Eu não estava lá muito acostumado a encarar garotas furiosas, já havia enfrentado algumas, mas isso não significava que eu me achava sortudo por isso e por naquele instante estar cara a cara com uma. Particularmente, eu preferia elas bem longe de mim, talvez enterradas em uma caixa de chumbo, seria excelente.
— O quê? — perguntei surpreso.
— Sei lá! Você anda por aí sendo estúpido com todo mundo, por causa da Christina? Isso é ridículo! Não é só você que tem problemas no mundo, tá ligado?
Encarei Greg, confuso. Além de tudo ela era dramática. Só por que não dei bola pra ela, é isso mesmo?
Antes que eu continuasse, ela se aproximou mais.
— Anna está chorando no banheiro! Orgulhoso?!
Ah.
Agora muita coisa faz sentido. Mas não o suficiente.
— Espera? Anna? Não! Quê? — balancei a cabeça. — Do que você tá falando?! — me levantei.
Ela mexeu os cabelos volumosos, e eu não pude deixar de notar no quanto ela era bela, até mesmo p**a da vida.
— Sua amiga. Eu vi quando você chegou hoje mais cedo com ela! Agora ela está chorando! — Jenn colocou uma mão na cintura.
Fitei Greg. Ele olhava os pés, culpado.
Puxei ele pelo braço e saí correndo dali.
~~~ // ~~~
— Anna! Anna! — bati na porta do banheiro.
Duas garotas saíram dali olhando feio para mim e para Greg.
— O que foi? Nunca viu dois garotos batendo na porta de um banheiro? — resmungou Greg.
Aquilo tudo era culpa do ordinário do Greggory.
Estúpido, estúpido, estúpido!
— Isso é culpa sua, babaca! Por que você sempre tem que tratar ela tão mal?! — chamei Anna mais duas vezes.
— Não sei. Cara, eu não faço por mal, juro… — ele suspirou.
Bufei.
— É, tô vendo que não faz.
Anna tinha vários problemas. A mãe dela era literalmente uma mulher de programas e fazia essas merdas em casa. Ela nem sequer havia chegado a conhecer o pai. Greg não ajudava em nada tirando com a cara dela, e eu tinha certeza que era por culpa dele.
— Anna! Anna! Saí daí se não vou invadir! Se eu ver menininhas nuas não me culpe! Vou entrar! 1… 2… 3…!
Anna abriu a porta. Tinha os olhos inchados e vermelhos. Ela encarou Greg e seus olhos ficaram raivosos.
— Não, não, não! Vocês tem que conversar! Não volte pra lá, Anninha, por favor! — fiz beicinho e a segurei pelos pulsos. A abracei.
Ela soluçou.
— Greg sente muito — sussurrei. Nos separamos.
— Anna, me desculpe — falou Greg, culposamente .
Abri um sorrisão.
— Viu? Qual é, cambada! Somos todos amigos e ninguém vai ficar chorando por causa do cocozão do Greg, entendidos?!
— Ei! — exclamou Greg.
Cocei a testa.
A situação estava muito ruim, mas ao mesmo tempo, eu simplesmente necessitava, necessitava mesmo falar com a Jenn. Não sei por que, mas o simples fato de tê-la visto com raiva… bem, não sei, mas eu devia uma explicação.
— Vocês dois… se entendam aí!
— Aonde você vai, mano? — Greg segurou meu braço.
Revirei os olhos.
— Vai resolver seus problemas… vou resolver os meus.
~~~ // ~~~
Só fui encontrar Jenn no último horário, porque tínhamos aula juntos.
Me perguntei se eu estava ficando retardado. Quero dizer, eu estava correndo atrás de uma garota. Eu havia jurado que eu não ia mais correr atrás de garotas.
Ela estava sentada na primeira carteira. Lia um livro.
— Ei — chamei.
Jenn ergueu os olhos, trocou a página e voltou a baixar os olhos.
— Já li esse livro — disse eu. — É legal. Ah, hã…. eles ficam juntos no final.
Ela me fitou, baixou o livro.
— É mesmo? — sua cabeleira ruiva ficava incrivelmente sexy na luz fluorescente, acho que não disse isso antes.
— Imaginei. E a Getini descobre quem roubou o pato dela?
— Sim, descobre, foi o… hã…
— Adolfo.
— Isso! Isso!
— E quando vai rolar beijo? Sei lá, gostaria de saber.
— Capítulo 20 em diante — sorri.
— E o que a Getini faz quando descobre que o Adolfo está mentindo para ela descaradamente sobre seu livro favorito?
Não me toquei a indireta até quase já ter respondido.
— Bem, ele… hm… — ri baixinho. — Tá, você me pegou.
— O livro só vai até o capítulo 17. E o casal se chama Elizabeth e Miles.
Troquei o peso do corpo de um pé para o outro.
— Não fui eu que fiz Anna chorar. Ela é minha melhor amiga. Foi Greg — falei.
Beleza, não sei mesmo por que eu estava fazendo aquilo. Qual é?! Eu nem conhecia aquela garota, simplesmente não tinha que estar ali, me explicando, mas alguma coisa me dizia que se eu não quisesse tê-la como amiga, não iria querê-la como inimiga.
Ela gargalhou.
— Tudo bem, entendi errado. — Abriu um sorriso. — Getini. Da onde eu tirei esse nome?
— Não faço ideia. Mas revelou muita originalidade.
Jenn piscou. Aos poucos os alunos foram chegando, logo o professor, então me sentei em uma carteira ao lado dela, sabe-se lá por quê.
~~~ // ~~~
Nos dois dias seguintes, Jenn não deu as caras na escola, e para ser bem franco comigo mesmo, eu até estava esquecendo a existência dela. Estava mesmo, e daí foi um choque quando na madrugada de quinta-feira eu acordei com alguém arrombando minha casa pela janela do meu quarto.
Eu estava sonhando, com certeza estava, acho que tinha algo a ver com batata fritas e espaguetes gigantes.
Agora imagina que louco você lá de boa sonhando e do nada você acorda com a janela escancarada e uma coisa entrando por ela. Imagina, que legal.
Só que com certeza não!
Pulei da cama, berrei, puxei o abajur da tomada e o segurei frente ao corpo.
Eu era magro, nada saradão e com certeza eu não tinha experiência em bater em ladrões com abajur, mas se fosse pra eu morrer, pelo menos eu iria acertar ele algumas vezes, seria pelo menos um modo digno de partir. Mas quem saltou ali na minha frente não era um cara com um calibi 38 na mão. Foi uma garota com duas latas de coca-cola na mão.
— Ei, abaixa isso, Cowboy — Jenn baixou a touca do moletom. — Estava dormindo, dorminhoco?
Me joguei na cama, suspirei.
É, ela era totalmente louca.
Espera, como ela sabia meu endereço? Que tipo de pessoa era Jessica? Agente da CIA?
— Que porra é essa?! — exclamei, chateado.
Ela se jogou ao meu lado.
— Uma garota, entrando na sua janela, hã… às 1 da manha. E aí?
Fitei-a, incrédulo.
— Você acha isso normal?
— Não era para ser?
— Não! Que… como você conseguiu?
— A árvore, foi fácil. Eu era ginasta quando tinha cinco anos, sabia?
— E…?
— Bem, estava precisando de alguém.
— Para?
Ela estendeu o dedo indicador, mexendo em sinal para que eu me aproximasse. Aproximou sua boca no meu ouvindo, e eu senti seus lábios ali e seu hálito de hortelã.
— Sexo até o amanhecer — sussurrou. Arrepiei. Inteiro.
Depois ela riu, se levantou e riu.
— Qual é, cara! Não seja ridículo! Acreditou mesmo nisso?! Se manca! Vim aqui porque preciso de alguém para ver Titanic comigo — cruzou os braços.
Certo. Aquilo não era muito normal, ela não era muito normal, combinava.
— Hã… às 1 da manha? Sério? — falei balançando a cabeça, tentando acreditar naquela idiotice.
— Não! Você é meio mongo, ou é só impressão minha mesmo? Coloque uma roupa, pegue o carro e vamos dar um rolê por aí.
Olhei para baixo. Corei. M*****a mania de dormir só de cueca quando não se espera que nenhuma mulher a não ser a própria mãe entre no quarto. Se Jenn havia notado, não parecia se importar. Pensando bem, ela não parecia ser do tipo que se importava com muita coisa.
Me levantei, bocejei.— Tá legal, mas por que eu iria com você mesmo, lindinha? — indaguei sorrindo.Ela curvou a cabeça e abriu um sorrisinho.— Porque… estou mandando.— Fala sério, eu nem conheço você! Você bem podia ser… hm… uma maluca que coleciona pintos! E você invadiu minha casa… Como descobriu meu endereço?Ela deu de ombros, fez um muxoxo, e se sentou no parapeito da janela.— Moro na rua de trás, você sempre passa em frente a ela quando vai pra escola ou volta. Cigarros causam câncer, sabia? Que feio. — Ela trocou de lado. — Sua mãe sabe?Ah, que maravilha. Mais uma pessoa para cuidar da minha vida, super maneiro.— Mmmm, n&at
Me fodi legal. Enquanto Jenn saiu praticamente sambando do 2° andar da minha casa, eu caí de bunda no chão.E ela só ficou rindo da minha cara.Primeiramente, ela tentou me ajudar a descer pelos galhos da árvore que chegava até a minha janela, só que não deu muito certo, nos primeiros 10 segundos em cima daquilo, eu caí e fiquei gemendo de dor. Cerca de um minuto depois, ouvi ela pular ao meu lado e ficar rindo da minha cara. Estendeu a mão e me ajudou a levantar.– Ha-ha-ha, muito engraçado – resmunguei, fazendo careta. – Eu podia ter quebrado alguma coisa!Enquanto isso, ela segurou o estômago, dando altas gargalhadas.– V-você caiu igual uma jaca! Acho que até uma jaca teria mais sorte.Cruzei os braços.
– Winters, como você sabe desse lugar? Pensei que você tivesse acabado de chegar.Ela levantou o queixo, de modo desafiador.– Não trabalho com nomes – esboçou um sorriso.– E eu não sou um escravo – estendi a chave do carro e dei de ombros, ameaçando ir embora.Jenn agarrou meu ombro.– Tá, tá, tá. Na escola, os populares que você detesta falam desse lugar. É tipo, o lugar que nunca dorme. Pedi o endereço e aqui estou.Como eu nunca havia sabido daquele lugar morando minha vida inteira naquele fim de mundo? E por que Jenn agia como se fosse simplesmente comum ir pra lá de madrugada? Aliás, por que parecia tão comum para todos?!– Certo. Isso definitivamente não explica muita coisa. E você me trouxe aqui para...Ela se aproximou da mesa de sinuca, se encostando nela.
Tudo bem acordar uma hora da manha, normal, porque só naquele momento eu tava descobrindo que todo mundo em Ophelia fazia aquilo. Mas muito pelo contrário, eu só queria estar na Daisy, dormindo, se é que você me entende.Jessica virava de uma vez, me encarando com desdém– Qual é o seu problema com uma vida social, Luis? – indagou.– Bem, se essa vida social incluir você, todos – falei sem pensar.Ela fez cara de ofendida, piscando sem parar e formando um beicinho com os lábios. Extremamente fofa, mesmo.Depois sua expressão mudou, ficando totalmente serena.–– Você só está com dor de cotovelo – falou com um sorrisinho de canto.E TINHA ALGUÉM QUE AINDA NÃO SABIA QUE ERA AQUI
– Você falou palavrão – avisei.– Eu quis.– Jenn, você é uma garota.– Ah, meu Deus, eu nem sabia. Passei minha vida inteira sem tirar a roupa e olhar pra baixo, juro! – revirou os olhos. – E daí?– E eu sou um garoto.– É mesmo? Pensei que fosse um travesti.Meio cruel isso soou, meio cruel, só acho.– Jenn, é claro que eu topo fazer a peça com você! Faz tempo que eu não... você sabe... e nem é por causa disso, mas é que, acho que pode ser interessante.Jenn sorriu e quando ia responder, o professor voltou a falar e não parou mais antes que o sinal batesse.~~~ // ~~~No sábado, Jessica apareceu em casa depois do almoço. Havia prendido os fios ruivos em um rabo de cavalo, de um jeito largadinho, vestia jeans e camiseta e pela primeira vez d
Os ensaios da peça ocorriam toda quarta e sábado, o que explicava porque em tão pouco tempo Jenn já havia se enfiado por lá. Ela havia chegado segunda na escola, e quarta já estava inclusa. A garota era tão social da vida que às vezes me deixava surpreso que ela perdesse tanto tempo comigo. Ela tinha um sorriso lindo, eu era um mané. Ela era feliz, eu era praticamente um eremita. Enquanto ela estava ligada em 220 na encruzilhada da vida entre o "viva" e "seja feliz", sendo que ela conseguia se desdobrar e atravessar as duas, eu estava deitado no meu quarto, embaixo das cobertas, reclamando do quanto minha vida era potencialmente ridícula. Só que aí estava a questão, Jenn era minha amiga, em apenas alguns dias, ela já era uma grande. Era como se estivesse me dando um banho de choque e me arrastado até a encruzilhada com ela. Na encruzilhada, eu havia decido segui-la
Ela tocava as teclas delicadamente, enquanto encarava a janela a nossa frente fixamente. Às vezes fechava os olhos, mas parecia estar sempre tocando, sonhando acordada. Aquela melodia me provocava sensações estranhas e num impulso me sentei no banquinho ao lado de Jenn. Junto a ela, comecei a tocar Clair de Lune. Jenn me encarou com surpresa. Parou de tocar e focou os olhos em mim. Depois de vários minutos, terminei e ela sussurrou:— Não sabia que você tocava.Sorri.— Eu gosto de surpreender, porque geralmente é sempre você quem me surpreende.Ela sorriu e debruçou a cabeça no ombro. Eu quase conseguia sentir a tristeza dela, e isso me deixava mal.— Minha vizinha me ensinou a tocar — falei baixinho.Jenn demorou a voltar a falar, e quando falou,
Eu tinha total noção que Jenn havia colocado Do I Wanna Know, Artic Monkeys para me provocar e também que meu dedos estavam doloridos onde eu havia deixado uma marquinha roxa na cara de Chad. Mas eu realmente não me importava, gostava da música e tentava associa-la enquanto beijava Jenn.– "So have you got the guts?(Então você tem coragem?)Been wondering if your heart's still open(Fico me perguntando se seu coração ainda está aberto)And if so I wanna know what time it shuts(E, se estiver, eu quero saber que horas ele fecha)Simmer down and pucker up(Se acalme e prepare seus lábios)I'm sorry to interrupt(Sinto muito interromper)It's just I'm constantly on the cusp of trying(É que apenas estou constantemente à beira)To kiss you(De tentar te beijar)I don't know if you feel th