Capítulo 8
— Senhorita Carolina, o Presidente Martins está procurando por você. — Ana Gomes, que veio comigo, levantou o celular na minha frente.

Eu realmente subestimei a persistência de Sebastião. Nesse caso, só podia pegar o celular e responder com um tom cortês:

— Presidente Martins, em que posso ajudar?

— Lina. — A voz de Sebastião soava rouca, com uma clara nota de desculpa. — Por que você saiu tão cedo hoje? Voltei para casa e não encontrei você.

Percebi que ele não queria falar sobre negócios e me afastei um pouco antes de responder:

— Saí para tomar café da manhã.

— Me desculpe.Eu... ontem à noite... não consegui sair, então não voltei para casa.

Meu coração esfriou, dei um sorriso sarcástico e perguntei:

— Por que não conseguiu sair? — Sebastião se manteve em silêncio. Segurei a respiração antes de continuar: — Não encontrou uma cuidadora?

— ...Não. — Ele respondeu. Eu não disse mais nada e Sebastião continuou: — Lina, a que horas você termina aí? Posso ir se buscar e almoçamos juntos?

Já fazia muito tempo que não almoçávamos juntos e, segundo Augusto, nos últimos dias ele tinha passado o tempo todo com Lídia. Hoje, de repente, me convidar para almoçar era uma compensação pela noite passada ou um súbito despertar de consciência?

Eu não sabia e não queria perder tempo presumindo, então respondi indiferente:

— Não sei a que horas vou terminar, talvez nem termine ao meio-dia. Além disso, você não tem andado ocupado todos os dias para o almoço?

— Lina, — Sebastião provavelmente percebeu minha ironia, e depois de um silêncio de dois segundos, disse: — Não pense demais.

Ontem à noite ele conseguiu deixar a cama com as calças na mão, o que mais eu poderia pensar?

Agora é hora de trabalho e eu não queria falar de assuntos pessoais.

— Estou ocupada no momento, se não tiver mais nada, vou desligar.

Ele não disse nada, e eu desliguei o telefone.

Hoje o trabalho externo incluía discussões entre as partes e inspeções no local. Às dez da manhã, terminamos as discussões e eu e Ana seguimos para o local.

Era um projeto de construção de um parque de diversões, e eu era responsável por acompanhar todos os projetos. Já estava 80% concluído e eu precisava verificar se o progresso estava de acordo com as plantas.

O parceiro seguiu exatamente as plantas; a probabilidade de problemas era pequena, mas por questões de procedimento, eu precisava fazer a vistoria.

Depois de uma rodada de inspeção, meus pés estavam inchados e meus dedos doíam. Encontrei um lugar para sentar e descansar. Ana percebeu que algo estava errado e perguntou:

— Senhorita Carolina, você não está se sentindo bem?

— Sim, meus pés estão doendo. — Eu não escondi. Se não estivesse no campo, teria tirado os sapatos para relaxar meus pés.

— Oh! — Ana olhou para o meu rosto. — Senhorita Carolina, além dos seus pés, você também não está se sentindo bem? — Fiquei um pouco surpresa. Ana apontou para o próprio rosto. — Senhorita Carolina, você está com uma aparência péssima.

Depois de uma noite mal dormida, seria um milagre parecer bem. Além disso, quando uma mulher está triste, nem a melhor maquiagem consegue ajudar.

— Talvez minha menstruação esteja chegando. — Inventei uma desculpa e peguei o celular, fingindo tratar de assuntos.

Ana era uma garota falante, e eu temia que, se ela continuasse a perguntar, não conseguiria mais sustentar a mentira.

De repente, uma sombra caiu sobre mim. Pensei que fosse Ana e não dei atenção, até sentir um calor no tornozelo e perceber a mão familiar. Sebastião tirou meus sapatos, colocou meu pé em seu joelho e começou a massagear

— Os sapatos estão apertados? — Eu não disse nada, quase chorei. Ele olhou para mim e disse baixinho: — Ainda está brava?

— Não. — Eu disse enquanto tentava puxar meu pé de volta. Sebastião não soltou, continuou a massagear.

— Não vai acontecer de novo.

Hoje, Sebastião estava usando um terno azul-cobalto, com uma camisa branca por baixo. As abotoaduras da camisa refletiam a luz do sol, assim como ele brilhava.

Ele massageou meu pé esquerdo, depois o direito. Mesmo com pessoas ao redor, ele não deu atenção. Várias garotas ao redor começaram a olhar com inveja e cochicharam sobre como finalmente viram um homem bonito e carinhoso na vida real.

Eu admito que fiquei tocada, e meu ressentimento pela noite passada se dissipou enquanto ele massageava meus pés.

— Você é tão sortuda! — Ana disse à distância, movendo os lábios para formar as palavras.

Sebastião já fizera tanto, e se eu continuasse apegada à noite passada, além de parecer mesquinha, pareceria que eu estava desesperada por algo sexual.

— O que você quer comer no almoço? — Sebastião perguntou.

— Não importa. — Eu realmente não tinha apetite, embora meu humor estivesse um pouco melhor agora.

— Vou te levar para comer peixe grelhado; eles também têm foie gras grelhado muito bom. — Sebastião me levou para o carro.

Eu estava prestes a colocar o cinto de segurança quando ele se inclinou. O cheiro do sabonete passou pelo meu nariz, me fazendo prender a respiração.

Ele percebeu minha reação e sorriu, puxando o cinto para mim. Ao se endireitar, beijou minha bochecha.

— Lina, você parece tão tímida como quando era criança.

Embora o beijo fosse breve, ele mudou completamente o meu humor. Eu sempre fui assim. Bastava um pequeno agrado dele e eu já ficava encantada.

Pensando em Lídia, perguntei:

— Como está Lídia agora?

— Tudo bem, saiu do hospital. — Eu não disse mais nada, Sebastião me olhou. — Por que ficou quieta?

— Não sei o que dizer. — Disse a verdade.

Mas ao dizer isso, me lembrei daquela noite em que ele disse: “Estamos muito familiarizados.”

Sim, estamos tão familiarizados, sabemos tudo sobre a vida um do outro, a ponto de não ter mais o que dizer.

Sebastião me levou ao restaurante, e o garçom nos conduziu a uma mesa perto da janela com um buquê de rosas brancas que eu adoro. Só então percebi que ele havia reservado o lugar com antecedência.

Peixe grelhado, foie gras e sobremesas de que eu gostava foram servidos.

Este almoço claramente mostrava a consideração dele.

Tirei uma foto e postei no meu perfil, destacando a comida, as flores e as mãos bonitas de Sebastião.

Meus colegas de trabalho curtiram imediatamente e Ana comentou com um emoji bravo: “Não me levou”.

Quando viemos, Sebastião tinha dito a Ana para resolver sozinha e depois reembolsar a nota fiscal.

Luana também viu, mas em vez de curtir, ela enviou uma mensagem privada: “Vendo o esforço dele, percebi que estava errada. Ainda não está tão mal, e eu perguntei a uma enfermeira que estava de plantão ontem à noite. Ele só ficou no quarto, não aconteceu nada.”

— Pare de olhar para o celular e coma. — Sebastião sugeriu enquanto colocava foie gras no meu prato.

Peguei o garfo e estava prestes a levar um pedaço à boca quando vi uma figura familiar se aproximando. Lídia também me viu e veio sorrindo.

— Senhorita Pinto. — Depois, ela olhou para Sebastião e disse: — Sebastião, você também está aqui?

O que ela queria dizer? Qual era o problema do meu noivo estar aqui?

— Que coincidência, Senhorita Reis. O que faz aqui? — Perguntei diretamente.

— Fui ao túmulo de Fernando e, por acaso, passei por aqui. O cheiro do foie gras me atraiu.

Lídia tinha uma pele delicada, e até a voz dela era macia.

— Você está sozinha? — Sebastião perguntou.

— Sim, então, se não se importarem, posso me juntar a vocês? — Lídia disse, já colocando o casaco na cadeira ao lado de Sebastião.
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