“Tão tarde, o que o Miguel quer comigo agora?” Enquanto eu ainda tentava entender, George acrescentou:— Ele também te mandou mensagens.Fiquei meio atônita, e ele me passou o celular.Eu ainda estava fraca e exausta. George me observava com atenção:— Se não quiser atender, não atende.Hesitei, pensando se deveria ou não atender, mas o telefone acabou desligando sozinho antes que eu tomasse qualquer decisão.Peguei o celular e abri as mensagens. Eram justamente aquelas que eu não tinha lido pela manhã. Todas estavam como não lidas.[Carol, podemos nos encontrar?] [Tem algo que não sei se devo te contar.] [Carol, responde quando vir a mensagem.]Essas eram da manhã, mas à tarde ele tinha mandado mais duas: [Estou esperando sua resposta.] [Carol, você está muito ocupada?]Ao ler tudo aquilo, consegui sentir a inquietação de Miguel. Ele estava claramente ansioso e esperando meu retorno. Ele mencionou que tinha algo que não sabia se deveria me contar. Com certeza era algo que o de
— Já quer descartar o George depois de usar o pobre coitado? — Luana soltou, com aquele tom exagerado que só ela sabia fazer.— Que história é essa? — Retruquei, indignada.Ela bufou, cruzando os braços. — E ainda tem coragem de perguntar? Luana apontou para o próprio pescoço, depois apoiou as mãos na beira da cama, inclinando-se para me encarar de perto. — Carol, nunca imaginei que você fosse tão ousada. Parece que você guardou toda a energia acumulada nesses últimos vinte anos só pra usar no George. Engoli em seco, lembrando do chupão que eu tinha deixado de propósito no pescoço dele. — Não é nada disso que você está pensando... Na verdade... Luana ergueu a mão, me interrompendo no meio da frase. — Não precisa explicar. Eu soltei uma risada sem jeito. Ela tinha razão, quanto mais eu tentasse justificar, pior ia parecer. Ela me olhou com um meio sorriso no rosto. — E agora? Tá mais tranquila? Eu sabia do que ela estava falando. Era sobre as investigações do acide
— Como você ficou doente? — Miguel entrou no quarto com uma expressão claramente preocupada e um buquê de flores nas mãos.Eu, deitada na cama, percebi que aquela posição não era mais adequada. Segurei no apoio lateral para me sentar, mas Miguel logo me impediu, pressionando suavemente meu ombro.— Não precisa se levantar.— Eu estou bem. — Insisti, forçando o corpo para me sentar.Com George, eu não me incomodava de permanecer deitada. A relação que eu tinha com ele era diferente da que eu tinha com outros homens. Mas, com Miguel, a dinâmica era outra.Os olhos dele fixaram-se no meu rosto, sérios.— O que aconteceu de verdade?Como eu poderia explicar que tudo isso aconteceu porque fiquei muito abalada com as coisas que descobri sobre os meus pais? Não era que fosse difícil falar, mas eu simplesmente não queria. Faz tempo que adotei o hábito de economizar palavras, lidando com situações delicadas de forma superficial, sem me aprofundar.— Foi só uma queda de pressão por causa da hipo
— Miguel, Sebastião é adulto. Ele precisa arcar com as consequências das escolhas dele. — Disse, expondo meu ponto de vista.João mandá-lo embora ou até mesmo cortar relações era algo que Sebastião tinha provocado por conta própria.— Eu sei, mas ver ele brigando assim com o meu pai me deixa preocupado. E, além disso, tirar ele da empresa vai acabar prejudicando o negócio. — Miguel explicou, demonstrando a razão da sua aflição.Dei um sorriso leve e irônico.— Mas não é você que está lá para isso?Miguel me olhou surpreso, quase incrédulo.— Carol, eu nunca pensei em administrar a empresa. Se fosse o caso, eu nem teria saído naquela época.Se ele realmente nunca pensou nisso, só ele mesmo poderia saber. Não era algo que eu pudesse afirmar.Ainda assim, compartilhei minha opinião:— A empresa é do tio João, ele com certeza tem seus planos. Se quer tirar o Sebastião, é porque sabe que a empresa pode continuar funcionando sem ele.Minha fala foi direta, fria, mas completamente racional. E
A cena toda era constrangedora, menos para George.— Sr. Miguel, só um momento. — George, com a maior naturalidade, me colocou no sofá com cuidado.Ele não saiu logo em seguida. Em vez disso, calmamente pegou uma toalha úmida e limpou minhas mãos.— Come. A sopa está quente, não beba com pressa. — Disse, com o tom despreocupado de quem estava acostumado a cuidar.Miguel continuava parado na porta, visivelmente desconfortável, preso naquela situação onde entrar ou sair parecia igualmente inadequado. Só de olhar para ele, eu já me sentia sem graça.— Pronto, eu mesma faço. — Falei, na tentativa de dar um fim àquela situação. Minha intenção era clara: que George fosse logo falar com Miguel e resolvesse o que quer que fosse.George, no entanto, parecia alheio à tensão. Antes de sair, ele meticulosamente abriu todas as embalagens de comida, organizou os pratos e talheres em frente a mim, como se estivesse montando uma cena proposital.Era uma demonstração de cuidado quase teatral. Para Migu
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm