Capítulo 3
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.

O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.

— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.

Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar:

— Sebastião, e se nós...

Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.

Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth:

— Alô... Ok, estou indo agora.

A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim.

— Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.

Na verdade, antes mesmo dele falar, eu já sabia que ele iria me deixar. Não era a primeira vez. Mas, antes dele falar, eu ainda tinha esperança de que ele me levaria primeiro.

Meu coração doeu um pouco, mas eu segurei a tristeza.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei.

Sebastião apertou a mandíbula e não respondeu, apenas olhou para fora do carro.

— Desça ali na frente, pegue um táxi para casa.

Ele nem se deu ao trabalho de explicar, e já tinha tudo planejado. O que mais eu poderia dizer? Perguntar ou fazer uma cena só me traria mais constrangimento.

— Quando chegar em casa, me ligue ... me mande uma mensagem. — Sebastião recomendou enquanto já girava o volante e parava o carro em um estacionamento temporário à beira da estrada. Segurei minha bolsa com força e desci do carro em silêncio.

Não era apenas uma sensibilidade minha; desde que ele viu aquele número estranho e evitou atender no viva-voz, eu já tinha um pressentimento. Mas preferi não perguntar, nem comentar nada. Era melhor não saber, para manter a ilusão.

— Tome cuidado no caminho! — Ele, apressado, raramente me dava um aviso carinhoso antes de partir, mas ainda assim saiu acelerando.

Fiquei parada ali, olhando na direção em que ele sumiu, até que meus olhos começaram a arder. Então, baixei o olhar para meus pés.

O celular no meu bolso vibrou; era minha amiga Luana Silva me ligando:

— Lina, onde você está? Vamos jantar juntas?

Luana é ginecologista, jovem e sem namorado, mas uma excelente médica.

— Claro. — Aceitei prontamente.

Do outro lado, Luana imediatamente perguntou:

— O sol nasceu no oeste hoje? Normalmente, quando te chamo para jantar, você sempre diz que precisa perguntar ao Sebastião primeiro. Por que aceitou tão rápido hoje?

Meu peito apertou. Nestes dez anos, eu me tornei praticamente um acessório de Sebastião. Até para jantar com amigos ou fazer compras, eu precisava consultá-lo, com medo de que ele não me encontrasse.

Mas hoje, as palavras de Sebastião me fizeram perceber que eu me tornei um fardo para ele, uma fonte de cansaço.

— Você está no hospital ou em casa? — Em vez de responder, perguntei.

Luana me deu o endereço direto, mandando eu ir até lá.

— O que houve? Você e o seu Martins brigaram de novo? — Luana percebeu que algo estava errado assim que me viu.

Ela era uma das minhas poucas amigas, então não escondi nada dela. Depois de ouvir, Luana começou a xingar.

— Homens não valem nada. Cansado de você? Fala como se tivesse dormido com você várias vezes.

Essas palavras não me confortaram; ao contrário, me fizeram sentir constrangimento. Eu e Sebastião estamos juntos há tanto tempo e realmente nunca tivemos relações sexuais.

Mas intimidade não faltou. Uma vez, eu estava bêbada e fui em cima dele, mas ele me pegou e me jogou de volta na cama. Naquela época, pensei que Sebastião estava me respeitando, evitando tirar vantagem de mim enquanto eu estava bêbada. Hoje, percebi que ele simplesmente não estava interessado.

Dizem que, se um homem realmente ama uma mulher, ele estará ansioso para dormir com ela. Mas Sebastião não sente esse desejo por mim.

— Luana, acho que vou desistir. — Depois de um dia inteiro de dilema, finalmente encontrei uma resposta.

— Tudo bem, eu apoio você. — Luana brindou comigo com um copo de água. — Não há sapos de três pernas, mas há muitos homens de duas pernas. Com sua beleza, qualquer homem vai te querer!

Luana estava certa. Aos dezoito anos, ganhei um concurso de beleza. Se não fosse por Sebastião, eu provavelmente teria seguido uma carreira de estrela. Com minha beleza, recebi muitas propostas e louvores ao longo dos anos, mas nunca me interessei. Só queria Sebastião!

O pensamento real me fez sentir um aperto no peito, e corri para o banheiro para evitar que Luana percebesse minha mentira.

Acabei esbarrando em alguém na porta do banheiro. Talvez por estar correndo, derrubei a pessoa e caí por cima dela. Quando estava prestes a pedir desculpas, a pessoa gritou:

— Assédio! Eu estou sendo assediado...
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