Capítulo 4
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.

Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.

— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.

O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura.

— Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.

Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?

O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei:

— Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.

— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.

Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desrespeitosa.

Concordei com a cabeça e respondi:

— Bebi.

— O quanto você bebeu? — Essa pergunta do policial realmente não tinha nada a ver com o que estava acontecendo. Mesmo assim, respondi sinceramente

: — Uma garrafa de cerveja.

O policial me olhou com desconfiança. Lembrei imediatamente que minha amiga Luana poderia testemunhar por mim, mas, por uma infeliz coincidência, enquanto eu e o garoto estávamos caídos no chão, ela me mandou uma mensagem dizendo que tinha sido chamada de volta ao hospital para salvar uma paciente com hemorragia.

Entendi o que o policial queria dizer e expliquei novamente:

— Eu não estava bêbada, e muito menos aproveitei para tocar esse garoto.

O policial anotou minha declaração e voltou a olhar para Augusto.

— Você tem certeza de que ela te tocou? Mentir e acusar falsamente pode ter consequências legais.

— Claro que tenho certeza. — Augusto realmente mantinha firme sua posição.

Eu estava tão irritada que quase pulei para dar uma surra nele. Antes que eu pudesse colocar meus pensamentos em prática, os olhos de Augusto brilharam de repente.

— Mana, você chegou?

Como ele era menor de idade, certamente chamaram os pais. Me virei para explicar a situação para os responsáveis dele, mas fiquei surpresa ao reconhecer quem entrou.

Duas pessoas entraram. A mulher, com longos cabelos lisos e pretos, vestia um vestido branco, representando o epítome da pureza. Ela se chamava Lídia. Eu sabia quem ela era, e ao lado dela estava Sebastião.

— Augusto, o que houve? — Lídia perguntou, preocupada com o garoto.

Augusto não respondeu; em vez disso, fez um biquinho para Sebastião.

— Mana, esse é o novo cunhado?

O rosto de Sebastião ficou tenso, e seu olhar passou de surpreso para frio ao olhar para mim.

— Carolina, o que aconteceu?

— Cunhado, você conhece essa mulher? Me deixe se contar, ela é uma pervertida, ela tocou aqui e aqui... — Augusto continuou a mentir, acompanhando suas palavras com um gestual teatral.

Nesse momento, eu já não tinha mais disposição para explicar. Apenas olhei para Sebastião. Apenas algumas horas atrás, ele me deixou, e agora ele era o novo cunhado de alguém. A resposta para onde ele correu a tarde inteira parecia estar aqui.

A mulher ao lado de Sebastião olhou para mim com gentileza e falou suavemente:

— Carolina, sou Lídia, irmã de Augusto.

Fiquei surpresa ao descobrir que ela sabia quem eu era. Fazia sentido; sendo eu um apêndice de Sebastião, quem o conhecia também me conhecia.

Mas eu e Lídia nunca tínhamos tido nenhuma interação. Eu soube dela recentemente por causa do acidente de carro do marido dela, que resultou na morte dele. Sebastião, como bom amigo do falecido, passou três dias e noites cuidando da situação sem voltar para casa.

Engoli a amargura que estava na minha garganta e disse:

— Eu apenas esbarrei no seu irmão e o derrubei, não fiz nada do que ele está dizendo.

Lídia sorriu apologeticamente e respondeu:

— Eu sei, ele é sempre travesso e bagunceiro.

Depois de dizer isso, Lídia deu duas leves palmadinhas na cabeça de Augusto e explicou tudo para o policial, que logo verificou as câmeras de segurança para confirmar que eu estava dizendo a verdade.

— Já que vocês se conhecem, que tal resolverem isso amigavelmente? Caso contrário, o garoto pode ser detido por denúncia falsa. — O policial sugeriu.

Lídia imediatamente puxou o braço de Sebastião, um gesto pequeno em termos de movimento, mas cheio de proximidade.

Sebastião, uma figura de autoridade, tinha uma aura natural que afastava muitas pessoas. Era raro alguém ter a intimidade de o tocar daquela forma, e ele também não gostava que os outros o tocassem.

Mas o toque de Lídia não o incomodou, o que era bastante revelador — Eles tinham uma familiaridade que eu achei difícil de aceitar.

Algumas coisas eu prefiro não aprofundar demais.

Quanto à conciliação, pensei por alguns segundos, mas antes que eu pudesse dizer algo, Sebastião já tinha decidido por mim:

— Foi um mal-entendido, esqueça isso.

Então, senti um puxão forte. Sebastião segurou minha mão e me levou para fora dali.
Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo