O inverno dos escritores mortos (Detetive Borzagli vol 01)

O inverno dos escritores mortos (Detetive Borzagli vol 01)PT

Miller Britto  Recién actualizado
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Resumen
Índice

Os detetives Fred e Elis estão diante do caso mais desafiador de suas carreiras. Inicia-se a caçada a um psicopata que mata apenas escritores de romances policiais, da mesma forma que estes tiram a vida de seus personagens. O metódico assassino demonstra habilidade e inteligência acima da média, enquanto aumenta a contagem de mortos sem deixar uma pista sequer. Fred precisa não apenas lidar com a pressão do trabalho, mas também com os fantasmas que gritam em sua mente, assolando sua sanidade desde o sequestro de seu filho, que segue desaparecido há dois anos. Como se estes fardos não fossem pesados o suficiente, o detetive Borzagli carrega um segredo que afetará todos à sua volta, inclusive a investigação e seu futuro como policial. Em O Inverno dos Escritores Mortos, Miller Britto desafia o leitor a seguir as pistas, conduzindo-o por uma trama de mentiras e segredos funestos, que culminarão em um dos finais mais inimagináveis da história da ficção policial brasileira.

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Capítulo 01
Prólogo O inverno chegara marcando seu território com um vento gélido, que vagueava pela tarde sem sol assobiando uma canção melancólica pelas ruas vazias do bairro de classe alta. A mulher, que mantinha a casa fechada para o frio, para os vizinhos enxeridos, fechada até para os amigos do filho menor, tinha cometido o erro de abrir suas portas justamente para aquela pessoa. Ingênua, bastou ouvir as palavras Orquestra Sinfônica e a menção à filha, que se apressou em convidar a visita para entrar. Não pediu qualquer identificação, apenas se preocupou em fazer chá quente e saboroso, com os biscoitos maravilhosos que fazia apenas em ocasiões especiais. A receita era um legado de família. Acreditava que a oportunidade que a filha tanto esperava tinha finalmente batido à porta. Como fora tola. Quando voltou à sala foi surpreendida pelas costas, sentiu uma picada no pescoço e braços firmes a lhe segurar, enquanto a bandeja ia ao chão com grande estardalhaç
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Capítulo 02
Capítulo 2 Luís estava debruçado sobre o teclado de seu computador, ter tantos livros à sua volta não ajudava a fazer com que seu texto fluísse com mais facilidade. “... a corda foi puxada com força, erguendo do chão o homem que esperneava. O pescoço não se quebrou por um mero acaso, a vida lhe abandonava em golfadas de ar cada vez menores...” Depois de ler tantos romances policiais, ele estava convencido de que poderia criar algo que fosse aceitável pelo menos para dividir com os amigos, mas acreditava que ainda não tinha chegado a esse ponto, e seu hobby era mantido em segredo. Luís tomava conta da livraria dos pais, que, cansados da vida corrida e barulhenta na grande metrópole, voltaram para os dias tranquilos de cidade de interior, onde as preocupações eram menores e o estresse era apenas uma lembrança de tempos passados. Uma livraria de bairro não era exatamente o grande negócio do século XXI, então, a fim de manter viá
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Capítulo 03
Capítulo 3 A casa limpa com esmero, a mesa posta com perfeição, a comida insuportavelmente deliciosa, temperada com o sabor amargo do silêncio, e, acima de tudo..., a cadeira vazia junto à mesa. Fred já não suportava aquele ritual. Desde o bater dos talheres na louça ao tique-taque alucinante do relógio de parede, que, no vão deixado pela ausência de palavras, soava quase ensurdecedor. Fred sentia-se sufocar. Sentia-se completamente inútil, incapaz de fazer Sandra feliz e incapaz de trazer o filho de volta. Perguntar à esposa sobre seu dia? Não, isso a faria se lembrar de que agora sua vida se resumia apenas a limpar a casa repetidamente, até que houvesse apenas poeira imaginária. Verificar religiosamente se os brinquedos do filho estavam todos enfileirados como ele gostava, esperando sua volta para levá-los para brincar no quintal e, por fim, a jornada rumo à cozinha, para preparar os pratos com sabor dos dias felizes que já
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Capítulo 04
Capítulo 420 anos atrásO garoto subia a rua apressado. Aos dez anos de idade, nada era mais importante do que o futebol contra os garotos do bairro vizinho. A semana na escola tinha sido recheada de provocações e chacotas antecipadas. Perder o jogo estava fora de cogitação.Ele chegou até a porta branca recém pintada. O cheiro de tinta fresca ainda latente. Estendeu a mão e tocou a campainha. Um dingue-dongue clássico ressoou dentro da casa. Ninguém atendeu. Tocou mais uma vez e esperou. O resultado foi o mesmo.Onde estaria o amigo? Os garotos do bairro vizinho eram muito bons e sem o Caneta, o mais habilidoso do time, a possibilidade de derrota era grande. Será que aquele preguiçoso estava dormindo, como costumava fazer depois do almoço?As janelas estavam abertas, então deveria haver alguém em casa. Ele pesou a mão na maçaneta e a porta se abriu, revelando uma sala bonita e aconchegante, cada parede forrada com estantes repletas de livros.O garoto colocou a cabeça no vão da port
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Capítulo 05
Capítulo 5 A sala do detetive andava movimentada nos últimos dias. O superintendente Maciel, que tinha o delicado costume de esquecer-se da existência de Fred, tornou-se figurinha fácil entre aquelas paredes. Parece que o peso do caixão de uma pessoa famosa é maior do que de uma Jane Doe, como diziam nos seriados americanos que ele assistia com a esposa antes de a sala de casa se tornar pequena demais para os dois. -As pessoas estão atrás de respostas, então trabalhe, Fred, e trabalhe rápido. O detetive sabia que Maciel não falava da família da vítima, ou sequer de seus fãs, ele se preocupava apenas com a mídia e a exposição negativa de sua delegacia. Postergar o caso de um João Ninguém não-reclamado, arquivando o processo, era uma coisa, mas tratar alguém famoso da mesma forma era uma heresia, com direito a fogueira em praça pública e transmissão em HD pela Globo News. O problema era que cada ponta solta havia sido explorada e a investi
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Capítulo 06
Capítulo 6 20 anos atrás Luís e Bárbara caminhavam de mãos dadas pelo parque. Aos dez anos, a maioria dos meninos precisava antagonizar as garotas se não quisesse ser motivo de chacota entre os colegas, mas para Luís nada era mais importante do que a companhia de Bárbara. Antes mesmo de descobrir os significados de amor ou paixão, ele sabia que não haveria outra garota em sua vida que não fosse ela.A infância e suas verdades eternas, que duram por horas, dias, ou por toda uma vida. Algumas vezes por semana, depois da aula, os dois se sentavam sob a sombra de uma árvore no parque perto de casa. Faziam os deveres juntos enquanto falavam mal dos professores e de suas provas terrivelmente difíceis. Comentavam os filmes de terror que assistiam escondidos de madrugada e de como aquilo os assustava, mas, mesmo assim, não conseguiam deixar de vê-los. Embora à noite o parque tivesse sua cota de frequentadores suspeitos, durante o dia era um luga
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Capítulo 07
Capítulo 7 Caminhar pelas ruas no frio matinal fazia bem a Fred. Ele odiava o calor e o fato de morar em país tropical. O sol recém-nascido, de raios tímidos, tinha dificuldade em expulsar a neblina que se debruçava sobre a cidade. O detetive não conseguia se lembrar de um inverno tão frio quanto aquele. O maldito aquecimento global vinha tirando dele um dos poucos prazeres que ainda lhe restavam. O Brasil parecia seguir, ano após ano, cabulando o inverno, até que a fria estação finalmente decidiu revidar, premiando as noites com temperaturas que não passavam dos dez graus e, nas manhãs, os ventos gélidos que sopravam pelas ruas pareciam claramente dizer: “não me desafie”. Elis seguia ao lado do detetive, não estavam dispostos a ficar sentados esperando que Rogério chegasse com seu teatro de envelopes pardos. O prédio do departamento forense era apenas a um quarteirão de distância, e eles decidiram caminhar. -Venha, vamos tomar um café p
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Capítulo 08
Capítulo 8 Quanta petulância e arrogância são necessárias para que eles possam escrever sobre algo que nunca experimentaram? Como podem descrever a dor, a verdadeira dor, sem nunca tê-la sentido? Não há palavras suficientes para traduzir as nuances sublimes de algumas sensações. O papel é frio, enquanto o corpo é quente, vivo e pulsante. Canetas ou teclados não podem substituir o peso gélido de um revólver, ou a beleza silenciosa e poética de uma lâmina. Vocês precisam ser punidos. Vocês precisam ser punidos. Vocês precisam ser punidos. Vocês precisam ser punidos. Caminho até a sala e cada passo me faz estremecer de prazer, porque sei que ela pode ouvir a madeira rangendo sob meus pés, ela escuta minha aproximação. Posso imaginar o suor escorrendo de seu rosto, em gotas, descendo até seus belos e arredondados seios. Isso me excita. Não tenho pressa. Quero que ela me veja trabalhar, quero que entenda por que vai morrer. Quero
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Capítulo 09
Capítulo 9O hospital estava lotado de estudantes de medicina e, embora Pedro não gostasse de ficar bancando a babá, dessa vez relevou, afinal o grupo era formado em sua maioria por belas universitárias que se impressionavam facilmente, não apenas com suas habilidades e conhecimento, mas com seus belos olhos azuis.A noite não estava tão movimentada quanto de costume, e ele se permitiu alguns minutos de descanso após a cirurgia de hérnia bem-sucedida que tinha chefiado, diante dos olhares atentos dos estudantes. Um procedimento simples e rotineiro, o que não tinha impedido seu paciente de chorar, implorando para ser apagado rapidamente pela anestesia. Sentado no refeitório, afastado dos demais médicos e enfermeiras, Pedro tentava se concentrar na reportagem exibida no Jornal Nacional. “... já são três mortos ao longo de pouco mais de vinte dias – dizia o âncora de cabelos grisalhos – e a polícia segue sem apresentar suspeitos.” Sua parceira tomou a
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Capítulo 10
Capítulo 10 Quando Fred pisou na sala do juiz Carlos de Alcântara, o cheiro forte de madeira envernizada fez seu estômago embrulhar. Ou talvez fosse apenas a lembrança das palavras de Romero Garcia ecoando em sua mente, uma merda qualquer sobre quanto ganhavam seus advogados e sobre esquemas corruptos de propina. Fred e Elis foram se juntar ao superintendente Maciel e ao promotor de justiça Roberto Oliveira, que estavam de pé do lado esquerdo da sala, enquanto do outro lado Romero fazia questão de sorrir para Fred. O empresário estava acompanhado de seu advogado, cujo terno, o detetive calculou, deveria custar cinco vezes o seu salário, isso sem contar a gravata, os sapatos e abotoaduras. Apenas depois que o juiz Carlos de Alcântara entrou na sala, e tomou seu assento, munido de ar senhorial, foi que todos se sentaram, exceto os detetives, para os quais faltavam cadeiras. O promotor Roberto tinha explicado seu plano de antemão aos policiais. Infe
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