CRISTALLUM – PALÁCIO REAL
Daniel estava parado em frente a porta de vidro da sacada do quarto de Léia, a qual dormia pesadamente, mesmo que tenham dado a bebida a ela, ainda permanecia cansada, precisava de mais tempo de descanso.
Nos braços dele, Derick se remexia inquieto, queria brincar, correr pelo chão, tinha pego gosto por andar, não demoraria muito para falar, o rei pensava.
— Irei alimentar o pequeno príncipe. — Yasmin entra sorridente como sempre.
Desde o nascimento de seu primeiro filho, ela havia mudado totalmente o humor, era mais amável e agora esperava pelo segundo.
Ele entregou a criança para a tia, que saiu cantarolando, sem seguida, caminhou até o pé da cama, sentando sobre ela, observando a mulher que estava pálida. Daniel podia ter seu coração inteiro a Kira, porém, negar que o tempo não o tinha feito nutrir novos sentimentos por Léia seria uma grande mentira. Sentiu-se dividido, pois ela sempre esteve ao lado dele, mesmo que não desejasse, era insistente e a arquiduquesa gostava de se intrometer, de vez em quando era útil.
Uma situação complicada, visto que tinham um filho juntos.
Achou que estava na hora de repensar todos os seus atos, deveria tomar uma decisão importante, quando visse a capitã novamente, não queria ter dúvidas em suas escolhas. O mais importante, pensar sempre em como as atitudes tomadas refletem na vida de Derick, a criança não possuía culpa de nada e acabou no meio de uma enorme confusão.
Léia era do tipo que não media esforços para conseguir realizar seus caprichos, havia tido certas mudanças, claro, depois do nascimento do filho, mas detestava Kira, desde que a prendeu numa cela, no porão do Sombra do Oceano, há mais de dois anos antes.
Era estranho pensar em tudo que a capitã fizera com eles, quase o matou de insolação, tirou a vida de alguns amigos e mesmo assim, continuava desejando tê-la.
Pela primeira vez parou para pensar, que ela lhe causara muito mal, assim como para seus companheiros fugitivos de Bellum, tinha sido má com todos, incluindo Robert, o qual não tinha contato já a um bom tempo, enquanto Léia se dedicava a ele, esteve ao seu lado em todos os momentos bons e ruins, porém, não lhe dava o devido valor ou reconhecimento.
Suspirou de cansaço...
— Perdido em pensamentos? — Gabriel, seu pai e antigo rei, questiona.
— Um pouco...
— Me diga o que te deixa tão inquieto e talvez eu possa ajudar.
Daniel levantou e caminhou até a porta, ao lado de seu pai.
— Tenho dúvidas, sobre meus sentimentos por Kira e Léia.
— Sabe, está na hora de fazer uma escolha, mas lembre-se que não irá afetar apenas você, Daniel, é um rei agora, deve agir como tal. — disse com voz firme — A decisão é sua, se decidir que quer estar com Kira, terá que renunciar ao trono, não pode ficar tanto tempo longe negligenciando seus deveres com o povo e com seu filho, entretanto, Léia está aqui, pode não ser a mais indicada para a responsabilidade de estar ao seu lado, governando, porém, ela diz a verdade e demonstra o quanto te ama.
O rei ficou ainda mais angustiado.
— Deve fazer a escolha mais sensata, com a mulher estável que estará ao seu lado sempre que precisar, a qual se dedicará ao reino, tanto quanto você deveria estar fazendo agora. — continuou em tom mais baixo — Sei que minha opinião pode não ser o que queira escutar, apenas digo o que parece correto, Léia pode aprender, já Kira eu tenho minhas dúvidas, o único amor dela é o mar.
— O que acontece caso eu me arrependa das minhas escolhas?
— Daniel, terá que tomar decisões como essa todos os dias e nem sempre irá se agradar das suas escolhas, simplesmente terá que aceitar e conformar-se com as consequências advindas. — respondeu o encarando.
Tinha medo de se arrepender logo mais, amava Kira, porém, a estabilidade lhe era mais convidativa. Abrir mão de sua família e do seu direito ao trono por alguém que muda de opinião constantemente, parecia difícil para ele, no momento.
Imaginava se o que ele acreditava ser “demonstrações de sentimentos” da capitã para com ele, não passavam de ilusões suas.
— Pense bem, descanse hoje, amanhã espero que tenha uma decisão pronta. — Gabriel se retirou.
Daniel caminhou até a porta da sacada, abrindo-a e se colocando perto da mureta, a sua frente estava o mar, ou uma pequena parte que conseguia ver, por causa do alto muro de pedras.
Seu coração palpitava rápido, queria ter facilidade para decidir, seria mais fácil se ele pudesse prever o futuro, de acordo com a decisão tomada, apesar de parecer trapaça.
Léia estava morrendo, caso Kira falhasse, a decisão não deixaria de ser mais fácil.
Fechou os olhos respirando fundo, corria o risco de não ter nenhuma das duas, visto que ambas caminhavam sobre a tênue linha entre a vida e a morte, uma doente por causa da maldição, a outra, se arriscando para ajudar.
Sentiu-se covarde, impotente, inútil, seus pensamentos não ajudavam, se fosse mais corajoso, saberia bem o que fazer, na verdade, nem deveria ter saído de Cristallum podia muito bem ter mandado soldados a procura dela, a comunicação entre cartas poderia ser mais demorada, porém, teria sido bem eficiente.
— Filho, devia comer alguma coisa. — Cíntia estava preocupada — Ficar doente não ajuda, só piora a situação.
Ele devolveu apenas um leve sorriso.
— Pedi que preparassem algo para você comer. — informou — Quer que eu peça para trazer aqui ou irá descer?
— Não estou com fome, mãe...
— Daniel, por favor, ficarei mais tranquila quando te ver se alimentando, estou angustiada demais.
Ele a abraçou forte, detestava vê-la eufórica, Cíntia era uma mulher doce, se preocupava demais com os outros e pouco com ela.
— Peça que tragam aqui, por favor, ficarei com Léia, ela deve acordar em breve. —soltou-a lentamente.
Ela saiu apressada, fechando a porta atrás de si.
Não demorou muito para os criados entrarem com o carrinho repleto de alimentos variados. Daniel riu levemente, a mãe sempre fora exagerada em relação a comida, acreditava que os filhos fossem capazes de comer bastante.
Comeu apenas um pouco, a comida não parecia ter sabor para ele.
— Daniel... — escutou uma voz fraca chamar.
Léia estava com os olhos levemente abertos, ele sentou ao lado dela, preocupado, sabia que os doentes sentiam muita dor no processo.
— Onde está Derick?
— Yasmin o levou mais cedo, quer que eu o busque?
— Não...
— Está sentindo muitas dores? — questionou.
Ela apenas balançou a cabeça lentamente, sem entusiasmo para falar.
— Você pode deitar comigo? — questionou fraca — Ficar ao meu lado.
Ele assentiu, retirou as botas e o casaco, deitando-se ao lado dela e a aconchegando em seus braços, o corpo de Léia estava muito quente, sua pele suada pela febre.
— Não se preocupe, logo estará bem. — sussurrou.
Afagou seus cabelos castanhos carinhosamente, sentindo a respiração lenta e compassada, enquanto ela adormecia novamente.
O dia passou tão rapidamente, num piscar de olhos, logo era noite e Daniel ainda estava com Léia, havia levantado algumas vezes, para dar-lhe a bebida. Ela estava um pouco melhor, conseguiu sentar-se para comer algo, enquanto ele permaneceu ao lado dela, lhe dando conforto e fazendo o possível para que ela não piorasse.
— E como foi com Kira? — Léia questionou.
— Ela já conseguiu dois dos três ingredientes, mas até agora nada das lágrimas de sereia. — respondeu.
— Não foi essa a minha pergunta.
Ele arqueou as sobrancelhas, curioso.
— E qual foi sua pergunta, então?
— Posso não gostar dela, mas você sempre deixou claro seus sentimentos, mesmo discordando, tento respeitar. — suspirou.
— O que há com você? — perguntou confuso — Nunca respeitou qualquer decisão referente a Kira.
— Eu estou morrendo, Daniel, quero apenas ter certeza que meu filho será bem cuidado. — resmungou — Posso engolir meu orgulho se for preciso.
— Derick também é meu filho e caso você venha a falecer, o que não acontecerá, irei incluir ele em todos os meus planos. — disse firme — E respondendo sua pergunta, não tivemos progresso, pelo contrário.
Queria contar a ela sobre suas dúvidas, mesmo que gostasse muito de falar, o tempo inteiro, Léia era uma boa ouvinte, o escutava sempre
Em questão dos últimos acontecimentos aconselho aos leitores que não iniciem a leitura, me recuso a continuar disponibilizando meus livros de graça e a plataforma render as minhas custas, assim como de outros autores, os capítulos foram cortados pela metade assim inviabilizando a leitura e consequentemente cortando os rendimentos.
Agradeço a compreensão de todos e preço desculpas pelos transtornos.
A tempestade havia chegado de repente, os pegando de surpresa, Sr. Willians e Oscar não tinham ideia do que fazer, Kira estava adormecida, nem sequer conseguiu tomar a bebida, seu estomago recusava sempre e agora não aceitava nem alimento ou água. Ellenne segurava no mastro principal, apavorada, o Sombra do Oceano não obedecia a ninguém, estava estático, parado há bastante tempo os deixando a deriva pela falta do timão, não tinham ventos fortes para usar as velas. — Nós vamos afundar! — Oscar bradou. O navio estava encharcado, tanto pela água da chuva, quanto pela água do mar, que entrava aos montes por causa das ondas, imaginavam que o convés inferior estaria inundado depois de tanto tempo. Na cabine a capitã rolava de um lado para o outro, a pequena Rubi estava sentada no canto, agarrada as paredes com os olhos fechados em desespero pelo balanço insistente do navio. Quando uma enorme onda virou o Sombra de lado, quase o afundando,
O navio do capitão Petrus Bezalel navegava impetuoso sobre o mar, sem se preocupar com nada ao seu redor. Sr. Willians tentava manter-se acordado, mas estavam exaustos, sentia a doença regredindo com força e a pequena Rubi permanecia desfalecida. Sentia-se triste pela menina, tinha muito o que viver, mal foi liberta das maldades de Darkson, se viu no meio de algo pior. Não sabia aonde estavam nem para onde iam, o caminho parecia familiar, mas ao mesmo tempo tinha certas dúvidas. A frente estendia-se uma pequena ilha, nunca avistara aquela ilha antes, a vegetação era diferente de todo o antigo mundo, com várias árvores gigantescas, onde as folhas brilhavam. Penetraram por uma entrada na lateral, e eles podiam sentir como se ela estivesse viva, e de fato estava, não passava de um enorme crocodilo adormecido. — Bem-vindos a Curabituran! — Petrus dizia encarando a sua frente. A caverna era enorme, com algumas construções, caixas de suprimentos, b
Kira sentia todo o seu corpo dolorido, queria abrir os olhos, mas os mesmo se recusavam a obedecer. Alguém passava a mão delicadamente pelos seus cabelos, enquanto encostava algo gelado em suas bochechas, entretanto, era uma sensação boa, aliviava a dor que sentia no local. A verdade é que ela não queria acordar, naquele momento os problemas haviam desaparecido e tudo o que restava era o desejo de paz. — Sei que está acordada, Kira. — uma voz familiar a chamava em tom baixo — Compreendo seu cansaço, porém, há muito a ser feito. Abriu os olhos lentamente avistando Calysto, com um sorriso triste. — As coisas estão fora de controle... A capitã passou as mãos sobre o rosto, mesmo tendo desavenças com a rainha das sereias, aquele momento, deitada sobre o colo dela era incrivelmente bom, nem lembrava da última vez que relaxara. — Onde estou? — a voz saiu rouca e esganiçada. — Realmnereid. — respondeu passando algo em sua bochecha — S
Kira caminhou lentamente pelo porto, procurando por algum sinal de mortos vagando ou pelo menos pessoas vivas. Se dirigiu a estalagem, com passos curtos e vagarosos, abraçando o próprio corpo. A roupa ensopada lhe deixou extremamente agoniada, o frio deixara as pontas dos dedos arroxeadas, precisava dar um jeito de conseguir vestimentas secas e alimento quente. Bateu com força na porta do local, a qual foi aberta em uma pequena fresta, onde um brutamontes a observava desconfiado, permaneceu em silencio, não perguntou quem era ou tão pouco pareceu a reconhecer, e isso a irritou levemente. — Há algum quarto vazio? — questionou. — Depende. — respondeu vago. A capitã o encarou por um tempo, apenas ponderando o que faria. Sem aviso prévio, chutou a porta, arrebentando-a e arremessando o grandalhão por sobre as mesas, onde serviam comida e bebida, naquele andar. Adentrou calmamente o local, ajeitando a bolsa sobre o ombro, e observou os serventes a
Turturem Após dias presa em Turturem, Kira sentia-se fatigada e pronta para enfiar suas unhas na garganta de alguém, não importava quem fosse, apenas o queria fazer. Enviara os frascos com lágrimas de sereias para a rainha de Magicae e o rei de Bellum, com uma carta, avisando que era ela quem o estava fazendo e que cobraria o favor muito em breve. Não sabia a real situação dos três reinos e nem se importava, tudo o que queria era sair da ilha e encontrar Sr. Willians, caso ainda estivesse vivo, depois pensaria no que fazer, em como encontraria o responsável por trazer a maldição e dá-lhe uma bela surra. Levantou da areia da pequena praia, onde passou os últimos dias, os quais usou para descansar mais e receber a visita de Malesinmar, que lhe trazia notícias de Calysto. Ao longe, vindo em sua direção, o Sombra do Oceano navegava velozmente, cortando a água de forma imponente, com o brilho azulado lhe rondando. Kira nunca se sentira tão
Petrus e Kira se mantinham em uma disputa acirrada, nenhum dos dois dava o braço a torcer, ambos revidavam com fúria, atacavam com seus sabres sem piedade. Ao redor, um círculo se formou com toda a tripulação, estavam afoitos para ver seu capitão lutando com ela, urravam e gritavam. Sr. Willians e Oscar ficaram próximos, prontos para qualquer coisa, mesmo sabendo que a capitã estava melhor, tanto fisicamente quanto mentalmente, ainda sentiam-se preocupados com ela, estavam em menor número. Ellenne permaneceu junto ao timão, longe de toda a confusão, não queria ver aquela briga, sentia-se desconfortável. — Esse é o seu melhor? — Kira questionou o derrubando. Petrus se levantou e investiu com seu corpo contra, a prensando contra o mastro principal, onde ela ficou levemente atordoada. Ele desferiu dois socos no estomago da capitã que acabou acertando uma cotovelada em seu nariz e quando ele a soltou, foi chutado com força, o arremessando sobre a roda de marujos.
Enquanto penteava os cabelos, Kira escutou batidas na porta. — Posso entrar? — escutou Ellenne perguntando. — A vontade! — respondeu. A garota entrou rápido e fechou a porta atrás de si, depois passou a observar Kira. — Qual o problema? — a capitã questionou com as sobrancelhas arqueadas. — Eu só queria pedir desculpas, mal tivemos tempo para conversar e eu não quero ter uma relação ruim como irmãs. — respondeu dando de ombros — Mamãe me mandou ficar, disse que eu irei te atrapalhar, então quero aproveitar nossos últimos momentos juntas. — Não se preocupe, não estou brava com você e tenho certeza que nos veremos em breve. — colocou o pente sobre a cômoda — Sempre pensei que não desejava ter outra irmã depois de Yasmin, a experiência não foi boa, mas acho que posso me acostumar com você. — Assim espero... — sussurrou — Mas ainda sim quero me desculpar e pedir para que tome cuidado, desejo que um dia possamos passar um tempo junt
Opala Insula Quando o capitão Petrus acordou no dia seguinte, havia uma fogueira ao seu lado e os dois marujos dormiam ainda profundamente. Observando a sua volta não encontrou nenhum sinal de Kira ou de Malesinmar, vasculhou pelos lados, chamou por ela, mas sem resposta alguma. Berrou alto assustando Sr. Willians e Oscar, que levantaram rápido. — Onde está a sua capitã? — questionou irritado. — Não sabemos, ela estava aqui quando adormecemos. — Sr. Willians respondeu. Insatisfeito, Petrus caminhou por entre as árvores de volta a praia, tentando encontrar alguma pista sobre a capitã. Sr. Willians e Oscar o acompanharam ainda sonolentos, porém, bastante preocupados com a situação. Chegando a areia branca, encontraram Malesinmar vagando de forma débil, com as mãos sobre a cabeça tapando os olhos do sol da manhã. — KIRAAA! — berrou fazendo-os tapar os ouvidos — KIRAAA! — Parece que ele também está procurando pela