Luis se acha um mané. A namorada o largou porque, digamos, para poder continuar sendo uma vadia, só que solteira. Ele então decide se afastar de todas as garotas, menos da própria mãe, é claro (afinal, quem mais iria fazer o leitinho do bebê?! Brincadeirinha) e a amiga, Anna. Fora elas, o acesso de outras garotas a vida dele está terminantemente restrito, entendidos?! Nem preciso dizer que não deu certo. Preciso? Não! Logo na primeira aula de uma segunda-feira maçante, a novata Jessica Winters se aproxima dele. Ele de cara a detesta. É bem do tipinho metida popular que brevemente se tornaria BFF (e todos esses outros termos ridículos de pura falsidade) de menininhas como Christin, a ex namorada dele. Seria uma idiota que se acharia demais por ser socialmente aceita. E como foi que Greg, o melhor amigo de Luis disse? "É só questão de tempo e ela já tá de rolo com os jogadores do time, vira líder de torcida, participadora daquelas festas do Chad, 69 comigo." Basicamente isso.
Ler maisQuando o vento frio que entrava pelas mais pequenas frestas de casa atenuou, a neve parou de bater nos telhados dos lares de Ophelia e a bruma diminuiu nas nossas manhas, já se faziam cinco meses que uma garota em outras 4 bilhões havia cessado sua existência.Naquela amanha, eu acordei pensando que era o último dia para decidir se mudava meu futuro, entrando no trem que embarcava até Oklahoma, para garantir meu espaço na Faculdade de Langston.Sentei na cama, um pouco atordoado, a mão no queixo. Então, esfreguei os olhos, me espreguicei e me levantei da cama, indo até minha toalha pendurada na porta, tomando o cuidado de não pisar nas minhas bagunças no chão.Joguei a toalha felpuda azul escura no meu ombro e fui para fora. Caminhei até o banheiro. Droga, como eu gostaria de apenas continuar dormindo e dormindo, s
O quê? Só depois fui descobrir. O sentimento.Me afastei do caixão e sentei-me. Aos poucos, mais pessoas foram se sentando também e logo não havia ninguém de pé. O pastor da igreja de Jenn se aproximou do altar e começou a falar. Falou durante cerca de meia hora.Nada entrou no meu ouvido, era como se eu não fizesse parte dali. Apenas fitei meus pés, achando meus tênis mais interessantes, até que ele passou a palavra para o sr. Winters e eu me obriguei a focar.— Jessica foi um anjo em minha vida e meu único consolo é que ela continua sendo um anjo, que voltou para o paraíso, que deixou seu rastro no mundo, que marcou ao seu redor. Quando você perde uma filha, você perde uma parte sua também. Temo nunca mais encontrar essa parte. Eu a amei demais e espero que ela esteja bem no
As pessoas me abraçavam. Diziam “pêsames, lamento”. Choravam em meu ombro. Falavam que eu devia seguir em frente, que tudo continuaria. Mas eu não queria, não queria que chorassem em meu ombro, não queria seguir em frente e nem que as coisas continuassem.O que eu gostaria de dizer? Que o “sinto muito” ali apenas significou que ele sentia muita, muita felicidade por ter feito um milagre e salvado Jessica Grey e que depois disso eu e Jenn prosseguimos com nossa lua-de-mel e que vivemos juntos, felizes para sempre. Mas não foi o que aconteceu e eu não vou contar mentiras.— ELA MORREU! ESTÁ MORTA! NÃO ME IMPORTO DE SABER QUE TENHO UMA VAGA NA LANGSTON!NÃO ME IMPORTO, O.K? — soltei, fitando minha mãe na porta do quarto. Respirei fundo. — Apenas… apenas… me deixe só.
Passando a mão no espaço ao meu lado, eu sentia que estava frio e vazio, como se há vários minutos estivesse abandonado. Um barulho de água caindo se fazia ouvir não muito distante dali.– Jenn? – chamei baixinho. Silêncio. A escuridão me parecia tenebrosa, solitária. Sentei-me na cama, estiquei o braço e acendi o abajur. A claridade fez meus olhos arderem. Pisquei rapidamente durante poucos segundos, os poucos segundos em que fiquei atordoado, até que joguei o cobertor para o lado, pulei da cama, em pânico, correndo para o banheiro.Não... Não... agora não!– JENN! JENN! JENN! ABRA A PORTA, POR FAVOR! ABRA! – berrei.O meu coração estourava dentro de mim. Bati na porta sem parar, chutei, soquei e me joguei contra ela, mas o único som que saía era a água caindo, se chocando contra o chão.
— Me lembro de quando eu soube que Oliver morreu — Jenn abraçava os cobertores, com um copo de chá na mão. — Inverno de 2011, frio pra cacete. Eu estava sentada no parapeito da minha janela, quando meu pai entrou no meu quarto e me abraçou, disse que sentia muito. Eu soube na hora. Foi estranho. Quero dizer, não tínhamos nem chegado a trocar mais do que um ou dois beijos. Mas eu gostava dele. Eu estava saindo do hospital, estava melhor e ele só piorava, parecia sentir tanta, tanta dor — ela deu uma risada dolorosa, triste. — Agora eu sei a dor que ele sentiu antes de descansar em paz. Daí um belo dia no meio do verão ele foi embora pra França e no inverno eu soube que ele nunca mais voltaria. Foi péssimo.Eu estava sentado na cama, de pernas cruzadas, apenas de cueca, processando as palavras, de cabeça baixa.Seg
No segundo dia de nossa estadia no chalé, uma enfermeira apareceu. Não posso dizer que estava surpreso. O prazo de Jenn se resumia a uma semana e eu sabia que o médico dela havia avisado que mandaria uma enfermeira.A enfermeira era uma mulher de uns 30 anos, cabelos curtos, castanhos, olhos da mesma cor, baixa.Jenn estava sempre dormindo. Eu sei que quando se pensa em alguém dormindo, pensa nela calma, relaxada, tranquila, bonita. Mas não era assim que Jenn ficava/estava. Com certeza bonita, porque ela era de qualquer jeito, mas nunca tranquila. Sua pele estava tão pálida e de tão pálida, arroxeada. Havia hematomas. Sua barriga estava inchada.Olheiras em seus olhos. Seu cabelo havia perdido o brilho. Ela sentia um frio descomunal e toda vez que estava dormindo, parecia estar definhando ao mesmo tempo. Aquilo acabava comigo. Não par
Ela estava linda. Mais linda que o comum. Os cabelos ruivos exibiam pequenas ondas nas pontas. O vestido era branco e comprido, todo coberto por rendas. Os braços e o decote tinham rendas graciosas, que davam um ar romântico. Uma coroa de flores enfeitava sua cabeça. O véu caia para trás, o vento fazendo-o esvoaçar. Sua pele apresentavam pouca maquiagem, mas o suficiente para aliviar as olheiras e os hematomas roxos.Jessica estava maravilhosa.Ela vinha de braço dado ao pai, com um sorriso no rosto, um brilho no olhar iluminador. Eu via a cena acontecendo em câmera lenta, tendo certeza que dali 50 anos eu iria ver a cena novamente, exatamente como estava acontecendo naquele instante, aí eu ia sorrir, pensando que eu não podia ter feito uma melhor escolha em minha vida.Troquei o peso de um pé para o outro, ansioso. Seus olhos verdes estavam presos nos meus azuis, fixados um no outr
Comecei a acordar todos os dias pensando que aquele seria o último.Novos hematomas apareciam em Jenn a cada 24 horas do tempo corrido. Ela dormia 20 horas por dia e tê-la diante de mim acordada era um grande trunfo. Parecia que o dia do casamento não chegava e quando chegaria, já seria tarde demais.Tentei procurar uma solução. Jenn não conseguiria mais ajuda na ciência e mesmo se agora tentasse, não ajudaria com o pouco de tempo.Comecei a rezar. A implorar. Peguei a bíblia de mamãe e implorei para o Deus dali provar para mim que existia e fazer seu milagre. Mas nada aconteceu.– Luis, eu sei que você nunca foi muito religioso, nem todas as tentativas e as suas idas a igreja mudaram isso e eu sei que agora você está clamando por ele, mas você tem que entender que certas coisas simplesmente estão destinadas a acorreram de tal maneira. Talvez o
— Tudo bem, Jessica, pode falar, a culpa é mesmo de Luis. Esse idiota não sabe diferenciar uma bexiga de uma camisinha — falou meu pai, com um muxoxo.Ei! Muito obrigado pelo apoio, mesmo.— Jenn não está grávida, cacete! — bati a mão na mesa, para chamar a atenção. — Não está!Minha mãe nos olhava com total descrença.— Então por que vão casar? São duas crianças de 17 anos!Jenn se ajeitou na cadeira, colocou uma mecha dos fios atrás da orelha e umedeceu os lábios.— Bem… quando eu era mais nova, fui diagnosticada com um tipo raro de câncer para minha idade e por eu sou uma garota, no estômago. Eu fiz o tratamento e depois de vários meses lutando