Capítulo 11

Kira caminhou lentamente pelo porto, procurando por algum sinal de mortos vagando ou pelo menos pessoas vivas.

Se dirigiu a estalagem, com passos curtos e vagarosos, abraçando o próprio corpo. A roupa ensopada lhe deixou extremamente agoniada, o frio deixara as pontas dos dedos arroxeadas, precisava dar um jeito de conseguir vestimentas secas e alimento quente.

Bateu com força na porta do local, a qual foi aberta em uma pequena fresta, onde um brutamontes a observava desconfiado, permaneceu em silencio, não perguntou quem era ou tão pouco pareceu a reconhecer, e isso a irritou levemente.

— Há algum quarto vazio? — questionou.

— Depende. — respondeu vago.

A capitã o encarou por um tempo, apenas ponderando o que faria. Sem aviso prévio, chutou a porta, arrebentando-a e arremessando o grandalhão por sobre as mesas, onde serviam comida e bebida, naquele andar. Adentrou calmamente o local, ajeitando a bolsa sobre o ombro, e observou os serventes a encarando assustados, não haviam mais clientes a vista.

— Tem algum quarto vazio? — questionou em tom alto — Ou eu vou precisar descobrir sozinha?

— Capitã Kira! — o dono do local exclamou abaixando a pistola em suas mãos — Achei que fosse algum morto ­— a encarou com um sorriso amarelado — Desculpe o transtorno, mas as coisas estão difíceis, não temos muitos clientes e essa maldição mexeu com os nervos de todos.

Ela assentiu sem grande interesse.

— Apenas preciso de um quarto, tive uma longa viagem. — resmungou.

— Providenciarei. — ele entregou a arma para o grandalhão, que se levantava, antes de lhe dirigir um olhar semicerrado — Deseja algo para comer, também?

— Sim, qualquer coisa quente e, se possível, roupas secas.

Ele deu ordens para que providenciassem as roupas e a comida da capitã, antes de acompanha-la escada acima. O local estava silencioso, provavelmente poucos quartos usados, ela pode constatar ao observar as plaquinhas nas portas.

— Pronto, logo sua comida e roupas serão trazidos. — apontou para o quarto do final do corredor.

Kira retirou um pequeno saco de ouro, dentro da bolsa, que com certeza lhe foi dado por Calysto, e entregou ao homem.

— É tudo o que tenho.

— Já é suficiente, mal conseguimos esse valor em uma noite. — deu de ombros saindo.

Adentrou o local, fechando a porta atrás de si.

Não demorou muito para a comida e as roupas secas chegarem, os quais foram entregues por uma mulher que a encarava desconfiadamente.

Sem dar importância, apenas trocou suas vestes e tratou de comer, teria um dia cheio ao acordar, então precisava guardar o máximo de forças possíveis. Sentia-se melhor, muito melhor, em comparação a alguns dias, tudo o que precisou foi de uma pausa, descansar bem e recolocar as ideias conturbadas.

Deitou sobre a cama, após se sentir satisfeita e aconchegou-se embaixo dos lençóis. Mesmo sabendo que aquela cama fora usada para muitas coisas, a maioria não mencionável, nem se importou, estava se sentindo uma verdadeira ociosa, como se estivesse de férias, o que não era o caso.

O dia amanheceu mais rápido do que Kira esperava, abrira os olhos cansados com bastante dificuldade, vislumbrando o teto acima. Virou-se lentamente para o lado, observando os raios de sol atravessando o vidro da janela empoeirada, enquanto escutava a movimentação ao lado de fora.

Levantou-se com certa dificuldade, recobrando os sentidos, então verificou se suas roupas estavam secas.

Constatando que sim, vestiu-as rapidamente, e pegou as botas nas mãos, pois ainda estavam úmidas, colocou o chapéu em sua cabeça, depositou a bolsa sobre o ombro e abriu a porta, fechando-a ao sair. O corredor continuava silencioso, mas ao aproximar-se das escadas ouvia vozes altas conversando entre si, sobre assuntos variados. Disparou pelo ambiente direto para a porta de saída, sem se importar com os olhares curiosos.

Turturem estava bem mais vazia que dá última vez, o porto mal tinha pessoas, a maioria se concentravam próximos as estalagens.

Percebendo a silhueta de Gibbs, acompanhado de dois brutamontes, se dirigiu para a direção dele, encarando-o com os olhos semicerrados. O velho estava bem, saudável, com a pele corada e muito melhor desde que o vira há alguns dias.

— Eu atravessei o oceano por sua causa, mas vejo que não precisava. — disse sarcasticamente.

Gibbs a encarou surpreso, os olhos arregalados, como se estivessem prestes a explodir.

— Capitã Kira? — questionou.

— Não... um fantasma.

— Sempre bem humorada. — gargalhou coçando a barba.

— Vamos, comece a falar. — ela cruzou os braços.

— O capitão Petrus me deu as lágrimas de sereias e todos os outros ingredientes, em grande quantidade. — disse levantando os braços — Foram apenas negócios.

— Você é um rato do mar desprezível. — resmungou.

— Entenda, eu estava morrendo e ele me ofereceu a cura, assim como a chance de lucrar muito, porém, tive que contar tudo o que sabia sobre você. — deu de ombros.

A capitã suspirou, enquanto retirava o frasco pequeno de lágrimas de sereias.

— Eu sempre cumpro meus acordos. — entregou a ele — Mas saiba que nunca mais farei negócios com você.

— Ah, não seja tão infantil! — berrou.

— Eu quase morri e Petrus está com minha tripulação, ou melhor, o que restou dela. — resmungou.

— Tudo bem... — suspirou tentando encontrar uma solução — Posso conseguir o que você quiser, de graça, como cortesia, o que acha?

Kira cruzou os braços, antes de arquear as sobrancelhas.

— Você sempre foi minha melhor cliente, desde sempre, então eu vou fazer isso para não manchar minha reputação.

Ela pensou seriamente em recusar, mas lembrou que precisava de uma ave mensageira para enviar o frasco de lágrimas de sereias para Daniel.

— Tudo bem, quero uma ave grande. — riu sem humor — O Sombra ainda não apareceu, então eu preciso me virar sozinha.

— Tudo o que eu tenho é uma águia vampiro, porém ela ainda é jovem e não obedece ninguém. — apontou para uma grande gaiola com barras reforçadas.

— Vai servir...

— Estamos acertados?

— Se eu não morrer, posso abrir uma exceção. — abriu a gaiola sem avisar.

O velho correu para trás de seus dois guardas, desesperado, enquanto eles se mantinham em posição de defesa, prontos para atacar a ave caso fosse preciso. Kira usou sua magia para se conectar com a águia, como fazia com todas as suas criaturas, encontrou certa resistência, mas não o suficiente para fazê-la desistir, para ela, era muito mais fácil controlar as coisas do que usar a magia em sua forma pura. Calçou suas botas, mesmo que úmidas, era melhor que continuar descalça.

— Espero que ela tenha sido bem alimentada.

— Ah, mas isso não é um problema, tenho alimento de Águias vampiros bem aqui, por um precinho especial. — Gibbs diz saindo de trás dos guardas.

Kira o encarou com um olhar mortal.

— Claro que você não precisa pagar, faço questão de lhe dar, sem custos. — riu de nervoso.

Revirando os olhos, ela se aproximou, pegando a pequena caixa com roedores.

— Estou quase não te odiando. — disse antes de sair, rumo a estalagem, sendo seguida pela ave que voava calmamente.

Adentrou o local, se dirigindo a única mesa vazia, onde olhos a observavam curiosos e amedrontados, pela águia que pousou sobre a cadeira, observando todos com os enormes globos negros.

Abriu a caixa a empurrando para perto da ave, a qual devorava os pequenos sem nem mesmo lhes dar a chance de tentar escapar. Desconfortável, uma das serventes se aproximou, com certa cautela, permanecendo em silencio por um tempo, encarando-as.

— Está incomodando os clientes. — disse com a voz falha.

Levantando os olhos para a moça, Kira apenas se limitou a permanecer quieta.

— Poderia se retirar? — questionou.

— Não, não poderia. — respondeu se pondo de pé — Se alguém está incomodado comigo, que venha pessoalmente me dizer.

Seu berro ecoava pelo local, mas ninguém se atreveu a levantar.

— Não queremos confusão, Kira. — o dono resmungou se aproximando — Ao menos leve a sua ave para fora.

— Certo...

Recolheu a caixa e saiu com o olhar fulminando a todos.

Ao lado de fora, observou tudo que se passava, o que não era muita coisa, apenas corsários e bêbados caminhando ou sentados pelas beiradas das ruas de pedras.

— Agora que se alimentou, quero que faça-me um favor.

Retirou um dos frascos da bolsa, amarrando-o em uma corda fina, para então prendê-lo nas costas da ave, que não esboçou qualquer reação.

— Entregue ao rei Daniel, após, retorne para mim. — olhou no fundo dos olhos da criatura.

Quando a ave alçou voo, Kira notou algo estranho, vindo do lado menos movimentado de Turturem, dois mortos vivos, caminhando em plena luz do dia, com suas roupas rasgadas e a carne apodrecida exalando um mal cheiro.

— Que ótimo! — resmungou se dirigindo ao porto.

Precisava chamar o Pesadelo Marinho de volta e sair dali, antes que o tempo acabasse.

Seja lá o que estivesse causando a maldição, piorara, provavelmente devia ser uma evolução, quem quer que fosse o responsável, não se sentiu satisfeito com os mortos vagando pela noite.

Antes que pudesse chegar ao porto, uma enorme calda, negra como piche, chicoteou tudo a sua frente, afundando os dois únicos navios ancorados e

Em questão dos últimos acontecimentos aconselho aos leitores que não iniciem a leitura, me recuso a continuar disponibilizando meus livros de graça e a plataforma render as minhas custas, assim como de outros autores, os capítulos foram cortados pela metade assim inviabilizando a leitura e consequentemente cortando os rendimentos.

Agradeço a compreensão de todos e preço desculpas pelos transtornos.

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