— Você deve ser Clarice, certo? — perguntou a mulher.
— Sim, sou eu. — respondeu, apertando a mão da mulher com firmeza. — Estou muito interessada no espaço. Acho que é perfeito para o que eu preciso.
As duas conversaram sobre os detalhes, e, em pouco tempo, Clarice já havia decidido: aquele seria o local onde realizaria o sonho de abrir a floricultura. Depois de algumas formalidades e de assinar o contrato de aluguel, Clarice saiu da loja com um sorriso satisfeito no rosto. Seu coração batia mais rápido, não apenas pela empolgação de começar seu próprio negócio, mas também pela sensação de estar dando um passo importante para honrar a memória de sua mãe.
— É isso, mãe. — sussurrou para si mesma, olhando para o céu limpo. — Estou começando de novo, do jeito que você sempre quis.
Ainda perdida em pensamentos, Clarice vagou pelas ruas tranquilas de Pinewood. O clima calmo e as poucas pessoas a cumprimentando a lembravam do quanto ela gostava de viver ali quando era criança. Havia uma certa familiaridade reconfortante em cada esquina, em cada árvore que balançava ao vento.
Apesar da paz que sentia, algo sobre a noite anterior ainda a incomodava. O sonho, as pegadas, os olhos vermelhos que jurava ter visto. Clarice sabia que o mais lógico era acreditar que havia sido apenas fruto de sua imaginação, uma manifestação de seu cansaço. Mas algo, lá no fundo, a fazia duvidar disso.
— Talvez eu só precise de mais algumas boas noites de sono. — murmurou, balançando a cabeça como se pudesse afastar os pensamentos incômodos.
Caminhando de volta para casa, ela fez questão de parar em um mercado local para comprar algumas coisas. Precisava de mantimentos, já que passaria os próximos dias completamente focada em montar a floricultura e dar vida ao espaço que havia alugado. Com o carrinho cheio de frutas, vegetais e algumas flores que encontrara, Clarice sentiu-se estranhamente animada. Depois de meses em luto, afundada em tristeza, parecia finalmente estar conseguindo respirar.
Quando voltou para casa, já estava anoitecendo novamente. A casa silenciosa a recebeu com o mesmo conforto do dia anterior, mas, dessa vez, Clarice estava mais atenta aos detalhes. Ainda sentia aquela leve sensação de inquietação.
— Chega disso. — murmurou para si mesma, enquanto guardava as compras e preparava algo para jantar. — Nada de pensamentos estranhos hoje à noite.
Mesmo assim, sua mente vagava enquanto cozinhava, e as lembranças do sonho com o lobo negro vinham e iam, como se tentassem lhe dizer algo. Clarice tentava focar na comida, nas pequenas tarefas, mas as imagens voltavam, insistentes.
Terminado o jantar, ela decidiu tomar um banho quente para tentar relaxar. Encheu a banheira com água quente, o vapor subindo ao redor enquanto ela afundava o corpo na água, tentando deixar o calor lavar seus pensamentos. Fechou os olhos, e, por alguns minutos, conseguiu se esquecer de tudo. A água morna parecia aliviar o cansaço acumulado e, por um momento, ela sentiu como se nada de estranho tivesse acontecido.
Mas então, mesmo no silêncio do banheiro, Clarice ouviu algo. Distante, levado pelo vento, o som de um uivo solitário e longo ecoou pela floresta até chegar a pequena e delicada casa.
Seu corpo congelou, os olhos se abriram de imediato, e ela se sentou na banheira, o coração disparado. Por mais que tentasse negar, ela sabia que havia escutado aquilo. Um uivo, potente, vindo do lado de fora da casa.
Com o coração acelerado, Clarice saiu da banheira, se secou rapidamente e vestiu um roupão, caminhando até a janela do quarto. Olhou para o quintal. A luz da lua iluminava o mesmo gramado alto onde havia cochilado na noite anterior, mas agora, sob a luz cálida da lua, o lugar parecia mais sombrio.
Por um segundo, teve a impressão de ver algo se movendo entre as árvores. Estava longe, mas o vulto era inegavelmente grande. Clarice segurou a respiração, tentando entender o que via. Seus olhos buscaram, nervosos, qualquer sinal de perigo.
— Não... Isso é loucura, não tem lobos aqui… — sussurrou, sentindo o pânico subir por seu corpo.
Tentando controlar a respiração, Clarice fechou as cortinas com um movimento rápido, como se pudesse se proteger daquilo que parecia estar observando-a. Ela sabia que não havia lógica alguma em pensar que um lobo gigantesco estivesse rondando sua casa, mas a sensação era impossível de ignorar.
"Estou ficando louca. Isso é só coisa da minha cabeça!”
Ela correu para a cama, se deitando e enrolando o corpo todo, deixando apenas parte da cabeça de fora, isso a lembrou de sua infância, quando ela se assustava com os sons da floresta, quado todos os animais pareciam gigantes, já que ela era pequenina.
Deitada na cama, a cabeça cheia de perguntas sem resposta, Clarice tentou forçar o sono a vir, mesmo que sua cabeça insistisse em estar ativa, pensando milhares de coisas enquanto seu coração acelerava cada vez mais.
Enquanto a noite avançava, o sono finalmente a venceu. No entanto, mesmo nos seus sonhos, os olhos vermelhos voltaram a assombrá-la.
As cortinas pesadas evitavam que a luz do sol entrasse, o quarto grande e confortável estava completamente escuro e os lençóis farfalhavam a medida que Clarck se movia, erguendo seu corpo e se levantando da cama, deixando os lençóis para trás enquanto caminhava preguiçosamente em direção à mesa que havia no canto esquerdo, pegando seu celular e conferindo as horas. A luz da tela se acendeu e iluminou um pouco o quarto, tornando o rosto bonito dele visível em meio a escuridão. Os olhos cor de âmbar ainda estavam levemente avermelhados, encarando a tela do celular meio franzidos, assim como as sobrancelhas grossas. Ele passou a destra no rosto, puxando para trás os cabelos castanhos curtos que estavam levemente bagunçados, a medida que caminhava em direção à janela, já era tarde, ao menos para ele. O relógio na tela do celular marcavam sete e quarenta da manhã e ele tinha vinte minutos para se arrumar e entrar no carro, assim conseguiria chegar ao escritório antes do expediente dos fun
Assim que desceu as escadas e pisou os pés na imensa sala de jantar da grande casa que abrigava grande parte da matilha, Clarck ouviu a voz de seu pai ressoar atrás de si, bem como os passos rápidos dele, Donovan sabia que o filho fugiria assim que possível, então, sua única opção era alcançá-lo antes que ele conseguisse escapar.— Nem pense em fugir, garoto — o homeo disse, caminhando mais rápido e esticando o braço para segurar Clarck antes que este pudesse escapar. Apesar de seu filho já ser um homem formado e, inclusive, já ter ocupado o posto de alfa, Donavan ainda o tratava como um adolescente inconsequente às vezes. Não podia evitar ver o filho como um filhote que ainda precisava de instruções. — Bom dia para você também, pai — Clarck resmungou, com um pequeno sorriso, batendo no ombro de seu pai e o cumprimentando. Eram muito parecidos, mas Clarck conseguia ser ainda mais alto que Donavan, e também mais forte, mesmo que só um pouco. Fora isso, os traços, a cor âmbar dos olh
O caminho até a empresa foi feito com velocidade e pressa. Clarck guiou o carro pela estrada vazia que levava até a empresa com velocidade o suficiente para quebrar inúmeras leis de trânsito, mas aquilo não importava muito, afinal, o caminho que levava a alcateia até a empresa era uma rodovia que apenas quem morava em Pinewood utilizava, logo, não costumava ser movimentada ou ter uma fiscalização rígida. Ele fazia aquele caminho em quase todas as manhãs, algumas vezes mais rápido que outras, e não demorou até ver os portões da empresa, imponentes, erguendo-se na entrada da empresa, movimentada como sempre. As indústrias Bankov empregava a maior parte de Pinewood com salários muito justos, apesar do monopólio que tinham sobre a região. Bankov guiou o carro para dentro e estacionou, cumprimentando os seguranças, lobos de sua matilha disfarçados entre os humanos para manter o perímetro seguro. A matilha garra sangrenta havia decidido, há muitos anos, manter uma convivência pacifica co
Aquele foi o primeiro dia de Clarice. A inauguração da floricultura foi um sucesso, bem, ao menos foi melhor do que ela imaginou que seria. No dia anterior ela foi até o local para receber o seu carregamento de flores e plantas, tinha de rosas a suculentas, e levou o dia inteiro para arrumar tudo dentro da loja, decorar as prateleiras, organizar os buques prontos e pendurar a fachada que trouxe consigo na viagem, desenhada por sua própria mãe antes do acidente. O instalador a colocou no dia anterior, as ove da noite, mas ela não se importou em ficar lá até mais tarde esperando isso, ver a placa ali lhe deu uma força de ânimo e lhe aqueceu o coração. “Floricultura Sussurros do vento”, era esse o nome que Elaina desejava colocar e foi esse o nome que Clarice colocou. Sua mãe dizia que o vento levava o aroma das flores para os apaixonados, sussurrando no ouvido deles juras de amor. Sua mãe sempre foi uma mulher muito romântica, apesar de nunca ter se envolvido com ninguém além de seu
— Um buquê de rosas e um ursinho, o que acha? — Clarice sugeriu ao cliente, que lhe era um tanto familiar. Jhon parecia completamente convencido da sugestão da florista, então apenas assentiu, com um sorriso um pouco bobo, imaginando que Nora iria adorar presente inesperado. — Ótimo, pode embalar então, você tem chocolates também? — ele perguntou, observando-a montar o buque com belas rosas vermelhas. — Tenho, podemos fazer uma cestinha e colocar os chocolates dentro junto com o ursinho, o que acha? — A ideia é ótima! Enquanto conversavam, Jhon não se deu ao trabalho de procurar novas opções ou qualquer outra coisa, apenas passou a seguir a florista por todos os lados enquanto a via pegar as flores, os chocolates, embrulhando tudo numa bela cesta que faria qualquer mulher que gostasse daquele tipo de ato suspirar. Clarice tinha um sorriso nos lábios enquanto arrumava a cesta, adorava preparar presentes para casais, aquele foi o primeiro desde a inauguração, já que, durante todo
— Desde quando voltou a Pinewood? Está com sua mãe? — Clarck continuou perguntando, dando alguns passos para trás, se aproximando de um vaso de tulipas para tentar inspirar um aroma que não fosse o dela e acalmar Dorian, que tornava ainda mais difícil resistir ao elo. — Eu lembro de você, era a menininha magrela filha da Elaina, certo? Menina, você cresceu bastante — Sirius falou, olhando-a de cima a baixo de um modo que Clarck precisou se controlar muito para não acabar rosnando. — Estou sozinha — Clarice respondeu, um pouco sem graça, voltando a caminhar em direção à bancada de laços. — Voltei há poucos dias, minha mãe… Bem, ela não está comigo, não mais. Enquanto a ruiva amarrava o laço na bonita cesta de presente, os três homens se entreolharam por um momento, percebendo o que aquela frase significava. — Sinto muito por sua perda — Bankov falou, num tom um pouco rasgado, enquanto sentia Dorian uivar em sua cabeça. O lobo não parava quieto, e ver o olhar triste de sua companhe
— Jhon, paga logo, a gente tem que ir — Sirius falou, antes que o outro pudesse questionar. — Esqueceu daquela reunião importante? Dentro da floricultura, Clarice ouvia a fala dos dois restantes enquanto dividia sua atenção entre olhar para a porta e passar o cartão de Jhon na maquininha. Ela havia dito algo de errado? Por que Clark havia saído daquele jeito? — Ah, é! Por isso, Clarck saiu daquele jeito — Jhon falou, entrando na mentira do amigo. Mas os dois sabiam que não havia reunião nenhuma, e não faziam ideia do motivo para Clarck ter simplesmente saído daquela forma.Não era do feitio do alfa fazer aquele tipo de coisa, costumava ser um homem centrado, apesar de rude quando estava sem paciência. Por isso, obviamente o Beta e o Gamma sabiam que havia algo de errado.— Ele é muito ocupado, não é? — Clarice comentou, enquanto Jhon colocava a senha do cartão. — Vocês cresceram muito, agora têm muito o que fazer, não andam mais invadindo os quintais alheios, certo?A brincadeira a
Quando o carro do alfa estacionou bem em frente à asa da matilha, Loren empertigou a postura, os olhos brilhando enquanto encarava Clarck, que saia do veículo com uma expressão séria e ombros tensos. — Ele é tão bonito… — Vick, uma das melhores amigas de Loren, falou, com um risinho, batendo o ombro no da amiga. — Acho bom prender logo ele, se não alguém pode roubar. — Eu rasgo a garganta da vadia que tentar — Loren respondeu, dando um tapinha na coxa da amiga enquanto levantava. Não demorou para que ela ajeitasse os cabelos, loiros e longos, com ondas perfeitas, e puxasse o decote da blusa um pouco mais para baixo, deixando o volume dos seios ainda mais visíveis. Era uma mulher linda, não havia como negar isso, a pele levemente bronzeada, os olhos verdes e lábios bem desenhados, apesar de não serem grossos. Muitos lobos estavam mais que dispostos a estarem com ela, mesmo que ela não fosse sua companheira destinada. Mas Loren só queria um lobo, o melhor deles. — Como estou? — pe