MAR DOS ENCANTOS – TERRA CRUZ
Era noite, haviam chegado ao Oceano Ilusório e vagavam pelo Mar dos Encantos, o lar das sereias.
Kira perdera o dia, entoou a canção Niger Luna tantas vezes que estava rouca, sua garganta ardia e sua boca estava seca. Bebera água como nunca na vida, porém, nenhuma movimentação na água, nem ao mesmo as vibrações comuns causadas pelo canto, ela conseguiu sentir. Ficou frustrada, a situação era pior do que pensava, Calysto não perdia uma oportunidade de aparecer.
Ao longe, avistaram o aglomerado de pedras, conhecido como ilha de Terra Cruz, onde algumas sereias costumavam pegar sol, era raro, mas não impossível, encontrar uma acima da água.
As rochas pontudas e afiadas se estendiam por toda a ilha, o lugar menos perigoso era a estreita faixa de areia negra, que formava a pequena praia. O lugar não era grande, minúsculo, na verdade, porém, servia de parada para alguns piratas.
— Capitã, precisa ver isso... — Oscar lhe entrega a luneta.
Kira observou a areia negra da praia, onde pontos brilhantes se estendiam por onde a vista pudesse alcançar. Seus olhos se arregalaram diante da visão, eram corpos de sereias, as escamas de suas caldas reluzindo a luz da lua.
A medida que se aproximavam, a capitã ficava mais angustiada, se não tivessem sereias vivas, como iriam curar os doentes?
Não estava disposta a perder Pria, Rubi e principalmente, Sr. Willians, seu conselheiro pessoal, amigo e única figura paterna real que tivera, alguém que esteve com ela desde o começo e se comprometeu a ir até o fim.
Desembarcou assim que o navio aportou, desceu pelo pequeno porto até a praia, caminhando entre os corpos. Cheirava mal, como carne apodrecida sob o sol quente, as peles delas estavam com uma coloração esverdeada e as escamas perderam os brilhos coloridos, estavam apenas prateadas, quase translúcidas.
Centenas delas, mortas por todos os lados...
Ela engoliu em seco e começou a procurar Calysto, se não encontrasse a rainha das sereias ali, ainda tinha uma pequena chance, mesmo que o tempo estivesse acabando. Passaram-se dois dias inteiros, há qualquer momento, metade da sua tripulação escassa, poderia morrer e pior ainda, retornar com mortos vivos.
— Oscar, Ellenne, procurem por Calysto, se a encontrarem, gritem! — berrou.
— Qual a aparência dela? — questionou Ellenne — Nunca tinha visto uma sereia antes.
Os corpos estavam um tanto deformados, mas a cor dos cabelos e as joias de pérolas permaneciam intactas.
— Ruiva, cheia de joias, com uma coroa na cabeça. — Oscar responde.
Ela assentiu e começou a procurar, levariam muito tempo para verificar todos os corpos, a luz da lua dificultava diferenciar os cabelos ruivos de castanhos.
A cada passo dado, ou corpo observado, sentia-se levemente aliviada, por não encontrar Calysto entre elas, apesar de terem suas desavenças, precisava da rainha naquele momento, não apenas ela, mas todos necessitavam das lágrimas.
— Encontrei! — Ellenne grita.
O coração de Kira errou uma batida, nem que fosse ao inferno buscar a m*****a sereia de volta, mas ela conseguiria as lágrimas para sua tripulação.
Chegou próximo, suspirando de alívio.
— Essa é Coral, uma das irmãs de Calysto. — comentou — Continue procurando.
A sereia estava inchada e cheia de marcas, diferente de outros corpos, o dela estava muito machucado.
Rodou a praia, até onde necessitou ir, retornou olhando tudo novamente, queria ter certeza de que não deixara passar, seria imprescindível terem certeza de ela não estar ali.
— Capitã, Calysto não está aqui. — Oscar informa.
— Eu percebi e isso é muito bom.
— O que faremos agora? — Ellenne questionou.
— Retornaremos ao navio, passaremos a noite por aqui, amanhã, pensarei em algo.
— Acha que é seguro, Capitã? — Oscar pergunta receoso — Seja lá o que matou essas sereias, não foi a doença, muitos corpos estão cheios de arranhões, mordidas, o que significa...
— Significa que pode ser a criatura que me procura. — ela cortou — Eu sei, Oscar, mas até agora não tivemos o desprazer de encontrar, seja lá o que for.
Caminhou de volta ao navio, a noite estava abafada ali, sem a brisa fresca do mar, a água parada, refletindo a lua e o silencio ensurdecedor.
— Kira, eu concordo com Oscar, é muito perigoso! — Ellenne estava um tanto apavorada — Nós dependemos totalmente de você, lembre-se disso.
Ela revirou os olhos, não dera ouvidos, iria ficar ali e pronto, a menos que algo que não pudesse lidar lhe atacasse, permaneceria esperando o dia amanhecer.
Kira sentou sobre a beirada da popa, se entediou devido a situação que se encontrava.
Calysto era um ser vingativo e muito mais poderoso do que muitos acreditam, mas a capitã tinha pleno conhecimento das habilidades da sereia, por isso, contava com o fato de acreditar que ela estava viva, para continuar navegando.
— Capitã, pode ser que a rainha sereia esteja na cidade submersa. — Oscar comenta.
— Não é um lugar muito protegido, salvo a enorme barreira de corais que expele toxinas, seria o último lugar em que ela permaneceria. — resmungou — Mas ela certamente deve ter ido para as profundezas, o abismo negro.
— Não é um local perigoso, cheio de criaturas?
— Sim, mas não acha que as sereias permaneceriam por séculos no mar, sem ter seus próprios truques? — perguntou o encarando — Justamente por ser um lugar perigoso, que é bom para se manter escondida.
— Faz bastante sentido, na verdade, visto as coisas que já passamos. — responde.
Ela balançou a cabeça em afirmação.
— Veja como está o Sr. Willians e acho que está na hora de dar a bebida a eles.
Oscar assentiu se retirando.
Ela abraçou o próprio corpo, sentindo fortes calafrios, percebeu algumas leves tremidas, como um pressentimento ruim. A pior parte de tudo, sentir-se sozinha, não tinha Sr. Willians para aconselhá-la ou simplesmente preencher o vazio de sua mente com os comentários dele, os quais podiam parecer banais, porém, possuíam certo significado.
Lembrou-se Daniel, poderia muito bem ter pedido para ele ficar e a acompanhar, mas diferente dela, ele tinha um filho pequeno, alguém de pura inocência que aguardava seu retorno. Talvez um dia, ela também tivesse alguém para voltar, como antes, fazia tempo que não via Amélia, talvez devesse ir conhecer sua mãe, quem sabe poderia gostar dela, mas certamente sua vida estava conturbada no momento, tinha receio de estar tão dependendo emocionalmente de alguém, a ponto de sofrer caso tivesse uma perda.
Com Sr. Willians, já era difíc
Em questão dos últimos acontecimentos aconselho aos leitores que não iniciem a leitura, me recuso a continuar disponibilizando meus livros de graça e a plataforma render as minhas custas, assim como de outros autores, os capítulos foram cortados pela metade assim inviabilizando a leitura e consequentemente cortando os rendimentos.
Agradeço a compreensão de todos e preço desculpas pelos transtornos.
ILHA DE MORTUUM Estavam aportados desde o amanhecer, o lugar não tinha uma viva alma, totalmente vazio e silencioso, algo inesperado para uma ilha pirata. Kira levantou da cadeira, Oscar estava no convés inferior, providenciado algo para comerem, depois de forçar os doentes a beber o sumo amargo. Ellenne não aparecia desde a noite passada, estava evitando qualquer contato com a capitã. Ela se dirigiu a cama onde as garotas estavam deitadas, Rubi estava com a aparência um pouco melhor, mas Pria estava com uma cor estranha. Kira se aproximou tocando a garota, percebeu que estava morta, já gelada. Pegou Rubi no colo e a levou para longe, se a menina tivesse outro contato com um morto vivo, morreria com certeza. — Oscar! — berrou. O homem subiu e passos apressado, até chegar a capitã que lhe entregou a criança. — Coloque-a em outro lugar. — E Pria? — questionou confuso. — Não resistiu. — respondeu c
CRISTALLUM – PALÁCIO REAL Daniel estava parado em frente a porta de vidro da sacada do quarto de Léia, a qual dormia pesadamente, mesmo que tenham dado a bebida a ela, ainda permanecia cansada, precisava de mais tempo de descanso. Nos braços dele, Derick se remexia inquieto, queria brincar, correr pelo chão, tinha pego gosto por andar, não demoraria muito para falar, o rei pensava. — Irei alimentar o pequeno príncipe. — Yasmin entra sorridente como sempre. Desde o nascimento de seu primeiro filho, ela havia mudado totalmente o humor, era mais amável e agora esperava pelo segundo. Ele entregou a criança para a tia, que saiu cantarolando, sem seguida, caminhou até o pé da cama, sentando sobre ela, observando a mulher que estava pálida. Daniel podia ter seu coração inteiro a Kira, porém, negar que o tempo não o tinha feito nutrir novos sentimentos por Léia seria uma grande mentira. Sentiu-se dividido, pois ela sempre esteve ao la
A tempestade havia chegado de repente, os pegando de surpresa, Sr. Willians e Oscar não tinham ideia do que fazer, Kira estava adormecida, nem sequer conseguiu tomar a bebida, seu estomago recusava sempre e agora não aceitava nem alimento ou água. Ellenne segurava no mastro principal, apavorada, o Sombra do Oceano não obedecia a ninguém, estava estático, parado há bastante tempo os deixando a deriva pela falta do timão, não tinham ventos fortes para usar as velas. — Nós vamos afundar! — Oscar bradou. O navio estava encharcado, tanto pela água da chuva, quanto pela água do mar, que entrava aos montes por causa das ondas, imaginavam que o convés inferior estaria inundado depois de tanto tempo. Na cabine a capitã rolava de um lado para o outro, a pequena Rubi estava sentada no canto, agarrada as paredes com os olhos fechados em desespero pelo balanço insistente do navio. Quando uma enorme onda virou o Sombra de lado, quase o afundando,
O navio do capitão Petrus Bezalel navegava impetuoso sobre o mar, sem se preocupar com nada ao seu redor. Sr. Willians tentava manter-se acordado, mas estavam exaustos, sentia a doença regredindo com força e a pequena Rubi permanecia desfalecida. Sentia-se triste pela menina, tinha muito o que viver, mal foi liberta das maldades de Darkson, se viu no meio de algo pior. Não sabia aonde estavam nem para onde iam, o caminho parecia familiar, mas ao mesmo tempo tinha certas dúvidas. A frente estendia-se uma pequena ilha, nunca avistara aquela ilha antes, a vegetação era diferente de todo o antigo mundo, com várias árvores gigantescas, onde as folhas brilhavam. Penetraram por uma entrada na lateral, e eles podiam sentir como se ela estivesse viva, e de fato estava, não passava de um enorme crocodilo adormecido. — Bem-vindos a Curabituran! — Petrus dizia encarando a sua frente. A caverna era enorme, com algumas construções, caixas de suprimentos, b
Kira sentia todo o seu corpo dolorido, queria abrir os olhos, mas os mesmo se recusavam a obedecer. Alguém passava a mão delicadamente pelos seus cabelos, enquanto encostava algo gelado em suas bochechas, entretanto, era uma sensação boa, aliviava a dor que sentia no local. A verdade é que ela não queria acordar, naquele momento os problemas haviam desaparecido e tudo o que restava era o desejo de paz. — Sei que está acordada, Kira. — uma voz familiar a chamava em tom baixo — Compreendo seu cansaço, porém, há muito a ser feito. Abriu os olhos lentamente avistando Calysto, com um sorriso triste. — As coisas estão fora de controle... A capitã passou as mãos sobre o rosto, mesmo tendo desavenças com a rainha das sereias, aquele momento, deitada sobre o colo dela era incrivelmente bom, nem lembrava da última vez que relaxara. — Onde estou? — a voz saiu rouca e esganiçada. — Realmnereid. — respondeu passando algo em sua bochecha — S
Kira caminhou lentamente pelo porto, procurando por algum sinal de mortos vagando ou pelo menos pessoas vivas. Se dirigiu a estalagem, com passos curtos e vagarosos, abraçando o próprio corpo. A roupa ensopada lhe deixou extremamente agoniada, o frio deixara as pontas dos dedos arroxeadas, precisava dar um jeito de conseguir vestimentas secas e alimento quente. Bateu com força na porta do local, a qual foi aberta em uma pequena fresta, onde um brutamontes a observava desconfiado, permaneceu em silencio, não perguntou quem era ou tão pouco pareceu a reconhecer, e isso a irritou levemente. — Há algum quarto vazio? — questionou. — Depende. — respondeu vago. A capitã o encarou por um tempo, apenas ponderando o que faria. Sem aviso prévio, chutou a porta, arrebentando-a e arremessando o grandalhão por sobre as mesas, onde serviam comida e bebida, naquele andar. Adentrou calmamente o local, ajeitando a bolsa sobre o ombro, e observou os serventes a
Turturem Após dias presa em Turturem, Kira sentia-se fatigada e pronta para enfiar suas unhas na garganta de alguém, não importava quem fosse, apenas o queria fazer. Enviara os frascos com lágrimas de sereias para a rainha de Magicae e o rei de Bellum, com uma carta, avisando que era ela quem o estava fazendo e que cobraria o favor muito em breve. Não sabia a real situação dos três reinos e nem se importava, tudo o que queria era sair da ilha e encontrar Sr. Willians, caso ainda estivesse vivo, depois pensaria no que fazer, em como encontraria o responsável por trazer a maldição e dá-lhe uma bela surra. Levantou da areia da pequena praia, onde passou os últimos dias, os quais usou para descansar mais e receber a visita de Malesinmar, que lhe trazia notícias de Calysto. Ao longe, vindo em sua direção, o Sombra do Oceano navegava velozmente, cortando a água de forma imponente, com o brilho azulado lhe rondando. Kira nunca se sentira tão
Petrus e Kira se mantinham em uma disputa acirrada, nenhum dos dois dava o braço a torcer, ambos revidavam com fúria, atacavam com seus sabres sem piedade. Ao redor, um círculo se formou com toda a tripulação, estavam afoitos para ver seu capitão lutando com ela, urravam e gritavam. Sr. Willians e Oscar ficaram próximos, prontos para qualquer coisa, mesmo sabendo que a capitã estava melhor, tanto fisicamente quanto mentalmente, ainda sentiam-se preocupados com ela, estavam em menor número. Ellenne permaneceu junto ao timão, longe de toda a confusão, não queria ver aquela briga, sentia-se desconfortável. — Esse é o seu melhor? — Kira questionou o derrubando. Petrus se levantou e investiu com seu corpo contra, a prensando contra o mastro principal, onde ela ficou levemente atordoada. Ele desferiu dois socos no estomago da capitã que acabou acertando uma cotovelada em seu nariz e quando ele a soltou, foi chutado com força, o arremessando sobre a roda de marujos.