“Uma gota de sangue escorre pelas estrelas do firmamento. Um grande arco dourado substitui a lua
A luminescência gélida cobre o astro-rei.” (Pablo de Paula)
Ela não choraria. Estava furiosa, queria atacar, queria ver sangue jorrar! Andava pela sala de reunião de um lado ao outro, não conseguia sentar. A imensa mesa estava cercada pelos capitães de guerra de seu pai e os melhores soldados de Agares.
— Vem aqui – Agares a puxou pela cintura quando passou por ele novamente. – Pare, não podemos sair atacando sem saber quem, onde e para que o levaram... Acalme-se, Nai – pediu envolvendo-a em seus braços.
— Só não entendo, Agares... Por que ele não fez nada? Por que se permitiu ser capturado?
— Não sei, Nai, não sei mesmo. Ele poderia ter acabado com tudo aquilo em segundos, também não entendo.
— E como? Como nossos inimigos, Agares, nos acharam? Estávamos lá, eles não nos viam, nós os vimos andando ao redor
— Não precisa se preocupar, pode continuar com o jogo de sedução com a senhorita Sou-a-mais-gostosa-de-todas, já estamos indo embora. — Cresce, Naiara. – Ele avançou em direção a Heylel. – Como está, chefe? Parece que ainda não foi dessa vez que eles conseguiram derrotá-lo, não é mesmo? – Sorriu ajudando-o a se manter em pé. — Ridículo – disse a garota puxando o pai para si, recebendo um olhar quase fulminante de Agares com essa atitude. — Parem os dois – Heylel falou com dificuldade. Eles se olharam por um segundo. — Vamos sair daqui – Agares disse, enfim. Lá fora ainda se ouvia o barulho da guerra. Naiara estava começando a apresentar sinais de fraqueza. A magia do lugar a drenava muito mais do que de costume, seus joelhos cederam, mas ela se recuperou, não demonstraria a Agares sua fraqueza. Assim que avançaram, a tal mulher se materializou na frente deles novamente, com um sorriso de satisfação que fez Naiara arder de ódio.
Seus olhos abriram devagar, estavam turvos. Tentou passar a língua nos lábios secos, mas não obteve o resultado esperado. Fechou as pálpebras novamente, a escassa claridade a incomodava muito. Quis falar, mas a voz estava rouca demais, irreconhecível. Sentiu mãos desesperadas envolverem as suas e uma voz conhecida soou suplicante ao dizer: — Nai? Ah, Nai! Por favor, você pode me ouvir? Sim, ela estava ouvindo, mas não queria que Agares a tocasse, não queria que fosse ele a estar ali. Tentou falar, tentou se mover, mas uma dor lancinante atingiu sua barriga. Ela foi contida pelas mãos de Agares sobre os seus ombros. — Meu pai –respondeu rouca, sentindo a garganta arranhar. — Ele está lá fora, não saiu em momento algum. Vou chamá-lo. – Antes de ir, inclinou-se e seus lábios tocaram a testa dela. Naiara se retraiu o quanto pôde e viu a dúvida na expressão dele. Assim que o demônio abriu a porta, ela notou o pai entrando com receio, sem sabe
“Em seu sonho, ela estava inteira, sem ferimentos, marcas ou dor. Era somente a antiga Lauren andando pelas ruas do bairro, sem um destino certo ou mesmo o compromisso de um horário. Passou pela loja de quadrinhos e sua atenção foi atraída como sempre para a vitrine. Sua expressão brilhou ao avistar a primeira edição de X-Men, sua capa antiga e branca anunciava uma briga: Ciclope disparava seu raio vermelho contra um Magneto distorcido, atrás deles, um uniforme azul e amarelo deixava Jean sem curvas. Abriu a porta da loja escutando um sininho tocar. Entrou no lugar iluminado e repleto de exemplares que eram sua realização. Um jovem estava de costas atrás do balcão, talvez organizando alguma coisa, quando ela se aproximou. Queria saber o valor do quadrinho e, claro, levá-lo consigo. Disse algumas palavras que soaram sem som, mas o jovem se virou para atendê-la... e ela gelou. Um calafrio percorreu sua espinha paralisando-a no lugar. O atendente da loja era Gabri
Consiste a monstruosidade do amor... Em ser infinita a vontade, e limitados os desejos, e ato escravo do limite... (William Shakespeare) Os dois dias passaram mais rápido do que Naiara previa. Sem ataques, sem lutas, sem sinais de rebelião, somente dois dias sobre a cama, sendo mimada por Agares e tendo como fundo uma de suas trilogias favoritas. Ela mergulhava na história, perdendo-se na voz forte e toda a encenação que ele fazia a cada nova situação. Chegou à conclusão que realmente queria bater em Nina algumas vezes, mas ainda assim amava cada um dos personagens. Riu inúmeras vezes lembrando-se do quanto achava surreal a ideia de um outro mundo. Lembrava-se de seus livros favoritos e de quantas vezes pensou que os escritores tinham a imaginação fértil demais, privilegiadas, mal sabia ela que em todas as suas leituras, havia uma gota de verdade e lá estava Naiara, vivendo sua trama fantasiosa particular. Uma vez ou
Nenhum dos três ousou desobedecer sua ordem. Em questão de segundos uma criatura corcunda, com o corpo preto e algumas manchas vermelhas e roxas espalhadas na pele, estava à sua frente. Sua face desfigurada trazia dois buracos ao invés dos olhos e o lugar onde deveria estar o nariz era completamente reto. Seus lábios eram somente riscos que viviam abertos como se sorrisse o tempo todo, exibindo três fileiras de dentes pontudos e podres. Exalava um cheiro muito desagradável. Andou até a criatura, que se curvou a ela levemente. Naiara não notou sua reverência, estava tomada de ódio naquele momento. — Quem levou minha mãe? – quis saber sem rodeios. — Nrãaooroo sreiiee – tentou dizer em resposta. Surpreendendo a todos, a jovem girou sobre o pé esquerdo enquanto levantava o direito e atingia a criatura com força, fazendo uma gosma preta jorrar na parede do escritório. — Quem levou minha mãe? – perguntou novamente. — Nrãaaroo.. – ele não conseguiu t
— A pergunta é: o que ela estava fazendo lá? —Não acha normal sua mãe estar onde o marido estava? — Não. Exatamente por meu pai estar lá, ela não estaria. Minha mãe só ia aos domingos por ser “motivada” a isso – disse fazendo aspas no ar. – Mas, quando cresci o suficiente para deixar de ir, ela nunca mais foi, nem aos domingos. – Viu a expressão de Heylel mudar levemente. – Calma, ela gosta da igreja e de todos os ensinamentos, somente não conseguia ouvir meu pai dizer tantas coisas e agir de forma tão diferente em casa. Não, sem um bom motivo, ela não estaria lá. Por alguns segundos, ninguém disse uma única palavra. Ficaram todos presos em seus próprios pensamentos. — Vou falar com ele – disse Naiara decidida, já se levantando. — Falar com quem? – quis saber Heylel. — Com meu pai, ora! Se eles estavam juntos quando minha mãe sumiu, quero saber o que está fazendo para encontrá-la. — Ele não é seu pai – esclareceu Heylel.
Estavam nus sobre a cama quando se encaixaram um no outro. Queriam sentir que eram somente um, que de alguma forma se uniriam com perfeição. Seu quadril se elevou, pedindo por ele, e quando o sentiu, arqueou de prazer. Abriu os olhos e notou que Agares a estava olhando, quase em adoração. As mãos enterradas nos lençóis brancos revelavam o esforço que ele fazia para não perder o controle demais. Mas ela não queria isso, queria tudo dele, não o queria contido, não queria pertencer somente a uma parte dele. Os olhos dela ganharam aquele vermelho-vivo novamente e seu corpo acendeu como um meteoro prestes a colidir com a Terra. Agares a observou tão surpreso que seus movimentos pararam, seus dedos em garras rasgaram o colchão e um barulho bestial escapou de seu peito. — Não se detenha – ela disse com uma voz que não parecia mais a dela, e um sorriso malicioso e carregado de sensualidade tomou seus lábios. Agares retribuiu com uma expressão safada e seus olhos perderam totalmente
“O meu amado é meu, e eu sou dele.” Cantares 2:16 Os primeiros raios de sol ganharam força sobre a campina, adentrando as janelas abertas e, como um carinho, tocando o rosto da jovem. Ela acordou e o sorriso ainda estampava seus lábios. Seus pensamentos fervilhavam, queria sair gritando ao mundo o quanto sentia-se feliz e completa, como pela primeira vez em toda sua vida, sentia-se pertencer a um lugar, a alguém. Sabia que para todas as outras pessoas do mundo, aquilo tudo era loucura, mas para Naiara, ser filha de Heylel e pertencer a Agares, era exatamente tudo o que sempre quis, mesmo sem saber que eles existiam. Tentou não se mexer muito, não queria acordar Agares, sua cabeça tombada sobre o peito esculpido de seu amor dava-lhe uma visão perfeita do que tinha nas mãos. O sorriso se ampliou. Com cuidado, seus dedos percorreram as linhas definidas da barriga dele, deslizando sobre cada parte moldada em músculos, desce