Turturem
Após dias presa em Turturem, Kira sentia-se fatigada e pronta para enfiar suas unhas na garganta de alguém, não importava quem fosse, apenas o queria fazer.
Enviara os frascos com lágrimas de sereias para a rainha de Magicae e o rei de Bellum, com uma carta, avisando que era ela quem o estava fazendo e que cobraria o favor muito em breve. Não sabia a real situação dos três reinos e nem se importava, tudo o que queria era sair da ilha e encontrar Sr. Willians, caso ainda estivesse vivo, depois pensaria no que fazer, em como encontraria o responsável por trazer a maldição e dá-lhe uma bela surra.
Levantou da areia da pequena praia, onde passou os últimos dias, os quais usou para descansar mais e receber a visita de Malesinmar, que lhe trazia notícias de Calysto.
Ao longe, vindo em sua direção, o Sombra do Oceano navegava velozmente, cortando a água de forma imponente, com o brilho azulado lhe rondando. Kira nunca se sentira tão feliz em sua vida, como naquele momento, finalmente poderia ir atrás de Petrus e no mínimo se vingar pela bola de canhão que recebeu no estomago.
Esperou que ele chegasse perto, não queria admitir, mas estava receosa em entrar na água, aquela criatura a procurava e não demoraria muito para terem um encontro nada agradável, onde ela não teria a menor chance, sem suas criaturas para defende-la.
Ponderou por alguns momentos como faria para subir a bordo sem entrar na água, já que o Sombra não poderia se aproximar muito. Ordenou ao navio que descesse uma canoa, a qual ela guiou lentamente até a praia. Saindo da água, Malesinmar a encarava com os olhos fixos, enquanto ela se aproximava.
— Malesinmar guia Kira em segurança. — disse com a voz ruidosa.
Kira adentrou a canoa e a criatura a puxou, levando para o navio, sem nenhuma dificuldade, logo estava a bordo do Sombra.
— Vamos buscar o Sr. Willians. — diz se dirigindo a sua cabine.
Malesinmar permaneceu no convés, caminhando de um lado para o outro, como se checasse tudo.
O navio partiu em alta velocidade, nem mesmo sabia para onde estava indo, mas a capitã desejava chegar ao destino o mais breve possível... As coisas não eram as mesmas sem Sr. Willians para aconselhar e Oscar, que sempre seguiu as suas ordens e esteve ao seu lado também, quando mais precisou, todos lhe faziam uma tremenda falta, diferente da “família” que tivera.
Enquanto vagavam pelo Oceano Escuro, Kira aproveitou para ver como estavam as criaturas do porão secreto, aquele não era um bom momento para perder alguma delas, poderiam ser de extrema importância em algum momento futuro. Constatando estar tudo como deveria, se dirigiu ao convéns superior, precisava traçar uma rota, pois ficar vagando sem rumo não lhe levaria para onde o capitão Petrus Bezalel estava.
Pensou que seria mais prático procurar primeiro pelo Oceano Escuro mesmo, nas ilhas piratas catalogadas e as que permaneciam desconhecidas, seguindo pelo Oceano Fantasma, para então retornar pelos outros oceanos.
— KIRAA! — Malesinmar berrou.
— O que quer? — questionou.
— Malesinmar partir.
— Posso me virar sozinha agora. — disse virando o timão — Estarei indo para a Cova da Serpente, depois pretendo aportar em todas as ilhas piratas, caso venha a querer me encontrar.
Ele pendeu a cabeça de lado e por um instante ela pensou que talvez a criatura não tivesse conseguido compreender o que dissera.
Virando de costas, Malesinmar apenas gritou, com sua voz agoniante, antes de saltar na água. A capitã bufou irritada, não aguentava mais escutar os chiados desconexos da criatura, se não estivessem do mesmo lado naquela situação, ela provavelmente tentaria controlá-lo, mesmo não sabendo se teria a mesma facilidade com um ser mais evoluído, o qual se comunicava e parecia pensar.
Navegou por algumas horas, era o meio da manhã quando o Sombra fora busca-la, mas naquele momento o sol ardia alto no céu, devia ser um pouco mais de meio-dia, seu estomago roncava pela falta de alimento, queria chegar logo em Cova da Serpente, esperava ter ao menos uma pista sobre Petrus.
Quando avistou a silhueta da ilha, ordenou ao navio que disparasse, queria sair debaixo daquele sol e comer algo consistente, que a mantivesse satisfeita pelo resto do dia. Não precisou chegar muito perto, para reconhecer o navio de Petrus, seus olhos semicerraram e sua boca se torceu em uma carranca, queria enfiar suas garras na garganta dele e ver o sangue escorrer entre seus dedos.
Ancorou um pouco distante, notando que não haviam muitos barcos por perto, provavelmente estava na mesma situação de Turturem, se não pior.
Caminhou pelo porto rumo ao navio, onde os homens do capitão Petrus carregavam suprimentos e armas. Parado com algumas folhas em mãos estava Sr. Willians, um pouco magro e cansado, anotando tudo com avidez. Percebeu também Oscar entre os marujos, carregando as pesadas caixas, mas nenhum sinal de Ellenne ou Rubi.
— PETRUS! — berrou o mais alto que conseguiu — Vai ter que fazer melhor, para me matar.
Sr. Willians deu pulo assustado, mas logo seus olhos se encheram de alegria ao ver sua capitã ali, diante dele e bem melhor do que da última vez que a vira..
— Vamos, capitão, é muito feio deixar uma dama esperar. — provocou.
— Você está longe de ser uma dama. — Petrus resmungou entredentes.
Ele descia a prancha lentamente, a encarando com os olhos carregados de fúria e as mãos fechadas em punhos.
— É dura na queda, creio ter subestimado suas habilidades magicas.
— Não subestimou, nem precisei usar mesmo. — respondeu o encarando na mesma intensidade — Tenho outros truques...
— Ora, que interessante, veio aqui apenas para morrer. — gargalhou enquanto seus homens a cercavam.
— Não, eu vim para resgatar minha tripulação de um maníaco, o mesmo que soltou uma maldição condenando a todos. — resmungou se aproximando, mesmo com as espadas apontadas para seu corpo — Agora me diga, o que ganhou com isso?
— Bruxa imunda, quer me confundir! — resmungou — Não caio nos seus truques, sei muito bem que é você a responsável por essa maldição.
Kira ficou surpresa em ouvir aquela informação.
— Espera, você acha que foi obra minha? — questionou rindo — E eu acho que a culpa é sua.
Levantou as mãos para os céus, estava mais confusa do que antes.
— Eu não liberei essa maldição, passei os últimos dois anos no Oceano Fantasma, procurando o Oceano Infernal. — berrou — Por que eu tomaria uma decisão tão estúpida, sabendo que posso morrer também?
Petrus parecia meramente confuso, mas não quis dar o braço a torcer.
— É muito ardilosa!
— Pouco me importa a sua opinião, eu nem sei usar magia na sua forma pura, precisaria de anos para conseguir liberar algo dessa magnitude. — cruzou os braços — Tudo o que faço é controlar criaturas, tanto marinhas quanto terrestres, e navios.
— Se não foi você, quem é o responsável? — questionou dando o benefício da dúvida.
— Me disseram que era obra sua, imaginei que saberia uma forma de quebrar a maldição.
— Eu não mexo com magia ou criaturas mágicas. — disse entredentes.
— Mas tem um navio amaldiçoado... Enfim, a hipocrisia. — provocou.
Ele avançou contra ela, com os punhos em riste, pronto para lhe acertar um soco no rosto, mas Kira fora mais rápida e desviara, revidando com um chute no estomago dele o deixando momentaneamente desnorteado.
Insatisfeito e irritado, Petrus avançou novamente, retirando seu sabre da bainha, entretanto, Kira fora mais rápida e desferiu um chute entre as pernas dele, socando seu rosto em seguida, o derrubando ao chão. Percebeu a movimentação atrás de si, saltou para frente, pegando a arma do capitão e revidando contra seus marujos. Podia não ser a melhor em combates corpo a corpo, mas sabia se defender muito bem, e mostrara não ser apenas um rostinho bonito. Investiu contra
Em questão dos últimos acontecimentos aconselho aos leitores que não iniciem a leitura, me recuso a continuar disponibilizando meus livros de graça e a plataforma render as minhas custas, assim como de outros autores, os capítulos foram cortados pela metade assim inviabilizando a leitura e consequentemente cortando os rendimentos.
Agradeço a compreensão de todos e preço desculpas pelos transtornos.
Petrus e Kira se mantinham em uma disputa acirrada, nenhum dos dois dava o braço a torcer, ambos revidavam com fúria, atacavam com seus sabres sem piedade. Ao redor, um círculo se formou com toda a tripulação, estavam afoitos para ver seu capitão lutando com ela, urravam e gritavam. Sr. Willians e Oscar ficaram próximos, prontos para qualquer coisa, mesmo sabendo que a capitã estava melhor, tanto fisicamente quanto mentalmente, ainda sentiam-se preocupados com ela, estavam em menor número. Ellenne permaneceu junto ao timão, longe de toda a confusão, não queria ver aquela briga, sentia-se desconfortável. — Esse é o seu melhor? — Kira questionou o derrubando. Petrus se levantou e investiu com seu corpo contra, a prensando contra o mastro principal, onde ela ficou levemente atordoada. Ele desferiu dois socos no estomago da capitã que acabou acertando uma cotovelada em seu nariz e quando ele a soltou, foi chutado com força, o arremessando sobre a roda de marujos.
Enquanto penteava os cabelos, Kira escutou batidas na porta. — Posso entrar? — escutou Ellenne perguntando. — A vontade! — respondeu. A garota entrou rápido e fechou a porta atrás de si, depois passou a observar Kira. — Qual o problema? — a capitã questionou com as sobrancelhas arqueadas. — Eu só queria pedir desculpas, mal tivemos tempo para conversar e eu não quero ter uma relação ruim como irmãs. — respondeu dando de ombros — Mamãe me mandou ficar, disse que eu irei te atrapalhar, então quero aproveitar nossos últimos momentos juntas. — Não se preocupe, não estou brava com você e tenho certeza que nos veremos em breve. — colocou o pente sobre a cômoda — Sempre pensei que não desejava ter outra irmã depois de Yasmin, a experiência não foi boa, mas acho que posso me acostumar com você. — Assim espero... — sussurrou — Mas ainda sim quero me desculpar e pedir para que tome cuidado, desejo que um dia possamos passar um tempo junt
Opala Insula Quando o capitão Petrus acordou no dia seguinte, havia uma fogueira ao seu lado e os dois marujos dormiam ainda profundamente. Observando a sua volta não encontrou nenhum sinal de Kira ou de Malesinmar, vasculhou pelos lados, chamou por ela, mas sem resposta alguma. Berrou alto assustando Sr. Willians e Oscar, que levantaram rápido. — Onde está a sua capitã? — questionou irritado. — Não sabemos, ela estava aqui quando adormecemos. — Sr. Willians respondeu. Insatisfeito, Petrus caminhou por entre as árvores de volta a praia, tentando encontrar alguma pista sobre a capitã. Sr. Willians e Oscar o acompanharam ainda sonolentos, porém, bastante preocupados com a situação. Chegando a areia branca, encontraram Malesinmar vagando de forma débil, com as mãos sobre a cabeça tapando os olhos do sol da manhã. — KIRAAA! — berrou fazendo-os tapar os ouvidos — KIRAAA! — Parece que ele também está procurando pela
Opala Insula Levaram horas para dar a volta na ilha, mas nenhuma pista de Kira fora encontrada, nem mesmo outro objeto que pertencia a ela, indicando que estavam no cainho certo. Seus estômagos roncavam e já se encontrava bastante cansados devido a longa caminhada debaixo do sol quente. Petrus era o único que se mantinha firme, sem reclamar da enorme fome, ele queria encontrar Kira logo, se o garoto estava certo, o lugar era aquele, percorreram tudo, a única “passagem visível” pelo meio da mata era a de frente onde estavam parados. — Devíamos ter comprado algo para comer, antes de vir. — Sr. Willians disse pela décima vez. — Eu já entendi que são um bando de maricas, mas temos problemas maiores. — Petrus resmungou. — Se me permite dizer, nem ao menos gosta da capitã! — Ela é minha filha acima de tudo, e tem um navio, recursos... — deu de ombros — O mínimo que pode fazer é me recompensar pela perda do meu navio.
Enquanto Sr. Willians e Eliaquim se distanciavam cada vez mais, Oscar observava a linha do horizonte a procura de vislumbrar o Sombra do Oceano. — Eu sabia que teria problemas se fosse atrás de Kira, mas não imaginei que fossem tantos... — Petrus comentou. Ainda estava deitado, tirara o casaco para cobrir seu rosto da claridade. — Lembra que tentou matar ela? — Oscar questionou. — Isso é o de menos, Kira atraiu uma criatura mitológica para o meu navio. Oscar suspirou sem saber o que responder, a forma como Petrus pensava era intrigante. — Por que mudou de ideia, capitão? — Sobre o quê? — Sobre acusar Kira da maldição. Ele levantou o casaco para observar o marujo, que nem ao menos lhe olhava. — Não é bem assim, apenas quis ser justo, além disso, uma mulher que consegue me enfrentar sem medo merece respeito, não acha? — questionou. — A capitã costuma sentir mais ódio do qu
Turturem A lama sob seus pés e as pedras pelo caminho transformou em uma longa caminhada, o que poderia ter sido feito em quinze minutos, caso as condições fossem melhores. — Diabos de lugar imundo, essa é a pior humilhação que já passei na minha vida. — Petrus resmungou irritado — Quando eu encontrar o responsável por essa maldição, irei estrangulá-lo com minhas próprias mãos. Demoraria um pouco mais para o amanhecer, teriam que se contentar em permanecer ao ar livre. Chegando as ruas de pedras, que compunha metade da parte comerciante de Turturem, avistaram os mortos vivos vagando de um lado para o outro, em grande quantidade. Mesmo tentando se manterem longe das vistas, acabaram por ter sua localização entregue quando Petrus xingou alto. Sr. Willians queria cortar a garganta do capitão, mas sabia não ter força para isso e tinham coisas maiores para se preocupar. Dispararam pelo mesmo caminho que vieram, de volta a p
Ellenne caminhava com dificuldade enquanto carregava o baú, parecia pesa uma tonelada, mal conseguiu sair da cabine antes de o derrubar ao convés, próximo ao Sr. Willians. Oscar caminhou até ela com pressa, a ajudando a recolher as moedas de ouro que se espalharam. A garota sentiu-se ligeiramente envergonhada, queria se esconder no primeiro buraco que encontrasse, porém, tentou manter o semblante calmo e despreocupado. — Devia ter me chamado. — Oscar disse levantando o baú — Eu assumo daqui. Lhe deu uma piscadela discreta antes de se afastar. Ela respirou fundo antes de retornar a cabine do capitão, voltou ao seu trabalho, não demorou tanto quanto imaginava para ajustar a calça a camisa e o caso que encontrara, outrora pertencidos a Kira enquanto ainda comandava o Pesadelo Marinho. Sentiu o balanço do navio diminuindo, levantou para acordar Rubi que mesmo relutante abriu os olhinhos cansados. — A roupa está pronta, vou esperar lá fora.
Petrus acabou por beber ainda mais e desmaiou na proa do navio sobre o próprio vômito, suas roupas molhadas de rum e várias garrafas caídas ao redor, algumas quebradas. — Fique atenta a qualquer movimento suspeito, Ellenne, não sabemos quanto tempo iremos retornar. — Sr. Willians disse antes de descer pela prancha. Ela assentiu enquanto observava os três caminhando em direção a padaria. Não demorou muito para que eles sumissem de vista, como Rubi já estava dormindo, ela permaneceu perto da porta e Malesinmar se encolhera perto do timão, as vezes balbuciava chiados desconexos em tom baixo, mas a maior parte do tempo ficava em silencio. Ellenne sentou ao chão pensativa, a preocupação com a irmã era evidente, havia dito a sua mãe que retornaria em breve, mas agora só queria encontrar Kira. Sr. Willians, Oscar e Eliaquim se esgueiravam pelos fundos da padaria, ainda havia movimentação do lado de dentro, algumas velas acessas indicavam isso, além d