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Capítulo 1: Flores mortas - parte 2

A viagem de carro foi, de fasto, muito mais rápida. 

No caminho, Clarice descobriu que o nome do senhor era Jorge, e soube ainda que ele conhecia sua mãe desde que ela era uma pré-adolescente. Jorge ficou sentido pela notícia do falecimento de Elaina e afirmou que ele e sua esposa estariam disponíveis para ajudá-la na adaptação, já que a casa onde Clarice ficaria era bem afastada da zona principal da cidade. 

Levaram cerca de duas horas para chegar até Pinewood, e, assim que cruzaram a única avenida do lugar, Clarice notou como a cidade ainda era exatamente a mesma. Algumas lojas com fachada reformada, uma e outra lojinha mais recende, mas quase nada havia mudado, ainda era o mesmo lugarzinho frio e meio vazio de sempre, mas com pessoas acolhedoras. 

Seguiram pela avenida até cruzar a cidade, saindo da zona mais populada até a estrada que lavava a grande indústria de tecnologia e sustentabilidade que empregava boa parte das pessoas da região. Mas não chegaram tão perto dela, pararam virando uma pequena estrada de chão, em frente a uma casinha aconchegante de cores vivas, mesmo que um pouco desbotadas. 

— Aqui é bem deserto, mas também é bem tranquilo, eu e minha esposa moramos há alguns quilômetros daqui, acho que umas meia hora — Jorge falou, abrindo a porta e descendo do carro, seguindo para a porta do fundo e abrindo-a, pegando a mala da moca. — O sinal de celular não é tão bom, mas você pode ligar que a gente atende, se aconhecer alguma coisa a Dorinha e eu vamos vir bem rápido, tá bom? 

— Não se preocupe comigo, tá tudo bem! — ela garantiu, segurando a mala pesada e olhando para a casa da sua infância. — Estou acostumada com essa casinha. 

— Claro, claro… Só quero que você saiba mesmo, sua mãe era uma boa amiga minha, então… Vou te ajudar em tudo o que eu puder!

— Obrigada, Jorge — a ruiva agradeceu, com um sorriso de orelha a orelha. 

Gostava da gentileza de Pinewood, era sua coisa favorita na cidade. 

Depois disso, o senhor entrou em seu carro e seguiu a estrada, sumindo de vista, então, finalmente, Clarice pode caminhar até a casa. 

Uma pequena cerca com um portãozinho, tudo de madeira, dividia o terreno. A cerca, outrora branca, estava desbotada e com certeza ela iria dar uma boa pintura nela. A casa ficava na parte inicial de um grande terreno que fazia divisa com a densa floresta que cercava os dois lados da estrada, então, assim que passou pelo portão, Clarice se viu numa pequena campina de grama alta e, aos fundos, a floresta imponente que a cercava. 

A grama havia crescido muito, cobrindo até pouco abaixo dos joelhos dela, então Clarice teve que ir abrindo caminho até chegar a pequena escadinha que levava a porta. A casa era de madeira, completamente amarela, cor favorita de sua mãe e dela também, na escada, as florzinhas brancas pintadas a mão por Elaina ainda podiam ser vistas, mesmo que desbotadas, e Clarice sorriu, decidida a pintar tudo novamente sozinha como sua mãe fez. 

Ela tirou a chave do bolso e a colocou na fechadura, abrindo a porta com um pouco de esforço, parecia um pouco emperrada depois de tanto tempo fechada, então entrou, deixando a mala de lado e suspirando. 

Os móveis ainda estavam como elas haviam deixado há mais de dez anos, cobertos por panos brancos, tinha muita poeira e, definitivamente, precisava de uma faxina. 

Mas estava em casa novamente e, principalmente, mais perto de sua mãe do que nunca agora. 

Tinha um lar, e esperava que sua vida começasse a melhorar a partir dali.

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