo. — E como? Como nossos inimigos, Agares, nos acharam? Estávamos lá, eles não nos viam, nós os vimos andando ao redor
— Não precisa se preocupar, pode continuar com o jogo de sedução com a senhorita Sou-a-mais-gostosa-de-todas, já estamos indo embora. — Cresce, Naiara. – Ele avançou em direção a Heylel. – Como está, chefe? Parece que ainda não foi dessa vez que eles conseguiram derrotá-lo, não é mesmo? – Sorriu ajudando-o a se manter em pé. — Ridículo – disse a garota puxando o pai para si, recebendo um olhar quase fulminante de Agares com essa atitude. — Parem os dois – Heylel falou com dificuldade. Eles se olharam por um segundo. — Vamos sair daqui – Agares disse, enfim. Lá fora ainda se ouvia o barulho da guerra. Naiara estava começando a apresentar sinais de fraqueza. A magia do lugar a drenava muito mais do que de costume, seus joelhos cederam, mas ela se recuperou, não demonstraria a Agares sua fraqueza. Assim que avançaram, a tal mulher se materializou na frente deles novamente, com um sorriso de satisfação que fez Naiara arder de ódio.
Seus olhos abriram devagar, estavam turvos. Tentou passar a língua nos lábios secos, mas não obteve o resultado esperado. Fechou as pálpebras novamente, a escassa claridade a incomodava muito. Quis falar, mas a voz estava rouca demais, irreconhecível. Sentiu mãos desesperadas envolverem as suas e uma voz conhecida soou suplicante ao dizer: — Nai? Ah, Nai! Por favor, você pode me ouvir? Sim, ela estava ouvindo, mas não queria que Agares a tocasse, não queria que fosse ele a estar ali. Tentou falar, tentou se mover, mas uma dor lancinante atingiu sua barriga. Ela foi contida pelas mãos de Agares sobre os seus ombros. — Meu pai –respondeu rouca, sentindo a garganta arranhar. — Ele está lá fora, não saiu em momento algum. Vou chamá-lo. – Antes de ir, inclinou-se e seus lábios tocaram a testa dela. Naiara se retraiu o quanto pôde e viu a dúvida na expressão dele. Assim que o demônio abriu a porta, ela notou o pai entrando com receio, sem sabe