Capítulo 3

BRUNO

Eu só comecei a trabalhar de babá no My Nany porque uma amiga me indicou a empresa e eu precisava de um emprego que pudesse me ajudar a terminar de pagar a minha faculdade. O que eu não esperava era que fosse ter tantos clientes fiéis.

Eu estava fazendo minha corrida matinal na beira da praia quando meu celular começou a tocar. Parei e desconectei os fones de ouvido e levei o aparelho ao ouvido.

— Bom dia, Bruno. — A voz da velha recrutadora soou do outro lado da linha.

— Bom dia, Paulina.

— Você está disposto a trabalhar no final de semana? — Ela foi direto ao assunto.

— Sim.

— Então eu tenho o trabalho perfeito para você. O menino tem seis anos e a mãe precisa de alguém que possa cuidar dele durante o final de semana porque ela tem uma viagem de trabalho.

— Mas e o pai?

— Ao que tudo indica não existe ou simplesmente não faz parte da vida do garoto.

— Posso te passar as informações por e-mail?

— Fico no aguardo!

Depois que encerrei a ligação, reconectei os fones e dei o play na música, voltando a correr logo em seguida. Quando, finalmente, cheguei em casa, tomei um opo de água gelada e então abri o notebook que estava sobre a mesa e comecei a verificar minha caixa de e-mails.

Cliquei no documento que Paulina tinha me enviado e assim que o arquivo abriu, fiquei surpreso ao me deparar com a foto do garotinho, seus cabelos loirinhos e, se, não fosse o brilho travesso estampado em seus olhos azuis-acinzentados, eu o teria comparado a um anjinho.

Pela ficha descobri que o nome d garotinho era Caetano, tinha seis anos de idade, filho único e morava apenas com a mãe. Pensei logo que seria um daqueles meninos mimados demais que se jogam no chão para conseguir o que querem e me daria um trabalhão.

Os meninos costumavam ser os meu prediletos para tomar conta, talvez porque eu me identificasse com eles. Eu fui uma criança levada, dava trabalho para minha mãe, na escola ia sempre parar na diretoria por atormentar as meninas na hora do recreio.

Tomei um banho para me livrar do suor e depois comecei a arrumar minha mochila com tudo necessário para passar o final de semana fora de casa: roupas, necessaire de couro preto com itens básicos de higiene e, claro que, não poderia deixar para trás o meu caderno de desenho.

Na parte da tarde, decidi passar clínica para ver minha mãe porque não poderia vê-la no sábado como já era de costume. Uma cuidadora a trouxe para o jardim, reparei o quanto ela caminhava devagar, as rugas em seu rosto demonstravam o quanto ela já tinha vivido. Ficarmos sozinhos, passamos um tempo juntos conversando sobre como tinha sido a nossa semana.

— Mãe, eu não vou poder vir no sábado porque vou precisar trabalhar.

— Tudo bem, meu filho. Sei que você precisa pagar para que eu possa estar aqui.

— Eu prometo que ainda vou te dar uma vida melhor.

— Para mim já está bom assim, não preciso de mais nada.

— Eu te amo, mãe.

— Eu também, meu filho.

Assim que voltei para o meu pequeno apartamento, terminei de arrumar minhas coisas, aproveitei para terminar um rascunho que tinha começado no dia anterior. No horário combinado com Paulina, peguei o ônibus e fui para o endereço indicado.

Quando toquei a campainha, tive que esperar um pouco até que a porta fosse aberta e quase não acreditei quando vi aquela mulher na minha frente. Ester Rabello. Simplesmente a mulher que era a minha maior inspiração na parte dos desenhos. Tive que respirar fundo e me controlar para parecer profissional.

— Senhora Ester?

— Sim, sou eu. — Ela parecia confusa. — Quem é você?

— Meu nome é Bruno. Fui enviado pelo My nany para ficar com o seu filho.

— Deve ter algum engano, pois eu solicitei uma babá.

— Não há engano algum, senhora. Eu sou o babá que vai ficar com o seu filho.

— Mas você... é um homem.

Mesmo estando meio atordoada por ter sido pega de surpresa por um babá, ela me deixou entrar, chamou o filho, que veio correndo de algum ponto da casa. Eu já tinha visto o filho dela em algumas matérias em revistas e blogs, mas não ousaria falar nada.

— Caetano, este é o Bruno, o babá que vai ficar com você enquanto a mamãe viaja.

— Maneiro! Você sabe jogar videogame? 

— Mas é claro que sim!

— Oba! A gente vai poder jogar muito.

A megera simplesmente cortou a alegria do menino lembrando que ele só poderia jogar por uma hora. Que mulher desalmada. Mesmo estando ainda um pouco desconfiada, ela me mostrou o quarto onde eu ficaria e a lista de tarefas pregada na geladeira.

— Um garotinho de 6 anos precisa mesmo de tudo isso? — perguntei sem conseguir acreditar naquilo.

— Mas é claro. Disciplina é tudo na vida de uma criança.

— Por que não pode deixá-lo simplesmente ser uma criança?

— Você está querendo me ensinar a como eu devo criar o meu filho?

— Longe de mim Sra. Ester, mas acho que uma criança deveria ter mais tempo para brincar.

— É melhor mesmo, Bruno, pois se tratando do meu filho eu sei o que é melhor para ele.

Não percebi que a encarava até ela erguer uma sobrancelha e continuar o interrogatório:

— Por acaso sabe cozinhar?

— Sim.

— Ótimo, porque não temos empregada no final de semana.

— Pode ir tranquila para a sua viagem Sra. Ester, eu cuidarei muito bem do pequeno Caetano.

— Pode me chamar só de Ester.

— Tudo bem.

— Também quero receber fotos de uma em uma hora. Ok?

— Pode deixar.

Ela olhou o relógio em seu pulso e, apressadamente, voltou à sala, despedindo do filho. Uma cena emocionante, mas dava para perceber que não era a primeira vez que ela deixava o menino sob os cuidados de alguém.

— Boa viagem, mamãe!

— Obedeça ao Bruno. Ok?

— Tá bom.

Ajudei Ester a carregar a mala até o táxi e coloquei-a no porta-malas. Enquanto o carro e afastava, pude perceber que era complicado para ela confiar em mim. Entramos em casa e Caetano ficou atrás de mim pela casa, quando nos sentamos na sala, tentei saber um pouco mais dos gostos dele. Suas brincadeiras favoritas, suas comidas prediletas. Peguei o celular no bolso da calça e tirei uma foto nossa, peguei o número de telefone de Ester na lista da geladeira e enviei.

— Tio Bruno, quer jogar futebol comigo?

— Vamos lá ver se você aprendeu alguma coisa na escolinha que você frequenta.

Fomos para praia do outro lado da rua e jogamos algumas partidas de futebol e, constatei que o menino era muito melhor do que eu jogando. Só paramos de jogar quando Caetano avisou que estava com fome, então voltamos para casa e, depois de lavar os pés, comecei a pensar no que faria.

— Posso te ajudar?

— Claro que pode.

Caetano correu até o quarto dele e pegou o seu banquinho e já estava voltando quando ouvimos o telefone tocar, ele correu para atender.

— Alô?

Parei de cortar os tomates e passei a prestar atenção na conversa do menino, afinal, não tinha como eu saber quem estava do outro lado da linha e, foi somente quando ele falou mamãe, que eu relaxei um pouco.

— Sim! O tio Bruno é muito legal.

Tio Bruno. Eu gostava de ser chamado assim pelos pequenos de quem eu cuidava. Fazia parecer que eu era parte da família. 

— A gente foi até a praia jogar bola e agora ele está fazendo o almoço.

A mulher do outro lado da linha deve ter pedido para falar comigo, pois o pequeno pestinha passou o telefone para mim.

— Ester?

— Oi, Bruno. Só estou ligando para saber se está tudo bem com o meu pequeno.

— Estamos nos dando muito bem. Caetano é um garotinho de ouro.

— É, eu sei.

— Era só isso? Preciso desligar e voltar ao fogão para não queimar a comida.

— Tudo bem, vai lá.

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