Capítulo 5

ESTER

Eu tinha passado o restante do dia sem notícias do meu filho, por estar tão ocupada e envolvida com o evento, acabei nem tendo tempo de ligar para Bruno. Só quando voltei para o hotel foi que consegui ligar o babá, mas para minha infelicidade, ele não atendeu. Tentei de novo por mais umas quatro vezes, mas sem sucesso e isso me fez começar a pensar que algo de ruim tinha acontecido.

Quando tentei mais uma vez, ele atendeu, eu estava pronta para soltar os cachorros em cima dele, mas a voz do outro lado da linha soou tão calma que entendi que estava tudo bem e a única pessoa neurótica ali, era eu.

— Bruno, aconteceu alguma coisa com o Caetano? — Foi a primeira coisa que saiu da minh boca.

— Não, ele está muito bem.

— E por que não atendeu as minhas ligações?

— Eu estava ocupado e não tinha escutado o celular tocar.

— Posso falar com o meu filho?

— Claro, só um instante que vou entregar o celular a ele.

Deu para ouvir quando ele afastou o celular do rosto porque o som da sua respiração ficou longe, logo depois ouvi a voz de Caetano do outro lado da linha telefônica e isso me tranquilizou. Só de ouvir a voz animada dele, toda a preocupação se esvaiu do meu corpo.

— Mamãe!

— Oi, meu filho. Como você está?

— Eu tô muito bem.

— E você se divertiu muito hoje?

— Sim, o Heitor veio brincar comigo e a gente jogou bola, depois o tio Bruno brincou com a gente a tarde toda.

— E você não jogou video-game?

— Não, mas o tio Bruno disse que eu posso jogar um pouco depois da janta.

— Lembre-se de que é só por um pouco.

— Eu sei, mãe.

— Você está gostando de ficar com o tio Bruno?

— Sim! Será que você pode chamar ele ao invés daquelas babás chatas?

— Vou conversar isso com ele depois.

— Obrigado, mamãe.

— Deixa eu falar com o tio Bruno um pouco?

— Vou passar para ele. Te amo, mãe.

— Também te amo muito, meu filho. Dorme com os anjinhos, tá?

— Você também.

Consegui ouvir quando uma porta se fechou e meu pequeno chamou por Bruno, fiquei tentando imaginar o que eles estavam fazendo, mas logo meus pensamentos foram interromidos quando ouvi aquela voz rouca e sexy para caralho do outro lado da linha.

— Ester?

— Bruno, eu queria me desculpar pelo modo como eu falei com você, é muito difícil para uma mãe ficar longe do filho.

— Está tudo bem, não se preocupe.

— Caetano me contou que ele brincou a tarde toda com você e o filho da vizinha.

— Sim.

— Ele não pediu para jogar video-game e nem mexer no celular em nenhum momento?

— Acho que ele nem se lembrou das telas.

— Isso é maravilhoso. Qual o milagre que você fez?

— Não fiz nada demais, apenas o deixei entretido com brincadeiras fora de casa.

— Pode deixar ele jogar por uma hora e meia depois da janta.

— Tudo bem.

— Tenha uma boa noite, Bruno.

— Igualmente, Ester.

Depois que desliguei o telefone, me senti mais calma por saber que meu garotinho estava bem e, que, pela primeira vez, tinha ficado sem usar o video-game e sem ver televisão. Depois de um banho relaxante, me pedi uma refeição por aplicativo e depois adormecei.

BRUNO

Fiquei surpreso pelo pedido de desculpas de Ester, por um lado eu entendia ela, era difícil confiar seu filho a um homem estranho. Por incrível que pareça, Ester até que é tranquila porque já lidei com mães mais neuróticas do que ela.

Depois de guardar o celular no bolso da calça, deixei a caixa da pizza sobre a mesa e chamei o pequeno pestinha para comermos. O menino estava mesmo com fome porque devorou duas fatias grandes, o que era considerado muito para uma criança de só seis anos.

— A pizza estava boa? — perguntei enquanto dava uma mordida na borda recheada de cheddar.

— Uma delícia. Melhor do que a pizza que a minha mãe pede.

— Vou passar o telefone para ela quando ela voltar de viagem.

— Será que eu posso jogar agora?

— Pode sim, garotão.

O garoto saiu da mesa e foi correndo para a sala. Fiquei observando-o enquanto ligava o aparelho e pegava os controles em um suporte próprio. Ele parecia gostar mesmo de jogar.

— Você quer jogar comigo, tio Bruno?

— Quero sim, mas primeiro eu tenho que lavar toda a louça. Pode ser?

— Tá bom, eu espero.

— Pode ir jogando sozinho, que depois eu entro.

Enquanto ele ficou sentado no sofá da sala, recolhi nossos pratos e copos, levando-os para a cozinha junto com o restante da pizza que tinha sobrado. Enquanto lavava a louça, fiquei escutando ele jogar, pelo sons que chegavam até a cozinha, suspeitei de que era o Super Mario Odyssey.

— Eu adoro esse jogo — comentei quando me sentei ao seu lado no sofá.

— Então você vai me ajudar a passar dessa fase, né? — Caetano me passou o segundo controle. — Estou preso a um tempão nessa fase chata.

— Ajudo sim.

Liguei o cronômetro no meu relógio, estava decidido a cumprir a ordem da mãe dele e só deixar o garoto jogar por uma hora e meia. Depois que ele fosse dormir, eu poderia terminar meu desenho e pegar o computador para trabalhar um pouco na minha animação.

Quando o relógio apitou, informei ao menino que estava na hora de desligar e ir para a cama. Caetano prontamente desligou o aparelho e foi para o banheiro, escovou os dentes e foi para o quarto. Assim que coloquei a cabeça para dentro do quarto, vi que ele estava ajoelhado ao lado da cama, com as mãos unidas e os olhos fechados, ele estava rezando.

— Pronto para dormir, garotão?

— Sim.

— Deixa eu conferir se os dentes estão bem escovados?

Ele deu um grande sorriso e falei que estava ótimo, então baguncei seus cabelos. Caetano se deitou e eu o cobri.

— Boa noite, garotão. Se precisar de alguma coisa, vou estar no quarto ao lado, tudo bem?

Caetano assentiu e então comecei a sair do quarto dele, ia apagar a luz, mas ele pediu para deixar o abajur, em forma de foguete, ligado.

Assim que voltei para a sala, abri o caderno de desenho e continuei o desenho que tinha começado na parte da tarde. Tomei um susto quando vi Caetano ao meu lado.

— O que está fazendo de pé?

— Eu vim pegar água. O que você está fazendo?

— Desenhando.

— Que legal, minha mãe também faz muitos desenhos e depois eles viram filme, sabia?

— Eu sei, sempre acompanho o trabalho dela, mas agora você precisa ir dormir.

— Tá bom. Boa noite, tio Bruno.

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