ESTER
Eu tinha passado o restante do dia sem notícias do meu filho, por estar tão ocupada e envolvida com o evento, acabei nem tendo tempo de ligar para Bruno. Só quando voltei para o hotel foi que consegui ligar o babá, mas para minha infelicidade, ele não atendeu. Tentei de novo por mais umas quatro vezes, mas sem sucesso e isso me fez começar a pensar que algo de ruim tinha acontecido.Quando tentei mais uma vez, ele atendeu, eu estava pronta para soltar os cachorros em cima dele, mas a voz do outro lado da linha soou tão calma que entendi que estava tudo bem e a única pessoa neurótica ali, era eu.— Bruno, aconteceu alguma coisa com o Caetano? — Foi a primeira coisa que saiu da minh boca.— Não, ele está muito bem.— E por que não atendeu as minhas ligações?— Eu estava ocupado e não tinha escutado o celular tocar.— Posso falar com o meu filho?— Claro, só um instante que vou entregar o celular a ele.Deu para ouvir quando ele afastou o celular do rosto porque o som da sua respiração ficou longe, logo depois ouvi a voz de Caetano do outro lado da linha telefônica e isso me tranquilizou. Só de ouvir a voz animada dele, toda a preocupação se esvaiu do meu corpo.— Mamãe!— Oi, meu filho. Como você está?— Eu tô muito bem.— E você se divertiu muito hoje?— Sim, o Heitor veio brincar comigo e a gente jogou bola, depois o tio Bruno brincou com a gente a tarde toda.— E você não jogou video-game?— Não, mas o tio Bruno disse que eu posso jogar um pouco depois da janta.— Lembre-se de que é só por um pouco.— Eu sei, mãe.— Você está gostando de ficar com o tio Bruno?— Sim! Será que você pode chamar ele ao invés daquelas babás chatas?— Vou conversar isso com ele depois.— Obrigado, mamãe.— Deixa eu falar com o tio Bruno um pouco?— Vou passar para ele. Te amo, mãe.— Também te amo muito, meu filho. Dorme com os anjinhos, tá?— Você também.Consegui ouvir quando uma porta se fechou e meu pequeno chamou por Bruno, fiquei tentando imaginar o que eles estavam fazendo, mas logo meus pensamentos foram interromidos quando ouvi aquela voz rouca e sexy para caralho do outro lado da linha.— Ester?— Bruno, eu queria me desculpar pelo modo como eu falei com você, é muito difícil para uma mãe ficar longe do filho.— Está tudo bem, não se preocupe.— Caetano me contou que ele brincou a tarde toda com você e o filho da vizinha.— Sim.— Ele não pediu para jogar video-game e nem mexer no celular em nenhum momento?— Acho que ele nem se lembrou das telas.— Isso é maravilhoso. Qual o milagre que você fez?— Não fiz nada demais, apenas o deixei entretido com brincadeiras fora de casa.— Pode deixar ele jogar por uma hora e meia depois da janta.— Tudo bem.— Tenha uma boa noite, Bruno.— Igualmente, Ester.Depois que desliguei o telefone, me senti mais calma por saber que meu garotinho estava bem e, que, pela primeira vez, tinha ficado sem usar o video-game e sem ver televisão. Depois de um banho relaxante, me pedi uma refeição por aplicativo e depois adormecei.BRUNOFiquei surpreso pelo pedido de desculpas de Ester, por um lado eu entendia ela, era difícil confiar seu filho a um homem estranho. Por incrível que pareça, Ester até que é tranquila porque já lidei com mães mais neuróticas do que ela.Depois de guardar o celular no bolso da calça, deixei a caixa da pizza sobre a mesa e chamei o pequeno pestinha para comermos. O menino estava mesmo com fome porque devorou duas fatias grandes, o que era considerado muito para uma criança de só seis anos.— A pizza estava boa? — perguntei enquanto dava uma mordida na borda recheada de cheddar.— Uma delícia. Melhor do que a pizza que a minha mãe pede.— Vou passar o telefone para ela quando ela voltar de viagem.— Será que eu posso jogar agora?— Pode sim, garotão.O garoto saiu da mesa e foi correndo para a sala. Fiquei observando-o enquanto ligava o aparelho e pegava os controles em um suporte próprio. Ele parecia gostar mesmo de jogar.— Você quer jogar comigo, tio Bruno?— Quero sim, mas primeiro eu tenho que lavar toda a louça. Pode ser?— Tá bom, eu espero.— Pode ir jogando sozinho, que depois eu entro.Enquanto ele ficou sentado no sofá da sala, recolhi nossos pratos e copos, levando-os para a cozinha junto com o restante da pizza que tinha sobrado. Enquanto lavava a louça, fiquei escutando ele jogar, pelo sons que chegavam até a cozinha, suspeitei de que era o Super Mario Odyssey.— Eu adoro esse jogo — comentei quando me sentei ao seu lado no sofá.— Então você vai me ajudar a passar dessa fase, né? — Caetano me passou o segundo controle. — Estou preso a um tempão nessa fase chata.— Ajudo sim.Liguei o cronômetro no meu relógio, estava decidido a cumprir a ordem da mãe dele e só deixar o garoto jogar por uma hora e meia. Depois que ele fosse dormir, eu poderia terminar meu desenho e pegar o computador para trabalhar um pouco na minha animação.Quando o relógio apitou, informei ao menino que estava na hora de desligar e ir para a cama. Caetano prontamente desligou o aparelho e foi para o banheiro, escovou os dentes e foi para o quarto. Assim que coloquei a cabeça para dentro do quarto, vi que ele estava ajoelhado ao lado da cama, com as mãos unidas e os olhos fechados, ele estava rezando.— Pronto para dormir, garotão?— Sim.— Deixa eu conferir se os dentes estão bem escovados?Ele deu um grande sorriso e falei que estava ótimo, então baguncei seus cabelos. Caetano se deitou e eu o cobri.— Boa noite, garotão. Se precisar de alguma coisa, vou estar no quarto ao lado, tudo bem?Caetano assentiu e então comecei a sair do quarto dele, ia apagar a luz, mas ele pediu para deixar o abajur, em forma de foguete, ligado.Assim que voltei para a sala, abri o caderno de desenho e continuei o desenho que tinha começado na parte da tarde. Tomei um susto quando vi Caetano ao meu lado.— O que está fazendo de pé?— Eu vim pegar água. O que você está fazendo?— Desenhando.— Que legal, minha mãe também faz muitos desenhos e depois eles viram filme, sabia?— Eu sei, sempre acompanho o trabalho dela, mas agora você precisa ir dormir.— Tá bom. Boa noite, tio Bruno.BRUNO Depois de colocar Caetano na cama novamente, tive que ler uma história e me certificar de que ele estava mesmo dormindo, saí do quarto dele e fui até a sala. Fechei o meu caderno de desenhos e o levei para o quarto onde eu ficaria. Só o quarto de hóspedes juntamente com o banheiro era maior do que o meu pequeno apartamento. Deitado na cama, não consegui dormir quase nada, acho que estava estranhando a cama, o colchão até mesmo o ambiente. Fiquei ali, olhando para o teto enquanto esperava o sono aparecer. Peguei o meu leitor digital e continuei a leitura de um livro. Quando acordei, apurei os ouvidos e tudo ainda estava silencioso, o que era um sinal de que o pestinha ainda estava dormindo e não tinha colocado fogo na casa. Depois de lavar o rosto no banheiro, saí do quarto e fui ao quarto de Caetano. Para minha surpresa, a cama estava vazia então fui até a sala e o encontrei vendo televisão. — Caetano, o que você está fazendo acordado a essa hora? — Eu estava vendo televisã
ESTER O dia tinha começado tão bem, nada era melhor do que poder dormir confortavelmente e acordar sem precisar me preocupar com horário e nem com criança. Aproveitei para descer e desfrutar do farto café da manhã oferecido pelo hotel e depois fui curtir a piscina e um pouco da sauna. Assim que voltei ao meu quarto, já comecei a me arrumar para ir ao evento, estava enrolando meu cabelo na toalha quando meu celular começou a tocar, peguei o aparelho em cima da cama e deslizei o dedo pela tela sem nem ver quem estava ligando. — Oi, mamãe. — Oi, meu amorzinho. Como você está? — Eu tô bem. — Dormiu direitinho? — Sim e nem tive pesadelo. — Mas que notícia boa. — Eu tô com saudades, mamãe. — Eu também estou, filhotinho. — Quando você vai voltar? — Amanhã quando você acordar, já vou estar aí com você. — Tá bom. Eu te amo, mãe. — Eu também te amo, filho. Assim que encerrei a ligação, voltei a me arrumar, pois sabia que um carro passaria para me buscar por volta das dez e meia.
BRUNODepois que pegamos Miguel na casa da Nádia, o menino veio correndo em minha direção, passando os braços ao redor do meu pescoço e deu um beijo na minha bochecha. Era tão bom poder revê-lo depois de tanto tempo.— Você conhece o tio Bruno? — ouvi Caetano perguntar para o amiguinho enquanto voltava para o banco do motorista.— Claro, né.— Legal!— Por que você não disse que conhecia o Miguel, tio Bruno?— Queria fazer surpresa para você.— Você me enganou. — Ele fingiu estar irritado e cruzou os braços na frente do corpo.— Preparados para aprender a soltar pipa?— Sim! — Eles disseram em uníssono.— Que cor você vai querer a sua pipa, Miguelito? — chamei-o pelo apelido carinhoso que tinha lhe dado no primeiro dia que tinha ficado com ele.— Vermelho.— Eu sabia!Levar os meninos para brincar fora de casa foi a melhor coisa que já fiz. Conhecendo Miguel, sabia que ele tinha muita energia acumulada para gastar, com Caetano não era diferente e os dois juntos era impensável. Depois
ESTERPegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.— Que susto, Bruno.— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.— A senhora tem certeza?— Sim!— Obrigado.Deixei a mala ao lado do sofá e
BRUNO Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa. Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças. Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta. — Que susto, Bruno. — Ester! — Fiquei de pé rapidamente. — Não esperava te encontrar acordado a essa hora. — Estava esperando a senhora c
ESTERDepois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.— Sabe dizer quem é?— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.— Vou atender. Obrigada.Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de cost
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f
ESTERQuando chegamos em casa, fui dar uma olhada na agenda de Caetano e vi que tinha um bilhete sobre a apresentação de dia das mães marcada para o dia seguinte as quatro horas da tarde. Era óbvio que eu não poderia perder.— Mamãe!— Que foi, Caetano?— A gente vai poder ir na casa do Miguel?— Vou ligar para a mãe dele, tá bom?— Tá.Pegando o celular dentro da bolsa, disquei para o número de Nádia e no segundo toque, ela atendeu. Conversamos por um tempinho até que perguntei se Miguel estava bem já que ele nao tinha ido a aula e ela me tranquilizou dizendo que o filho só não tinha ido a aula porque eles voltaram tarde da casa da sogra dela.— Caetano estava querendo ir até a sua casa, mas acho melhor combinarmos no final de semana.— Por mim, está ótimo.— Vou fazer um lanche para a gente a você traz o Miguel.— Maravilha!— Amanhã tem a apresentação de dia das mães lá na escola, você vai?— Claro! Se eu não for, Miguel fica emburrado comigo.— Então nos vemos amanhã.— Ester!— S