Às vezes a razão para uma pessoa viver é a mesma para ela morrer. Era assim para aquela mulher, perante aquele precipício, de certa forma.
O Vale lá em baixo começava a surgir entre a neblina a se desfazer, sem pressa, na luz do Sol, já alto o suficiente para alcançar a parte baixa do vale.
Era uma manhã de inverno e a mulher havia acabado de chegar ao topo. Tinha pouco mais de vinte e dois anos. Os olhos eram claros em tons de verde e castanho. O cabelo era liso num castanho claro quase loiro. A pele era clara.
O vento frio beijava seu rosto. Ela gostaria de esquecer todo o resto, mas não podia. Sua mente fervilhava. Lágrimas voltaram a rolar sobre a pele já marcada pelo choro insistente. Ela não podia contê-lo.
Era o ano de 496 do Novo Tempo. Centenas de anos após a vida de Dáverus neste mundo.
Meus passos assustaram a mulher diant
“Dáverus renascerá, após trezentos anos de repouso...” A mulher entoava em sua mente a profecia conhecida por todos em todos os reinos, de forma muito mecânica, tentando achar a confirmação: “...Filho de Ulysses de Valdrick, o maior rei de todos os reis daqueles dias...”Foi o suficiente, embora sua mente tenha recitado o resto pelo automatismo: “Em seu aniversário do vigésimo sétimo ano, vejo o anel de cristal, em seu dedo. Suas palavras eu ouço. Sua vida será repleta de dores e alegrias. Em sua alma, muito peso. Terá poder para salvar a humanidade de um fim pavoroso. Quando o povo estiver prestes a desistir de acreditar, ficará, então, surpreso. Dáverus despertará...”– Proferi essas palavras no ano de 199 deste Novo Tempo e através dos séculos
Irelay renasceu como Dáverus. Seu corpo recebeu o imenso poder de Aya. Mas ele ainda não estava pronto. Servir à deusa durante o período de provação da humanidade seria seu treinamento. E, por longos meses do ano 198 do Novo Tempo, ele a serviu com frieza eficiente. Era um magnífico guerreiro e astúcia não lhe faltava. Enigma após enigma, Dáverus seguia derrotando os humanos, em nome da deusa. As esperanças da humanidade diminuíam a cada dia, juntamente com suas chances de vencer o avatar de Aya.Restava apenas um círculo mágico de desafio para a humanidade.A deusa veio para que uma nova raça governasse este mundo e para que a velha desaparecesse por completo. A humanidade estava sempre em guerra contra ela mesma. E isso era, para Aya, apenas uma das provas de que seu tempo sobre este mundo havia se esgotado. A deusa, entretanto, não quebraria o acord
Aos pés dos mais fortes homens de cada Alto Povo estava a jovem mulher das Planícies. Ela estava amarrada, amordaçada e ferida. Havia lágrimas em seus olhos. Não precisava ser muito esperto para entender que ela estava ali contra sua vontade. Os quatro estavam no centro da clareira.Daigan virou um alforge do qual caiu uma pequena catarata de cinzas e ele circulou o lugar com ela.– Se ele não se apresentar a nós, mate-a – Disse Hans Dullack, o rei das Montanhas. O semblante duro feito pedra. Lutava para manter sua convicção. A boca entre a barba bem feita era um traço reto. Embora não fosse muito mais velho do que os companheiros, fazia juz ao título e experiência.Keiru, sorrindo cinicamente, encostou a espada na nuca de Clarissa, forçando-a para baixo. Ergueu, então, a lâmina e aguardou o comando.Daigan de
No final do ano 198 do Novo Tempo, o mundo marchava em fúria. Cada par de olhos refletia o fogo do olhar de Dáverus. Cada corpo era movido por sua vontade.Os únicos seres humanos do planeta, que ainda não tinham seus corpos dominados pela vontade de Dáverus, estavam cercados no castelo do Alto Povo das Montanhas.Clarissa, senhora do Dragão de Achibaki, havia sido aceita como tutora do pequeno rei, Hans Melik, agora com oito anos. Ali estavam, também, os outros senhores dos Altos Povos.– Estamos cercados – disse o rei dos Povos das Florestas. Não havia medo em suas palavras. Era um homem que sempre avaliava todas as possibilidades para encontrar saídas para as mais variadas questões. Era tio de Daigan. Seu nome era Meldor. Tinha longos cabelos lisos e grisalhos, como o cavanhaque. Sobre a túnica verde havia algumas partes de armadura.&ndas
Os Reinos ainda estavam em reconstrução. Clarissa se esforçava para conter suas lágrimas por seu amado Dáverus. Regressei à ilha de Phemba com as lendárias Espadas Místicas. Embora desprovidas dos poderes, elas continuariam inquebráveis.Phemba me recebeu e contei a ela o que aconteceu.– Deve guardá-las – falei, entregando as espadas.– Assim como guardou meu Dragônix? – Ela estava séria.– Você receberá alguns discípulos aqui na ilha, no decorrer dos séculos seguintes, e um deles estará carregando a pedra negra sem suspeitar do que realmente é. Assim você saberá que ele está destinado essas espadas. A vida deste alguém estará ligada a Dáverus e ele precisará do Dragônix em determinado momento. Mas não se preocupe, ele te devolver
A mulher, sentada na beira do abismo, sequer piscava. Abraçada por seu xale escuro, ela tinha um semblante congelado, onde lágrimas haviam secado há muito. Ela ouviu tudo o que lhe contei, com bastante atenção.– Quase trezentos anos se passaram, desde a morte de Dáverus e chegamos a este ponto – Falei. – Agora sabe o quão importante é, para Dáverus, renascer e continuar trilhando seu destino. Mas, até mesmo isso, será decidido pela humanidade, representada por você. Pode muito bem pular neste precipício e, com isso, conseguir mais algum tempo para sua raça, antes de seu julgamento, nesta linha temporal. Ou deixar que a história de Dáverus continue, seja ela para o bem da humanidade ou não.– Como posso trazer ao mundo alguém que precisará definir se a humanidade merece ou não continuar existindo? É cr
Era tudo cinza ao meu redor, em várias tonalidades oscilantes, em todas as direções. Estava novamente naquele plano fora do tempo e do espaço e dentro da minha imaginação. As últimas palavras de Holdur, sobre a vida de Dáverus, ecoavam em minha mente.Ali tive acesso à vida passada de Dáverus, a divindade. Assim como já havia acessado a vida do pirata Ônix Pedra-Negra, sem a qual, o regresso de Dáverus não teria sentido. O deus havia novamente despertado no tempo do pirata. Se na vida passada o deus tinha certezas; na vida seguinte elas foram imensamente abaladas. Restava saber o resultado destas duas vidas e a chave estava numa terceira vida.Havia uma porta naquela vastidão acinzentada. Nela, em alto relevo, tinha uma imagem composta por elementos híbridos, tão enigmáticos quanto os anteriores. Acima da imagem na porta, havia um nome escr
William MoraisApresentaDáverusTodos os direitos reservados e protegidos pela lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios existentes ou que venham a ser criados no futuro, sem a autorização prévia, por escrito, do autor.Capa: William MoraisNota do autor:Meu primeiro livro, chamado Ônix , sobre a vida do inusitado pirata Pedra-Negra, foi desenvolvido e publicado antes deste segundo livro, sobre a vida do deus Dáverus. Cronologicamente, no entanto, os acontecimentos deste segundo livro ocorrem antes dos acontecimentos relatados no primeiro. Mas, para preservar surpresas, garantidas por uma narrativa não linear, tão evidentes no primeiro livro, a vida de Dáverus só &