Capítulo 3: Alcateia garra Sangrenta - parte 1

As cortinas pesadas evitavam que a luz do sol entrasse, o quarto grande e confortável estava completamente escuro e os lençóis farfalhavam a medida que Clarck se movia, erguendo seu corpo e se levantando da cama, deixando os lençóis para trás enquanto caminhava preguiçosamente em direção à mesa que havia no canto esquerdo, pegando seu celular e conferindo as horas. 

A luz da tela se acendeu e iluminou um pouco o quarto, tornando o rosto bonito dele visível em meio a escuridão. Os olhos cor de âmbar ainda estavam levemente avermelhados, encarando a tela do celular meio franzidos, assim como as sobrancelhas grossas. Ele passou a destra no rosto, puxando para trás os cabelos castanhos curtos que estavam levemente bagunçados, a medida que caminhava em direção à janela, já era tarde, ao menos para ele. O relógio na tela do celular marcavam sete e quarenta da manhã e ele tinha vinte minutos para se arrumar e entrar no carro, assim conseguiria chegar ao escritório antes do expediente dos funcionários começar. 

Clarck deixou o celular de lado, o jogando na cama e abrindo a cortina, deixando a luz do sol entrar. Só então se lembrou que estava completamente nu, o dorso forte exposto diante da janela de vidro, assim como todo resto, enquanto, lá embaixo, no jardim dos fundos da casa da matilha, algumas meninas corriam cobrindo o rosto e dando risinhos. 

Não era a primeira vez que uma cena como aquela acontecia, claro. 

— Hmmm… Clarck? Volta pra cama — a voz de Loren chegou aos ouvidos dele e o fez torcer o rosto numa expressão irritada. 

De novo ela havia acabado em sua cama. 

— Vou trabalhar, você sabe o caminho da porta, não demora pra levantar, Janice vai vir limpar em breve e a última coisa que eu quero e você esparramada aqui quando ela chegar — sua voz rouca e grossa fez Loren abrir os olhos, contrariada, se sentando na cama com os braços cruzados, os cabelos castanhos claros espalhados por suas costas. 

— Qual é, você não precisa sair tão cedo — reclamou ela, se levantando com o corpo enrolado num dos lençóis, tentando abraçá-lo pelas costas. — Que vantagem tem ser o chefe e ter que ficar saindo tão cedo? Se quiser… Pode passar o dia todinho comigo na cama, e a gente pode fazer umas coisas muito mais divertidas do que um dia de trabalho no escritório — enquanto falava, Loren escorregou a mão lentamente pelo peitoral de Clarck, sua mão deslizando pelos gomos do abdômen firme do homem até que… 

— Tem razão, se eu quisesse, ficaria, mas não quero — respondeu ele, direto, segurando a mão da garota e se afastando dela. — Agora se veste e sai logo do meu quarto, sabe que eu sempre acordo de péssimo humor. 

A resposta seca fez Loren suspirar, virando o rosto e caminhando em direção a cama, apenas para pegar suas roupas que estavam no chão ao lado. Ela se vestiu sem pressa nenhuma, ainda tentando seduzi-lo com movimentos lentos, vagarosos, mas, para seu azar, Clarck sequer estava prestando atenção nela. 

Enquanto Loren tentava atrair seus olhos, o homem já estava com as calças postas e abotoava a camisa social as pressas, se sentando na cama para calçar os sapatos sem sequer olhar para ela. Mas, apesar do tratamento frio, aquilo não a abateu, Loren apenas revirou os olhos, terminou de se vestir e saiu rápido, sabendo que era melhor não provocar o alfa tão cedo. 

Aquele era o ponto positivo em ser quem comanda, as pessoas costumavam respeitar seus limites sem que ele precisasse se esforçar tanto para isso, era uma das vantagens de ter assumido a alcateia tão cedo. 

Quando terminou de se arrumar, Clarck deixou seu quarto, cumprimentando Janice, a governanta, que estava caminhando com uma das empregadas a tira colo em direção ao quarto dele, com sua costumeira expressão de insatisfação. 

— Sempre atrasado, menino — a senhora resmungou, passando por ele e dando dois tapinhas fracos em sua bochecha. Comparada a Clarck, a senhora era minuscula. — Coma algo antes de sair, entendeu? 

— Claro, Jani, bom dia. Bom dia pra você também, Patricia — ele cumprimentou uma das lobas que trabalhava na casa, seguindo pelo grande corredor em direção às escadas. 

Ali, cada um tinha seu papel, desde as funções mais básicas, como a de limar e cozinhar, até as mais perigosas, como defender o território da matilha. 

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