Enquanto penteava os cabelos, Kira escutou batidas na porta.
— Posso entrar? — escutou Ellenne perguntando.
— A vontade! — respondeu.
A garota entrou rápido e fechou a porta atrás de si, depois passou a observar Kira.
— Qual o problema? — a capitã questionou com as sobrancelhas arqueadas.
— Eu só queria pedir desculpas, mal tivemos tempo para conversar e eu não quero ter uma relação ruim como irmãs. — respondeu dando de ombros — Mamãe me mandou ficar, disse que eu irei te atrapalhar, então quero aproveitar nossos últimos momentos juntas.
— Não se preocupe, não estou brava com você e tenho certeza que nos veremos em breve. — colocou o pente sobre a cômoda — Sempre pensei que não desejava ter outra irmã depois de Yasmin, a experiência não foi boa, mas acho que posso me acostumar com você.
— Assim espero... — sussurrou — Mas ainda sim quero me desculpar e pedir para que tome cuidado, desejo que um dia possamos passar um tempo juntas e nos conhecer melhor, poder conviver como irmãs de verdade.
— Eu não serei uma boa irmã, acredite.
Ellenne gargalhou levemente.
— Quero te entregar algo, Eilleen.
Kira se virou para ela que segurava uma pulseira delicada, feita toda de prata, com correntes entrelaçadas entre si e alguns pequenos crânios em sua volta, feitos do mesmo material.
— É simples, mas eu fiz antes de te procurar e acabei esquecendo no meu quarto. — disse o entregando — Espero que goste.
— Parece que hoje é o dia de presentear a capitã Kira. — estendeu a mão para que Ellenne colocasse a pulseira em seu pulso.
— Acho que sim. — riu.
— Eu gostei... — apreciou a peça em contraste com o anel — Espero não perde-la, como sempre acontece.
— Ah, que bom, pensei que fosse achar exagerado! — suspirou aliviada.
Parecia querer dizer algo mais.
— Quando Petrus Bezalel nos capturou, ficamos presos em Curabituran, uma ilha em cima do casco de um enorme crocodilo, e tinham duas sereias presas, mas depois que o mostro acordou, não tive notícias delas... — comentou — Se chamam Adela e Nerissa, poderia perguntar a sua amiga rainha das sereias sobre elas?
— Posso, assim que Malesinmar aparecer.
— Ótimo, fico aguardando, elas não eram sereias legais, mas não desejo o mal também. — disse se dirigindo a porta — Vou preparar uma cesta de comida, mama ordenou... e a propósito, está muito bonita.
Ela se retirou tão rapidamente quanto chegou.
Kira supôs que tinha adereços demais sobre o corpo, porém, não desejou tirá-los, ao menos podia lembrar que tinham pessoas preocupadas de verdade com ela, o que lhe lembrou de Amélia, a qual não visitava há tempos.
Enquanto colocava o chapéu sobre a cabeça, Leonor adentrou o quarto com um casaco preto, repleto de bordados em linhas azuis de diferentes tonalidades, na frente tinha “Kira” bordado com letras bem desenhadas em linha branca.
— Me entregue as roupas que usava, irei queimá-las. — disse colocando o casaco em cima da bolsa — Não sabe quantas maldições podem ser feitas apenas com um pedaço de tecido com seu sangue.
— Estão no quarto de banho. — ela engoliu em seco.
Leonor fora até lá e recolheu as roupas, enquanto Kira lembrava de todas as roupas e lenços manchados de sangue deixara por todos os lados onde passou, sentiu-se a pessoa mais descuidada do mundo.
— Espero que não demore a voltar. — a observou com um olhar triste.
Ela se segurava para não apertar a filha entre os braços e mantê-la protegida, para sempre, evitando que qualquer um se aproximasse, mas sabia não ser do feitio de Kira permanecer parada por muito tempo, mais uma vez veria sua filha tirada de si por culpa de Petrus Bezalel.
— Tem esperanças que sobrevivamos? — Kira questionou.
— Confio em você, filha, sei do que é capaz, basta apenas que saiba também e use isso a seu favor.
Ela apenas riu, sem entender bem o que a mãe quisera dizer.
— Preciso ir, antes que Petrus queira incendiar a ilha toda. — disse guardando o casaco na bolsa que colocou sobre o ombro.
A mulher se aproximou cautelosa e lhe deu um abraço rápido, mas Kira se sentiu acolhida e protegida.
— De novo peço para que tome cuidado...
— Irei tomar! — sussurrou.
Elas saíram do quarto, rumo a porta da frente onde Oscar segurava uma grande caixa e Sr. Willians carregava uma bolsa pequena.
— Estamos prontos, capitã. — disseram juntos.
— Essa é a “cesta” de comida? — Kira questionou.
— Achei que precisariam bem mais do que uma simples cesta. — Leonor respondeu.
Kira deu de ombros e começou a caminhar, mas foi parada por Ellenne que a abraçou forte.
— Se um dia precisar de mais uma mulher no navio, estou à disposição. — brincou.
— Pode deixar... — sorriu — Estarei de volta antes que sintam minha falta, há muito que quero saber.
Voltou a caminhar sendo seguida pelos dois. Na porta, Leonor a encarava com os olhos atentos, acreditava que nunca mais fosse ver a filha de novo.
O caminho de volta fora bem mais comprido, descer as escadas não pareceu tão fácil, já que as mesmas estavam escorregadias por causa da umidade da neblina que avançava pela ilha. No navio, Petrus os aguardava impaciente, se demorassem mais um pouco para aparecerem com certeza ele teria marchado com seus marujos escada acima.
Adentraram rapidamente sendo observados pelo capitão.
— Foram fazer compras? — questionou cruzando os braços.
— Seu senso de humor é adorável. — Kira debochou — Foram prese
Em questão dos últimos acontecimentos aconselho aos leitores que não iniciem a leitura, me recuso a continuar disponibilizando meus livros de graça e a plataforma render as minhas custas, assim como de outros autores, os capítulos foram cortados pela metade assim inviabilizando a leitura e consequentemente cortando os rendimentos.
Agradeço a compreensão de todos e preço desculpas pelos transtornos.
Opala Insula Quando o capitão Petrus acordou no dia seguinte, havia uma fogueira ao seu lado e os dois marujos dormiam ainda profundamente. Observando a sua volta não encontrou nenhum sinal de Kira ou de Malesinmar, vasculhou pelos lados, chamou por ela, mas sem resposta alguma. Berrou alto assustando Sr. Willians e Oscar, que levantaram rápido. — Onde está a sua capitã? — questionou irritado. — Não sabemos, ela estava aqui quando adormecemos. — Sr. Willians respondeu. Insatisfeito, Petrus caminhou por entre as árvores de volta a praia, tentando encontrar alguma pista sobre a capitã. Sr. Willians e Oscar o acompanharam ainda sonolentos, porém, bastante preocupados com a situação. Chegando a areia branca, encontraram Malesinmar vagando de forma débil, com as mãos sobre a cabeça tapando os olhos do sol da manhã. — KIRAAA! — berrou fazendo-os tapar os ouvidos — KIRAAA! — Parece que ele também está procurando pela
Opala Insula Levaram horas para dar a volta na ilha, mas nenhuma pista de Kira fora encontrada, nem mesmo outro objeto que pertencia a ela, indicando que estavam no cainho certo. Seus estômagos roncavam e já se encontrava bastante cansados devido a longa caminhada debaixo do sol quente. Petrus era o único que se mantinha firme, sem reclamar da enorme fome, ele queria encontrar Kira logo, se o garoto estava certo, o lugar era aquele, percorreram tudo, a única “passagem visível” pelo meio da mata era a de frente onde estavam parados. — Devíamos ter comprado algo para comer, antes de vir. — Sr. Willians disse pela décima vez. — Eu já entendi que são um bando de maricas, mas temos problemas maiores. — Petrus resmungou. — Se me permite dizer, nem ao menos gosta da capitã! — Ela é minha filha acima de tudo, e tem um navio, recursos... — deu de ombros — O mínimo que pode fazer é me recompensar pela perda do meu navio.
Enquanto Sr. Willians e Eliaquim se distanciavam cada vez mais, Oscar observava a linha do horizonte a procura de vislumbrar o Sombra do Oceano. — Eu sabia que teria problemas se fosse atrás de Kira, mas não imaginei que fossem tantos... — Petrus comentou. Ainda estava deitado, tirara o casaco para cobrir seu rosto da claridade. — Lembra que tentou matar ela? — Oscar questionou. — Isso é o de menos, Kira atraiu uma criatura mitológica para o meu navio. Oscar suspirou sem saber o que responder, a forma como Petrus pensava era intrigante. — Por que mudou de ideia, capitão? — Sobre o quê? — Sobre acusar Kira da maldição. Ele levantou o casaco para observar o marujo, que nem ao menos lhe olhava. — Não é bem assim, apenas quis ser justo, além disso, uma mulher que consegue me enfrentar sem medo merece respeito, não acha? — questionou. — A capitã costuma sentir mais ódio do qu
Turturem A lama sob seus pés e as pedras pelo caminho transformou em uma longa caminhada, o que poderia ter sido feito em quinze minutos, caso as condições fossem melhores. — Diabos de lugar imundo, essa é a pior humilhação que já passei na minha vida. — Petrus resmungou irritado — Quando eu encontrar o responsável por essa maldição, irei estrangulá-lo com minhas próprias mãos. Demoraria um pouco mais para o amanhecer, teriam que se contentar em permanecer ao ar livre. Chegando as ruas de pedras, que compunha metade da parte comerciante de Turturem, avistaram os mortos vivos vagando de um lado para o outro, em grande quantidade. Mesmo tentando se manterem longe das vistas, acabaram por ter sua localização entregue quando Petrus xingou alto. Sr. Willians queria cortar a garganta do capitão, mas sabia não ter força para isso e tinham coisas maiores para se preocupar. Dispararam pelo mesmo caminho que vieram, de volta a p
Ellenne caminhava com dificuldade enquanto carregava o baú, parecia pesa uma tonelada, mal conseguiu sair da cabine antes de o derrubar ao convés, próximo ao Sr. Willians. Oscar caminhou até ela com pressa, a ajudando a recolher as moedas de ouro que se espalharam. A garota sentiu-se ligeiramente envergonhada, queria se esconder no primeiro buraco que encontrasse, porém, tentou manter o semblante calmo e despreocupado. — Devia ter me chamado. — Oscar disse levantando o baú — Eu assumo daqui. Lhe deu uma piscadela discreta antes de se afastar. Ela respirou fundo antes de retornar a cabine do capitão, voltou ao seu trabalho, não demorou tanto quanto imaginava para ajustar a calça a camisa e o caso que encontrara, outrora pertencidos a Kira enquanto ainda comandava o Pesadelo Marinho. Sentiu o balanço do navio diminuindo, levantou para acordar Rubi que mesmo relutante abriu os olhinhos cansados. — A roupa está pronta, vou esperar lá fora.
Petrus acabou por beber ainda mais e desmaiou na proa do navio sobre o próprio vômito, suas roupas molhadas de rum e várias garrafas caídas ao redor, algumas quebradas. — Fique atenta a qualquer movimento suspeito, Ellenne, não sabemos quanto tempo iremos retornar. — Sr. Willians disse antes de descer pela prancha. Ela assentiu enquanto observava os três caminhando em direção a padaria. Não demorou muito para que eles sumissem de vista, como Rubi já estava dormindo, ela permaneceu perto da porta e Malesinmar se encolhera perto do timão, as vezes balbuciava chiados desconexos em tom baixo, mas a maior parte do tempo ficava em silencio. Ellenne sentou ao chão pensativa, a preocupação com a irmã era evidente, havia dito a sua mãe que retornaria em breve, mas agora só queria encontrar Kira. Sr. Willians, Oscar e Eliaquim se esgueiravam pelos fundos da padaria, ainda havia movimentação do lado de dentro, algumas velas acessas indicavam isso, além d
— Então por que está nos ajudando? — Rubi questiona a Calysto. — Não estou ajudando vocês, estou ajudando a capitã Kira. — Certo, então vamos logo cada um seguir o lado que precisa. — Sr. Willians cortou o assunto — Rubi terá que ir com Ellenne, será mais seguro para ela estar com a rainha das sereias. Assentindo, as duas descem da canoa para o mar gelado, sendo amparadas pelas sereias. Calysto segura a pequena Rubi, enquanto uma das servas apoia Ellenne, as outras três se posicionam atrás da canoa a guiando rumo a Ilha de Vinhas em alta velocidade. — Segure-se em meus ombros. — Calysto instrui a Rubi — Será mais fácil para mim. Quando a garotinha acata as ordens da rainha, e Ellenne faz o mesmo com a outra sereia, elas disparam nadando rapidamente na direção oposta, retornando a Nebula Insula, em busca da mãe da capitã Kira. — Ser uma sereia parece muito legal. — Rubi comenta sorrindo — Eu adoraria ser uma. — Tem certe
TRÊS ANOS ANTES – PRISÃO DE BELLUM A cela fétida e escura, no subterrâneo das minas de ferro do reino, abrigava apenas uma prisioneira, uma mulher de face amarga. Seus dias resumiam-se a murmurar e proferir maldições, o coração endurecido tomado pelo extremo rancor, desejava mais do que tudo sair daquele lugar, esperava pacientemente um momento crucial, onde escaparia torando seus sonhos realidades. Ela levantou-se do chão ao escutar passos próximos, queria saber quem era, talvez conseguisse fugir, passara sete anos trancafiada naquele maldito buraco por causa de um erro que acabara por cometera, culpava uma garotinha de cabelos negros e olhos azuis, a mesma que roubara o seu navio, o Sombra do Oceano, o qual desejou durante anos. se esforçou muito para encontrar a localização do velho navio amaldiçoado, fez planos de se tornar não apenas a bruxa mais poderosa de todas, mas uma capitã de um navio pirata, leva