PORTO DOURADO – MAR DE PÉROLA
Quando anoiteceu, estavam em Porto Dourado, devidamente alojado em uma estalagem.
A ilha parecia uma prisão, com altos muros de pedras, portões de ferros, guardas transitando por todos os lados, diferente do que Kira se lembrava.
Se instalou em um quarto com duas camas de casal, ela dividiria uma delas com Pria, que estava muito mal, mesmo após as bebidas horríveis, ela tinha os espasmos de vez em quando, e Rubi, que apenas dormia, ficou com Ellenne. Oscar estava dividindo o quarto com o Sr. Willians, em camas separadas e Daniel permaneceu só, em um enorme quarto, o mais aconchegante de todos, assistência dos donos da estalagem.
Não se importaria de estar ali, se pudesse dividi-lo com Kira, mas como não era o caso, estava enfadonho, desejando que a noite passasse logo, mesmo relutante, deitou sobre a cama, permaneceu por certo tempo acordado, nem sequer lembrava quando adormecera, simplesmente apagou.
Durante a madrugada, próximo ao amanhecer, a porta do seu quarto foi aberta, com magia, e uma silhueta feminina adentrou, silenciosamente. Esgueirou-se por debaixo dos lençóis, se aconchegando entre os braços de Daniel.
Quando o dia amanheceu, Daniel acordou com uma sensação de estranheza, havia algo encostado em seu corpo, ao abrir os olhos, avistou Ellenne, ainda dormindo calmamente.
— Ellenne! — berrou irritado.
A garota acordou assustada, levantando rápido, encarando ao redor.
— O que aconteceu?
— Eu que deveria perguntar. — Daniel resmunga se levantando.
Ela deitou novamente, se espreguiçando sobre os lençóis macio.
— Devo ser sonambula... — disse entre bocejos.
— Tenho certeza que não, já que a porta estava trancada. — passou as mãos pelos fios cor de mel — Saia!
Ellenne cruzou os braços, estava irritada.
— Minha irmã pode até sentir algo por você, mas ela sempre coloca centenas de obstáculos entre vocês, tudo para ela é mais importante, não é? — questiona.
— Isso é algo que não lhe diz respeito.
— Você devia seguir em frente, ao invés de continuar alimentando falsas esperanças com uma mulher que não te quer. — continuou.
Daniel se aproximou dela e a puxou bruscamente, forçando a ficar pé.
— Se você ao menos se importasse ou respeitasse sua irmã, não agiria pelas costas dela, tenho certeza de que Kira não tem conhecimento da sua presença aqui. — apertou ainda mais os braços dela — Você é uma mulher linda, apesar da semelhança com Kira, tem suas próprias características, não precisa se humilhar a homem nenhum, eles que deveriam fazer isso.
— Desculpe, Daniel...
— Apenas saia, será melhor para nós dois. — fala simplesmente.
Ela caminha até a porta, destrancando, ao abrir, avistou Kira, com o punho levantado, pronto para bater.
— Ellenne... então foi aqui que passou a noite. — ela cruzou os braços arqueando as sobrancelhas e um meio sorriso nos lábios — Foi uma noite e tanto, em?.
— Não é o que está pensando. — ela rebate.
— Dispenso explicações.
— Kira...
— Já disse que não preciso de explicações. — corta Daniel que tentou intervir — Só vim avisar que o Sombra do Oceano retornou, então irei imediatamente a procura das sereias.
Se retirou em direção ao quarto de Oscar e Sr. Willians.
Bateu na porta, pacientemente, Oscar abrira rápido e Sr. Willians estava calçando as botas, não era do tipo que aceitava ajuda, não mais, desde que começou a sentir os efeitos da velhice, queria provar que ainda é útil, para ele mesmo, pois Kira sempre precisaria dele, mesmo que apenas para estar ao seu lado.
— Vamos embarcar, vá buscar Pria. — ordenou — Sr. Willians, consegue andar?
— Com certeza, capitã!
Tossiu por vários segundos, um som seco, igual Gibbs no porto.
Caminhou até o quarto onde dormira, encontrando Ellenne sentada ao lado de Rubi, esperando Oscar sair, para vestir suas roupas, Kira ergueu Rubi e rumou para fora, esbarrando em Daniel que a encarava apreensivo.
— Deixa que eu a levo... — recolheu Rubi e se encaminhou as escadas com a capitã logo atrás, amparando o Sr. Willians — Não acha melhor deixá-los sobre os meus cuidados?
— Passou um dia inteiro desde os primeiros sintomas, não acho que terei tempo o suficiente para trazer a cura.
— Tem razão, mas ficarei preocupado com Rubi.
— Encontrarei a bruxa mais próxima para pegar o sangue e já irei retirar o veneno da minha serpente de fogo. — comentou — A parte mais demorada será a lágrima de sereia.
Saíram pelo enorme portão de ferro, direto para o porto, embarcando no navio que esperava pacientemente.
— Coloque-a em minha cabine, tenho que verificar outros assuntos.
— Kira! — ela a chama.
— Conversamos depois, Daniel.
— Não, quero apenas dizer que estou retornando a Cristallum. — informou.
Ela apenas assentiu com a cabeça, antes de se retirar.
Suspirando, Daniel subiu a cabine, colocando Rubi sobre a cama, ao lado de Pria, cobriu seu pequeno corpo e saiu lentamente. Ellenne estava de pé no convés, usava roupas semelhantes às de Kira, porém, eram mais justas ao corpo, marcando a silhueta.
A capitã retornou do convés inferior, com uma águia negra sobre os ombros e a serpente de fogo enrolada em seu pulso. Subiu os pequenos degraus que levam ao timão e se colocou ao lado de Daniel.
— Esta é Janine, minha melhor águia... — informou — Eram duas, mas Darkson matou a outra.
— É linda...
— Ficará com você, caso precise me avisar algo. — disse passando a águia para o ombro dele — Basta colocar a carta perto e ela pegará com o bico, antes de alçar voo.
Daniel balançou a cabeça, atento a cada palavra.
— Quando não precisar dela, coloque em uma gaiola e cubra, Janine não gosta muito de luz.
— Como devo alimentá-la?
— Não deve, a menos que queira perder um dedo. — respondeu — Solte-a durante a noite, há cada três ou quatro dias, ela vai retornar quando estiver satisfeita.
Oscar estava parado, próximo a eles, com dois frascos grandes em mãos.
— Irei te entregar parte do veneno, quando tiver o sangue, darei um jeito de enviar, da mesma forma quando encontrar as sereias. — disse — Preparem o quanto for possível, ao estar em posse dos três ingredientes, assim não serão pegos de surpresa.
Entoou algumas palavras que Daniel desconhecia e a serpente ergueu a cabeça, enquanto Oscar se aproximava com um dos frascos abertos. Encostando as presas sobre a beirada, começou a expelir o veneno de cor verde musgo.
Ao terminar, a serpente estava praticamente sem nenhuma gota do liquido escuro dentro das presas afiadas. Oscar entregou a Daniel que segurou cautelosamente, o frasco estava pesado, completamente cheio.
— Meu reino e eu ficaremos eternamente gratos. — ele a encarou nos olhos.
— Eu sei, por isso pretendo “ ajudar” os outros reinos também. — comentou com um sorriso nos lábios — Assim, terei três reis a minha disposi
Em questão dos últimos acontecimentos aconselho aos leitores que não iniciem a leitura, me recuso a continuar disponibilizando meus livros de graça e a plataforma render as minhas custas, assim como de outros autores, os capítulos foram cortados pela metade assim inviabilizando a leitura e consequentemente cortando os rendimentos.
Agradeço a compreensão de todos e preço desculpas pelos transtornos.
MAR DOS ENCANTOS – TERRA CRUZ Era noite, haviam chegado ao Oceano Ilusório e vagavam pelo Mar dos Encantos, o lar das sereias. Kira perdera o dia, entoou a canção Niger Luna tantas vezes que estava rouca, sua garganta ardia e sua boca estava seca. Bebera água como nunca na vida, porém, nenhuma movimentação na água, nem ao mesmo as vibrações comuns causadas pelo canto, ela conseguiu sentir. Ficou frustrada, a situação era pior do que pensava, Calysto não perdia uma oportunidade de aparecer. Ao longe, avistaram o aglomerado de pedras, conhecido como ilha de Terra Cruz, onde algumas sereias costumavam pegar sol, era raro, mas não impossível, encontrar uma acima da água. As rochas pontudas e afiadas se estendiam por toda a ilha, o lugar menos perigoso era a estreita faixa de areia negra, que formava a pequena praia. O lugar não era grande, minúsculo, na verdade, porém, servia de parada para alguns pirat
ILHA DE MORTUUM Estavam aportados desde o amanhecer, o lugar não tinha uma viva alma, totalmente vazio e silencioso, algo inesperado para uma ilha pirata. Kira levantou da cadeira, Oscar estava no convés inferior, providenciado algo para comerem, depois de forçar os doentes a beber o sumo amargo. Ellenne não aparecia desde a noite passada, estava evitando qualquer contato com a capitã. Ela se dirigiu a cama onde as garotas estavam deitadas, Rubi estava com a aparência um pouco melhor, mas Pria estava com uma cor estranha. Kira se aproximou tocando a garota, percebeu que estava morta, já gelada. Pegou Rubi no colo e a levou para longe, se a menina tivesse outro contato com um morto vivo, morreria com certeza. — Oscar! — berrou. O homem subiu e passos apressado, até chegar a capitã que lhe entregou a criança. — Coloque-a em outro lugar. — E Pria? — questionou confuso. — Não resistiu. — respondeu c
CRISTALLUM – PALÁCIO REAL Daniel estava parado em frente a porta de vidro da sacada do quarto de Léia, a qual dormia pesadamente, mesmo que tenham dado a bebida a ela, ainda permanecia cansada, precisava de mais tempo de descanso. Nos braços dele, Derick se remexia inquieto, queria brincar, correr pelo chão, tinha pego gosto por andar, não demoraria muito para falar, o rei pensava. — Irei alimentar o pequeno príncipe. — Yasmin entra sorridente como sempre. Desde o nascimento de seu primeiro filho, ela havia mudado totalmente o humor, era mais amável e agora esperava pelo segundo. Ele entregou a criança para a tia, que saiu cantarolando, sem seguida, caminhou até o pé da cama, sentando sobre ela, observando a mulher que estava pálida. Daniel podia ter seu coração inteiro a Kira, porém, negar que o tempo não o tinha feito nutrir novos sentimentos por Léia seria uma grande mentira. Sentiu-se dividido, pois ela sempre esteve ao la
A tempestade havia chegado de repente, os pegando de surpresa, Sr. Willians e Oscar não tinham ideia do que fazer, Kira estava adormecida, nem sequer conseguiu tomar a bebida, seu estomago recusava sempre e agora não aceitava nem alimento ou água. Ellenne segurava no mastro principal, apavorada, o Sombra do Oceano não obedecia a ninguém, estava estático, parado há bastante tempo os deixando a deriva pela falta do timão, não tinham ventos fortes para usar as velas. — Nós vamos afundar! — Oscar bradou. O navio estava encharcado, tanto pela água da chuva, quanto pela água do mar, que entrava aos montes por causa das ondas, imaginavam que o convés inferior estaria inundado depois de tanto tempo. Na cabine a capitã rolava de um lado para o outro, a pequena Rubi estava sentada no canto, agarrada as paredes com os olhos fechados em desespero pelo balanço insistente do navio. Quando uma enorme onda virou o Sombra de lado, quase o afundando,
O navio do capitão Petrus Bezalel navegava impetuoso sobre o mar, sem se preocupar com nada ao seu redor. Sr. Willians tentava manter-se acordado, mas estavam exaustos, sentia a doença regredindo com força e a pequena Rubi permanecia desfalecida. Sentia-se triste pela menina, tinha muito o que viver, mal foi liberta das maldades de Darkson, se viu no meio de algo pior. Não sabia aonde estavam nem para onde iam, o caminho parecia familiar, mas ao mesmo tempo tinha certas dúvidas. A frente estendia-se uma pequena ilha, nunca avistara aquela ilha antes, a vegetação era diferente de todo o antigo mundo, com várias árvores gigantescas, onde as folhas brilhavam. Penetraram por uma entrada na lateral, e eles podiam sentir como se ela estivesse viva, e de fato estava, não passava de um enorme crocodilo adormecido. — Bem-vindos a Curabituran! — Petrus dizia encarando a sua frente. A caverna era enorme, com algumas construções, caixas de suprimentos, b
Kira sentia todo o seu corpo dolorido, queria abrir os olhos, mas os mesmo se recusavam a obedecer. Alguém passava a mão delicadamente pelos seus cabelos, enquanto encostava algo gelado em suas bochechas, entretanto, era uma sensação boa, aliviava a dor que sentia no local. A verdade é que ela não queria acordar, naquele momento os problemas haviam desaparecido e tudo o que restava era o desejo de paz. — Sei que está acordada, Kira. — uma voz familiar a chamava em tom baixo — Compreendo seu cansaço, porém, há muito a ser feito. Abriu os olhos lentamente avistando Calysto, com um sorriso triste. — As coisas estão fora de controle... A capitã passou as mãos sobre o rosto, mesmo tendo desavenças com a rainha das sereias, aquele momento, deitada sobre o colo dela era incrivelmente bom, nem lembrava da última vez que relaxara. — Onde estou? — a voz saiu rouca e esganiçada. — Realmnereid. — respondeu passando algo em sua bochecha — S
Kira caminhou lentamente pelo porto, procurando por algum sinal de mortos vagando ou pelo menos pessoas vivas. Se dirigiu a estalagem, com passos curtos e vagarosos, abraçando o próprio corpo. A roupa ensopada lhe deixou extremamente agoniada, o frio deixara as pontas dos dedos arroxeadas, precisava dar um jeito de conseguir vestimentas secas e alimento quente. Bateu com força na porta do local, a qual foi aberta em uma pequena fresta, onde um brutamontes a observava desconfiado, permaneceu em silencio, não perguntou quem era ou tão pouco pareceu a reconhecer, e isso a irritou levemente. — Há algum quarto vazio? — questionou. — Depende. — respondeu vago. A capitã o encarou por um tempo, apenas ponderando o que faria. Sem aviso prévio, chutou a porta, arrebentando-a e arremessando o grandalhão por sobre as mesas, onde serviam comida e bebida, naquele andar. Adentrou calmamente o local, ajeitando a bolsa sobre o ombro, e observou os serventes a
Turturem Após dias presa em Turturem, Kira sentia-se fatigada e pronta para enfiar suas unhas na garganta de alguém, não importava quem fosse, apenas o queria fazer. Enviara os frascos com lágrimas de sereias para a rainha de Magicae e o rei de Bellum, com uma carta, avisando que era ela quem o estava fazendo e que cobraria o favor muito em breve. Não sabia a real situação dos três reinos e nem se importava, tudo o que queria era sair da ilha e encontrar Sr. Willians, caso ainda estivesse vivo, depois pensaria no que fazer, em como encontraria o responsável por trazer a maldição e dá-lhe uma bela surra. Levantou da areia da pequena praia, onde passou os últimos dias, os quais usou para descansar mais e receber a visita de Malesinmar, que lhe trazia notícias de Calysto. Ao longe, vindo em sua direção, o Sombra do Oceano navegava velozmente, cortando a água de forma imponente, com o brilho azulado lhe rondando. Kira nunca se sentira tão