— É, sou eu — me joguei no banco ao lado dela.
Ela continuou me fitando, provavelmente esperando que eu perguntasse o nome dela.
— Hã… sou Jessica. Jessica Hollys Winters — ela falou. Pude jurar que seus olhos brilharam, o que era meio idiota, considerando que o nome dela não tinha nada de mais.
Se fosse Emma, Elizabeth, Angelina ou outro nome de atrizes perfeitas de Hollywood, eu até entenderia, mas era só Jessica, sem flashes. Seguiu minha linha de raciocínio?
— Maneiro. — Fixei o olhar no batente de vidro da mesa.
Ela parecia legal. Mas eu também achava Christin legal antes de ela sair se esfregando em outros.
— Acabei de chegar do Texas — comentou ela. — Não conheço direito Ophelia. Acho que vai ser fera.
Ergui os olhos.
— Texas? Minha avó morou lá — falei. Então ela era a aluna nova de que Greg tanto falava. É, nada mal.
Vestia uma saia plissada rosada, saltos (coisa que eu achava totalmente desnecessário em uma escola, mas que deixava a maioria das garotas maravilhosamente sexy, inclusive ela), uma camisa branca sem mangas por dentro da saia. Tinha um ar tão alegre. O tipo de roupa que aquelas garotas metidas usavam. O tipo de roupa que Christin usava.
Jessica estava no lugar errado.
— Bem, é um lugar bacana, mas eu… tive que vir pra cá com meu pai.
— É, aqui é meio... — chato, sem graça, entediante e se eu ela, teria ido para qualquer lugar, menos Ophelia, a cidade em que nem bezerros e vacas voando a tornaria mais interessa. – Parada.
– Calmaria às vezes é bom.
Um silêncio se seguiu. O silêncio não é tão legal? Traz paz, tranquilidade, positividade… só que 95% do caso é constrangedor. e aquele não era um dos 5%.
— Posso te chamar de Logs? — acabou o silêncio.
— Tudo bem.
— Você pode me chamar de Jenny, se quiser — acrescentou rapidamente.
— Vou te chamar de Jenn — falei sem pensar.
Ei, espera… por que eu tinha dado conversa mesmo? E por que eu tinha dito aquilo de chamá-la de “Jenn”?. Eu não queria nem tê-la por perto.
Jenn estava sorrindo. Aliás, eu estava notando que ela fazia muito isso, sorrir.
— Curti.
Espiei pelo canto dos olhos. Caramba, ela tinha que ter um sorriso tão bonito? É claro que ela sorria o tempo todo. As pessoas tendem a exibir o que tem de melhor.
— Na manha de hoje faremos uma coisa nova: Vamos simular como a chuva ácida acontece — a cara de ratazana chamada sra. Figgs começou a falar, o que - aleluia! - obrigou Jenn a virar para frente.
A professora continuou falando e explicando sobre o experimento e minha cabeça começou a dor. Aquilo era muito chato. Encarei a professora, depois a mesa, depois os outros alunos a minha volta, depois a mesa e depois as mãos de Jenn em cima dela. As unhas estavam pintadas de preto e numa das mãos tinha uma pulseira esquisita, de metal, com um ponto vermelho no centro. Fui levantando os olhos por sobre seus estômago, busto, pescoço e rosto.
Nossos olhos se cruzaram. Ela sorriu e eu tive vontade de sorrir também.
Que porcaria.
Eu não podia. Simplesmente não podia me entregar de novo.
Voltei a encarar a megera.
Quarenta minutos depois, Jessica e eu já havíamos terminado o experimento. A professora voltou a dar suas aulas tediosas na lousa e eu enfiei os fones nos ouvidos, colocando uma música aleatória.
— Ai, meu Deus! Eu amo essa música! — exclamou Jenn, ao meu lado. Franzi o cenho. — Carry on my wayward son
Me belisque! A voz dela era boa e ela conhecia a música…
— There’ll be peace when you are done — completei.
— Lay your weary head to rest — ela sorriu cantarolando baixinho.
Isso não me acontecia todos os dias.
Pelo Impala 67 do Winchester, já posso pedir um quarto num motel para nós.
— Don’t you cry no more — sorri e tirei os fones.
— Supernatural! — exclamou ela. — Uau! Vai me dizer que você é Hunter?
— Não me lembro da minha vida antes de ser um — falei.
Aquilo era… magnífico. Christin só assistia a Disney. Pior que ela conseguia se emocionar assistindo a Disney e era do tipo que ficava falando com a voz fina todo santo dia ” Ai, você viu como fulano é”, “Ai, você viu como fulano é lindo” “Disney é tãão vida!” Me matem com dois dedos.
— Sammy ou Dean?
— Castiel — respondi. — Sammy ou Dean?
Ela jogou os cabelos ruivos para o lado.
— Sammy!
Estranho. Todas as garotas preferiam o Dean. Todos os garotos preferiam o Dean. Na moral, ela havia acabado de ganhar uns pontinhos comigo. O que quase a fazia sair daquela listinha de “Christin é p**a, srta. Winters também”.
— Você é a primeira que eu conheço que prefere ele ao Dean — encare-ia com interesse.
Ela cutucou meu ombro.
— Surpreso?
— Sr. Grey e Srta. Winters, desejam compartilhar a conversa tão interessante para o resto da sala? — interrompeu a ratazana.
Encaramos a velha, ergui os ombros, me ajeitei, pronto para fazer cara de santo, e Jenn… riu?!
— Sim. — Ela piscou inocentemente. — Estávamos falando sobre o quanto o Sammy de Supernatural é gostosão.
Epa, também não é para tanto. Eu amo Supernatural, mas não via os personagens nesse sentido. Qual é, eu honro a coisa entre minhas pernas, falou?!
Jenn era louca, só podia. Era o primeiro dia dela ali e ela ia arrumar problemas logo com a velha Figgs — E a Srta. poderia me dizer o por que disso ser importante para a aula?!
Ela meneou a cabeça, fazendo cara de quem se esforça para pensar.
— Bem, eu não sei dizer exatamente, mas eu acho que Supernatural é importante em qualquer lugar, em qualquer esquina, Sra. Fani — ela deu aquele sorriso de anjo, que agora eu tinha certeza que era malévolo.
A cara da ratazana ficou mais estilo “roedor” ainda.
— Figgs. – A professora apertou os olhos enquanto a fitava. Pronto, Jenn havia acabado de entrar pra lista negra da bruaca. Ótimo primeiro dia – Certo. Acho que você vai adorar cumprir detenção após a aula. Talvez até o Sammy faça uma visitinha para você.
— Acha mesmo? Sei lá, que roupa devo usar? Está vendo o que você fez?! Fiquei iludida! — Falava com puro cinismo. Ela arqueou a sobrancelha, depois pareceu arrependida, como se percebesse que não era tão boa ideia estar na lista da velha. Completou rapidamente. — Está bem.
Fitei Jenn rapidamente, admirado. Certo, ela definitivamente tinha saído daquela lista retardada criada por mim 1 segundo depois de conhecê-la, julguei mal, reconheço. Só que eu ainda queria distância, como eu queria distância de todas as garotas da face da terra, tirando minha mãe e Anna.
Fechei a cara, desconectei os fones e voltei minha atenção para a frente. O sinal bateu, Jenn se virou para me dizer algo, mas antes eu saí.
~~~ // ~~~
— Ih, cara, sabe a novata? Ouvi falar que já se misturou com Christin e bando — comentou Greg, abocanhando um sanduíche.
— Típico — respondi.
— É só questão de tempo e ela já tá de rolo com os jogadores do time, vira líder de torcida, participadora daquelas festas do Chad, 69 comigo. — Ele abriu um sorriso. Dente sujo de alface, colega. — Olha lá ela, está indo para A mesa.
Na realidade, ela estava de braço dado com Christin. Jessica olhou pra mim e acenou.
Ignora, caralho!
— Epa, ela tá acenando pra você?
Dei um gole na minha cerveja, que por sinal estava sendo muito bem escondida dentro de uma lata de coca-cola.
— Não está.
— Está sim, e está vindo na sua direção.
— Merda — xinguei baixinho.
Qual era o problema com ela? Eu não era bonito, eu não era maneiro, eu não era popular, eu não era legal…
então me expliquem por que a guria não descolava de mim.
Greg cruzou os braços.
— Você já tá de rolo com a novata gostosa e futura popular e nem compartilha com o amigo. Obrigado mesmo, cara.
Isso também não ajudava muito, sabe, as pessoas agindo como se eu tivesse culpa por ela não descolar de mim.
— Disponha — falei nervosamente.
Greg socou me ombro.
Aquilo doía, porra! Jenn a apenas três passos...
— Ai! Filho de uma des…
— Oi pra você também, Logs — Jenn me fitou de cima a baixo. Alguma coisa não estava certa.
— Oi, Jessica — falei, alisando o ombro, xingando Greg mentalmente, olhando-o feio e tentando dar atenção a menina fogo.
O que, tenho que admitir, era meio complicado.
— Você é idiota? Tem algo contra garotas? — ela me encarou enraivada e eu entendi o que não estava certo. Era a primeira vez que ela não estava sorrindo, e pela primeira vez eu desejei que ainda estivesse.
Eu não estava lá muito acostumado a encarar garotas furiosas, já havia enfrentado algumas, mas isso não significava que eu me achava sortudo por isso e por naquele instante estar cara a cara com uma. Particularmente, eu preferia elas bem longe de mim, talvez enterradas em uma caixa de chumbo, seria excelente.— O quê? — perguntei surpreso.— Sei lá! Você anda por aí sendo estúpido com todo mundo, por causa da Christina? Isso é ridículo! Não é só você que tem problemas no mundo, tá ligado?Encarei Greg, confuso. Além de tudo ela era dramática. Só por que não dei bola pra ela, é isso mesmo?Antes que eu continuasse, ela se aproximou mais.— Anna está chorando no banheiro! Orgulhoso?!
Me levantei, bocejei.— Tá legal, mas por que eu iria com você mesmo, lindinha? — indaguei sorrindo.Ela curvou a cabeça e abriu um sorrisinho.— Porque… estou mandando.— Fala sério, eu nem conheço você! Você bem podia ser… hm… uma maluca que coleciona pintos! E você invadiu minha casa… Como descobriu meu endereço?Ela deu de ombros, fez um muxoxo, e se sentou no parapeito da janela.— Moro na rua de trás, você sempre passa em frente a ela quando vai pra escola ou volta. Cigarros causam câncer, sabia? Que feio. — Ela trocou de lado. — Sua mãe sabe?Ah, que maravilha. Mais uma pessoa para cuidar da minha vida, super maneiro.— Mmmm, n&at
Me fodi legal. Enquanto Jenn saiu praticamente sambando do 2° andar da minha casa, eu caí de bunda no chão.E ela só ficou rindo da minha cara.Primeiramente, ela tentou me ajudar a descer pelos galhos da árvore que chegava até a minha janela, só que não deu muito certo, nos primeiros 10 segundos em cima daquilo, eu caí e fiquei gemendo de dor. Cerca de um minuto depois, ouvi ela pular ao meu lado e ficar rindo da minha cara. Estendeu a mão e me ajudou a levantar.– Ha-ha-ha, muito engraçado – resmunguei, fazendo careta. – Eu podia ter quebrado alguma coisa!Enquanto isso, ela segurou o estômago, dando altas gargalhadas.– V-você caiu igual uma jaca! Acho que até uma jaca teria mais sorte.Cruzei os braços.
– Winters, como você sabe desse lugar? Pensei que você tivesse acabado de chegar.Ela levantou o queixo, de modo desafiador.– Não trabalho com nomes – esboçou um sorriso.– E eu não sou um escravo – estendi a chave do carro e dei de ombros, ameaçando ir embora.Jenn agarrou meu ombro.– Tá, tá, tá. Na escola, os populares que você detesta falam desse lugar. É tipo, o lugar que nunca dorme. Pedi o endereço e aqui estou.Como eu nunca havia sabido daquele lugar morando minha vida inteira naquele fim de mundo? E por que Jenn agia como se fosse simplesmente comum ir pra lá de madrugada? Aliás, por que parecia tão comum para todos?!– Certo. Isso definitivamente não explica muita coisa. E você me trouxe aqui para...Ela se aproximou da mesa de sinuca, se encostando nela.
Tudo bem acordar uma hora da manha, normal, porque só naquele momento eu tava descobrindo que todo mundo em Ophelia fazia aquilo. Mas muito pelo contrário, eu só queria estar na Daisy, dormindo, se é que você me entende.Jessica virava de uma vez, me encarando com desdém– Qual é o seu problema com uma vida social, Luis? – indagou.– Bem, se essa vida social incluir você, todos – falei sem pensar.Ela fez cara de ofendida, piscando sem parar e formando um beicinho com os lábios. Extremamente fofa, mesmo.Depois sua expressão mudou, ficando totalmente serena.–– Você só está com dor de cotovelo – falou com um sorrisinho de canto.E TINHA ALGUÉM QUE AINDA NÃO SABIA QUE ERA AQUI
– Você falou palavrão – avisei.– Eu quis.– Jenn, você é uma garota.– Ah, meu Deus, eu nem sabia. Passei minha vida inteira sem tirar a roupa e olhar pra baixo, juro! – revirou os olhos. – E daí?– E eu sou um garoto.– É mesmo? Pensei que fosse um travesti.Meio cruel isso soou, meio cruel, só acho.– Jenn, é claro que eu topo fazer a peça com você! Faz tempo que eu não... você sabe... e nem é por causa disso, mas é que, acho que pode ser interessante.Jenn sorriu e quando ia responder, o professor voltou a falar e não parou mais antes que o sinal batesse.~~~ // ~~~No sábado, Jessica apareceu em casa depois do almoço. Havia prendido os fios ruivos em um rabo de cavalo, de um jeito largadinho, vestia jeans e camiseta e pela primeira vez d
Os ensaios da peça ocorriam toda quarta e sábado, o que explicava porque em tão pouco tempo Jenn já havia se enfiado por lá. Ela havia chegado segunda na escola, e quarta já estava inclusa. A garota era tão social da vida que às vezes me deixava surpreso que ela perdesse tanto tempo comigo. Ela tinha um sorriso lindo, eu era um mané. Ela era feliz, eu era praticamente um eremita. Enquanto ela estava ligada em 220 na encruzilhada da vida entre o "viva" e "seja feliz", sendo que ela conseguia se desdobrar e atravessar as duas, eu estava deitado no meu quarto, embaixo das cobertas, reclamando do quanto minha vida era potencialmente ridícula. Só que aí estava a questão, Jenn era minha amiga, em apenas alguns dias, ela já era uma grande. Era como se estivesse me dando um banho de choque e me arrastado até a encruzilhada com ela. Na encruzilhada, eu havia decido segui-la
Ela tocava as teclas delicadamente, enquanto encarava a janela a nossa frente fixamente. Às vezes fechava os olhos, mas parecia estar sempre tocando, sonhando acordada. Aquela melodia me provocava sensações estranhas e num impulso me sentei no banquinho ao lado de Jenn. Junto a ela, comecei a tocar Clair de Lune. Jenn me encarou com surpresa. Parou de tocar e focou os olhos em mim. Depois de vários minutos, terminei e ela sussurrou:— Não sabia que você tocava.Sorri.— Eu gosto de surpreender, porque geralmente é sempre você quem me surpreende.Ela sorriu e debruçou a cabeça no ombro. Eu quase conseguia sentir a tristeza dela, e isso me deixava mal.— Minha vizinha me ensinou a tocar — falei baixinho.Jenn demorou a voltar a falar, e quando falou,