Camélia nunca quis fazer parte desse mundo. Ela nem se quer sabia que esse mundo existia. Nunca quis se prender a profecias, matilhas ou destinos traçados. Mas desde que pisou em Serra dos Riachos, tudo ao seu redor parece querer empurrá-la para um caminho que não escolheu. Kael Braga é o Alfa Supremo. Forte, implacável, destinado a liderar. E, até pouco tempo atrás, tinha certeza de que sua predestinada era outra. Mas então Camélia apareceu. E nada mais fez sentido. O vínculo que os une é inegável. Mas ela se recusa a aceitá-lo. Ele não pode ignorá-lo. Entre brigas, desafios e um fio vermelho que os conecta contra a vontade, Camélia e Kael precisarão descobrir se o destino pode ser desafiado... ou se estão apenas adiando o inevitável.
Ler maisCamélia permaneceu imóvel enquanto a porta se fechava atrás de Kael. O cheiro da chuva, impregnado na pele dele, ainda pairava no ar, mesclando-se ao perfume amadeirado da casa. Ela inspirou profundamente, como se pudesse dissipar a sensação inquietante que a presença dele deixava. Mas não podia. Algo dentro dela se revirava, como se tivesse sido despertado contra sua vontade.Por que ele mexia tanto com ela? A pergunta martelava em sua mente enquanto ela se dirigia até a janela. Do lado de fora, a chuva engrossava, e as luzes suaves da varanda tremulavam sob a força do vento. Ela se pegou mordendo o lábio inferior, inquieta. Não gostava de como seu corpo parecia reagir sem permissão à presença dele.— Ele te incomodou? — a voz calma de Madalena a trouxe de volta.Camélia piscou, virando-se para encarar a avó, que a observava com atenção. Por um instante, considerou negar, mas algo em seu peito apertava demais para mentir.— Não. — Ela hesitou. — Quer dizer, sim. Mas não do jeito que
Kael soube que ela estava ali antes mesmo de Júlio abrir a porta, o cheiro doce e inconfundível chegou primeiro, invadindo o ambiente antes que qualquer batida soasse na madeira. O perfume de flor de laranjeira. E então, ela surgiu. A garota da praça. Kael manteve o rosto impassível enquanto a via ser envolvida por um abraço apertado de Júlio e Madalena. Mas, por dentro, uma irritação incômoda crescia. Então era isso, ela não era apenas uma forasteira qualquer se metendo onde não devia, ela era alguém ligada a família Alencar, talvez a neta de Júlio e Madalena. Isso deveria dissipar o interesse repentino que se instalara nele desde o primeiro encontro. Mas, ao contrário, fez com que ele a analisasse ainda mais., ela era bonita de um jeito perturbador. Os cabelos cacheados caíam em ondas volumosas, longos o suficiente para quase encostarem na cintura. A tonalidade mel reluzia sob a luz da casa, criando reflexos dourados conforme ela se movimentava. A pele tinha um tom quente e suave
O encontro com aqueles dois ainda martelava na mente da jovem enquanto ela caminhava pelo centro de Serra dos Riachos. A cidade estava desperta agora. O céu azul pálido se espalhava acima dos casarões coloniais, banhando as ruas de pedra em uma luz dourada. O som de passos apressados ecoava entre as vielas, mesclado ao barulho distante de sinos e ao murmúrio das primeiras conversas matinais.Pequenos comércios abriam suas portas, e o cheiro de café fresco e pão recém-saído do forno se misturava ao perfume das flores que decoravam varandas e janelas. Serra dos Riachos parecia um lugar fora do tempo, lembrando um pouco a cidade de Petrópolis pela arquitetura. Mas havia algo estranho ali.Era uma cidade pacata demais para a tensão que se sentia no ar, para a forma como os olhares se demoravam um pouco mais sobre ela do que o necessário. A sensação de estar sendo observada a acompanhava a cada esquina.Ela pegou o celular, ainda inquieta depois da confusão
O tempo parecia passar de uma forma estranha desde que sua família havia partido para Serra dos Riachos. No início, tudo estava normal, eles estavam se adaptando a nova rotina na empresa da família e bem ocupados com tudo. Era difícil para os irmãos assumirem responsabilidades que não eram suas, porém ambos estavam determinados em manter tudo funcionando como deveria.Eles já conheciam bem o trabalho, só não era a função deles. Os primeiros dias foram um verdadeiro caos. Relatórios inacacabados, reuniões que tiveram que se preparar da noite para o dia e clientes impacientes. Porém, aos poucos, foram encontrando o ritmo. Enquanto Camélia se ocupava com a parte administrativa da empresa, que já era uma parte conhecida de seu trabalho. Cauã que antes participava somente da parte administrativa junto com ela, precisou lidar com os clientes e fornecedores, garantindo que tudo corresse bem, além de ajuda-la nas revisões dos contratos. Era exaustivo, pois eles estavam com funções
Camélia nunca gostou de perguntas sem respostas, ela era do tipo que desvendava padrões, que lia entrelinhas e desconfiava de silêncios longos demais. Cresceu sendo a pessoa que resolvia problemas, que planejava antes de agir, que não gostava de sentir que estava sendo deixada de fora de algo. E, naquele momento, algo não fazia sentido, a avó arrumando a mala com um olhar perdido. O avô mais silencioso do que o normal e o nome de uma cidade que nunca tinha ouvido antes: Serra dos Riachos. Desde pequena, Camélia sabia que sua família era diferente. Mas, em vez de histórias mirabolantes sobre o passado, havia apenas silêncio. Seu avô mudava de assunto quando questionado. Sua avó sempre dizia que o passado já havia ficado para trás. Seus pais também nunca pareceram curiosos sobre isso. Agora, aos vinte e cinco anos, Camélia percebia que aquilo nunca tinha sido normal. Seus pais, Flor e Gustavo, eram um casal equilibrado. Flor era mais reserv
A cidade sempre soube. Antes mesmo dos primeiros tijolos serem assentados, antes das ruas serem calçadas com pedras e dos sinos das igrejas ecoarem pelo vale, Serra dos Riachos já existia na memória dos que sabiam ouvir.Ela pulsava sob os pés dos que passavam, sussurrava através das árvores, escondia segredos no reflexo dos riachos. Era uma cidade que respirava. Uma cidade viva. Aqui, o mundo visível e o invisível se entrelaçavam. Aqui, histórias não eram apenas histórias.Safira foi a primeira a ouvir o aviso, nas águas calmas do Bosque da Névoa, onde as guardiãs buscavam refúgio para se centralizarem, criarem amuletos e discutirem o destino da cidade. Em um desses momentos, a profecia veio até ela como um sussurro no vento. Como se a própria Serra dos Riachos se materializasse para lhe contar segredos há muito tempo guardados.A noite estava densa, o ar carregado com o peso de algo que não podia ser visto, apenas sentido. A lua cheia pairava alta no céu,