— Porque você é a única pessoa que me faz perder todas as minhas regras. — George suspirou, como se estivesse dizendo algo evidente. Ele era assim, cada palavra dita de forma simples, sem intenção de soar melodramático. Ainda assim, cada frase era uma declaração profunda, carregada de sentimento. Ele não dizia “eu te amo”, mas cada palavra transbordava amor. Senti um nó na garganta e, com um pedaço de panqueca ainda na boca, murmurei: — George, vem aqui. — O que foi? — Ele perguntou, me olhando sem entender. — Só vem. — Respondi com uma teimosia quase infantil. George levantou-se e veio até mim, sentando-se ao meu lado no sofá. Assim que ele se acomodou, encostei minha cabeça em seu ombro. Ele ficou claramente surpreso, mas não se afastou. — É mais gostoso comer assim. — Comentei. Ele riu, uma risada baixa e tranquila, que me fez sorrir também. Depois de terminarmos o jantar, saímos do hospital e voltamos para casa. George me ajudou a me acomodar no quarto, cuidando
Quando voltei para a cama, toda enrolada nos lençóis, percebi que o problema estava na minha cabeça. Eu é que não era nada pura. Também percebi, mais uma vez, que a força de vontade de um militar era algo que eu jamais conseguiria abalar.George tinha me dado um banho. Literalmente, só um banho.Mesmo depois de já ter testado os limites dele, não consegui evitar uma última provocação:— George, será que você não dá conta?Essa pergunta foi como um golpe mortal para qualquer homem. Não havia ninguém que pudesse aceitar ouvir isso sem reagir.Mas George, como sempre, não era um homem qualquer. Ele me segurou pelos ombros e soltou, com firmeza:— Se comporte. E pare de provocar. Não vai adiantar nada.Ele enxergava minhas intenções com uma clareza que me deixava desarmada.— George, você me magoa. — Fiz cara de derrotada, fingindo estar arrasada, antes de puxar o cobertor e cobrir a cabeça, como uma criança emburrada.Ele não se deu por vencido. Puxou o cobertor do meu rosto e bagunçou le
— Entendi. — George respondeu, mais uma vez, com sua típica resposta curta.Eu não aguentei e comecei a rir, já meio irritada.— George, agora eu finalmente entendo por que você chegou aos trinta e poucos anos sem nunca ter tido um relacionamento. Você é muito sem graça!— Você também acha que sou sem graça? — Ele me perguntou, em um tom de voz tão calmo que até parecia brincadeira.Olhei para ele, resignada, pensando em como ele parecia meio desajeitado quando o assunto era romance. Sorri, balançando a cabeça:— Não é isso. O que eu quero dizer é que você não sabe como agradar uma mulher.George ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse refletindo sobre a minha fala.— Na minha cabeça, “agradar” tem um pouco a ver com “enganar”.Ele sempre tinha uma resposta inusitada, que me deixava sem argumentos.— Você quer que eu te “agrade”? — Ele perguntou, com a mesma tranquilidade de sempre.Nenhuma mulher diria que não gosta de ser agradada. Mas, para mim, isso tinha que vir d
— Por que você não atende? — Perguntei sem pensar.— Vou atender. — George respondeu com naturalidade, enquanto se levantava. — Aproveita e levanta também. Vai lavar o rosto e se preparar para o café da manhã.Fiquei surpresa e perguntei, incrédula:— Você já preparou o café?Eu tinha achado que ele havia ficado o tempo todo ao meu lado na cama, mas, pelo jeito, ele já tinha feito o café da manhã, voltado para a cama para me acompanhar e ainda arranjou tempo para estudar.É, pessoas excelentes sempre fazem mais do que aparentam.— Fiz, sim. Preparei uma canja de galinha para você recuperar as energias. — Ele disse, enquanto bagunçava meu cabelo com carinho.Era tão bom ser cuidada assim. Por um instante, senti como se fosse a pessoa mais importante do mundo.Enquanto George foi atender o telefone, tirei a mão debaixo do cobertor e olhei para o anel no meu dedo. Peguei o celular, tirei uma foto e postei no Instagram com a legenda: “Edição limitada”.Depois, rolei o feed por alguns minut
Fui eu que disse, mas isso não era algo pessoal? George, percebendo minha dúvida, respondeu prontamente:— Falei com o Sr. Edgar.— Ah... — Murmurei, meio distraída, enquanto continuava comendo. Não vi nada de errado nisso, então deixei passar.Mas, depois de algumas mordidas, a ficha caiu.— Espera... Você tem tanta intimidade assim com o Sr. Edgar? Você pediu folga para mim e ele simplesmente aceitou? E ainda foi todo educado ao me avisar?George, com a calma de sempre, continuou comendo, sem se apressar:— Não somos tão próximos assim.Eu ri, achando graça.— Não? Então por que parece que você é o chefe dele?Na verdade, eu queria dizer que ele parecia mais o pai do Edgar, porque sempre que George pedia algo, Edgar atendia sem pestanejar.— Mais ou menos isso. — Ele respondeu, com uma tranquilidade que me deixou sem palavras. — Ele precisa de mim para desenvolver novos produtos. Se ele quer ganhar dinheiro, precisa de mim. Então, quando eu peço algo, ele não tem coragem de recusar.
— Sou eu, quem fala? — Perguntei, levando os olhos automaticamente na direção de Sebastião. Ele parecia não ter me visto. Caminhou sozinho até uma das cadeiras próximas e sentou-se, com o semblante fechado. — Sou o funcionário A8338 da empresa Eternidade Seguros Amorosos. Há quatro anos, você e o Sr. Sebastião adquiriram conosco uma apólice de seguro de amor. Agora o período chegou ao fim, e precisamos confirmar algumas informações com você. Ao ouvir aquilo, senti um arrepio percorrer minha espinha. Instintivamente, olhei para George. Ele estava comigo até aquele momento, mas, quando atendi ao telefone, discretamente se afastou. Era o jeito dele: sempre me dava meu espaço, respeitava meu momento, sem nunca deixar de me transmitir segurança. George era mesmo incrível. Cuidava de mim, mas sem invadir. — Por favor, vocês ainda estão namorando ou já se casaram? — O atendente perguntou, em um tom de quem tentava medir as palavras. Por reflexo, meus olhos buscaram novamente Seb
— Aqui é o saguão do aeroporto, tem gente passando por todos os lados... E até crianças. — Avisei, tentando fazer George desistir da ideia. Ele soltou um breve “hum” e respondeu com calma: — Eu sei. — E mesmo assim você quer... — Senti minhas bochechas começarem a queimar. — Quero! — Ele afirmou com tanta convicção que fiquei sem palavras. Na hora, minha primeira reação foi pensar que George também tinha visto Sebastião. Talvez estivesse com ciúmes... Quem sabe ele quisesse apenas afirmar algo, deixar claro para Sebastião que eu não era mais parte do passado dele. Com esse pensamento na cabeça, fechei os olhos, decidida. Meu coração disparou enquanto eu me preparava para um beijo repentino, ali mesmo, no meio daquele aeroporto cheio de gente. Mas... O beijo nunca veio. Em vez disso, senti algo pesado na minha mão. Abri os olhos, surpresa, e olhei para George, sem entender. Ele apenas indicou com um movimento de cabeça que eu olhasse o que ele tinha me dado. Curiosa, a
— Isso é mesmo uma pergunta? Ninguém gosta de ser enganado! — Respondi, sem hesitar. Olhei para ele, desconfiada, e perguntei de forma direta: — Por quê? Está pensando em me enganar no futuro ou já escondeu alguma coisa de mim? George ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder: — Não. A resposta parecia sincera, mas não pude deixar de reforçar minha posição: — George, eu não tolero mentiras. Ele engoliu em seco, e seu pomo de adão subiu e desceu lentamente antes de dizer: — Eu sei. Era bom que soubesse. Eu acreditava firmemente que as coisas precisam ser claras desde o início. Se um dia ele decidisse me enganar, não poderia me culpar por reagir. O som do alto-falante do aeroporto anunciou o embarque de um voo internacional. Automaticamente, minha mente foi até Sebastião. Olhei de relance e, como esperado, lá estava ele, empurrando uma mala em direção à área de inspeção de segurança. Para onde ele estava indo? Negócios? Ou... — Carina, está na hora