Nas garras do amor
Nas garras do amor
Por: Evy
Capítulo 1: Flores mortas - parte 1

“Mãe… Mãe, por favor! Acorda, mãe!”

Clarice abriu os olhos, apoiando a mão no peito, ofegante. O quarto ainda estava escuro, uma leve luz entrava pelas cortinas, a luz prateada da lua cheia. A madrugada ia alta e ela deveria estar descansando para pegar seu voo para Pinewood cedo no dia seguinte, mas fazia muito tempo que não conseguia dormir bem.

Ela se levantou, os pés descalços tocando o chão frio. Suas cisas já estavam encaixotadas, não pretendia levar muito para sua nova “antiga” casa, apenas o essencial. A única coisa que ainda estava fora das poucas caixas era o porta-retrato que estava repousando ao lado do seu travesseiro. 

Uma foto da sua mãe, Elaina.

As memórias do acidente que havia acontecido há somente um mês a assombravam todos os dias, e a culpa também. As últimas palavras de sua mãe para ela ainda estavam martelando em sua cabeça, ela jamais esqueceria e jamais deixaria de se culpar, afinal, Clarice quem estava na direção, ela quem perdeu o controle do carro. 

Em teoria, ela era a culpada por sua mãe estar morta. 

— Merda que dor de cabeça — resmungou, passando a mão nos cabelos, puxando a franja para trás e limpando o suor da testa. 

Então se levantou indo até uma das caixas e abrindo apenas uma parte desta puxando lá de dentro um frasquinho de remédios para dormir. 

Queria parar de tomar aquelas coisas, mas, mesmo tendo se passado um mês desde o acidente, ela continuava acordando todos os dias naquele horário. 

Clarice engoliu dois comprimidos, sem água mesmo, e voltou para a cama, abraçando o porta-retrato e fechando os olhos, imaginando sua mãe ali, os braços dela ao seu redor. 

Só depois de quase duas horas, ela adormeceu.

***

O voo até Lakecity  foi mais demorado do que ela imaginou que seria, e ela ainda precisaria pegar um ônibus já que Pinewood não tinha aeroporto.  Sair de Warmiton para Pinewood era uma troca estranha. Diferente de onde Clarice estava vindo, Pinewood não era, normalmente, o lugar para onde as pessoas se mudaram, uma cidade pequena, normalmente muito fria e escura, com poucos dias de sol, muita mata e, no máximo, 5 mil habitantes. Certamente não era o lugar para alguém que estava acostumado com praias, shoppings e shows badalados. 

Era um lugar de vizinhos que se conhecem há muito tempo, um centro pequeno, sebos, uma única escola e nenhuma faculdade. Além de uma qualidade de rede duvidosa. Mas tinha seus encantos, belas paisagens e o que Clarice mais procurava: paz. 

Seria nostálgico voltar ao lugar onde cresceu e a cidade que sua mãe tanto amava. Elaina nasceu e cresceu em Pinewood, foi onde conheceu o pai de Clarice, alguém de quem ela não sabia muito, afinal, Elaina nunca revelou detalhes sobre o romance efêmero que lhe gerou uma filha. 

Só sabia que o nome dele era Conan e nada mais. 

Quando pequena, Clarice se lembrava perfeitamente de sua mãe cultivando flores no quintal da casa em que moravam, uma casa que estava fechada há muitos anos. A casa onde Clarice pretendia morar agora. 

A ruiva caminhou pelo aeroporto apressada, arrastando sua mala, sabendo que o caminhão com sua mudança estaria chegando a Pinewood em poucas horas e ela precisava estar lá quando isso acontecesse. Clarice correu, parando na frente do aeroporto e fazendo sinal para um táxi, entrando nele com toda pressa do mundo. 

— Boa noite, mocinha — o homem, um senhor de meia-idade com sorriso simpático, disse. — Para onde vamos?

— O senhor sabe saem ônibus para Pinewood na próxima hora? Preciso chegar lá o mais rápido possível! — respondeu ela, puxando sua mala consigo para o banco de trás do carro, fechando a porta. 

— Pinewood? Na verdade, que eu saiba não, mas sou de lá, trouxe uma senhora aqui para fazer alguns exames e pretendia fazer algumas corridas antes de voltar pra casa — o senhor respondeu assumindo seu lugar no banco do motorista. — Se você quiser, posso te levar para lá, cobro o mesmo valor que você iria gastar com a passagem do ônibus! 

— Sério? — perguntou, incrédula. — Nossa, com certeza eu aceito!

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