No segundo dia de nossa estadia no chalé, uma enfermeira apareceu. Não posso dizer que estava surpreso. O prazo de Jenn se resumia a uma semana e eu sabia que o médico dela havia avisado que mandaria uma enfermeira.
A enfermeira era uma mulher de uns 30 anos, cabelos curtos, castanhos, olhos da mesma cor, baixa.
Jenn estava sempre dormindo. Eu sei que quando se pensa em alguém dormindo, pensa nela calma, relaxada, tranquila, bonita. Mas não era assim que Jenn ficava/estava. Com certeza bonita, porque ela era de qualquer jeito, mas nunca tranquila. Sua pele estava tão pálida e de tão pálida, arroxeada. Havia hematomas. Sua barriga estava inchada.
Olheiras em seus olhos. Seu cabelo havia perdido o brilho. Ela sentia um frio descomunal e toda vez que estava dormindo, parecia estar definhando ao mesmo tempo. Aquilo acabava comigo. Não par
— Me lembro de quando eu soube que Oliver morreu — Jenn abraçava os cobertores, com um copo de chá na mão. — Inverno de 2011, frio pra cacete. Eu estava sentada no parapeito da minha janela, quando meu pai entrou no meu quarto e me abraçou, disse que sentia muito. Eu soube na hora. Foi estranho. Quero dizer, não tínhamos nem chegado a trocar mais do que um ou dois beijos. Mas eu gostava dele. Eu estava saindo do hospital, estava melhor e ele só piorava, parecia sentir tanta, tanta dor — ela deu uma risada dolorosa, triste. — Agora eu sei a dor que ele sentiu antes de descansar em paz. Daí um belo dia no meio do verão ele foi embora pra França e no inverno eu soube que ele nunca mais voltaria. Foi péssimo.Eu estava sentado na cama, de pernas cruzadas, apenas de cueca, processando as palavras, de cabeça baixa.Seg
Passando a mão no espaço ao meu lado, eu sentia que estava frio e vazio, como se há vários minutos estivesse abandonado. Um barulho de água caindo se fazia ouvir não muito distante dali.– Jenn? – chamei baixinho. Silêncio. A escuridão me parecia tenebrosa, solitária. Sentei-me na cama, estiquei o braço e acendi o abajur. A claridade fez meus olhos arderem. Pisquei rapidamente durante poucos segundos, os poucos segundos em que fiquei atordoado, até que joguei o cobertor para o lado, pulei da cama, em pânico, correndo para o banheiro.Não... Não... agora não!– JENN! JENN! JENN! ABRA A PORTA, POR FAVOR! ABRA! – berrei.O meu coração estourava dentro de mim. Bati na porta sem parar, chutei, soquei e me joguei contra ela, mas o único som que saía era a água caindo, se chocando contra o chão.
As pessoas me abraçavam. Diziam “pêsames, lamento”. Choravam em meu ombro. Falavam que eu devia seguir em frente, que tudo continuaria. Mas eu não queria, não queria que chorassem em meu ombro, não queria seguir em frente e nem que as coisas continuassem.O que eu gostaria de dizer? Que o “sinto muito” ali apenas significou que ele sentia muita, muita felicidade por ter feito um milagre e salvado Jessica Grey e que depois disso eu e Jenn prosseguimos com nossa lua-de-mel e que vivemos juntos, felizes para sempre. Mas não foi o que aconteceu e eu não vou contar mentiras.— ELA MORREU! ESTÁ MORTA! NÃO ME IMPORTO DE SABER QUE TENHO UMA VAGA NA LANGSTON!NÃO ME IMPORTO, O.K? — soltei, fitando minha mãe na porta do quarto. Respirei fundo. — Apenas… apenas… me deixe só.
O quê? Só depois fui descobrir. O sentimento.Me afastei do caixão e sentei-me. Aos poucos, mais pessoas foram se sentando também e logo não havia ninguém de pé. O pastor da igreja de Jenn se aproximou do altar e começou a falar. Falou durante cerca de meia hora.Nada entrou no meu ouvido, era como se eu não fizesse parte dali. Apenas fitei meus pés, achando meus tênis mais interessantes, até que ele passou a palavra para o sr. Winters e eu me obriguei a focar.— Jessica foi um anjo em minha vida e meu único consolo é que ela continua sendo um anjo, que voltou para o paraíso, que deixou seu rastro no mundo, que marcou ao seu redor. Quando você perde uma filha, você perde uma parte sua também. Temo nunca mais encontrar essa parte. Eu a amei demais e espero que ela esteja bem no
Quando o vento frio que entrava pelas mais pequenas frestas de casa atenuou, a neve parou de bater nos telhados dos lares de Ophelia e a bruma diminuiu nas nossas manhas, já se faziam cinco meses que uma garota em outras 4 bilhões havia cessado sua existência.Naquela amanha, eu acordei pensando que era o último dia para decidir se mudava meu futuro, entrando no trem que embarcava até Oklahoma, para garantir meu espaço na Faculdade de Langston.Sentei na cama, um pouco atordoado, a mão no queixo. Então, esfreguei os olhos, me espreguicei e me levantei da cama, indo até minha toalha pendurada na porta, tomando o cuidado de não pisar nas minhas bagunças no chão.Joguei a toalha felpuda azul escura no meu ombro e fui para fora. Caminhei até o banheiro. Droga, como eu gostaria de apenas continuar dormindo e dormindo, s
Quando abri os olhos e bati a mão no despertador do meu celular ultrapassado, pelo motivo que segundo mamãe é “Você é uma droga de filho, Luis!”, pensei que ainda devia estar dormindo. Sério, minha cama me envolvia com carícia, conforto, ternura… que merda de motivo me levaria a abandonar isso tudo pra encarar pessoas tão feias e sem graças enquanto ao mesmo tempo teria que escutar uma velha megera que sofre de falta de marido e desconta isso sem nem um pingo de delicadeza… em mim! Por que eu deixaria a Srta. Daisy para isso? Sim, eu batizei minha cama de Daisy.É claro que ainda não é levado a sério nenhum adolescente de 17 anos que faz rebeliões e manifestações por não querer abandonar a Daisy, mas confie em mim, o mundo evolui cada dia mais.Fiquei alguns minutos a mais do que dev
— É, sou eu — me joguei no banco ao lado dela.Ela continuou me fitando, provavelmente esperando que eu perguntasse o nome dela.— Hã… sou Jessica. Jessica Hollys Winters — ela falou. Pude jurar que seus olhos brilharam, o que era meio idiota, considerando que o nome dela não tinha nada de mais.Se fosse Emma, Elizabeth, Angelina ou outro nome de atrizes perfeitas de Hollywood, eu até entenderia, mas era só Jessica, sem flashes. Seguiu minha linha de raciocínio?— Maneiro. — Fixei o olhar no batente de vidro da mesa.Ela parecia legal. Mas eu também achava Christin legal antes de ela sair se esfregando em outros.— Acabei de chegar do Texas — comentou ela. — Não conheço direito Ophelia. Acho que vai ser fera.Ergui os olhos.— Texas? Minha avó morou lá — falei. Então ela er
Eu não estava lá muito acostumado a encarar garotas furiosas, já havia enfrentado algumas, mas isso não significava que eu me achava sortudo por isso e por naquele instante estar cara a cara com uma. Particularmente, eu preferia elas bem longe de mim, talvez enterradas em uma caixa de chumbo, seria excelente.— O quê? — perguntei surpreso.— Sei lá! Você anda por aí sendo estúpido com todo mundo, por causa da Christina? Isso é ridículo! Não é só você que tem problemas no mundo, tá ligado?Encarei Greg, confuso. Além de tudo ela era dramática. Só por que não dei bola pra ela, é isso mesmo?Antes que eu continuasse, ela se aproximou mais.— Anna está chorando no banheiro! Orgulhoso?!