Ela tocava as teclas delicadamente, enquanto encarava a janela a nossa frente fixamente. Às vezes fechava os olhos, mas parecia estar sempre tocando, sonhando acordada. Aquela melodia me provocava sensações estranhas e num impulso me sentei no banquinho ao lado de Jenn. Junto a ela, comecei a tocar Clair de Lune. Jenn me encarou com surpresa. Parou de tocar e focou os olhos em mim. Depois de vários minutos, terminei e ela sussurrou:
— Não sabia que você tocava.
Sorri.
— Eu gosto de surpreender, porque geralmente é sempre você quem me surpreende.
Ela sorriu e debruçou a cabeça no ombro. Eu quase conseguia sentir a tristeza dela, e isso me deixava mal.
— Minha vizinha me ensinou a tocar — falei baixinho.
Jenn demorou a voltar a falar, e quando falou,
Eu tinha total noção que Jenn havia colocado Do I Wanna Know, Artic Monkeys para me provocar e também que meu dedos estavam doloridos onde eu havia deixado uma marquinha roxa na cara de Chad. Mas eu realmente não me importava, gostava da música e tentava associa-la enquanto beijava Jenn.– "So have you got the guts?(Então você tem coragem?)Been wondering if your heart's still open(Fico me perguntando se seu coração ainda está aberto)And if so I wanna know what time it shuts(E, se estiver, eu quero saber que horas ele fecha)Simmer down and pucker up(Se acalme e prepare seus lábios)I'm sorry to interrupt(Sinto muito interromper)It's just I'm constantly on the cusp of trying(É que apenas estou constantemente à beira)To kiss you(De tentar te beijar)I don't know if you feel th
— Me poupe de explicações — falou Jenn, sem desviar os olhos do caderno a sua frente, onde escrevia.Senti meu coração pulsar mais rápido, o medo de perdê-la e a raiva da vagabunda da Christin quase me deixavam tentado a socar uma parede, se bem que era bem mais tentador socar Christin.— Foi armação, Jenn! Eu juro que foi! Sério, aquela megera sem p…Chutei a mesa da minha frente, bufando.— Luis, eu sei — Jenn então levantou os olhos.— Sabe? — suspirei.— Acha mesmo que eu não sei o tipo de pessoa que Christin é? EU NÃO SOU IDIOTA, LUIS! — exclamou, o rosto ficando vermelho. — Ela é manipuladora, falsa, mimada e eu sabia que era só questão de tempo antes que vi
— Curioso. Demais — assenti.Jenn pegou um Muffin e mordiscou.— É hoje o trabalho, Logs.— Trabalho? — desculpem, mas eu realmente não conseguia me lembrar.Jenn revirou os olhos.— Você é meio lesado. O trabalho de literatura. — Ela estralou os dedos. — No hospital do câncer Ah! Claro! Voluntário. Livros. Análise. Vídeo. Sintonizei.— Isso vai ser tenso. Sabe, eu sou um cara tímido — admiti, deixando os ombros caírem. O sinal que indicava o término do intervalo soou e Jenn se levantou.— Até te conhecer, não? — ela gargalhou. — Porque depois que viramos amigos você se tornou pior que pedra no sapato.— Ah, tá, olha só quem tá falando! — soltei, rindo.— Sinto muito interromper a discussão de casal, mas o
Era impagável ver a felicidade das crianças, e eu amei ainda mais Jenn por ter tido a ideia de irmos lá, embora eu sentisse uma tristeza enorme ao olhar para as crianças.As crianças riram timidamente.– Tem Rapunzel aí? – perguntou uma garotinha de enormes olhos escuros.– Sim, Rapunzel, Cinderela, Alice no país das maravilhas – respondeu Jenn, apontando para os livros ditos.– Maneiro! – respondeu ela. – Já pode começar a ler?– É claro. Mané, a câmera – provocou Jenn, pegando o livro da Rapunzel.Revirei os olhos. Jenn era o tipo de pessoa que nunca perdoava e que nunca perdia o deboche.Ajustei a filmadora da Canon, focando no rosto de Jenn, distraída procurando o livro. Seus cabelos ruivos pareciam em destaque na lente.– Aqui, achei – sussurrou baixinho, para si mesmo.
— Acho que vai ser meio difícil selecionar os melhores momentos — falei enquanto entrávamos na minha casa.— Quero dizer… foi perfeito!— Eu sei, você chorou igual uma menininha — Jenn riu, com tristeza.Dei de ombros. Eu tinha chorado, porra. Por mais gay que isso soe, eu realmente não me importava.— É — admiti. — E daí? Sério, eu não tenho do que reclamar da minha vida e até três semanas atrás eu achava ela uma bosta.Subimos a escada até o meu quarto.— Pois é, aí eu apareci! — Jenn levantou os braços e depois baixou, sorridente.— É, aí você apareceu! Aí meu irmão deu de ficar até tarde vandalizando — Jenn e eu nos viramos rapidamente, para fitar uma Clary subindo as escadas com o celular e os fones pendurados
Eu soube que a porra estava séria quando ela mordeu a parte internada bochecha. Aliás, a porra estava super séria.— Está me chamado de falsa? É isso, você me acha falsa — Jenn falou, friamente.Bufei, cansado.— É o que você faz parecer.– Só estava tentado ajudar, sabe. Eu não via as coisas que fazia dessa maneira.– Mas é como parece.De algum modo, vê-la não sorrindo fazia ela parecer mais sinistra e aterrorizante ainda. Eu praticamente sentia a mágoa, a raiva, a ira e a decepção presente em todo o seu ser.– Só queria te dar algo legal. Pra mostrar que gosto de você de verdade, mas isso você acha falso também? – questinou e levantou levem
– O que aconteceu, Winters? – perguntou o professor.Ela sorriu automaticamente, dando de ombros, como se não fosse importante.– Problemas técnicos – ela mexeu no computador e o vídeo começou a rodar. – Grey e eu visitamos o Hospital do câncer infantil. O mês todo Luis e eu conseguimos adquirir livros infantis e contos populares para ler e presentear as crianças nos hospitais. Essa criança que você está vendo é...Jenn tossiu, e ao meu lado, eu senti sua tensão.– Estou bem – ela fungou. – Essa é Bianca, com o livro Os três porquinhos. Esse é...Ela voltou a tossir, duas vezes dessa vez.– Não vai morrer aí na frente, ruiva – resmungou Chad, no fundão.
– QUANTAS VEZES JÁ FALEI PRA VOCÊ NÃO ANDAR PELADO EM CAS...Bati a porta do banheiro, cessando também os berros de Clary. Não estava nem aí se ela não gostava de me ver pelado. Eu gostava de andar desprovido de roupa em casa e pronto. Além do mais, ela não mandava em nada mesmo.Que porra de diferença fazia? Não era como se ela não tivesse visto um cara pelado antes, e eu era irmão dela.Qual a malícia nisso?Liguei o chuveiro e deixei a água escorrer por meu corpo.Alguns minutos depois, já estava em meu quarto, vestindo um jeans qualquer, uma camiseta qualquer e um tênis qualquer.O resto passou como um trovão: rápido e barulhento. Rápido porque eu estava distraído, me sentindo culpado,