Quando Irelay me pediu para treiná-lo, o avisei que deveria ficar na ilha mística, sem notícias do mundo externo, por um ano.
Seriam necessárias as quatro estações para ele compreender os quatro elementos. No final de seu treinamento, ele deveria ser capaz de passar no meu teste. Não seria fácil, mas ele estava determinado, como o verão pedia. Era o ano 197 do Novo Tempo.Não havia coincidências. Ele havia chegado três dias antes da melhor estação para iniciar um treinamento para alguém como ele, destinado a grandes feitos.
Irelay estava em pé, diante de mim, nas primeiras horas do seu primeiro dia de treino. Estávamos no alto de um monte e ainda estava escuro ao redor dele, tanto quanto em sua mente despreparada. A diferença é que faltava pouco para o amanhecer do dia, mas muito para a luz tomar
Uma única lágrima escorria pelo rosto moreno emoldurado pelo cabelo negro. Os olhos eram da cor de mel e ela era chamada de Kamyra. E ela disse ao seu amado Irelay:– Você prometeu que não me deixaria.Ele tinha a expressão de angústia profunda estampada no rosto e falou:– Meu amor, o meu reino foi tomado pelo Lord Fell M’og...– Não sou insensível à morte do seu pai, mas o seu reino passou a ser este, quando se casou comigo e veio governá-lo comigo.– Governá-lo apenas enquanto Fell M’og não chega?! – Irelay se exaltou. Olhou as mãos tremendo e se sentou na luxuosa cama. O quarto iluminado apenas por velas.Colocou a mão aberta sobre o peito por um instante. Inspirou profundamente, fechou a mão sobre o peito, como se tivesse arrancado algo invis&ia
Irelay treinava todos os dias para limpar sua mente e passei nossos combates da aurora para o crepúsculo.Dia após dia ele apanhava. Tinha muita coisa na cabeça.Na última noite de verão comíamos a minha especialidade: batatas negras preparadas numa fogueira. Comemos em silêncio próximos a um riacho raso que cantava para nós. Com a barriga feliz, fui dormir ao som das águas passando pelas pedras.Irelay estava mirando o fogo, tentando entender sua essência. O fogo cresceu e por um instante ele achou que estava obtendo poderes sobre aquele elemento, mas logo viu a silhueta de uma mulher tomar forma nas chamas e de repente ela deu um passo adiante, para espanto do meu pupilo.A mulher estava nua. Seus olhos eram vermelhos, o cabelo também. A pele rosada, a luz da lua era suficiente para Irelay ver o suficiente para precisar prender o fôlego por um instante.Sorrin
Quando parou diante de mim, pela primeira vez, Irelay já carregava há dias o peso do mundo nas costas.– Foi você, então, quem conseguiu encontrar a ilha de Phemba e, há dias, vem subindo essa Montanha Aranha. – Falei, debaixo de meu chapelão de palha, quando um jovem ofegante parou diante de mim. Sentado estava e sentado fiquei. – Então é você quem perturba minha paz...– Não vim até aqui para que o senhor perca a sua. Vim para que eu encontre a minha. – Ele respondeu, tentando recuperar o fôlego.– Superou a guardião da montanha – e ele fez uma careta se lembrando do quão difícil foi escapar de uma aranha –, assim como superou todas as minhas armadilhas do caminho; mas somente quando superar as próprias, encontrará a paz que procura – afirmei, antes de morder uma fruta
O verão se foi. Phemba não mais apareceu para Irelay com seu espectro de fogo. Meu discípulo resolveu esquecer. Continuava seu treino.Com a chegada do outono, vinha a segunda parte de seu desafio. Dei a ele o segundo totem, o da serpente, e lhe ensinei a oração a ser entoada como primeiras palavras dos dias dos próximos meses. Ele as decorou e as repetiu sozinho, por algumas vezes:Outono;Sopra teu vento.Leva meu sono,meu lamento.E me mostre como.Que eu veja na perda, um presente.Não mais dono.Livre da minha pele, como a serpente...Estava no momento de mostrar ao meu discípulo que ele aprenderia não somente comigo. O levei até aquela que seria sua mestra por aquele dia: uma árvore.Diante daquela planta, Irelay inspirou profundamente, não por impaciência. Àquela altura j&
Daigan lutou como pôde, até aquele dia. Era o ano 198 do Novo tempo. Seu amigo, Irelay, havia partido há pouco mais de um ano. Embora pertencesse ao Alto Povo das Florestas, Daigan estava liderando os guerreiros dos reinos das planícies, nos quais tinha muitos amigos. Lord Fell M’og, no entanto, tomava reino após reino.A Espada da Morte, empunhada por ele, era uma arma terrível. Um simples ferimento causado por ela expulsava a alma do corpo atingido. A vontade do portador da arma mágica passava a dominar tal corpo. Assim, o exército de Fell M’og crescia vertiginosamente a cada reino derrotado.Quando Daigan percebia não poder fazer mais nada para salvar um reino, recuava com alguns sobreviventes para se juntarem o exército do próximo reino.O jovem adulto do povo das florestas era carismático e muito inteligente. Sua liderança garantia seman
Um pouco antes do fim do outono, pedi a Irelay cortar uma boa quantidade de lenha, alegando ser um exercício, mas a verdade é que estava cada vez mais frio e eu queria uma fogueira grande quando anoitecesse. Ele usava um machado e quando fez uma pausa para endireitar as costas, lá estava ela. A mesma mulher nua, embora agora tivesse o cabelo marrom feito terra e colado ao corpo no qual serpenteava e feito serpente ele se moveu quando ela veio em sua direção, sempre colado ao corpo do pescoço à coxa da perna esquerda. O tom da pele era moreno. Ele engoliu em seco, achando que aquele espectro de Phemba estaria irritada com ele, mas reafirmou para si mesmo de que elas estavam separadas e tentou ser casual, ao dizer: – Olá. Ela nada respondeu e continuou a se aproximar e parou a poucos centímetros dele. Ela olhava para os olhos dele e para os lábios alternadamente e isso o intimidou. Parecia que ela iria beijá-lo a qualquer instante ou que pedia por
O outono foi uma estação proveitosa. Boa parte dela, Irelay passou enterrado, literalmente, em seu treinamento, para entender aquele elemento. Horas com terra cobrindo o corpo, quase completamente. Apenas boca e nariz expostos para respirar. Imerso em escuridão.E, como não podia deixar de ser, o treinamento se tornaria mais rigoroso no inverno.Em seu primeiro dia da estação gelada, ele me entregou o medalhão Totem de serpente, e entreguei a ele o Totem do peixe, revelando a oração dos dias dos próximos meses:Inverno;Gelo e escuridão.Mergulho no inferno.Reclusão.Mostre-me a realidadedas minhas ações.Com os olhos do peixe, mesmo na profundidade,que eu enxergue nas duas direções.Seus olhos estavam calmos. O tipo de calmaria que vem antes de uma violenta tempesta
No meio do inverno a ilha de Phemba estava congelada. Levei Irelay para um lago e andamos sobre a espessa camada de gelo que se formou. Falei para ele se despir e ele hesitou. Esperei e ele tirou a roupa. A expressão de raiva estampada na cara. Dei alguns passos e soquei o chão cristalino em três lugares. Irelay observava, tremendo de frio e sacudindo a cabeça em apreensão.– Para vencer um obstáculo é preciso enfraquecê-lo – falei, quentinho debaixo do meu casacão de peludinho. E continue falando, ao parar num quarto ponto afastado dos outros: – Eu poderia ter socado quatro vezes o mesmo lugar e não teria obtido esse resultado!Soquei o chão e nada aconteceu além de novas rachaduras se juntarem às outras. Dava pra ver a grande área toda trincada, mas era s&o