— Foi no ano novo, há dois anos, poucas semanas após você sumir. — Gibbs coça a barba — No começo, apareciam poucos, mas depois as coisas pioraram e fomos obrigados a mudar nossos hábitos, nem sequer podemos navegar a noite.
— Não sabe o que pode ter causado? — Kira estava mais interessada no assunto.
— Dizem que há um capitão amaldiçoado, rondando pelas ilhas piratas, durante a noite. — respondeu — Petrus Bezalel.
Ellenne encarou a irmã, então engoliu em seco, temerosa.
— Os rumores são de que ele foi aprisionado, não sabemos onde e nem porque, mas o certo é que quando retornou, estava muito mais cruel e sádico, porém, não costuma atacar, simplesmente soltou a maldição dos mortos, trazendo-os a vida. — sua voz era de tom amedrontado — Magicae praticamente não existe mais, os poucos sobreviventes se refugiaram em ilhas longe do reino e agora Bellum está degradando.
— Quanto a Cristallum?
— É o único reino que se mantém ainda estável, o rei tomou medidas provisórias ainda o início, quando as mortes começaram por causa dos mortos. — respondeu — Há uma enorme barreira, ninguém entra, ninguém sai, sem consentimento, é claro.
Mesmo que tentasse negar sua preocupação, não podia mentir para si mesma, temia por Amélia e Daniel, não guardava rancor de ninguém, nem poderia. Suspirou antes de entregar a bolsa de pano, repleta de ouro, para Gibbs e recolher os três frascos com a seiva.
— Mais uma pergunta. — disse enquanto os entregava a Ellenne — Há a possibilidade de adoecer estando próximo a alguém já doente?
— Talvez, não tive relatos ainda...
Revirou os olhos impaciente e virou de costas já caminhando.
Parou abruptamente, fazendo com que Ellenne quase esbarrasse nela. A sua frente estava Daniel, com um leve sorriso nos lábios e os olhos brilhando. Sua atenção logo foi desviada para a irmã de Kira, que o encarava com certa curiosidade.
— Duas? — questionou arqueando as sobrancelhas.
— Minha beleza é tremenda que apenas uma de mim não é suficiente. — respondeu.
— Eu sou Ellenne. — ela disse se aproximando com um sorriso abobado.
— Muito prazer. — disse pegando os frascos das mãos dela — Deixa eu te ajudar.
Kira queria se manifestar, pedir para que se afastasse de Ellenne, mas isso poderia ser interpretado de forma errada.
— Se não se importa, estamos com um problema para resolver. — puxa os frascos voltando a caminhar.
Daniel apenas ri levemente, antes de segui-la.
— A mesma Kira de sempre.
A segurou pelo braço, forçando-a a parar.
— Não precisa de pressa, que eu saiba, o Sombra do Oceano nem está ancorado aqui.
— Bastou se tornar rei para virar um típico nobre abusado. — resmungou.
— Ele é um rei? — Ellene questiona confusa.
Daniel usava roupas comuns, pouco chamativa, mas estava bem acompanhado, de alguns guardas.
— Bom, quando conheci Kira, era apenas um fugitivo. — respondeu — Se não fosse por ela, não estaria aqui.
— De certa forma...
— Tenho algo importante para conversar. — disse.
— Pode falar, majestade!
Ele se aproximou enquanto ela se afastava.
— Vamos ao meu navio, é mais confortável e vocês parecem cansadas.
— Não podemos, Pria, Rubi e Sr. Willians estão doentes, precisamos preparar a seiva com algas amargas. — informou.
— Kira, se eles estão doentes, vocês também devem estar.
— Eu não saí do porto, nem tive contato com algum morto. — resmungou.
— Reforço o pedido, venham ao meu navio, eles serão bem cuidados e você poderá descansar.
— Ou será que apenas deseja se deitar comigo de novo? — questionou.
Ele passou as mãos pelos cabelos, a situação lhe parecia engraçada, porém, não tinham tempo para joguinhos, mesmo ele adorando a situação.
— Manterei distancia, prometo. — levantou as mãos — Além do mais, não aconteceu nada entre nós... ainda.
Ela voltou a caminhar, sem responder a ele.
Se posicionou no final do porto, chamando o Pesadelo Marinho de volta, o navio voltara sem reclamações dessa vez veloz e imponente.
— Oscar, traga Pria. — disse subindo a rampa que ele descera.
Sr. Willians estava sentado sobre uma caixa, ainda sonolento, mas melhor do que mais cedo.
Ela rumou para a cabine, enquanto Oscar erguia Pria, a capitã pegou Rubi no colo e caminhou lentamente para fora. As duas dormiam ainda, a febre havia abaixado.
— Ellenne, ajude o Sr. Willians.
Desceu a rampa, onde Daniel esperava com os braços erguidos, pronto para amparar Kira. Pegou Rubi dos braços dela e seguiram para o navio do rei, onde realmente seria melhor para os doentes e o Pesadelo não tinha mais marujos.
Logo, o navio zarpou em alta velocidade, de volta a gruta.
A embarcação real era mais organizada, limpa, do que um navio pirata, com várias portas, muitos quartos, prontos para abrigar os nobres com conforto.
Colocaram Pria e Rubi no mesmo quarto, sobre a cama, cobrindo-as e Sr. Willians no cômodo ao lado. Daniel ordenou que providenciassem a bebida logo, a fim de garantir que permanecessem vivos por tempo suficiente.
— Pode ficar à vontade, Ellenne, há muitos quartos sobrando e se precisar de roupas, não será problema. — o rei disse prestativo.
— Obrigada... — as bochechas avermelharam.
— Kira, podemos conversar agora? — questionou — Em particular.
Ela cruzou os braços, já sentindo os sintomas do cansaço excessivo e a fome que seguia.
— Oscar, descanse, preciso que você esteja bem. — ordenou — E se alimente bastante, ainda precisamos encontrar as sereias.
Seguiu para fora do quarto, acompanhada por Daniel, subindo ao convés superior.
— Seja rápido, já que está tão prestativo, irei aproveitar para tomar um bom banho e comer algo.
— Coma primeiro, a conversa será longa. — disse se aproximando — Muita coisa aconteceu desde que você desapareceu... cheguei a pensar que estava morta.
Ela passou as mãos sobre o rosto.
— Como está o seu filho?
— Meu filho? — arqueou a sobrancelha.
— Com Léia...
— Está bem, no palácio, sobre os cuidados da mãe dele.
— Presumo que sim. — sorriu levemente.
Um silencio constrangedor pairou entre eles, tudo o que Daniel queria era dizer a ela o quanto sentira falta de sua presença, que passara os últimos dois anos a procurando, desesperado, temendo nunca mais poder vê-la.
— Pode usar o quarto da minha cabine, há uma enorme banheira. — disse fracamente — Irei provisionar algo para comer.
Kira apenas deu de ombros antes de seguir para a cabine.
Era bem grande e espaçosa, o quarto extremamente confortável, uma cama com lençóis fofos e macios, e a banheira, enorme ao canto. Abriu a torneira, para enchê-la, enquanto retirava suas roupas e desamarrava os cabelos sujos, após estar completamente nua, adentrou, sentindo a água fria em sua pele, despejou sais na água e em seguida esfregou os longos fios negros.
Mergulhou a cabeça, quando emergiu, Daniel estava parado na porta, com uma bandeja em mãos.
Constrangida, usou os cabelos para tentar esconder o corpo dos olhos atentos de Daniel, que observavam sem pudor. As bochechas dela avermelharam, nunca ficara de fato totalmente nua na frente de homem algum, não era uma sensação que a agradava, sentiu-se indefesa.
— Desculpe... — Daniel abaixou a cabeça, ao perceber seu desconforto.
Colocou a bandeja sobre a cama e caminhou até um baú, de onde tirou uma toalha felpuda.
— Se não gostar das roupas, posso providenciar outras. — colocou a toalha próximo a bandeja antes de sair rapidamente.
O coração de Kira estava acelerado, não tinha medo de Daniel, apenas não confiava totalmente em homem algum.
Balançou a cabeça fortemente, tentando espantar o constrangimento, e esfregou sua pele com rispidez, deixando marcas vermelhas. Mergulhou os cabelos na água, sentindo o frescor em sua cabeça.
Levantou pegando a toalha e se enrolado. Enxugou o corpo levemente e torceu os cabelos, para retirar o excesso de água, ajoelhando-se em frente ao baú, percebeu muitas roupas femininas, como as que costumava usar, blusas cigana, calças justas, corpete apertado e botas de cano longo. Vestiu-se rapidamente, mas percebeu que ficaram um pouco folgadas, o que não era de se espantar, perdera muito peso nos últimos dois anos.
Penteou os cabelos em frente ao espelho grudado na parede e observava o quanto haviam crescido, passavam da cintura agora, quase na altura das coxas.
Saiu do quarto e viu Daniel sentado sobre a cadeira do outro lado da cabine. Sentou-se à frente dele, o encarando.
— Me desculpe, de novo, acho que perdi o controle.
— Podemos simplesmente esquecer... — disse em tom baixo.
— Há coisa que não se pode esquecer, Kira.
Ela se direcionou aos olhos dele, com certa irritação.
— Entendo que esteja acostumado a ter quantas mulheres desejar, majestade, mas saiba que não aceito desrespeito. — comunicou ríspida — Lembre-se de que eu não preciso de muitos motivos para matar alguém.
— Está no seu direito de se irritar.
— Diga logo o que quer.
Ele suspirou, estava se sentindo um completo imbecil por suas atitudes.
— Já deve estar um pouco a par dos acontecimentos... — iniciou cauteloso — Enfim, Louhin apareceu durante o ano novo, há dois anos, falando sobre um possível Darsmorsem, alguma maldição foi liberada, quando você partiu, e meses depois, percebemos que não era brincadeira, Cristallum está bem preparada, mas por quanto tempo?
Fez uma breve pausa.
— Em pouco tempo os alimentos começarão a faltar, já está havendo escassez, e todos os reinos irão sucumbir. — continuou — Há duas criaturas a sua procura, Kira, um homem que não parece humano e uma besta marinha, com forma humanoide, que ataca ao anoitecer, sem dó nem piedade.
— E como sabe de tanto?
— Uma parte foi Louhin, mas a outra eu tive o desprazer de testemunhar... Não é algo que queira ver de novo.
— Está sendo dramático, apenas...
— Kira, eu tenho me dedicado a sua procura, estou preocupado pela sua vida e pelo visto, você não está. — resmungou — O caso é que não diz respeito apenas a te encontrarem ou não, e sim o que pode acontecer depois. Quantas pessoas mais irão sucumbir?
A capitã apoiou os braços sobre a mesa, muito pensativa, pois ele tinha razão, se tudo fosse por causa dela, teria que dar um jeito de concertar as coisas, mesmo sem saber por onde ou como começar. Precisava de repostas, muitas, as quais seriam bem difíceis conseguir naquele momento.
— Primeiro, preciso descansar, então pensarei em algo.
Ele assentiu concordando, após, levantou seguindo ao lado dela e lhe estendendo a mão, que, receosamente, aceitara. A ergueu com um leve puxão, percebia o quanto os dois anos passados tinham sido ruins para ela, estava sem o brilho ou a determinação de sempre, apenas uma sombra.
— Minha cama está a sua disposição... — disse, mas só então percebeu o erro que cometera.
— Deve ser bom ter um filho e negar a responsabilidade, porém, poder dizer que é o pai. — comentou — Como sempre, as mulheres recebem todo o fardo pesado.
Se desvencilhou indo rumo ao quarto, fechando a porta atrás de si, e dessa vez, lembrou de trancar.
Daniel proferia palavrões a si mesmo, em sua cabeça, desejando ter sido mais cauteloso com suas palavras, queria estar com ela, poder ao menos dar-lhe um simples beijo, sentir que poderia continuar alimentando suas esperanças.
Entretanto, sabia que Kira estava certa, não tinha sido um pai muito presente, estava sempre no mar, fingindo não ter responsabilidades. Devia retornar logo e tentar amenizar seus erros, o pequeno Derick não tinha culpa da família conturbada que o rodeava.
Saiu da cabine, ainda transtornado, ordenou que zarpassem do porto, queria estar em Porto Dourado antes do anoitecer.
— Daniel... — escuta uma voz baixa o chamar.
Era Ellenne, usando um vestido lilás de corpete enfeitado e os cabelos presos, com alguns fios caídos.
— Acho que você está muito tenso. — se aproximou cautelosa — Talvez precise de uma massagem.
Ele arqueou as sobrancelhas, com certa curiosidade.
— E quem faria essa massagem?
— Posso me oferecer. — respondeu.
As bochechas dela coraram e abaixou a cabeça rapidamente.
— Terei que dispensar, desculpe.
— Aceitaria, se fosse Eilleen? — questionou.
— Quem é Eilleen?
— Kira. — respondeu — Foi esse o nome que nossa mãe deu a ela quando nasceu.
Se aproximou ficando de frente a ele.
— Ainda estamos nos conhecendo, mas sei que ela é uma pessoa independente, que gosta de tomar as próprias decisões. — comenta — Somos bem diferentes, eu não teria passado por metade do que ela viveu.
Daniel permanecia em silencio.
— Ela te rejeitou, de novo, pelo que pude perceber. — sua voz era mais suave — Se fosse eu, no lugar de Kira, teria aceitado com prazer, dividir a sua cama.
Ele se abaixou, o suficiente para estar próximo ao ouvido dela.
— Agradeço a oferta, mas acho que é falta de educação escutar a conversa alheia.
Ellenne se arrepiou inteira, com a voz sussurrada de Daniel.
— Caso mude de ideia, estarei aqui. — disse antes de virar o rosto e depositar um beijo sobre os lábios de Daniel.
Ele se afastou bruscamente, encarando ao redor.
— Não se preocupe, Kira não precisa saber... — piscou, retirando-se em seguida.
PORTO DOURADO – MAR DE PÉROLA Quando anoiteceu, estavam em Porto Dourado, devidamente alojado em uma estalagem. A ilha parecia uma prisão, com altos muros de pedras, portões de ferros, guardas transitando por todos os lados, diferente do que Kira se lembrava. Se instalou em um quarto com duas camas de casal, ela dividiria uma delas com Pria, que estava muito mal, mesmo após as bebidas horríveis, ela tinha os espasmos de vez em quando, e Rubi, que apenas dormia, ficou com Ellenne. Oscar estava dividindo o quarto com o Sr. Willians, em camas separadas e Daniel permaneceu só, em um enorme quarto, o mais aconchegante de todos, assistência dos donos da estalagem. Não se importaria de estar ali, se pudesse dividi-lo com Kira, mas como não era o caso, estava enfadonho, desejando que a noite passasse logo, mesmo relutante, deitou sobre a cama, permaneceu por certo tempo acordado, nem sequer lembrava quando adormecera, simplesmente ap
MAR DOS ENCANTOS – TERRA CRUZ Era noite, haviam chegado ao Oceano Ilusório e vagavam pelo Mar dos Encantos, o lar das sereias. Kira perdera o dia, entoou a canção Niger Luna tantas vezes que estava rouca, sua garganta ardia e sua boca estava seca. Bebera água como nunca na vida, porém, nenhuma movimentação na água, nem ao mesmo as vibrações comuns causadas pelo canto, ela conseguiu sentir. Ficou frustrada, a situação era pior do que pensava, Calysto não perdia uma oportunidade de aparecer. Ao longe, avistaram o aglomerado de pedras, conhecido como ilha de Terra Cruz, onde algumas sereias costumavam pegar sol, era raro, mas não impossível, encontrar uma acima da água. As rochas pontudas e afiadas se estendiam por toda a ilha, o lugar menos perigoso era a estreita faixa de areia negra, que formava a pequena praia. O lugar não era grande, minúsculo, na verdade, porém, servia de parada para alguns pirat
ILHA DE MORTUUM Estavam aportados desde o amanhecer, o lugar não tinha uma viva alma, totalmente vazio e silencioso, algo inesperado para uma ilha pirata. Kira levantou da cadeira, Oscar estava no convés inferior, providenciado algo para comerem, depois de forçar os doentes a beber o sumo amargo. Ellenne não aparecia desde a noite passada, estava evitando qualquer contato com a capitã. Ela se dirigiu a cama onde as garotas estavam deitadas, Rubi estava com a aparência um pouco melhor, mas Pria estava com uma cor estranha. Kira se aproximou tocando a garota, percebeu que estava morta, já gelada. Pegou Rubi no colo e a levou para longe, se a menina tivesse outro contato com um morto vivo, morreria com certeza. — Oscar! — berrou. O homem subiu e passos apressado, até chegar a capitã que lhe entregou a criança. — Coloque-a em outro lugar. — E Pria? — questionou confuso. — Não resistiu. — respondeu c
CRISTALLUM – PALÁCIO REAL Daniel estava parado em frente a porta de vidro da sacada do quarto de Léia, a qual dormia pesadamente, mesmo que tenham dado a bebida a ela, ainda permanecia cansada, precisava de mais tempo de descanso. Nos braços dele, Derick se remexia inquieto, queria brincar, correr pelo chão, tinha pego gosto por andar, não demoraria muito para falar, o rei pensava. — Irei alimentar o pequeno príncipe. — Yasmin entra sorridente como sempre. Desde o nascimento de seu primeiro filho, ela havia mudado totalmente o humor, era mais amável e agora esperava pelo segundo. Ele entregou a criança para a tia, que saiu cantarolando, sem seguida, caminhou até o pé da cama, sentando sobre ela, observando a mulher que estava pálida. Daniel podia ter seu coração inteiro a Kira, porém, negar que o tempo não o tinha feito nutrir novos sentimentos por Léia seria uma grande mentira. Sentiu-se dividido, pois ela sempre esteve ao la
A tempestade havia chegado de repente, os pegando de surpresa, Sr. Willians e Oscar não tinham ideia do que fazer, Kira estava adormecida, nem sequer conseguiu tomar a bebida, seu estomago recusava sempre e agora não aceitava nem alimento ou água. Ellenne segurava no mastro principal, apavorada, o Sombra do Oceano não obedecia a ninguém, estava estático, parado há bastante tempo os deixando a deriva pela falta do timão, não tinham ventos fortes para usar as velas. — Nós vamos afundar! — Oscar bradou. O navio estava encharcado, tanto pela água da chuva, quanto pela água do mar, que entrava aos montes por causa das ondas, imaginavam que o convés inferior estaria inundado depois de tanto tempo. Na cabine a capitã rolava de um lado para o outro, a pequena Rubi estava sentada no canto, agarrada as paredes com os olhos fechados em desespero pelo balanço insistente do navio. Quando uma enorme onda virou o Sombra de lado, quase o afundando,
O navio do capitão Petrus Bezalel navegava impetuoso sobre o mar, sem se preocupar com nada ao seu redor. Sr. Willians tentava manter-se acordado, mas estavam exaustos, sentia a doença regredindo com força e a pequena Rubi permanecia desfalecida. Sentia-se triste pela menina, tinha muito o que viver, mal foi liberta das maldades de Darkson, se viu no meio de algo pior. Não sabia aonde estavam nem para onde iam, o caminho parecia familiar, mas ao mesmo tempo tinha certas dúvidas. A frente estendia-se uma pequena ilha, nunca avistara aquela ilha antes, a vegetação era diferente de todo o antigo mundo, com várias árvores gigantescas, onde as folhas brilhavam. Penetraram por uma entrada na lateral, e eles podiam sentir como se ela estivesse viva, e de fato estava, não passava de um enorme crocodilo adormecido. — Bem-vindos a Curabituran! — Petrus dizia encarando a sua frente. A caverna era enorme, com algumas construções, caixas de suprimentos, b
Kira sentia todo o seu corpo dolorido, queria abrir os olhos, mas os mesmo se recusavam a obedecer. Alguém passava a mão delicadamente pelos seus cabelos, enquanto encostava algo gelado em suas bochechas, entretanto, era uma sensação boa, aliviava a dor que sentia no local. A verdade é que ela não queria acordar, naquele momento os problemas haviam desaparecido e tudo o que restava era o desejo de paz. — Sei que está acordada, Kira. — uma voz familiar a chamava em tom baixo — Compreendo seu cansaço, porém, há muito a ser feito. Abriu os olhos lentamente avistando Calysto, com um sorriso triste. — As coisas estão fora de controle... A capitã passou as mãos sobre o rosto, mesmo tendo desavenças com a rainha das sereias, aquele momento, deitada sobre o colo dela era incrivelmente bom, nem lembrava da última vez que relaxara. — Onde estou? — a voz saiu rouca e esganiçada. — Realmnereid. — respondeu passando algo em sua bochecha — S
Kira caminhou lentamente pelo porto, procurando por algum sinal de mortos vagando ou pelo menos pessoas vivas. Se dirigiu a estalagem, com passos curtos e vagarosos, abraçando o próprio corpo. A roupa ensopada lhe deixou extremamente agoniada, o frio deixara as pontas dos dedos arroxeadas, precisava dar um jeito de conseguir vestimentas secas e alimento quente. Bateu com força na porta do local, a qual foi aberta em uma pequena fresta, onde um brutamontes a observava desconfiado, permaneceu em silencio, não perguntou quem era ou tão pouco pareceu a reconhecer, e isso a irritou levemente. — Há algum quarto vazio? — questionou. — Depende. — respondeu vago. A capitã o encarou por um tempo, apenas ponderando o que faria. Sem aviso prévio, chutou a porta, arrebentando-a e arremessando o grandalhão por sobre as mesas, onde serviam comida e bebida, naquele andar. Adentrou calmamente o local, ajeitando a bolsa sobre o ombro, e observou os serventes a