— Acho que vai ser meio difícil selecionar os melhores momentos — falei enquanto entrávamos na minha casa.
— Quero dizer… foi perfeito!
— Eu sei, você chorou igual uma menininha — Jenn riu, com tristeza.
Dei de ombros. Eu tinha chorado, porra. Por mais gay que isso soe, eu realmente não me importava.
— É — admiti. — E daí? Sério, eu não tenho do que reclamar da minha vida e até três semanas atrás eu achava ela uma bosta.
Subimos a escada até o meu quarto.
— Pois é, aí eu apareci! — Jenn levantou os braços e depois baixou, sorridente.
— É, aí você apareceu! Aí meu irmão deu de ficar até tarde vandalizando — Jenn e eu nos viramos rapidamente, para fitar uma Clary subindo as escadas com o celular e os fones pendurados
Eu soube que a porra estava séria quando ela mordeu a parte internada bochecha. Aliás, a porra estava super séria.— Está me chamado de falsa? É isso, você me acha falsa — Jenn falou, friamente.Bufei, cansado.— É o que você faz parecer.– Só estava tentado ajudar, sabe. Eu não via as coisas que fazia dessa maneira.– Mas é como parece.De algum modo, vê-la não sorrindo fazia ela parecer mais sinistra e aterrorizante ainda. Eu praticamente sentia a mágoa, a raiva, a ira e a decepção presente em todo o seu ser.– Só queria te dar algo legal. Pra mostrar que gosto de você de verdade, mas isso você acha falso também? – questinou e levantou levem
– O que aconteceu, Winters? – perguntou o professor.Ela sorriu automaticamente, dando de ombros, como se não fosse importante.– Problemas técnicos – ela mexeu no computador e o vídeo começou a rodar. – Grey e eu visitamos o Hospital do câncer infantil. O mês todo Luis e eu conseguimos adquirir livros infantis e contos populares para ler e presentear as crianças nos hospitais. Essa criança que você está vendo é...Jenn tossiu, e ao meu lado, eu senti sua tensão.– Estou bem – ela fungou. – Essa é Bianca, com o livro Os três porquinhos. Esse é...Ela voltou a tossir, duas vezes dessa vez.– Não vai morrer aí na frente, ruiva – resmungou Chad, no fundão.
– QUANTAS VEZES JÁ FALEI PRA VOCÊ NÃO ANDAR PELADO EM CAS...Bati a porta do banheiro, cessando também os berros de Clary. Não estava nem aí se ela não gostava de me ver pelado. Eu gostava de andar desprovido de roupa em casa e pronto. Além do mais, ela não mandava em nada mesmo.Que porra de diferença fazia? Não era como se ela não tivesse visto um cara pelado antes, e eu era irmão dela.Qual a malícia nisso?Liguei o chuveiro e deixei a água escorrer por meu corpo.Alguns minutos depois, já estava em meu quarto, vestindo um jeans qualquer, uma camiseta qualquer e um tênis qualquer.O resto passou como um trovão: rápido e barulhento. Rápido porque eu estava distraído, me sentindo culpado,
Algumas vezes na vida, você escuta coisas nas quais não estaria preparado para ouvir nem em cem anos, mil, ou infinitamente, mas a questão é essa, a vida, nada e ninguém espera e te prepara para estar pronto para ouvir más notícias. Simplesmente porque dói, corta, fere e destrói melhor se a desgraça toda explodir de repente, como um choque, um balde de água fria, um escorregão no meio da rua. Porque para a vida, surpreender é mais divertido, aliás, para tudo surpreender é mais divertido… mas isso não quer dizer que a surpresa seja boa.E com certeza a surpresa naquele instante… não foi boa. Foi uma merda, uma sacanagem. Era aqueles tipos de surpresa que não se contentavam apenas em surpreender, mas sim em surpreender e… te pegar de jeito, te machucar até sobrarem menos que migalhas de equil&iacut
Beleza, já entendi que vocês me acham retardado, mas o amor faz essas coisas mesmo com as pessoas.Enquanto ela encarava a vista da janela pra fora, soube que estava procurando uma maneira de me contar algo.Talvez o por que de estarmos ali, afinal. Novamente me lembrei da tosse, do sangue e senti uma sensação ruim.Jenn voltou a me fitar, com os olhos perdidos, de repente todo o ar de brincadeira havia se esvaído, sendo substituído por uma maneira de me olhar que imediatamente me deixava tenso.— Luis, lembra aquele dia em que entrei na sua casa pela janela? — falou, de repente.Sorri. Me lembrei de acordar de repente, pegar o abajur e dar de cara com uma coisa ruiva saindo da janela.Minha cara de susto deve ter sido impagável.— Como não lembrar? Foi um dos primeiros sinais de loucura que notei em você.Um sorriso fino surgiu em seus lábios
– Jenn, atende, por favor. Precisamos conversar... é que... eu sinto muito.Não tinha certeza de quantas vezes eu já tinha telefonado. Talvez 20, 30, 50. Já tinha ido a casa dela dúzias de vezes, mas nunca ninguém atendia o portão. Havia feito mesmo a loucura de tentar entrar pelo telhado, mas quase havia me estraçalhado no chão.Suspirei e joguei meu celular em cima do criado mudo. Me levantei, totalmente cansado. Olhando no meu relógio, eu tinha uma hora para me arrumar e ir para o colégio. O CD que Jenn havia me dado tocava baixinho, e isso só servia pra me deprimir mais.Era quarta feira e desde Domingo, no Shopping, eu não via Jenn. Quero dizer, ela simplesmente parecia ter decidido se aposentar dos estudos. Ou de mim, mais provável.Era também a apresentaç&ati
Meus olhos se fecharam enquanto eu ouvia Jenn contar a história. Eu sentia toda a dor, a pressão e a tristeza afundadas no meu peito misturadas com uma agonia constante que se formava na garganta.Eu processava poucas palavras e aquelas que eu conseguia colocar na minha mente eram suficientes para eu querer estar dormindo, tendo o pior pesadelo da minha vida. Mas era real, era tudo real. Jenn estava morrendo.— Eu estava bem, Logs, estava mesmo, há anos que estava curada. Vim para cá com papai atrás de uma vida nova. Mas não, essas coisas… elas nunca te deixam em paz, elas te perseguem até não restar nada de você. Peguei meus exames na segunda, o câncer no estômago voltou e… — ela piscou repetidas vezes, olhando para o teto para conter as lágrimas — não pretendo continuar com o tratamento. Já é meio tarde para isso.Balancei a cab
Certo. Não roubamos nenhum carro e não pegamos nada emprestado, porque simplesmente era um pouco cedo demais para isso. No lugar, decidimos que largaríamos de sermos mão de vaca o suficiente para dar para chamar um táxi.Meia hora depois, chegamos no bosque. Começamos a subir com calma e sem pressa.— Acha que se eu morrer aqui vou virar uma ninfa? — falou Jenn, pelo menos dez minutos depois que andávamos.— Muito engraçado — ironizei.— Mas, sério, imagina que legal morrer e virar uma ninfa?— Bem, pelo menos a beleza você já tem.Ela riu.— Certo, obrigada.Continuamos andando por mais uns 10 minutos. Não estava nem um pouco cansado. O sol não estava batendo e um