Capítulo 9
— Se junte a nós.

Sebastião não perguntou minha opinião antes de concordar. Lídia se sentou, olhando para a comida à sua frente, com uma expressão de desejo.

— Peixe grelhado! Eu estava desejando isso recentemente.

— Então, devo pedir mais um foie gras para você? — A naturalidade na fala de Sebastião era notável.

— E uma sobremesa também. Quero sorvete de iogurte com calda de morango, e para beber, suco de laranja, — Lídia concluiu, olhando para mim. — Carolina, você quer um suco de laranja também?

— Não, eu bebo água. — Disse, enquanto colocava o foie gras no meu garfo na boca.

Suave e delicado, ainda com um leve sabor de leite...

— Sebastião, o foie gras que você trouxe para mim das últimas vezes também era daqui?

As palavras de Lídia me fizeram parar de mastigar o foie gras. Olhei para ele, que parecia visivelmente desconfortável.

— Sim. — Sebastião respondeu.

Não era de se admirar que ele soubesse que o foie gras daqui era bom; afinal, ele já havia comprado várias vezes para outra pessoa, enquanto para mim, hoje era a primeira vez. E também sob um sentimento de culpa.

De repente, o sabor do foie gras mudou completamente na minha boca, a ponto de eu não conseguir engolir.

— Não é à toa que passei por aqui, e o cheiro familiar do foie gras me atraiu. — Lídia sorriu para Sebastião, seus olhos cheios de ternura, parecendo uma rede que me sufocava. Ela olhou para mim novamente. — Carolina, Sebastião deve trazer você aqui com frequência, certo? Por isso ele sabia que o foie gras daqui era bom e levou para mim.

As suas palavras eram como um punhal no meu coração, não bastava o espetar, mas tinha de o torcer. Esse sentimento, eu senti totalmente neste momento.

Olhei para Sebastião antes de responder:

— Não, é a primeira vez. Eu não sou tão sortuda quanto você.

O sorriso de Lídia vacilou, e ela baixou os olhos. Com uma voz trêmula, disse:

— Fernando nos deixou, a mim e ao... bebê. Não há sorte nenhuma. — Dito isso, suas lágrimas começaram a cair.

Fiquei surpresa, como uma simples frase a fez chorar?

— Carolina! — Sebastião me chamou severamente e pegou um guardanapo para Lídia. — Não pense nisso, você não pode chorar agora, isso não é bom para o bebê.

— Se Fernando estivesse aqui, eu não estaria sozinha nem mesmo para uma refeição. — Lídia continuou, pegando o guardanapo oferecido por Sebastião e secando os olhos. — Desculpe, estou grávida e emotiva. Não quero estragar o momento, acredito que é melhor eu ir embora...

Ela fez um movimento para se levantar, mas Sebastião a segurou.

— Você está exagerando, já pedimos a comida para você, experimente o peixe grelhado, é delicioso.

Sebastião a soltou e pegou um pedaço de peixe para colocar no prato dela. Mas eu Interrompi:

— Sebastião, por que você está colocando o peixe no prato dela com seu próprio garfo? Use o garfo de serviço.

Minha observação fez com que a mão de Sebastião parasse no ar, criando um momento de tensão.

Lídia olhou para ele e, de forma compreensiva, disse:

— Sebastião, não precisa pegar para mim, eu mesma faço isso.

Sebastião colocou o peixe no próprio prato, depois pegou o meu prato e colocou um pedaço de peixe, removendo as espinhas. Eu tinha ficado com uma espinha de peixe presa uma vez, e desde então, sempre que ele estava por perto, removia as espinhas para mim.

Sebastião sempre foi assim: me magoava primeiro e depois me dava um pouco de felicidade.

— Carolina, Sebastião é muito bom para você. — Lídia comentou.

— Ele deve ser bom para mim. — Coloquei o peixe na boca e, depois de mastigar, continuei: — Se ele for bom para outras pessoas também, então algo está errado, certo, Lídia?

Lídia olhou novamente para Sebastião, respondeu com uma voz suave:

— Sim.

Mesmo sem dizer uma palavra, a expressão e o olhar dela eram claros para mim.

— Lídia, de quantos meses você está grávida? — Mudei de assunto. Mas assim que perguntei, Sebastião chamou minha atenção:

— Lina, se você não comer o foie gras agora, ele vai esfriar e perder a textura.

Eu não sou tola; percebi que ele estava tentando evitar que eu perguntasse a Lídia sobre isso.

Mas ele sempre me disse que a criança não era dele, por que eu não poderia perguntar? Se o segredo sobre a criança não fosse algo para esconder, então talvez ele estivesse excessivamente preocupado com essa mulher.

Mas eu era noiva dele.

— De qualquer maneira, a textura não está boa.

Depois de saber que ele já levou foie gras para Lídia várias vezes, eu não queria comer nem mais um pedaço.

Sebastião percebeu meu tom de voz e me olhou. Eu o olhei de volta, um silêncio pesado entre nós. O calor e a felicidade tinham desaparecido completamente. De fato, um mundo de duas pessoas não tolera um terceiro.

Coincidentemente, a sobremesa, o foie gras e o suco que Lídia pediu chegaram. O garçom os colocou na mesa e educadamente perguntou:

— Quer que eu corte o foie gras?

— Não. — Lídia recusou e olhou para Sebastião. — Sebastião, você pode cortar para mim? Sempre faz isso, o tamanho fica perfeito.

— Lídia. — Falei novamente: — O restaurante oferece esse serviço, não vamos incomodar Sebastião, afinal ele já tem que remover as espinhas do meu peixe. Ele não consegue fazer tudo.

Lídia imediatamente mordeu o lábio.

— Desculpa, Carolina, você está certa. Eu mesma corto.

— Carolina! — Sebastião me chamou novamente, pela terceira vez hoje. — Lídia tem receio de comer alimentos que já passaram pelas mãos dos outros. Ela está grávida e precisa ser cuidadosa.

— Hã? — Soltei uma risada — E qual alimento na frente dela não passou pelas mãos de outras pessoas?

Sebastião ficou em silêncio. Lídia demonstrou um misto de mágoa e confusão.

— Desculpe, é minha culpa. Sebastião, não fique bravo com Carolina. Se é assim, acho melhor eu ir.

Ela tentou se levantar novamente, mas Sebastião a segurou mais uma vez.

— Não se importe com o que ela diz, ela está naqueles dias e emocionalmente abalada. Ela sempre fala assim.

— Boa previsão. — Eu disse. — De fato, minha menstruação chegou, mas não trouxe absorventes. Vai comprá-los para mim?

Sebastião franziu a testa.

— Você sabe sobre seu ciclo menstrual, por que não trouxe absorventes na bolsa?

— Bem, eu tenho um noivo que lembra do meu ciclo menstrual, não é? — Sorri sem humor.

Embora claramente irritado, Sebastião se levantou e disse:

— Continuem comendo, eu volto logo.

Restamos apenas eu e Lídia na mesa, mas nenhuma de nós tocou a comida, permanecendo em silêncio. Segundos depois, Lídia falou primeiro:

— Carolina, você me odeia, não é?

Ela ao menos estava consciente. Eu não dissimulei.

— Não diria ódio, mas você realmente me incomoda.

Olhei para ela, vendo sua expressão triste, e continuei:

— Sebastião é meu noivo e nos casaremos em breve. Você constantemente o chama, até mesmo à noite. Não acha que está ultrapassando limites? Se fosse você, aceitaria isso?
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