Capítulo 2

ESTER

A noite de sexta-feira chegou mais rápido do que esperava. Já estava próximo do horário de sair para o aeroporto quando ouvi a campainha tocar e, instintivamente, corri para abrir a porta, mesmo estando descalça. Sabia que devia ser a babá, mas para minha surpresa, dei de cara com um homem, muito bonito por sinal.

— Senhora Ester?

— Sim, sou eu. — Estranhei ele saber meu nome e estar na minha porta. — Quem é você?

— Meu nome é Bruno. Fui enviado pelo My nany para ficar com o seu filho durante o final de semana.

— Deve haver algum engano, pois eu solicitei uma babá.

— Não há engano algum, senhora. Eu sou o babá que vai ficar com o seu filho.

— Mas você... Você é um homem.

— Isso é um problema para a senhora?

— Não. Quero dizer, sim, porque não tenho certeza se conseguirá lidar com um garotinho de 6 anos.

— Não tem motivo para se preocupar porque eu fui muito bem treinado para ficar com crianças de qualquer idade, senhora.

— Como poderei ter certeza disso? — perguntei desconfiada.

— Terá que confiar em mim, senhora.

— De qualquer forma, não tenho tempo para pedir outra babá.

— Quantos anos você tem?

— Vinte e oito.

— Ótimo! Pelo menos sei que meu filho não está com nenhum irresponsável.

Cheguei para o lado e dei passagem para o rapaz, que educadamente pediu licença e passou por mim. Não pude deixar de sentir o cheiro do seu perfume cítrico. Bruno era um rapaz um pouco mais alto do que eu, com um porte atlético de dar inveja, que fazia parecer que ele tinha acabado de sair de algum quartel. Quando saímos do hall em direção a sala de estar, chamei meu pequeno pestinha, que veio correndo do quarto.

— Caetano, este é o Bruno, o babá que vai ficar com você enquanto a mamãe viaja.

Pensei que haveria certa resistência por parte do meu filho, mas o garoto pareceu gostar da ideia de ter um babá.

— Maneiro! Você sabe jogar videogame?

— Mas é claro que sim!

— Oba! A gente vai poder jogar muito.

— Lembre-se que só é permitido jogar 1h por dia.

bom, mãe.

Aproveitei para mostrar ao Bruno o quarto de hóspedes onde ele ficaria e também a lista pregada na porta da geladeira com toda a rotina que meu filho seguia, além de uma lista com todas as suas alergias e alguns contatos de emergência caso acontecesse alguma coisa.

— Um garotinho de 6 anos precisa mesmo de tudo isso? — perguntou incrédulo.

— Mas é claro. Disciplina é tudo na vida de uma criança.

— Por que não pode deixá-lo simplesmente ser uma criança? — perguntou enquanto passava os olhos pela lista mais uma vez.

— Você está querendo me ensinar a como devo criar o meu filho?

— Longe de mim Sra. Ester, mas acho que uma criança deveria ter mais tempo para brincar.

— É melhor mesmo, Bruno, pois se tratando do meu filho eu sei o que é melhor para ele.

Pude notar seu olhar assustado, talvez não estivesse acostumado a ser confrontado pelas mães das crianças de quem já tinha cuidado antes ou nunca tinha se deparado com uma casa cheia de regras, mas teria que se acostumar, nem que fosse por um final de semana.

— Por acaso sabe cozinhar?

— Sim.

— Ótimo, porque não temos empregada no final de semana e não gostaria que meu filho comesse muitas porcarias.

— Pode ficar tranquila, porque eu cuidarei muito bem do pequeno Caetano, Senhora Ester.

— Pode me chamar só de Ester.

— Tudo bem, Ester

— Também quero receber fotos de uma em uma hora. Ok?

— Pode deixar comigo.

Depois de dar uma conferida rápida no meu relógio, percebi que se não saísse naquele exato momento, acabaria chegando atrasada no aeroporto e, tudo o que eu não queria era ecorrer o risco de perder o voo. Voltando à sala, me despedi do meu pequeno com um abraço de urso e um beijo no topo da cabeça. Com os seus bracinhos ao redor do meu pescoço, senti que estava deixando para trás um pedaço do meu coração.

— Boa viagem, mamãe!

— Obrigada, meu anjinho e você obedeça ao Bruno. Ok?

— Tá bom.

Bruno, muito educado, me ajudou a carregar a mala até o táxi e colocou-a no porta-malas. Enquanto o motorista dava partida no carro, pude perceber um par de olhos azuis-acinzentados tristonhos me olhando da porta de casa. Com a mão joguei um beijo na direção do meu filho que, imediatamente, fingiu pegar no ar e colocar sobre o coração, como sempre fazíamos ao nos separar. Eu confesso que estava com medo de deixar o meu maior tesouro nas mãos de um desconhecido por mais que ele fosse bem treinado, não tinha como saber se algo de ruim aconteceria.

A caminho do aeroporto, ouvi meu celular vibrar dentro da bolsa e resgatei-o na mesma hora. Era uma mensagem de um número desconhecido, mas que resolvi abrir assim mesmo e, para minha surpresa, era uma foto do meu pequeno com Bruno. Salvei o número de telefone na minha agenda: o babá.

Embarquei naquele avião rumo a São Paulo com o coração apertadinho, mas tentei relaxar durante o voo, tinha preparado um breve discurso para quando subisse ao palco para receber o prêmio tão importante para minha carreira. Além de produzir minhas animações, minha empresa vinha produzindo muitas animações de artistas desconhecidos, uma forma de dar oportunidade a novos talentos que tenham um grande potencial e, muitos dos meus estagiários estavam me surpreendendo.

Depois de 1 h 5 min dentro do avião, eu finalmente consegui desembarcar, peguei um táxi e pedi ao motorista que me levasse ao Haus Stay Luxo na Vila Mariana, onde o pessoal da organização tinha feito uma reserva de flat para que e ficasse mais a vontade. Depois de me ajeitar, liguei para casa e Caetano atendeu o telefone.

— Alô? — Eu seria capaz de reconhecer aquela voz no meio de uma multidão.

— Oi, meu filho.

— Mamãe!

— Está tudo bem aí?

— Sim! O tio Bruno é muito legal.

Tio Bruno. Meu pequeno pestinha já tinha se apegado ao rapaz que mal conhece.

— É mesmo? E o que vocês já fizeram?

— A gente foi até a praia e agora ele está fazendo o almoço.

— Coma direitinho, hein.

— Pode deixar, mamãe.

— Posso falar com o tio Bruno?

— Tá bom.

— Eu te amo muito, filho.

— Eu também.

Assim que o telefone foi passado para o adulto que estava responsável pelo meu pequeno, senti minhas pernas ficarem bambas com aquela voz rouca e extremamente sexy do outro lado da linha. Pare com isso, Ester. Ele é só o babá do seu filho.

— Ester?

— Oi, Bruno. Só estou ligando para saber se está tudo bem com o meu pequeno.

— Estamos nos dando muito bem. Caetano é um garotinho de ouro.

— É, eu sei.

— A senhora fez uma boa viagem?

— Sim. Obrigado por perguntar.

— Era só isso? Preciso desligar e voltar ao fogão para não queimar o nosso almoço.

— Tudo bem, vai lá. Só não deixe de me dar notícias.

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