Foi então que Ricardo surgiu ao lado de Júlio, com as mãos nos bolsos e um sorriso relaxado.
— E eu achando que ia precisar caçar vocês pela cidade. — Ricardo brincou, olhando para Camélia e Cauã. — Finalmente temos a família Alencar em Serra dos Riachos, esse é o neto mais velho de vocês? O olho cinza não nega. — Ricardo! — Júlio sorriu e deu um tapinha no ombro do amigo. — Você já conhece Flor e Gustavo, é sim! Esse é o Cauã, não liga muito não, ele é um rapaz bem desconfiado de tudo. Esse aqui é um amigo de longa data, meu braço direito. Cauã estreitou os olhos de leve, analisando Ricardo antes de apertar sua mão. – Prazer, que engraçado ouvir que você é o braço direito dele, nunca ouvi falar de Ricardo e bem de Serra dos Riachos. — ele falou zombeteiro. — Mas, bom te conhecer. — Ah, acontece! Mas agora vocês estão aqui, não é? — Ricardo respondeu com um sorriso divertido. — Vocês já tem algum plano? O que acham de irmos almoçarA respiração de Kael estava acelerada quando abriu os olhos. Seu peito subia e descia de forma irregular, como se tivesse corrido uma longa distância. O quarto ao redor permanecia imóvel, mas o ar parecia denso, abafado. A única luz vinha da lua, filtrada pelas cortinas entreabertas.Tânia era sua predestinada. O destino deles estava traçado. Mas tudo o que sentia agora era o toque de Camélia.Kael levantou-se de súbito, irritado. Seu corpo clamava por ação, por qualquer coisa que silenciasse aquela inquietação. O cheiro dela impregnava o ambiente, como se quisesse dominá-lo. Seu lobo reagia, inquieto, mas ele se recusava a ouvir. Passou as mãos pelo rosto, afastando o incômodo. Não podia se dar ao luxo de distrações.Como Alfa Supremo, sua responsabilidade ia além da matilha. Cada líder o via como referência. Até os que o desafiavam precisavam respeitá-lo. Ele precisava manter a ordem em Serra dos Riachos.— Isso não é sobre você, Kael — murmurou
Kael inspirou fundo antes de bater na porta dos Alencar. Ele sabia que Camélia abriria. O cheiro de flor de laranjeira o atingiu em cheio. Seus olhos deslizaram rapidamente pelo rosto dela, e, por um momento, sentiu o rubor subir à pele, lembrando-se do sonho que tivera com ela. Idiota, pensou, forçando-se a manter a postura firme.Camélia o encarava com confusão e desconfiança. Antes que alguém falasse, Júlio se adiantou, apertando a mão de Kael e chamando todos para dentro.— Que bom que você veio, Kael. Entre.Kael notou como Júlio e Camélia reagiam a ele. O homem parecia desconfiado, enquanto Camélia estava inquieta. Eles pareciam ignorar o que ele representava, como se não soubessem das lendas da cidade. Aquilo o pegou de surpresa. Eles realmente não sabiam?Cauã, de braços cruzados, o observava com evidente antipatia.— Quem você pensa que é para falar assim? — disse ele.Júlio levantou a mão, impedindo que qualquer um fala
O caminho de volta para casa foi mais longo do que deveria. Kael caminhava sem pressa, os pensamentos pesando como pedras em seus ombros. O cheiro de flor de laranjeira ainda impregnava sua pele, mesmo que ele tentasse ignorar. Mesmo que tentasse se convencer de que não importava.Liderar sua matilha já era uma responsabilidade enorme, mas ser o Alfa Supremo exigia mais. Todas as matilhas da cidade, cada uma com seus próprios costumes e conflitos, dependiam dele para manter a ordem.Alguns líderes confiavam nele, outros apenas toleravam sua posição. Mas, nos últimos meses, ele começou a sentir algo diferente no ar: dúvida.Matilhas antes neutras estavam hesitantes, e rumores de insatisfação começavam a circular.As luzes estavam acesas quando ele entrou, e o aroma de chá dominava o ambiente. Lorena estava sentada no sofá, um livro aberto em sua mão e uma xícara de chá na mesinha de centro a sua frente. Seus olhos, sempre afiados, se ergueram as
Camélia estava em seu quarto, sentada na beira da cama, mexendo distraidamente na borda do cobertor enquanto tentava organizar seus pensamentos. Algo dentro dela se agitava, uma sensação incômoda, como se algo a estivesse puxando para um lugar que ela não conseguia compreender.O quarto estava iluminado apenas pelo abajur ao lado da cama, lançando sombras suaves nas paredes de madeira. Cauã estava encostado na porta, os braços cruzados e a expressão fechada. Ele não era de demonstrar facilmente suas emoções, mas Camélia sabia que ele estava preocupado.— Você tá estranha. — Ele finalmente quebrou o silêncio, seu tom baixo, mas firme. — Desde que chegamos aqui, você tem agido diferente.Camélia soltou um suspiro, inclinando a cabeça para trás e encarando o teto. Como ela poderia explicar algo que nem ela mesma entendia?— Eu não sei, Cauã. — Ela passou a mão pelos cabelos, frustrada. — É como se… tivesse algo me puxando pra cá. Algo que eu não
Camélia respirou fundo, sentindo que aquela conversa a havia deixado com mais perguntas do que respostas. — Vocês não precisam entender tudo agora. Mas saibam que, quando for a hora, tudo vai fazer sentido. — Júlio disse por fim, soltando um suspiro e dando tempo para que os netos processassem as informações que acabaram de ouvir. Ela olhou para o relógio, percebendo que já era tarde. Ainda não sabia o que fazer com toda a informação, mas algo dentro de si a dizia que, em breve, tudo se encaixaria. Enquanto ela se perdia em seus pensamentos, Cauã a chamou de volta à realidade.— Vamos? Acho que precisamos descansar um pouco. Amanhã vai ser um dia longo.Camélia assentiu sem dizer mais nada. A tensão ainda estava no ar, mas ela sentia que agora era a hora de dar um tempo e processar tudo o que aprendera. Ela estava longe de ter todas as respostas, mas sabia que logo precisaria enfrentá-las.Enquanro isso, o mundo de Kael parecia m
Depois do almoço, os dias passaram a ser preenchidos pela presença constante de Tânia. Kael, que sempre acreditou que ela fosse sua predestinada, começou a se aproximar com mais intensidade, como se pudesse, finalmente, corrigir o tempo perdido. Para ele, tudo fazia sentido: cresceram juntos, treinaram lado a lado, e a matilha sempre esperou que ficassem juntos.No entanto, a relação nunca foi simples. Por mais que tentassem avançar, algo sempre os impedia. A atração era inegável, mas a conexão jamais se completava. Mesmo compartilhando noites e momentos íntimos, havia uma barreira invisível entre eles, algo que faltava e que nenhum dos dois conseguia nomear.Com o tempo, aceitaram essa dinâmica. Não eram oficialmente um casal, mas também nunca se afastavam completamente. Se envolviam com outras pessoas, mas sempre retornavam um ao outro, presos na ilusão de que um dia o vínculo verdadeiro surgiria. Kael, influenciado pela profecia de Carlina, tinha certeza: Tânia
Os dias seguintes após o beijo de Kael em Tânia foram um tormento silencioso. Camélia tentava seguir sua rotina normalmente, como se nada tivesse acontecido, mas havia uma sensação de desconforto que a acompanhava constantemente. Seu corpo estava mais pesado, seus sentidos confusos. O cheiro de Kael, que antes a envolvia de maneira inquietante, agora a deixava fraca.Era como se sua energia estivesse se dissipando, como se algo dentro dela estivesse se fragmentando. E o pior: ela não queria se sentir assim. Não entendia o que estava acontecendo, nem sequer sabia direito quem Kael era para estar gerando tudo isso dentro dela. Não conhecia suas intenções, não sabia o que ele realmente significava para ela. E, ainda assim, a sensação de perda, de vazio, era avassaladora. Ela se sentia totalmente fora de controle, e isso a aterrorizava mais do que qualquer coisa. Tudo estava piorando aos poucos, uma dor crescente que se infiltrava em cada célula de seu ser, como se o
O rugido de Camélia ainda ecoava pela casa quando Júlio se moveu primeiro. Seu instinto gritou para agir, para acalmar sua neta antes que fosse tarde demais. Seu coração batia pesado no peito, não apenas pelo medo do que poderia acontecer, mas porque ele já sabia. Sabia o que aquilo significava.— Chame Ricardo! — Sua voz cortou o ambiente, autoritária, sem hesitação.Flor e Gustavo estavam pálidos, os olhos arregalados observando a filha no chão. O corpo dela tremia, os músculos retesados em espasmos involuntários. O pulso, onde a pele queimava há dias, agora parecia uma ferida aberta, latejante com uma energia que não pertencia a esse mundo.Cauã estava ao lado dela, os olhos fixos na irmã. Ele não entendia, mas algo em seu próprio peito parecia pressioná-lo, como se uma corda invisível estivesse prestes a se romper. Gustavo, mesmo sem ser um lupino, sentiu o perigo no ar.— O que está acontecendo com a minha filha? — sua voz saiu baixa, qua