O som dos móveis sendo arrastados ecoava pela casa, misturado ao ritmo suave da música que tocava do celular de Clarice. Ela havia aberto todas as janelas, permitindo que o ar fresco e o cheiro úmido da floresta entrassem, e a luz do fim da tarde iluminasse o ambiente.
— Pronto — suspirou, limpando uma gota de suor da testa. — Último móvel.
O cansaço começava a pesar em seus ombros, mas Clarice sabia que a sensação de estar naquela casa era tudo o que precisava para continuar. Já fazia horas que estava de pé, limpando cada canto, cada móvel coberto de poeira. Colocar tudo em ordem era a forma dela de lidar com as memórias e a saudade. O sofá da sala, onde ela e sua mãe costumavam passar as noites juntas assistindo séries de TV, estava agora limpo e convidativo. As cortinas brancas balançavam suavemente ao vento, trazendo uma sensação de paz que ela não sentia há muito tempo.
“Parece que estou mais perto de você agora, mãe”, pensou, sentindo uma pontada de tristeza no peito.
A música mudou para uma faixa mais animada, mas Clarice não conseguia acompanhar o ritmo. A ausência de Elaina era gritante em cada canto daquela casa.Clarice olhou para o relógio na parede e percebeu que já era fim de tarde. O céu começava a ganhar um tom alaranjado, e a luz suave do pôr do sol tingia as paredes de um dourado delicado, banhando a copa das árvores com aquela cor belíssima que reluziu sob os cabelos dela, quando a garota se aproximou da janela para olhar.
— Já fiz muito por hoje — ela murmurou para si mesma, desligando a música e pegando uma garrafa de água que estava na bancada.
Seus braços doíam, e as pernas estavam pesadas, mas o importante é que tudo estava finalmente limpo e arrumado, e que agora a casa estava, mais uma vez, vivida, exatamente como ela se lembrava.
Ela olhou pela janela da cozinha, observando o quintal vasto e o mato alto que balançava com o vento. Um sorriso nostálgico brotou em seus lábios. Quando era criança, adorava brincar ali, correndo entre as flores e o gramado verde. Era sua zona de conforto, seu refúgio quando tudo parecia errado no mundo.
Decidida a reviver um pouco daquele sentimento de paz, Clarice pegou uma toalha fina e foi até o quintal. O som de seus passos afundando na grama alta era suave e familiar, como se a natureza estivesse dando boas-vindas. Sentou-se no centro do quintal, estendendo a toalha sobre a grama e deitando-se sobre ela, com os olhos fixos no céu.
O crepúsculo já tomava conta do horizonte, e as estrelas começavam a surgir, uma a uma, pontilhando o céu com sua luz suave. Clarice fechou os olhos por um instante, sentindo o cheiro de terra molhada e das plantas que cresciam ao seu redor. O silêncio profundo da floresta a envolvia, apenas quebrado pelo som distante de grilos e pelo farfalhar das folhas.
— Isso… Isso é o que eu precisava — sussurrou, sentindo a calma invadir seu corpo.
Lembranças da sua infância começaram a surgir, a voz de sua mãe ecoando enquanto ambas cuidavam do jardim, as risadas que compartilhavam. Era como se, ali, no meio do quintal, ela estivesse mais próxima de Elaina do que em qualquer outro lugar.
"Você estaria orgulhosa, mãe. Estou de volta, e vou fazer isso dar certo. Quero fazer tudo exatamente como você sonhou, mamãe…” pensou, com o coração apertado. A sensação de solidão que a acompanhava desde o acidente parecia, por um momento, ser substituída por algo mais suave, mais acolhedor.
Clarice não sabia quanto tempo havia passado ali, mas, aos poucos, o cansaço começou a dominá-la. Seus olhos pesaram, e a brisa fresca que soprava da floresta parecia embalar seus sentidos. Ela tentou resistir, mas seu corpo pedia por descanso, havia feito tanto o dia todo que não havia como negar um bom cochilo. Então, sem nem perceber, ela adormeceu.
Foi um som distante, quase como um rosnado, que a despertou. Clarice abriu os olhos de repente, o coração acelerado. Estava escuro, e a lua cheia brilhava intensamente no céu, iluminando o quintal com uma luz prateada. Ela se sentou, esfregando os olhos e olhando ao redor, confusa.
— Que droga… Cochilei aqui fora. — murmurou, sentindo um arrepio correr por sua espinha. O ar estava frio, e ela tremia levemente.
Levantou-se devagar, os músculos do corpo ainda um pouco rígidos pelo tempo que passou deitada no chão. Foi então que seus olhos pousaram sobre algo estranho. A grama alta ao seu redor estava amassada em alguns pontos, como se algo grande tivesse passado por ali.
— O que é isso? — Clarice deu alguns passos, tocando o mato amassado com a ponta dos dedos.
O padrão parecia ser o de pegadas, mas grandes demais para serem humanas.
Seu coração bateu mais rápido. A sensação de ser observada a incomodava, mas ela tentou afastar o pensamento.
"Deve ser algum animal da floresta... Um cervo, talvez", disse a si mesma, embora não estivesse completamente convencida.
Com um suspiro pesado, Clarice deu meia-volta e caminhou até a porta da casa. Ao passar pelo portãozinho de madeira, algo chamou sua atenção. Virou-se para olhar novamente para o quintal, e, por um breve segundo, pensou ter visto um par de olhos vermelhos brilhando entre as árvores. Ela piscou, assustada, mas, quando tentou focar sua visão, não havia nada, nada além da imponente floresta a sua frente.
— Ótimo, agora to ficando maluca… É só cansaço. — disse em voz alta, tentando convencer a si mesma. Entrou rapidamente na casa, fechando a porta atrás de si. "É só o cansaço", repetiu mentalmente, mas aquela sensação de desconforto continuava ali, alojada em seu peito.
No dia seguinte, Clarice despertou com o som suave do vento balançando as cortinas do quarto. O sol mal havia nascido, e os primeiros raios de luz invadiam o ambiente com delicadeza. Ela se espreguiçou, sentindo o corpo um pouco dolorido por ter dormido no quintal.— Que ideia foi essa de dormir lá fora? — reclamou para si mesma, enquanto se levantava da cama. Caminhou até a cozinha, ligando a cafeteira. Precisava de um café forte para começar o dia. Hoje seria o dia de encontrar o local perfeito para a floricultura, não podia demorar, precisava pegar a boa estação para garantir que as flores cresceriam bem quando ela plantasse. Até que pudesse cuidar da própria produção, enquanto as suas flores não cresciam, ela precisaria de um fornecedor, mas já tinha um em mente, a mesma pessoa que lhe forneceria as sementes para que ela começasse a plantar suas flores em seu grande quintal. Clarice tinha várias ideias em mente, e a ansiedade por começar logo era quase palpável.Enquanto espe
— Você deve ser Clarice, certo? — perguntou a mulher.— Sim, sou eu. — respondeu, apertando a mão da mulher com firmeza. — Estou muito interessada no espaço. Acho que é perfeito para o que eu preciso.As duas conversaram sobre os detalhes, e, em pouco tempo, Clarice já havia decidido: aquele seria o local onde realizaria o sonho de abrir a floricultura. Depois de algumas formalidades e de assinar o contrato de aluguel, Clarice saiu da loja com um sorriso satisfeito no rosto. Seu coração batia mais rápido, não apenas pela empolgação de começar seu próprio negócio, mas também pela sensação de estar dando um passo importante para honrar a memória de sua mãe.— É isso, mãe. — sussurrou para si mesma, olhando para o céu limpo. — Estou começando de novo, do jeito que você sempre quis.Ainda perdida em pensamentos, Clarice vagou pelas ruas tranquilas de Pinewood. O clima calmo e as poucas pessoas a cumprimentando a lembravam do quanto ela gostava de viver ali quando era criança. Havia uma ce
As cortinas pesadas evitavam que a luz do sol entrasse, o quarto grande e confortável estava completamente escuro e os lençóis farfalhavam a medida que Clarck se movia, erguendo seu corpo e se levantando da cama, deixando os lençóis para trás enquanto caminhava preguiçosamente em direção à mesa que havia no canto esquerdo, pegando seu celular e conferindo as horas. A luz da tela se acendeu e iluminou um pouco o quarto, tornando o rosto bonito dele visível em meio a escuridão. Os olhos cor de âmbar ainda estavam levemente avermelhados, encarando a tela do celular meio franzidos, assim como as sobrancelhas grossas. Ele passou a destra no rosto, puxando para trás os cabelos castanhos curtos que estavam levemente bagunçados, a medida que caminhava em direção à janela, já era tarde, ao menos para ele. O relógio na tela do celular marcavam sete e quarenta da manhã e ele tinha vinte minutos para se arrumar e entrar no carro, assim conseguiria chegar ao escritório antes do expediente dos fun
Assim que desceu as escadas e pisou os pés na imensa sala de jantar da grande casa que abrigava grande parte da matilha, Clarck ouviu a voz de seu pai ressoar atrás de si, bem como os passos rápidos dele, Donovan sabia que o filho fugiria assim que possível, então, sua única opção era alcançá-lo antes que ele conseguisse escapar.— Nem pense em fugir, garoto — o homeo disse, caminhando mais rápido e esticando o braço para segurar Clarck antes que este pudesse escapar. Apesar de seu filho já ser um homem formado e, inclusive, já ter ocupado o posto de alfa, Donavan ainda o tratava como um adolescente inconsequente às vezes. Não podia evitar ver o filho como um filhote que ainda precisava de instruções. — Bom dia para você também, pai — Clarck resmungou, com um pequeno sorriso, batendo no ombro de seu pai e o cumprimentando. Eram muito parecidos, mas Clarck conseguia ser ainda mais alto que Donavan, e também mais forte, mesmo que só um pouco. Fora isso, os traços, a cor âmbar dos olh
O caminho até a empresa foi feito com velocidade e pressa. Clarck guiou o carro pela estrada vazia que levava até a empresa com velocidade o suficiente para quebrar inúmeras leis de trânsito, mas aquilo não importava muito, afinal, o caminho que levava a alcateia até a empresa era uma rodovia que apenas quem morava em Pinewood utilizava, logo, não costumava ser movimentada ou ter uma fiscalização rígida. Ele fazia aquele caminho em quase todas as manhãs, algumas vezes mais rápido que outras, e não demorou até ver os portões da empresa, imponentes, erguendo-se na entrada da empresa, movimentada como sempre. As indústrias Bankov empregava a maior parte de Pinewood com salários muito justos, apesar do monopólio que tinham sobre a região. Bankov guiou o carro para dentro e estacionou, cumprimentando os seguranças, lobos de sua matilha disfarçados entre os humanos para manter o perímetro seguro. A matilha garra sangrenta havia decidido, há muitos anos, manter uma convivência pacifica co
Aquele foi o primeiro dia de Clarice. A inauguração da floricultura foi um sucesso, bem, ao menos foi melhor do que ela imaginou que seria. No dia anterior ela foi até o local para receber o seu carregamento de flores e plantas, tinha de rosas a suculentas, e levou o dia inteiro para arrumar tudo dentro da loja, decorar as prateleiras, organizar os buques prontos e pendurar a fachada que trouxe consigo na viagem, desenhada por sua própria mãe antes do acidente. O instalador a colocou no dia anterior, as ove da noite, mas ela não se importou em ficar lá até mais tarde esperando isso, ver a placa ali lhe deu uma força de ânimo e lhe aqueceu o coração. “Floricultura Sussurros do vento”, era esse o nome que Elaina desejava colocar e foi esse o nome que Clarice colocou. Sua mãe dizia que o vento levava o aroma das flores para os apaixonados, sussurrando no ouvido deles juras de amor. Sua mãe sempre foi uma mulher muito romântica, apesar de nunca ter se envolvido com ninguém além de seu
— Um buquê de rosas e um ursinho, o que acha? — Clarice sugeriu ao cliente, que lhe era um tanto familiar. Jhon parecia completamente convencido da sugestão da florista, então apenas assentiu, com um sorriso um pouco bobo, imaginando que Nora iria adorar presente inesperado. — Ótimo, pode embalar então, você tem chocolates também? — ele perguntou, observando-a montar o buque com belas rosas vermelhas. — Tenho, podemos fazer uma cestinha e colocar os chocolates dentro junto com o ursinho, o que acha? — A ideia é ótima! Enquanto conversavam, Jhon não se deu ao trabalho de procurar novas opções ou qualquer outra coisa, apenas passou a seguir a florista por todos os lados enquanto a via pegar as flores, os chocolates, embrulhando tudo numa bela cesta que faria qualquer mulher que gostasse daquele tipo de ato suspirar. Clarice tinha um sorriso nos lábios enquanto arrumava a cesta, adorava preparar presentes para casais, aquele foi o primeiro desde a inauguração, já que, durante todo
— Desde quando voltou a Pinewood? Está com sua mãe? — Clarck continuou perguntando, dando alguns passos para trás, se aproximando de um vaso de tulipas para tentar inspirar um aroma que não fosse o dela e acalmar Dorian, que tornava ainda mais difícil resistir ao elo. — Eu lembro de você, era a menininha magrela filha da Elaina, certo? Menina, você cresceu bastante — Sirius falou, olhando-a de cima a baixo de um modo que Clarck precisou se controlar muito para não acabar rosnando. — Estou sozinha — Clarice respondeu, um pouco sem graça, voltando a caminhar em direção à bancada de laços. — Voltei há poucos dias, minha mãe… Bem, ela não está comigo, não mais. Enquanto a ruiva amarrava o laço na bonita cesta de presente, os três homens se entreolharam por um momento, percebendo o que aquela frase significava. — Sinto muito por sua perda — Bankov falou, num tom um pouco rasgado, enquanto sentia Dorian uivar em sua cabeça. O lobo não parava quieto, e ver o olhar triste de sua companhe