— Como você ficou doente? — Miguel entrou no quarto com uma expressão claramente preocupada e um buquê de flores nas mãos.Eu, deitada na cama, percebi que aquela posição não era mais adequada. Segurei no apoio lateral para me sentar, mas Miguel logo me impediu, pressionando suavemente meu ombro.— Não precisa se levantar.— Eu estou bem. — Insisti, forçando o corpo para me sentar.Com George, eu não me incomodava de permanecer deitada. A relação que eu tinha com ele era diferente da que eu tinha com outros homens. Mas, com Miguel, a dinâmica era outra.Os olhos dele fixaram-se no meu rosto, sérios.— O que aconteceu de verdade?Como eu poderia explicar que tudo isso aconteceu porque fiquei muito abalada com as coisas que descobri sobre os meus pais? Não era que fosse difícil falar, mas eu simplesmente não queria. Faz tempo que adotei o hábito de economizar palavras, lidando com situações delicadas de forma superficial, sem me aprofundar.— Foi só uma queda de pressão por causa da hipo
— Miguel, Sebastião é adulto. Ele precisa arcar com as consequências das escolhas dele. — Disse, expondo meu ponto de vista.João mandá-lo embora ou até mesmo cortar relações era algo que Sebastião tinha provocado por conta própria.— Eu sei, mas ver ele brigando assim com o meu pai me deixa preocupado. E, além disso, tirar ele da empresa vai acabar prejudicando o negócio. — Miguel explicou, demonstrando a razão da sua aflição.Dei um sorriso leve e irônico.— Mas não é você que está lá para isso?Miguel me olhou surpreso, quase incrédulo.— Carol, eu nunca pensei em administrar a empresa. Se fosse o caso, eu nem teria saído naquela época.Se ele realmente nunca pensou nisso, só ele mesmo poderia saber. Não era algo que eu pudesse afirmar.Ainda assim, compartilhei minha opinião:— A empresa é do tio João, ele com certeza tem seus planos. Se quer tirar o Sebastião, é porque sabe que a empresa pode continuar funcionando sem ele.Minha fala foi direta, fria, mas completamente racional. E
A cena toda era constrangedora, menos para George.— Sr. Miguel, só um momento. — George, com a maior naturalidade, me colocou no sofá com cuidado.Ele não saiu logo em seguida. Em vez disso, calmamente pegou uma toalha úmida e limpou minhas mãos.— Come. A sopa está quente, não beba com pressa. — Disse, com o tom despreocupado de quem estava acostumado a cuidar.Miguel continuava parado na porta, visivelmente desconfortável, preso naquela situação onde entrar ou sair parecia igualmente inadequado. Só de olhar para ele, eu já me sentia sem graça.— Pronto, eu mesma faço. — Falei, na tentativa de dar um fim àquela situação. Minha intenção era clara: que George fosse logo falar com Miguel e resolvesse o que quer que fosse.George, no entanto, parecia alheio à tensão. Antes de sair, ele meticulosamente abriu todas as embalagens de comida, organizou os pratos e talheres em frente a mim, como se estivesse montando uma cena proposital.Era uma demonstração de cuidado quase teatral. Para Migu
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura. — Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei: — Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desre
Minha mão estava doendo de tanto que ele apertava, claramente estava bravo.Isso era ciúmes?Mal surgiu esse pensamento, Sebastião soltou minha mão, com o olhar frio:— Carolina, só porque eu disse aquilo, você vai se vingar assim?Fiquei surpresa; não esperava que ele pensasse assim.— Eu não fiz isso, eu... — Comecei a explicar, mas fui interrompida.— Você tocou onde nele? Você realmente tocou naquela parte? — O maxilar de Sebastião estava tenso, seus olhos estavam ameaçadores.Ele raramente ficava assim, claramente estava com ciúmes.Naquele momento, minha frustração diminuiu consideravelmente, ele ainda se importava comigo. Se ele apenas me visse como uma irmã ou amiga, não se importaria se eu tocasse em outro homem.— Não. — Neguei novamente.Então, Augusto saiu de dentro e assobiou para mim:— Pervertida, como assim está flertando com meu cunhado de novo?A expressão "Da boca de um cachorro não sai uma palavra boa" se encaixava perfeitamente.Olhando para Augusto com aquele jeit