Capítulo 3: Alcateia garra Sangrenta - parte 2

Assim que desceu as escadas e pisou os pés na imensa sala de jantar da grande casa que abrigava grande parte da matilha, Clarck ouviu a voz de seu pai ressoar atrás de si, bem como os passos rápidos dele, Donovan sabia que o filho fugiria assim que possível, então, sua única opção era alcançá-lo antes que ele conseguisse escapar.

— Nem pense em fugir, garoto — o homeo disse, caminhando mais rápido e esticando o braço para segurar Clarck antes que este pudesse escapar. 

Apesar de seu filho já ser um homem formado e, inclusive, já ter ocupado o posto de alfa, Donavan ainda o tratava como um adolescente inconsequente às vezes. Não podia evitar ver o filho como um filhote que ainda precisava de instruções. 

— Bom dia para você também, pai — Clarck resmungou, com um pequeno sorriso, batendo no ombro de seu pai e o cumprimentando. 

Eram muito parecidos, mas Clarck conseguia ser ainda mais alto que Donavan, e também mais forte, mesmo que só um pouco. Fora isso, os traços, a cor âmbar dos olhos e os cabelos eram idênticas. 

— Eu te disse ontem que precisávamos conversar, e desde então você está fugindo de mim — Donavan ralhou, erguendo as sobrancelhas. — Acha que não notei?

— Claro que notou, agora que não é mais o alfa, você criou o habito de ficar me vigiando — Clarck o alfinetou, caminhando até a mesa posta no centro da sala e pegando um prato, o enchendo com algumas frutas. — E como eu já sei o que você quer, achei que o melhor caminho para evitar essa conversa, de novo, era fugir de você. 

— E porque só não fala comigo sobre isso? — a pergunta de seu pai o fez encará-lo por sobre o ombro, fazendo-o suspirar. — Não pode fugir de suas responsabilidades, meu filho, já é o seu terceiro ano como alfa e… 

— E a matilha precisa de uma Luna, eu sei — completou, jogando um pedaço de maçã na boca, tentando quebrar a atenção, por mais que o assunto fosse delicado para ele.  — Mas não posso simplesmente escolher alguém, pai.

Clarck respirou pesadamente e, em sua cabeça, já ouvia os rosnados insatisfeitos de Dorian. Seu lobo sabia ser irritadiço, exatamente como ele, afinal, eram as duas faces de uma mesma moeda que parecia querer evitar aquele assunto tanto quanto fosse possível. 

“Eu sei que ela está por aí…”, a voz grossa de Dorian ecoou na cabeça de Clarck, fazendo-o suspirar. 

— Alguns de nós não temos companheiras, meu filho — Donavan continuou insistindo, apertando levemente o ombro de Clarck. — Quando somos um alfa, precisamos pensar no bem do nosso bando primeiro.

— Eu sei que sim, eu sei — ele respondeu, ignorando os rosnados agressivos em sua cabeça, tentando não soar rude com seu pai, afinal, tanto ele quanto Dorian sabiam que Donavan só queria o bem de ambos. 

E sabiam também que precisavam de uma Luna. 

“Eu não vou aceitar! Se escolher alguém eu não a aceitarei!”, Dorian rugiu mais uma vez, fazendo Clarck suspirar. 

Ele mesmo não queria escolher aquele caminho. 

Mas o que podia fazer? 

Era um senso comum entre todos os lobos que, assim que seu lobo despertasse, eles encontrariam seus companheiros, aqueles escolhidos pela deusa da lua a dedo para que compartilhassem a eternidade, a quem marcariam, com quem construiriam suas vidas e linhagens. Naturalmente, alguns encontravam seus companheiros antes mesmo do despertar de seus lobos, por coincidências do destino, mas outros demoravam algum tempo para encontrá-los, principalmente quando o lobo ou loba fazia parte de uma alcateia diferente da sua. Mas, de tempos em tempos, havia lobos que nunca encontravam seus companheiros destinados, normalmente esses lobos se uniam como companheiros escolhidos, um vínculo que era forte, ms nunca seria a mesma coisa. 

Clarck sabia disso, e não era algo que ele queria. 

Além de ser algo que Dorian, seu lobo, parecia não estar nem um pouco disposto a aceitar. 

— Preciso ir, ms vou pensar sobre isso, está bem? — ele respondeu, depois de alguns instantes, deixando o prato de lado e acumulando algumas frutas na mão direita para comer no caminho. 

— Pense mesmo, sua mãe iria adorar ajudar você a escolher a nora dela — Donavan disse, com um sorriso arteiro, gargalhando ao notar o filho torcer o rosto. 

Sabia o pesadelo que seria para Clarck se ele decidisse escolher uma loba que sua mãe não aprovaria. 

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