Dáverus é um deus entre humanos e o livro retrata como ter tamanho poder e que isso não significa, definitivamente, uma vida sem desafios e que os maiores conflitos são os internos. Ter o mundo nas mãos, em extrema evidência, pode ser mais perigoso do que ter a mão, quase imperceptível, no mundo. Se a segunda precisa se esforçar, e muito, para manter uma simples vida no planeta, a primeira pode, num momento de descuido, que pode ser chamado de fraqueza, erradicar facilmente toda a vida nele. Seja como for, Dáverus é sobre alguém que faz as suas escolhas, paga todos os preços e se mantém fiel ao que lhe define, mesmo em meio a extremos poderes e a intensa conexão com o universo. Talvez essa seja a maior prova de sua verdadeira força.
Ler maisEra tudo cinza ao meu redor, em várias tonalidades oscilantes, em todas as direções. Estava novamente naquele plano fora do tempo e do espaço e dentro da minha imaginação. As últimas palavras de Holdur, sobre a vida de Dáverus, ecoavam em minha mente.Ali tive acesso à vida passada de Dáverus, a divindade. Assim como já havia acessado a vida do pirata Ônix Pedra-Negra, sem a qual, o regresso de Dáverus não teria sentido. O deus havia novamente despertado no tempo do pirata. Se na vida passada o deus tinha certezas; na vida seguinte elas foram imensamente abaladas. Restava saber o resultado destas duas vidas e a chave estava numa terceira vida.Havia uma porta naquela vastidão acinzentada. Nela, em alto relevo, tinha uma imagem composta por elementos híbridos, tão enigmáticos quanto os anteriores. Acima da imagem na porta, havia um nome escr
A mulher, sentada na beira do abismo, sequer piscava. Abraçada por seu xale escuro, ela tinha um semblante congelado, onde lágrimas haviam secado há muito. Ela ouviu tudo o que lhe contei, com bastante atenção.– Quase trezentos anos se passaram, desde a morte de Dáverus e chegamos a este ponto – Falei. – Agora sabe o quão importante é, para Dáverus, renascer e continuar trilhando seu destino. Mas, até mesmo isso, será decidido pela humanidade, representada por você. Pode muito bem pular neste precipício e, com isso, conseguir mais algum tempo para sua raça, antes de seu julgamento, nesta linha temporal. Ou deixar que a história de Dáverus continue, seja ela para o bem da humanidade ou não.– Como posso trazer ao mundo alguém que precisará definir se a humanidade merece ou não continuar existindo? É cr
Os Reinos ainda estavam em reconstrução. Clarissa se esforçava para conter suas lágrimas por seu amado Dáverus. Regressei à ilha de Phemba com as lendárias Espadas Místicas. Embora desprovidas dos poderes, elas continuariam inquebráveis.Phemba me recebeu e contei a ela o que aconteceu.– Deve guardá-las – falei, entregando as espadas.– Assim como guardou meu Dragônix? – Ela estava séria.– Você receberá alguns discípulos aqui na ilha, no decorrer dos séculos seguintes, e um deles estará carregando a pedra negra sem suspeitar do que realmente é. Assim você saberá que ele está destinado essas espadas. A vida deste alguém estará ligada a Dáverus e ele precisará do Dragônix em determinado momento. Mas não se preocupe, ele te devolver
No final do ano 198 do Novo Tempo, o mundo marchava em fúria. Cada par de olhos refletia o fogo do olhar de Dáverus. Cada corpo era movido por sua vontade.Os únicos seres humanos do planeta, que ainda não tinham seus corpos dominados pela vontade de Dáverus, estavam cercados no castelo do Alto Povo das Montanhas.Clarissa, senhora do Dragão de Achibaki, havia sido aceita como tutora do pequeno rei, Hans Melik, agora com oito anos. Ali estavam, também, os outros senhores dos Altos Povos.– Estamos cercados – disse o rei dos Povos das Florestas. Não havia medo em suas palavras. Era um homem que sempre avaliava todas as possibilidades para encontrar saídas para as mais variadas questões. Era tio de Daigan. Seu nome era Meldor. Tinha longos cabelos lisos e grisalhos, como o cavanhaque. Sobre a túnica verde havia algumas partes de armadura.&ndas
Aos pés dos mais fortes homens de cada Alto Povo estava a jovem mulher das Planícies. Ela estava amarrada, amordaçada e ferida. Havia lágrimas em seus olhos. Não precisava ser muito esperto para entender que ela estava ali contra sua vontade. Os quatro estavam no centro da clareira.Daigan virou um alforge do qual caiu uma pequena catarata de cinzas e ele circulou o lugar com ela.– Se ele não se apresentar a nós, mate-a – Disse Hans Dullack, o rei das Montanhas. O semblante duro feito pedra. Lutava para manter sua convicção. A boca entre a barba bem feita era um traço reto. Embora não fosse muito mais velho do que os companheiros, fazia juz ao título e experiência.Keiru, sorrindo cinicamente, encostou a espada na nuca de Clarissa, forçando-a para baixo. Ergueu, então, a lâmina e aguardou o comando.Daigan de
Irelay renasceu como Dáverus. Seu corpo recebeu o imenso poder de Aya. Mas ele ainda não estava pronto. Servir à deusa durante o período de provação da humanidade seria seu treinamento. E, por longos meses do ano 198 do Novo Tempo, ele a serviu com frieza eficiente. Era um magnífico guerreiro e astúcia não lhe faltava. Enigma após enigma, Dáverus seguia derrotando os humanos, em nome da deusa. As esperanças da humanidade diminuíam a cada dia, juntamente com suas chances de vencer o avatar de Aya.Restava apenas um círculo mágico de desafio para a humanidade.A deusa veio para que uma nova raça governasse este mundo e para que a velha desaparecesse por completo. A humanidade estava sempre em guerra contra ela mesma. E isso era, para Aya, apenas uma das provas de que seu tempo sobre este mundo havia se esgotado. A deusa, entretanto, não quebraria o acord
“Dáverus renascerá, após trezentos anos de repouso...” A mulher entoava em sua mente a profecia conhecida por todos em todos os reinos, de forma muito mecânica, tentando achar a confirmação: “...Filho de Ulysses de Valdrick, o maior rei de todos os reis daqueles dias...”Foi o suficiente, embora sua mente tenha recitado o resto pelo automatismo: “Em seu aniversário do vigésimo sétimo ano, vejo o anel de cristal, em seu dedo. Suas palavras eu ouço. Sua vida será repleta de dores e alegrias. Em sua alma, muito peso. Terá poder para salvar a humanidade de um fim pavoroso. Quando o povo estiver prestes a desistir de acreditar, ficará, então, surpreso. Dáverus despertará...”– Proferi essas palavras no ano de 199 deste Novo Tempo e através dos séculos
Às vezes a razão para uma pessoa viver é a mesma para ela morrer. Era assim para aquela mulher, perante aquele precipício, de certa forma.O Vale lá em baixo começava a surgir entre a neblina a se desfazer, sem pressa, na luz do Sol, já alto o suficiente para alcançar a parte baixa do vale.Era uma manhã de inverno e a mulher havia acabado de chegar ao topo. Tinha pouco mais de vinte e dois anos. Os olhos eram claros em tons de verde e castanho. O cabelo era liso num castanho claro quase loiro. A pele era clara.O vento frio beijava seu rosto. Ela gostaria de esquecer todo o resto, mas não podia. Sua mente fervilhava. Lágrimas voltaram a rolar sobre a pele já marcada pelo choro insistente. Ela não podia contê-lo.Era o ano de 496 do Novo Tempo. Centenas de anos após a vida de Dáverus neste mundo.Meus passos assustaram a mulher diant
Irelay terminou seu treinamento e partiu. Minha estadia na ilha de Phemba Skull Tumba também terminava. Era o momento. Eu precisava encontrar Daigan e ajuda-lo a convencer Aya a aceitar um novo acordo. Não partiria da ilha, porém, sem me despedir de sua senhora.Chamei por ela. O primeiro espectro se manifestou, em esbelto corpo de uma bela mulher nua. Seu cabelo, vermelho, lambia o ar, em todas as direções, emitindo um brilho quente. O segundo corpo de mulher se manifestou, o idêntico ao primeiro, não fosse pelo cabelo, num tom seco de marrom, circulando seu corpo colados nele, embora deslizassem ao menor movimento, sem deixar de tocá-lo nem por um segundo. O terceiro corpo surgiu, igual aos dois primeiros, em forma, mas seu cabelo era verde quase cristalino. E, por último, o quarto corpo surgiu, gêmeo dos anteriores, mas o cabelo era azul se movia como se houvesse uma brisa const