ESTER
Se eu tinha achado estranho um homem como babá? Achei muito estranho, mas não tinha nada que eu pudesse fazer e meu pequeno parecia estar gostando de ter um homem como babá. Pensando pelo lado do meu filho, era mais fácil se identificar com um homem do que com uma babá.Depois que consegui descansar um pouco, comecei a me arrumar para ir até o evento, queria dar uma volta, por lá, conhecer o ambiente e até fazer networking com outras pessoas do ramo de animações, era a oportunidade perfeita para divulgar a minha empresa e recrutar novos talentos.Estava andando em meio a multidão quando senti meu celular vibrar no bolso de trás da calça e quando o peguei, vi que tinha recebido uma mensagem de Bruno, rapidamente abri porque sabia que eram notícias do meu pestinha. Quando deslizei o dedo pela tela, uma foto abriu, Caetano estava brincando com Heitor, filho da vizinha, e um sorriso surgiu em meu rosto.— Desculpa interromper, mas você é Ester Aguilar? — Alguém perguntou atrás de mim.— Sim.— Ai. Meu. Deus. Eu sou muito sua fã e assisti todas as animações que você já fez.— Sério? — perguntei surpresa por saber que uma garota da idade dela já tinha assistido meus filmes e não eram poucos.— Ela passa o final de semana vendo os seus filmes. — A mãe confirmou.— Uau. Fico muito feliz por saber disso.— Será que você pode tirar uma foto comigo?— Mas é claro! — devolvi o celular para o bolso da calça e a abracei enquanto a mãe da garota batia a foto com o celular. — Qual o seu nome?— Mariana e essa aqui é a minha mãe, Jéssica.— É um prazer conhecer vocês.— Você me inspirou a continuar desenhando e quero chegar ao seu nível quando ficar aduta.— Isso mesmo, nunca desista dos seus sonhos e quem sabe daqui a alguns anos você possa estar trabalhando comigo.— É meu maior sonho. Pode me dar um autógrafo?Peguei o caderninho que ela me entregou e enquanto assinava uma folha em branco, logo me vi rodeada por uma multidão de pessoas, todas fãs do meu trabalho e fiquei surpresa pela quantidade de pessoas. Não sabia que tinha tantos fãs. Todos queriam um autógrafo e, fiquei me sentindo uma celebridade com meus cinco minutos de fama.Assim que consegui me desvencilhar do grupinho animado de adolescentes que tinha se formado ao meu redor, aproveitei para continuar andando para conhecer o local e logo encontrei o responsável pela organização, que me levou para a área vip juntamente com outros convidados da área.Quando peguei o celular novamente, aproveitei para olhar novamente a foto que Bruno tinha me enviado. Meu menino estava feliz brincando com o amiguinho e nem parecia estar sentindo minha falta tanto quanto eu estava sentindo dele.
BRUNO
Enquanto os meninos brincavam no jardim, fiquei sentado no degrau da pequena escadinha da varanda, aproveitei para enviar uma foto para Ester e, em seguida, comecei a rascunhar a cena que se desenrolava na minha frente. Eles eram frenéticos então tive que contar um pouco com a minha imaginação para terminar.
— Tio Bruno! — A vozinha do Caetano soou a medida que se aproximava. — O que você está fazendo?
— Não é nada — fechei rapidamente o caderno.
— Você não vai jogar bola com a gente?
— Tenho uma ideia melhor. O que acham de brincarmos de esconde-esconde?
— Oba! Você quer brincar disso, Heitor?
— Pode ser.
Deixei o caderno e o lápis sobre uma das cadeiras da varanda e fui com os meninos para o jardim, teria que terminar esse desenho depois que Caetano fosse dormir. Era gostoso ouvir a risada das crianças felizes. Brincamos de várias bricadeiras diferentes quase a tarde toda e quando dei por mim, o céu já estava escurecendo.
A mãe de Heitor o levou para casa e falei para Caetano ir direto para o banho porque ia pedir uma pizza para nós dois. Era final de semana então poderíamos sair um pouquinho da rotina que a Ester tinha estabelecido para o menino.
— Sua mãe deixa você comer pizza?
— Claro, né.
— Qual sabor de pizza você gosta?
— Pode ser de calabresa?
— É a minha preferida também.
Caetano saiu correndo para o banheiro então aproveitei para ligar e fazer o pedido na pizzaria, também peguei dois pratos e os copos para colocar na mesa para nós dois e em poucos minutos, o pestinha voltou à cozinha, vestindo seu pijama.
— Será que podemos jogar um pouco de video-game depois de comer?
Olhei para o relógio pendurado na parede da cozinha e vi que ainda era sete horas, então poderia deixá-lo jogar um pouco. Caetano não tinha ficado em frente a tela, nem do celular e nem da televisão, o que era ótimo.
— Pode sim.
— Uhull. — Ele fez uma dancinha estranha que acabou me fazendo rir.
— Antes você vai ligar para a sua mãe.
— Tudo bem. Eu estou com saudades dela mesmo.
— Você tem dever de casa para fazer?
— Não.
— Tem certeza, mocinho?
— Sim! Eu já fiz com a minha mãe ontem.
Enquanto esperávamos pela chegada da nossa pizza, ficamos jogados no sofá assistindo um dos desenhos favoritos dele: Scooby-Doo. Já fazia muito tempo que eu não via desenhos assim, já que as crianças só querem saber daqueles desenhos esquisitos e chatos, onde os personagens tinham a cabeça maior do que o corpo e olhos grandes.
O meu celular começou a tocar e tive que me levantar para pegá-lo porque o tinha esquecido cozinha. Assim que olhei a tela, vi que tinham umas cinco ligações de Ester e, rapidamente, resolvi retornar a ligação.
— Bruno, aconteceu alguma coisa com o Caetano?
— Não, ele está bem.
— E por que não atendeu as minhas ligações?
— Eu estava ocupado e não tinha escutado o celular tocar.
— Posso falar com o meu filho?
— Claro, só um instante que vou entregar o celular a ele.
Entreguei o aparelho para o pequeno e fui atender a campainha. Meu Deus. Como Ester pode ser uma mulher tão paranóica? Já achando que tinha acontecido alguma coisa com o filho dela só porque eu não atendi a ligação no momento em que ela ligou.
Paguei ao entregador e entrei com a pizza, bem a tempo de ouvir Caetano contar do que tinha brincado durante a tarde. Um sorriso de satisfação surgiu em meu rosto. Eu tinha conseguido deixar o viciado em celular sem mexer no aparelho durante o dia inteiro. Mais uma coisa para acrescentar no meu currículo.
ESTER Eu tinha passado o restante do dia sem notícias do meu filho, por estar tão ocupada e envolvida com o evento, acabei nem tendo tempo de ligar para Bruno. Só quando voltei para o hotel foi que consegui ligar o babá, mas para minha infelicidade, ele não atendeu. Tentei de novo por mais umas quatro vezes, mas sem sucesso e isso me fez começar a pensar que algo de ruim tinha acontecido. Quando tentei mais uma vez, ele atendeu, eu estava pronta para soltar os cachorros em cima dele, mas a voz do outro lado da linha soou tão calma que entendi que estava tudo bem e a única pessoa neurótica ali, era eu. — Bruno, aconteceu alguma coisa com o Caetano? — Foi a primeira coisa que saiu da minh boca. — Não, ele está muito bem. — E por que não atendeu as minhas ligações? — Eu estava ocupado e não tinha escutado o celular tocar. — Posso falar com o meu filho? — Claro, só um instante que vou entregar o celular a ele. Deu para ouvir quando ele afastou o celular do rosto porque o som da s
BRUNO Depois de colocar Caetano na cama novamente, tive que ler uma história e me certificar de que ele estava mesmo dormindo, saí do quarto dele e fui até a sala. Fechei o meu caderno de desenhos e o levei para o quarto onde eu ficaria. Só o quarto de hóspedes juntamente com o banheiro era maior do que o meu pequeno apartamento. Deitado na cama, não consegui dormir quase nada, acho que estava estranhando a cama, o colchão até mesmo o ambiente. Fiquei ali, olhando para o teto enquanto esperava o sono aparecer. Peguei o meu leitor digital e continuei a leitura de um livro. Quando acordei, apurei os ouvidos e tudo ainda estava silencioso, o que era um sinal de que o pestinha ainda estava dormindo e não tinha colocado fogo na casa. Depois de lavar o rosto no banheiro, saí do quarto e fui ao quarto de Caetano. Para minha surpresa, a cama estava vazia então fui até a sala e o encontrei vendo televisão. — Caetano, o que você está fazendo acordado a essa hora? — Eu estava vendo televisã
ESTER O dia tinha começado tão bem, nada era melhor do que poder dormir confortavelmente e acordar sem precisar me preocupar com horário e nem com criança. Aproveitei para descer e desfrutar do farto café da manhã oferecido pelo hotel e depois fui curtir a piscina e um pouco da sauna. Assim que voltei ao meu quarto, já comecei a me arrumar para ir ao evento, estava enrolando meu cabelo na toalha quando meu celular começou a tocar, peguei o aparelho em cima da cama e deslizei o dedo pela tela sem nem ver quem estava ligando. — Oi, mamãe. — Oi, meu amorzinho. Como você está? — Eu tô bem. — Dormiu direitinho? — Sim e nem tive pesadelo. — Mas que notícia boa. — Eu tô com saudades, mamãe. — Eu também estou, filhotinho. — Quando você vai voltar? — Amanhã quando você acordar, já vou estar aí com você. — Tá bom. Eu te amo, mãe. — Eu também te amo, filho. Assim que encerrei a ligação, voltei a me arrumar, pois sabia que um carro passaria para me buscar por volta das dez e meia.
BRUNODepois que pegamos Miguel na casa da Nádia, o menino veio correndo em minha direção, passando os braços ao redor do meu pescoço e deu um beijo na minha bochecha. Era tão bom poder revê-lo depois de tanto tempo.— Você conhece o tio Bruno? — ouvi Caetano perguntar para o amiguinho enquanto voltava para o banco do motorista.— Claro, né.— Legal!— Por que você não disse que conhecia o Miguel, tio Bruno?— Queria fazer surpresa para você.— Você me enganou. — Ele fingiu estar irritado e cruzou os braços na frente do corpo.— Preparados para aprender a soltar pipa?— Sim! — Eles disseram em uníssono.— Que cor você vai querer a sua pipa, Miguelito? — chamei-o pelo apelido carinhoso que tinha lhe dado no primeiro dia que tinha ficado com ele.— Vermelho.— Eu sabia!Levar os meninos para brincar fora de casa foi a melhor coisa que já fiz. Conhecendo Miguel, sabia que ele tinha muita energia acumulada para gastar, com Caetano não era diferente e os dois juntos era impensável. Depois
ESTERPegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.— Que susto, Bruno.— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.— A senhora tem certeza?— Sim!— Obrigado.Deixei a mala ao lado do sofá e
BRUNO Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa. Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças. Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta. — Que susto, Bruno. — Ester! — Fiquei de pé rapidamente. — Não esperava te encontrar acordado a essa hora. — Estava esperando a senhora c
ESTERDepois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.— Sabe dizer quem é?— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.— Vou atender. Obrigada.Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de cost
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f