A floresta desembocou numa pequena clareira onde, ao longe, se podia ver uma cabana com uma chaminé. Clarice olhou para Clarck por um momento, um pouco desconfiada, afinal, por que uma idosa moraria sozinha no meio da floresta? Ainda mais em território de rogues, aquilo não fazia sentido. Clarck parecia pensar a mesma coisa, pois, enquanto acompanhava a senhora, que estava alguns passos à frente dos dois, perguntou:— Não é perigoso para você viver sozinha aqui? — a voz dele era cautelosa, e seus dedos estavam entrelaçados aos de Clarice, apertando-os levemente. — O perigo está em todas as partes… Vocês, por exemplo, vivam em paz e segurança em sua alcateia, mas o perigo e a desgraça também os alcançou não foi? — respondeu ela, sua voz levemente rouca pela idade parecendo ainda mais enigmática. — Como você… — o sussurro de Clarice era incrédulo, mas ela foi interrompida quase no mesmo instante em que começou a falar. — Bruxas sabem das coisas, menina… Ainda não se acostumou com i
O silêncio caiu pesado no ambiente. Clarice apertou os dedos ao redor da xícara, como se precisasse de algo para se segurar. Clarck se inclinou para frente, os olhos âmbar faiscando de incredulidade.“Essa velha está completamente insana”, Dorian rosnou em sua mente. Caleb era o filhote deles, não havia como ser um lycan.— Isso é um absurdo! — ele rosnou. — Nosso filho é um lobo! Não há lycans em minha família, não somos dessa raça!— E quando eu disse que veio de sua família, alfa? — Sidonia arqueou uma sobrancelha, pousando a xícara sobre a mesa de centro. — Ou seu ego é grande assim?Clarice sentiu um nó na garganta. Não faria sentido que seu filho fosse um lycan Caleb era filho do alfa e da luna, não um mestiço, lobos e lycans nunca se misturaram, não que ela soubesse ao menos.— Como pode ter tanta certeza? — perguntou, sua voz tremendo levemente.A bruxa suspirou, levantando-se lentamente e caminhando até uma prateleira repleta de frascos e pergaminhos envelhecidos. Pegou um l
A floresta parecia engolir o tempo.Clarice puxou a respiração com força, tentando acalmar a irritação crescente. As horas passavam sem encontrarem qualquer sinal de avanço. Os trovões, que antes pareciam distantes, agora estavam em cima deles, ameaçando derrubar uma tempestade em suas cabeças e contribuindo para o clima estressante que estava se formando.O norte era apenas uma direção vaga, uma promessa distante que nunca parecia se concretizar. Eles já deviam ter chegado a algum lugar. Mas não. A mata densa se repetia, como se estivesse brincando com eles.O vento balançava as folhas no alto, mas o ar dentro da floresta era abafado, carregado com o cheiro úmido de terra. Nenhum som de animais além do farfalhar insistente das copas, e isso incomodava. Era como se até as criaturas que viviam ali estivessem evitando aquele caminho.Clarice parou no meio da trilha, ajeitando a mochila nos ombros.— Não faz sentido — murmurou, olhando ao redor.Clarck parou logo atrás, parecendo cada ve
O silêncio da mata pesava entre os três, denso como a neblina que se arrastava pelo chão. Clarck fitou Loren, seu olhar transbordando surpresa e cautela. O tempo havia sido generoso com ela, mas algo na sua postura, na maneira como seu corpo se movia e seus olhos percorriam o ambiente, mostrava que Loren não era mais a mesma.— O que você está fazendo aqui, Loren? — A voz de Clarck veio carregada de recordações, e uma ponta de acusação. Ela tinha sumido. Deixado tudo para trás. Para ele, para a alcateia, para uma vida inteira.Loren ergueu os olhos para ele, a expressão tranquila, mas não inexpressiva. Havia algo no seu semblante, algo que Clarice não sabia decifrar.— Eu... sou uma renegada, Clarck. — Ela passou a mão pelo braço, como se quisesse afastar um frio imaginário. — Vivo nestas terras há tempo demais. Esse lugar me acolheu quando tudo o que eu conhecia mudou.Clarck cerrou o maxilar, um músculo pulsante na lateral do rosto. Ele deu um passo à frente, o peso das palavras del
A cabana de Loren era pequena, mas extremamente acolhedora. O exterior de madeira escura se misturava harmoniosamente com a floresta ao redor, e um aroma de ervas frescas pairava no ar. Dentro, a decoração era simples, porém cuidadosamente planejada, com móveis rústicos, mantas felpudas e uma lareira acesa, lançando sombras dançantes nas paredes. Clarice se sentiu imediatamente à vontade, e o calor do fogo a envolveu, afastando a tensão do dia.— Eu realmente não esperava te encontrar assim, Clarck — disse Loren, oferecendo uma xícara de chá para ele. — Ainda mais com sua companheira.Clarck aceitou a xícara, mantendo o olhar firme sobre a mulher que um dia dormiu em sua cama e que há tempo atrás, tentou afastá-lo de Clarice. Mas Loren realmente parecia diferente, ele sentia isso ao olhar para ela. Se lembrava dela como uma garota fútil e gananciosa, mas agora tudo ao redor dela era simples, muito bem cuidado e muitas coisas feitas à mão.— As coisas mudaram, e você parece ter mudado
A escuridão tomou conta de sua visão antes que Clarice se encontrasse em um lugar completamente diferente. Era um campo vasto, sob um céu cinzento e carregado. O vento gelado fazia seu vestido esvoaçar enquanto ela avançava, sentindo o cheiro de terra molhada. Não havia lua ou estrelas no céu, apenas a escuridão e o cinza das nuvens que traziam uma tempestade. Ao longe, uma mulher de vestido negro estava ajoelhada, chorando copiosamente. Era um choro de pura agonia, pura dor, seu corpo tremia e seus soluços eram tão altos que pareciam ser levados pelo vento, ecoando em todas as direções. Clarice sentiu um arrepio na espinha ao se aproximar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a cena mudou abruptamente.Agora, Celeste estava diante da mulher, seu rosto contorcido em fúria, não se parecia em nada com a deusa sempre branda e misericordiosa que ela conheceu.— Você não pode fazer isso! — Celeste gritou, sua voz carregada de emoção.A outra mulher ergueu o rosto, só então Claric
Depois do café, Loren organizou sua bolsa com um foco metódico, verificando cada item que carregava. Ela ajustou a alça, garantindo que tudo estivesse bem preso, enquanto Clarice, ao seu lado, examinava sua própria mochila. Clarck, mais adiante, estava distraído, observando a floresta ao seu redor, os olhos arregalados em busca de qualquer sinal de perigo ou de maravilhas.— Prontos para a aventura? — perguntou Loren, um sorriso ansioso se formando em seu rosto.— Se estamos indo em direção a um assentamento de lobos, espero que seja mais do que só um monte de árvores e pedras — respondeu Clarck, com um toque de sarcasmo, mas a emoção em sua voz era inconfundível.— É um assentamento antigo — afirmou Loren, enquanto começavam a caminhar pela trilha estreita que se perdia na floresta. — Dizem que não há alfas aqui, apenas lobos que conseguiram sobreviver ao longo dos anos.Clarice franziu a testa, intrigada.— Isso significa que eles podem ser os últimos remanescentes de uma alcateia o
A floresta ao redor do assentamento era densa, carregada pelo peso de segredos antigos, de acontecimentos ocultos. O cheiro úmido de terra e madeira pairava no ar, e o vento sussurrava entre as folhas, como se contasse histórias há muito esquecidas. Era a parte mais calma do território dos rogues que Loren já viu, e a mais organizada também.Clarice sentiu o coração acelerar conforme davam os primeiros passos dentro do território desconhecido. As construções simples, feitas de madeira robusta e pedra, lembravam uma alcateia tradicional, mas havia algo de diferente ali, não havia um alfa.O lobo mais velho que os guiava caminhava à frente com passos firmes, sua postura ereta e impassível como a de um guerreiro que já viu batalhas demais. Seus olhos eram frios e avaliadores, varrendo o ambiente com o olhar afiado de alguém que não confiava facilmente. Cada movimento dele exalava autoridade silenciosa, ele certamente era alguém respeitado ali, e não só por sua idade, Clarck tinha certeza