— A pergunta é: o que ela estava fazendo lá?
— Não acha normal sua mãe estar onde o marido estava?
— Não. Exatamente por meu pai estar lá, ela não estaria. Minha mãe só ia aos domingos por ser “motivada” a isso – disse fazendo aspas no ar. – Mas, quando cresci o suficiente para deixar de ir, ela nunca mais foi, nem aos domingos. – Viu a expressão de Heylel mudar levemente. – Calma, ela gosta da igreja e de todos os ensinamentos, somente não conseguia ouvir meu pai dizer tantas coisas e agir de forma tão diferente em casa. Não, sem um bom motivo, ela não estaria lá.
Por alguns segundos, ninguém disse uma única palavra. Ficaram todos presos em seus próprios pensamentos.
— Vou falar com ele – disse Naiara decidida, já se levantando.
— Falar com quem? – quis saber Heylel.
— Com meu pai, ora! Se eles estavam juntos quando minha mãe sumiu, quero saber o que está fazendo para encontrá-la.
— Ele não é seu pai – esclareceu Heylel.
Estavam nus sobre a cama quando se encaixaram um no outro. Queriam sentir que eram somente um, que de alguma forma se uniriam com perfeição. Seu quadril se elevou, pedindo por ele, e quando o sentiu, arqueou de prazer. Abriu os olhos e notou que Agares a estava olhando, quase em adoração. As mãos enterradas nos lençóis brancos revelavam o esforço que ele fazia para não perder o controle demais. Mas ela não queria isso, queria tudo dele, não o queria contido, não queria pertencer somente a uma parte dele. Os olhos dela ganharam aquele vermelho-vivo novamente e seu corpo acendeu como um meteoro prestes a colidir com a Terra. Agares a observou tão surpreso que seus movimentos pararam, seus dedos em garras rasgaram o colchão e um barulho bestial escapou de seu peito. — Não se detenha – ela disse com uma voz que não parecia mais a dela, e um sorriso malicioso e carregado de sensualidade tomou seus lábios. Agares retribuiu com uma expressão safada e seus olhos perderam totalmente
“O meu amado é meu, e eu sou dele.” Cantares 2:16 Os primeiros raios de sol ganharam força sobre a campina, adentrando as janelas abertas e, como um carinho, tocando o rosto da jovem. Ela acordou e o sorriso ainda estampava seus lábios. Seus pensamentos fervilhavam, queria sair gritando ao mundo o quanto sentia-se feliz e completa, como pela primeira vez em toda sua vida, sentia-se pertencer a um lugar, a alguém. Sabia que para todas as outras pessoas do mundo, aquilo tudo era loucura, mas para Naiara, ser filha de Heylel e pertencer a Agares, era exatamente tudo o que sempre quis, mesmo sem saber que eles existiam. Tentou não se mexer muito, não queria acordar Agares, sua cabeça tombada sobre o peito esculpido de seu amor dava-lhe uma visão perfeita do que tinha nas mãos. O sorriso se ampliou. Com cuidado, seus dedos percorreram as linhas definidas da barriga dele, deslizando sobre cada parte moldada em músculos, desce
— Mas o que farei, Senhor? Como resgatarei Anna, lutarei com os que se levantam contra mim, sem deixar que o que realmente sou derrote quem eu venho tentando ser? O homem ao seu lado parou, virou-se para Heylel e o segurou nos ombros com um carinho fraterno. Seus olhos revelavam puro cuidado e amor, não havia um único resquício de ressentimento em sua face. Naquele momento, sob aquele olhar de amor, Heylel sentiu-se pequeno, insuficiente, incapaz, mas infinitamente amado e compreendido. — Acredite na força que tem e em tudo o que é capaz de ser por elas. Agora é chegado a hora de se entregar ao amor e deixar que ele cure suas feridas, que molde você por completo. Pois chegará o momento, meu filho, e sei que não está longe, em que terá de deixar vir à tona sua verdadeira face. E quando esse momento chegar, elas precisarão ter certeza de quem você é para que, então, permaneçam ao seu lado. E então, da mesma forma que repentinamente surgiu, sumiu. Diante dos olh
Bateu a porta com força, deixando claro o descontentamento com a situação. Voltou para a cama, sua respiração ainda acelerada quando se sentou ao lado de Naiara e a puxou para os seus braços. Sem nem ao menos perceber, falava: — Marcada... ele que não ouse chegar perto de você. Marcada ou não, você é minha... – Ele a apertava em seus braços. – Minha... não ligo para essa história de marca... — Do que está falando, Agares? – Ela estava totalmente confusa. Soltou-se com alguma dificuldade e se sentou em posição de lótus, olhando para o rapaz à sua frente e esperando uma resposta para a cena que presenciou. Aguardou com paciência, viu-o respirar fundo por três vezes antes de, enfim, começar a falar: — Acreditam... não... isso é real. As pessoas nascem predestinadas umas às outras, como se fossem feitas de duas em duas. E durante a vida são atraídas uma para a outra, isso em todos os planos. – Deu de ombros, vendo a reação de surpresa da namorada. – Quand
“Eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia.” (Caio Fernando Abreu) – Sabe que não precisa pirar por causa disso, né? – perguntou Agares sentando-se ao lado dela no telhado da torre. Ela não o olhou, continuou abraçada aos joelhos. – Como não preciso? Todos esperam que a grande filha de Lúcifer, herdeira de Sheol e, agora, descendente de Amarantha, pisque e salve a todos, destruindo os inimigos... Mas não dá, Agares, sou só uma adolescente que ainda tem problemas com o cabelo. – Deu de ombros, vencida. Ele a puxou para os seus braços e a envolveu com carinho, apoiando o queixo em sua cabeça. O perfume de baunilha do shampoo dela o inebriava e, mesmo não querendo, fazia-o se lembrar da tarde em seu quarto. – Ninguém espera que você resolva tudo, meu amor. Sabemos que é informação demais para digerir. Não quero que fique dessa forma, sobrecarregada. – Agares, se sou mesmo tudo isso, se realmente po
“Uma bruxa nunca consegue ser perfeita num disfarce de princesa. Nem um lobo é convincente em pele de cordeiro. Coloque-os à prova, e todos falharão, irremediavelmente.” (Augusto Branco) Seria somente mais um dia normal para Anna, sua rotina estava traçada havia anos. Sua vida se resumia à casa, ao lado de Robert, seu marido e pastor da congregação local, e ao ministério. Era uma pessoa de bom coração, estava sempre disposta a ajudar, não havia como negar a facilidade que tinha em não somente se envolver com os problemas das pessoas ao seu redor, mas em sentir empatia por cada história contada. Após o culto de sábado à noite, Anna se despediu e, como sempre acontecia, Robert ficou mais tempo na igreja. Ela foi para casa, acompanhada de algumas mulheres da congregação. A casa estava vazia. Há meses Anna sentia um vazio diferente, como se um pedaço dela estivesse perdido no espaço, como se algo de grande importância tivesse sido tirado de sua vida, som
– O que você quer, demônio? – perguntou endireitando a coluna e encarou a besta à sua frente com o queixo erguido. – Não adianta o teatro, Amarantha. Sei do seu feito com Samyaza e sei que não tem mais forças nem para descascar uma laranja. – Ele entrou no quarto e parou poucos passos longe dela. – Terrível, não é mesmo? Trocar a majestade de ser uma das maiores bruxas por isso... Somente uma humana sem graça e totalmente quebrável. Não houve tempo para resposta, um vulto negro envolveu Anna e sua respiração foi arrancada de seu peito. O chão veio de encontro à sua cabeça, o impacto levou-a ao desmaio sem nem ao menos conseguir lutar. Antes de se perder na escuridão, viu os olhos de Robert a encará-la em um pedindo silencioso de desculpas, tarde demais. Anna acordou em um quarto tão branco que, por alguns minutos, acreditou estar no céu. Afinal, essa era a visão que estava sendo ensinada a ter de um reino onde Deus regia todas as coisas. Seus olhos foram se a
“O porto é o lugar mais seguro para um barco, mas ele não foi feito para ficar lá; seu destino é navegar.” (O livro da bruxa –Roberto Lopes) Ela ainda sentia as mãos do pai em volta da sua, ainda o sentia à sua frente e seus olhos ainda estavam focados nos dele, quando seu corpo convulsionou de uma forma dolorida. As pernas cederem e não conseguiu manter-se em pé, caiu de joelhos na frente do pai e, antes mesmo de atingir o chão, as mãos de Agares sustentavam seu corpo. Ela notou o choque no rosto do namorado, que a observava incrédulo. – Amor, seus olhos... – disse voltando a atenção para Heylel, como se pedindo ajuda. – O que tem meus olhos? – a jovem perguntou levando a mão ao rosto, limpando lágrimas quentes que caíram sem permissão. Sentiu o líquido mais espesso e, quando notou, suas mãos estavam sujas de vermelho, manchadas. Não eram lágrimas, e sim sangue. De alguma forma havia chorado sangue quando sentiu seu