Tudo bem acordar uma hora da manha, normal, porque só naquele momento eu tava descobrindo que todo mundo em Ophelia fazia aquilo. Mas muito pelo contrário, eu só queria estar na Daisy, dormindo, se é que você me entende.
Jessica virava de uma vez, me encarando com desdém
– Qual é o seu problema com uma vida social, Luis? – indagou.
– Bem, se essa vida social incluir você, todos – falei sem pensar.
Ela fez cara de ofendida, piscando sem parar e formando um beicinho com os lábios. Extremamente fofa, mesmo.
Depois sua expressão mudou, ficando totalmente serena.
–– Você só está com dor de cotovelo – falou com um sorrisinho de canto.
E TINHA ALGUÉM QUE AINDA NÃO SABIA QUE ERA AQUI
– Você falou palavrão – avisei.– Eu quis.– Jenn, você é uma garota.– Ah, meu Deus, eu nem sabia. Passei minha vida inteira sem tirar a roupa e olhar pra baixo, juro! – revirou os olhos. – E daí?– E eu sou um garoto.– É mesmo? Pensei que fosse um travesti.Meio cruel isso soou, meio cruel, só acho.– Jenn, é claro que eu topo fazer a peça com você! Faz tempo que eu não... você sabe... e nem é por causa disso, mas é que, acho que pode ser interessante.Jenn sorriu e quando ia responder, o professor voltou a falar e não parou mais antes que o sinal batesse.~~~ // ~~~No sábado, Jessica apareceu em casa depois do almoço. Havia prendido os fios ruivos em um rabo de cavalo, de um jeito largadinho, vestia jeans e camiseta e pela primeira vez d
Os ensaios da peça ocorriam toda quarta e sábado, o que explicava porque em tão pouco tempo Jenn já havia se enfiado por lá. Ela havia chegado segunda na escola, e quarta já estava inclusa. A garota era tão social da vida que às vezes me deixava surpreso que ela perdesse tanto tempo comigo. Ela tinha um sorriso lindo, eu era um mané. Ela era feliz, eu era praticamente um eremita. Enquanto ela estava ligada em 220 na encruzilhada da vida entre o "viva" e "seja feliz", sendo que ela conseguia se desdobrar e atravessar as duas, eu estava deitado no meu quarto, embaixo das cobertas, reclamando do quanto minha vida era potencialmente ridícula. Só que aí estava a questão, Jenn era minha amiga, em apenas alguns dias, ela já era uma grande. Era como se estivesse me dando um banho de choque e me arrastado até a encruzilhada com ela. Na encruzilhada, eu havia decido segui-la
Ela tocava as teclas delicadamente, enquanto encarava a janela a nossa frente fixamente. Às vezes fechava os olhos, mas parecia estar sempre tocando, sonhando acordada. Aquela melodia me provocava sensações estranhas e num impulso me sentei no banquinho ao lado de Jenn. Junto a ela, comecei a tocar Clair de Lune. Jenn me encarou com surpresa. Parou de tocar e focou os olhos em mim. Depois de vários minutos, terminei e ela sussurrou:— Não sabia que você tocava.Sorri.— Eu gosto de surpreender, porque geralmente é sempre você quem me surpreende.Ela sorriu e debruçou a cabeça no ombro. Eu quase conseguia sentir a tristeza dela, e isso me deixava mal.— Minha vizinha me ensinou a tocar — falei baixinho.Jenn demorou a voltar a falar, e quando falou,
Eu tinha total noção que Jenn havia colocado Do I Wanna Know, Artic Monkeys para me provocar e também que meu dedos estavam doloridos onde eu havia deixado uma marquinha roxa na cara de Chad. Mas eu realmente não me importava, gostava da música e tentava associa-la enquanto beijava Jenn.– "So have you got the guts?(Então você tem coragem?)Been wondering if your heart's still open(Fico me perguntando se seu coração ainda está aberto)And if so I wanna know what time it shuts(E, se estiver, eu quero saber que horas ele fecha)Simmer down and pucker up(Se acalme e prepare seus lábios)I'm sorry to interrupt(Sinto muito interromper)It's just I'm constantly on the cusp of trying(É que apenas estou constantemente à beira)To kiss you(De tentar te beijar)I don't know if you feel th
— Me poupe de explicações — falou Jenn, sem desviar os olhos do caderno a sua frente, onde escrevia.Senti meu coração pulsar mais rápido, o medo de perdê-la e a raiva da vagabunda da Christin quase me deixavam tentado a socar uma parede, se bem que era bem mais tentador socar Christin.— Foi armação, Jenn! Eu juro que foi! Sério, aquela megera sem p…Chutei a mesa da minha frente, bufando.— Luis, eu sei — Jenn então levantou os olhos.— Sabe? — suspirei.— Acha mesmo que eu não sei o tipo de pessoa que Christin é? EU NÃO SOU IDIOTA, LUIS! — exclamou, o rosto ficando vermelho. — Ela é manipuladora, falsa, mimada e eu sabia que era só questão de tempo antes que vi
— Curioso. Demais — assenti.Jenn pegou um Muffin e mordiscou.— É hoje o trabalho, Logs.— Trabalho? — desculpem, mas eu realmente não conseguia me lembrar.Jenn revirou os olhos.— Você é meio lesado. O trabalho de literatura. — Ela estralou os dedos. — No hospital do câncer Ah! Claro! Voluntário. Livros. Análise. Vídeo. Sintonizei.— Isso vai ser tenso. Sabe, eu sou um cara tímido — admiti, deixando os ombros caírem. O sinal que indicava o término do intervalo soou e Jenn se levantou.— Até te conhecer, não? — ela gargalhou. — Porque depois que viramos amigos você se tornou pior que pedra no sapato.— Ah, tá, olha só quem tá falando! — soltei, rindo.— Sinto muito interromper a discussão de casal, mas o
Era impagável ver a felicidade das crianças, e eu amei ainda mais Jenn por ter tido a ideia de irmos lá, embora eu sentisse uma tristeza enorme ao olhar para as crianças.As crianças riram timidamente.– Tem Rapunzel aí? – perguntou uma garotinha de enormes olhos escuros.– Sim, Rapunzel, Cinderela, Alice no país das maravilhas – respondeu Jenn, apontando para os livros ditos.– Maneiro! – respondeu ela. – Já pode começar a ler?– É claro. Mané, a câmera – provocou Jenn, pegando o livro da Rapunzel.Revirei os olhos. Jenn era o tipo de pessoa que nunca perdoava e que nunca perdia o deboche.Ajustei a filmadora da Canon, focando no rosto de Jenn, distraída procurando o livro. Seus cabelos ruivos pareciam em destaque na lente.– Aqui, achei – sussurrou baixinho, para si mesmo.
— Acho que vai ser meio difícil selecionar os melhores momentos — falei enquanto entrávamos na minha casa.— Quero dizer… foi perfeito!— Eu sei, você chorou igual uma menininha — Jenn riu, com tristeza.Dei de ombros. Eu tinha chorado, porra. Por mais gay que isso soe, eu realmente não me importava.— É — admiti. — E daí? Sério, eu não tenho do que reclamar da minha vida e até três semanas atrás eu achava ela uma bosta.Subimos a escada até o meu quarto.— Pois é, aí eu apareci! — Jenn levantou os braços e depois baixou, sorridente.— É, aí você apareceu! Aí meu irmão deu de ficar até tarde vandalizando — Jenn e eu nos viramos rapidamente, para fitar uma Clary subindo as escadas com o celular e os fones pendurados