O caminho até a empresa foi feito com velocidade e pressa. Clarck guiou o carro pela estrada vazia que levava até a empresa com velocidade o suficiente para quebrar inúmeras leis de trânsito, mas aquilo não importava muito, afinal, o caminho que levava a alcateia até a empresa era uma rodovia que apenas quem morava em Pinewood utilizava, logo, não costumava ser movimentada ou ter uma fiscalização rígida.
Ele fazia aquele caminho em quase todas as manhãs, algumas vezes mais rápido que outras, e não demorou até ver os portões da empresa, imponentes, erguendo-se na entrada da empresa, movimentada como sempre. As indústrias Bankov empregava a maior parte de Pinewood com salários muito justos, apesar do monopólio que tinham sobre a região.
Bankov guiou o carro para dentro e estacionou, cumprimentando os seguranças, lobos de sua matilha disfarçados entre os humanos para manter o perímetro seguro.
A matilha garra sangrenta havia decidido, há muitos anos, manter uma convivência pacifica com Pinewood e, atualmente, proteger a cidade era um dos trabalhos da alcateia, mesmo que ninguém soubesse.
Ele caminhou rapidamente em direção ao prédio central da empresa, completamente em vidro, que reluzia sob a luz do sol, um centro luxuoso e tecnológico em meio a mata verde.
Assim que chegou até o elevador e entrou nele, apertando o botão que o levaria ao andar presidencial, ele suspirou levemente, olhando para o relógio e percebendo que estava apenas dois minutos atrasado, não foi tão ruim, afinal.
Assim que Clarck saiu do elevador, sentiu duas mãos pesadas segurando suas costas com força e o sacudindo, enquanto um riso divertido chegava aos seus ouvidos.
— Ha, ha, meu bom amigo Clarck, obrigada, obrigada — Jhon disse, rindo vitorioso enquanto, ao longe, Sirius resmungava. — Apostei com Sirirus que Loren não te deixaria sair da cama na hora certa e, por dois minutinhos, esse otário agora me devem cinquenta pratas.
— Apostou cinquenta dólares que eu me atrasaria? — Clarck perguntou, incrédulo.
— E eu apostei cinquenta que não, já que você é sempre tão pontual — Sirius falou um pouco mais alto, ainda olhando para a tela de seu computador, insatisfeito. — Logo hoje você resolveu se atrasar cara, serio?
— Na próxima, me avisa das suas apostas e eu tento te ajudar — Clarck retrucou, se sentando em sua cadeira logo atrás de sua mesa, abrindo seu notebook. — O que temos para hoje?
— Três reuniões com a equipe do projeto para a universidade da cidade, uma outra com os funcionários do setor de produção e o Jhon precisa comprar flores pra garota dele — Sirius listou, digitando rapidamente em seu teclado.
— Flores pra Nora? — Clarck perguntou, olhando para Jhon, que encolheu os ombros. — Não sei o que tá acontecendo com ela, mas ela anda meio estressada ultimamente, então queria fazer uma surpresinha.
— Desde quando você é tão sentimental? — Sirius cutucou o amigo, o alfinetando de forma acida.
— Se você tivesse achado sua companheira entenderia, mas como ninguém te quer, fica aí amargurado — o outro devolveu, irritado. — Não precisam vir comigo se não quiserem.
— Não, eu vou, quem sabe pego algo pra minha mãe também — Clarck disse, dando um tapinha no ombro do amigo. — Tenho certeza que a Nora vai gostar.
— Espero que sim, to cansado dela tentando me matar em toda lua cheia — Jhon brincou, rindo.
Como sempre, ele era o mais bem-humorado do trio.
Eram amigos desde a infância, os três tinham o habito de vagar pela cidade quando eram apenas crianças, fazendo o inferno nas casas das pessoas que moravam perto da mata, acabando com jardins, cercas, provocando animais, eram uns pestinhas. Depois de um tempo, com a idade, ficaram ainda mais amigos, até que Clarck assumiu a alcateia e nomeou Jhon como seu beta e Sirius como seu Gamma, não havia em quem Clarck confiasse mais que nesses dois, eles eram os únicos que podiam ocupar tais cargos.
O resto do dia passou lentamente entre uma reunião e outra. A empresa era como um grande centro, haviam três prédios grandes e outras pequenas estruturas, cada uma com sua função. Atuavam no segmento de construções, fabricando soluções ambientalmente aceitáveis, eram os pioneiros na ação de preservação ambiental nas construções, algo que os Bankov se orgulhavam.
E desde que Clarck assumiu a presidência, a empresa aumentou ainda mais seu faturamento, gerando mais empregos, tanto para a cidade, quanto para a alcateia.
Ele estava se mostrando um líder exímio, em ambas as funções, mas sabia que isso não o livraria da responsabilidade de encontrar uma Luna. E esse foi o pensamento que não deixou sua cabeça durante todo o dia, tirando sua concentração.
Quando o sol estava quase se pondo, Jhon fechou seu notebook e pegou seu paletó, o colocado enquanto okhava para os amigos.
— Vamo, antes que a floricultura feche — apressou os outros dois, que resmungaram.
— Cara, você acha flor em qualquer canto dessa floresta — Sirius resmungou, entrando no elevador ao lado de Clarck.
— Não acho as flores favoritas da mina companheira em qualquer canto da floresta, Sirius.
— Parem de brigar e vamos logo, se você chegar sem essas malditas flores, é capaz da Nora te colocar para dormir ao relento hoje! — Clarck brincou, apertando o botão do elevador que os levaria para o térreo.
Aquele foi o primeiro dia de Clarice. A inauguração da floricultura foi um sucesso, bem, ao menos foi melhor do que ela imaginou que seria. No dia anterior ela foi até o local para receber o seu carregamento de flores e plantas, tinha de rosas a suculentas, e levou o dia inteiro para arrumar tudo dentro da loja, decorar as prateleiras, organizar os buques prontos e pendurar a fachada que trouxe consigo na viagem, desenhada por sua própria mãe antes do acidente. O instalador a colocou no dia anterior, as ove da noite, mas ela não se importou em ficar lá até mais tarde esperando isso, ver a placa ali lhe deu uma força de ânimo e lhe aqueceu o coração. “Floricultura Sussurros do vento”, era esse o nome que Elaina desejava colocar e foi esse o nome que Clarice colocou. Sua mãe dizia que o vento levava o aroma das flores para os apaixonados, sussurrando no ouvido deles juras de amor. Sua mãe sempre foi uma mulher muito romântica, apesar de nunca ter se envolvido com ninguém além de seu
— Um buquê de rosas e um ursinho, o que acha? — Clarice sugeriu ao cliente, que lhe era um tanto familiar. Jhon parecia completamente convencido da sugestão da florista, então apenas assentiu, com um sorriso um pouco bobo, imaginando que Nora iria adorar presente inesperado. — Ótimo, pode embalar então, você tem chocolates também? — ele perguntou, observando-a montar o buque com belas rosas vermelhas. — Tenho, podemos fazer uma cestinha e colocar os chocolates dentro junto com o ursinho, o que acha? — A ideia é ótima! Enquanto conversavam, Jhon não se deu ao trabalho de procurar novas opções ou qualquer outra coisa, apenas passou a seguir a florista por todos os lados enquanto a via pegar as flores, os chocolates, embrulhando tudo numa bela cesta que faria qualquer mulher que gostasse daquele tipo de ato suspirar. Clarice tinha um sorriso nos lábios enquanto arrumava a cesta, adorava preparar presentes para casais, aquele foi o primeiro desde a inauguração, já que, durante todo
— Desde quando voltou a Pinewood? Está com sua mãe? — Clarck continuou perguntando, dando alguns passos para trás, se aproximando de um vaso de tulipas para tentar inspirar um aroma que não fosse o dela e acalmar Dorian, que tornava ainda mais difícil resistir ao elo. — Eu lembro de você, era a menininha magrela filha da Elaina, certo? Menina, você cresceu bastante — Sirius falou, olhando-a de cima a baixo de um modo que Clarck precisou se controlar muito para não acabar rosnando. — Estou sozinha — Clarice respondeu, um pouco sem graça, voltando a caminhar em direção à bancada de laços. — Voltei há poucos dias, minha mãe… Bem, ela não está comigo, não mais. Enquanto a ruiva amarrava o laço na bonita cesta de presente, os três homens se entreolharam por um momento, percebendo o que aquela frase significava. — Sinto muito por sua perda — Bankov falou, num tom um pouco rasgado, enquanto sentia Dorian uivar em sua cabeça. O lobo não parava quieto, e ver o olhar triste de sua companhe
“Mãe… Mãe, por favor! Acorda, mãe!”Clarice abriu os olhos, apoiando a mão no peito, ofegante. O quarto ainda estava escuro, uma leve luz entrava pelas cortinas, a luz prateada da lua cheia. A madrugada ia alta e ela deveria estar descansando para pegar seu voo para Pinewood cedo no dia seguinte, mas fazia muito tempo que não conseguia dormir bem.Ela se levantou, os pés descalços tocando o chão frio. Suas cisas já estavam encaixotadas, não pretendia levar muito para sua nova “antiga” casa, apenas o essencial. A única coisa que ainda estava fora das poucas caixas era o porta-retrato que estava repousando ao lado do seu travesseiro. Uma foto da sua mãe, Elaina.As memórias do acidente que havia acontecido há somente um mês a assombravam todos os dias, e a culpa também. As últimas palavras de sua mãe para ela ainda estavam martelando em sua cabeça, ela jamais esqueceria e jamais deixaria de se culpar, afinal, Clarice quem estava na direção, ela quem perdeu o controle do carro. Em teor
A viagem de carro foi, de fasto, muito mais rápida. No caminho, Clarice descobriu que o nome do senhor era Jorge, e soube ainda que ele conhecia sua mãe desde que ela era uma pré-adolescente. Jorge ficou sentido pela notícia do falecimento de Elaina e afirmou que ele e sua esposa estariam disponíveis para ajudá-la na adaptação, já que a casa onde Clarice ficaria era bem afastada da zona principal da cidade. Levaram cerca de duas horas para chegar até Pinewood, e, assim que cruzaram a única avenida do lugar, Clarice notou como a cidade ainda era exatamente a mesma. Algumas lojas com fachada reformada, uma e outra lojinha mais recende, mas quase nada havia mudado, ainda era o mesmo lugarzinho frio e meio vazio de sempre, mas com pessoas acolhedoras. Seguiram pela avenida até cruzar a cidade, saindo da zona mais populada até a estrada que lavava a grande indústria de tecnologia e sustentabilidade que empregava boa parte das pessoas da região. Mas não chegaram tão perto dela, pararam v
O som dos móveis sendo arrastados ecoava pela casa, misturado ao ritmo suave da música que tocava do celular de Clarice. Ela havia aberto todas as janelas, permitindo que o ar fresco e o cheiro úmido da floresta entrassem, e a luz do fim da tarde iluminasse o ambiente.— Pronto — suspirou, limpando uma gota de suor da testa. — Último móvel.O cansaço começava a pesar em seus ombros, mas Clarice sabia que a sensação de estar naquela casa era tudo o que precisava para continuar. Já fazia horas que estava de pé, limpando cada canto, cada móvel coberto de poeira. Colocar tudo em ordem era a forma dela de lidar com as memórias e a saudade. O sofá da sala, onde ela e sua mãe costumavam passar as noites juntas assistindo séries de TV, estava agora limpo e convidativo. As cortinas brancas balançavam suavemente ao vento, trazendo uma sensação de paz que ela não sentia há muito tempo.“Parece que estou mais perto de você agora, mãe”, pensou, sentindo uma pontada de tristeza no peito. A música
No dia seguinte, Clarice despertou com o som suave do vento balançando as cortinas do quarto. O sol mal havia nascido, e os primeiros raios de luz invadiam o ambiente com delicadeza. Ela se espreguiçou, sentindo o corpo um pouco dolorido por ter dormido no quintal.— Que ideia foi essa de dormir lá fora? — reclamou para si mesma, enquanto se levantava da cama. Caminhou até a cozinha, ligando a cafeteira. Precisava de um café forte para começar o dia. Hoje seria o dia de encontrar o local perfeito para a floricultura, não podia demorar, precisava pegar a boa estação para garantir que as flores cresceriam bem quando ela plantasse. Até que pudesse cuidar da própria produção, enquanto as suas flores não cresciam, ela precisaria de um fornecedor, mas já tinha um em mente, a mesma pessoa que lhe forneceria as sementes para que ela começasse a plantar suas flores em seu grande quintal. Clarice tinha várias ideias em mente, e a ansiedade por começar logo era quase palpável.Enquanto espe
— Você deve ser Clarice, certo? — perguntou a mulher.— Sim, sou eu. — respondeu, apertando a mão da mulher com firmeza. — Estou muito interessada no espaço. Acho que é perfeito para o que eu preciso.As duas conversaram sobre os detalhes, e, em pouco tempo, Clarice já havia decidido: aquele seria o local onde realizaria o sonho de abrir a floricultura. Depois de algumas formalidades e de assinar o contrato de aluguel, Clarice saiu da loja com um sorriso satisfeito no rosto. Seu coração batia mais rápido, não apenas pela empolgação de começar seu próprio negócio, mas também pela sensação de estar dando um passo importante para honrar a memória de sua mãe.— É isso, mãe. — sussurrou para si mesma, olhando para o céu limpo. — Estou começando de novo, do jeito que você sempre quis.Ainda perdida em pensamentos, Clarice vagou pelas ruas tranquilas de Pinewood. O clima calmo e as poucas pessoas a cumprimentando a lembravam do quanto ela gostava de viver ali quando era criança. Havia uma ce