ESTER
O dia tinha começado tão bem, nada era melhor do que poder dormir confortavelmente e acordar sem precisar me preocupar com horário e nem com criança. Aproveitei para descer e desfrutar do farto café da manhã oferecido pelo hotel e depois fui curtir a piscina e um pouco da sauna.Assim que voltei ao meu quarto, já comecei a me arrumar para ir ao evento, estava enrolando meu cabelo na toalha quando meu celular começou a tocar, peguei o aparelho em cima da cama e deslizei o dedo pela tela sem nem ver quem estava ligando.— Oi, mamãe.— Oi, meu amorzinho. Como você está?— Eu tô bem.— Dormiu direitinho?— Sim e nem tive pesadelo.— Mas que notícia boa.— Eu tô com saudades, mamãe.— Eu também estou, filhotinho.— Quando você vai voltar?— Amanhã quando você acordar, já vou estar aí com você.— Tá bom. Eu te amo, mãe.— Eu também te amo, filho.Assim que encerrei a ligação, voltei a me arrumar, pois sabia que um carro passaria para me buscar por volta das dez e meia. Eu estava nervosa por ter que falar para tanta gente e ansiosa para receber esse prêmio que mudaria positivamente a minha carreira de animation designer.Quando já estava pronta, recebi uma mensagem de Nádia, achei um pouco estranho já que ela não era de ficar me enviando mensagem. Meus pensamentos pensaram logo se voltaram para algo de ruim que pudesse ter acontecido.
"Fiquei sabendo que você conseguiu o Bruno para ficar com o Caetano."
Meu Deus. As notícias correm mais rápido em cidade pequena.
"Você o conhece?"
"Sim, é sempre ele que fica com o Miguel quando eu preciso."
"Você não sabe o quanto é bom saber que ele é confiável. Eu estava muito receosa de ter deixado um homem como babá do Caetano."
"Confio nele de olhos fechados."
"E como você sabe que é o mesmo Bruno que está com o meu filho?"
"Ele veio aqui ainda agora buscar o Miguel, disse que ia levar os meninos para brincar ao ar livre."
"Entendi. E você deixou?"
"Claro! Foi até um alívio para mim porque a Antônia hoje está muito chorosa e enjoadinha."
Eu fiquei imaginando o quanto devia ser difícil cuidar de um menino levado de seis anos e uma recém nascida e não queria estar no lugar dela. Tudo bem que o marido e a família dela a ajudava , o que deixava a maternidade um pouco mais leve, mas certas coisas, só a mãe era capaz de resolver.
"Você viu como ele é bonito? E aquela voz rouca é capaz de deixar qualquer calcinha molhada."
"Não fiquei reparando muito." — menti, porque não precisava que ficassem sabendo e depois começassem a inventar mentiras. — "A voz dele é muito bonita mesmo, parece de locutor de rádio."
"Vou precisar sair, mais tarde a gente volta a conversar porque vou querer saber um pouco mais sobre esse Bruno."
Interrompi a troca de mensagens com Nádia e tratei logo de pegar a minha bolsa em cima da mala, guardei meu celular e desci para o saguão do hotel, onde um motorista já me esperava para levar ao local do evento.
O dia passou tão rápido, tinha tantas pessoas querendo falar comigo, jovens desenhistas com curiosidades sobre a profissão e pessoas que já trabalhavam no ramo da ilustração, além das enrevistas com os jornalistas, que nem consegui pegar o telefone para ver se alguém tinha me enviado mensagem ou ligado.
Quando voltei ao quarto de hotel, liguei o celular e vi que tinha recebido cinco mensagens do número de Bruno, curiosa e, ao mesmo tempo, preocupada, abri as mensagens. A primeira era uma foto de Caetano e Miguel soltando pipa, ambos com um sorriso estampado no rosto. A segunda era uma foto dos três jogados na grama rindo. Bruno estava fazendo tão bem ao meu pequeno, que até me senti um pouco mal por ter duvidado das habilidades de Bruno como babá. Que mãe não ficaria preocupada em deixar o filho com um estranho.
Comecei a recolher e guardar as minhas coisas na mala, até que decidi ligar para o meu pequeno, para desejar boa noite antes que eu embarcasse de vlta para casa. Depois de dois toques, a voz rouca de Bruno soou do outro lado da linha.
— Alô?
Meu Jesus cristinho, a voz dele era mesmo maravilhosa de ouvir e seria capaz de ficar ouvindo ele falar por um dia inteiro sem enjoar. Tratei de afastar tais pensamentos porque sabia que era errado por vários motivos. Primeiro, eu não sabia se ele era solteiro, em segundo lugar, eu era mais velha que ele e em terceiro lugar, porque eu já sabia que iam falar de mim por ter colocado um homem estranho dentro de casa para cuidar do meu filho.
— Oi, Bruno. — Finalmente consegui falar.
— Ester!
— Como estão as coisas por aí?
— Ótimo!
— Caetano está podendo falar?
— Ele acabou de entrar no banho, mas posso pedir para ele te retornar assim que sair.
— Tudo bem. Obrigada.
A chamada foi encerrada e continuei a arrumar as minhas coisas, tentei distrair a mente com um programa qualquer sobre a vida selvagem em algum canto da África. Cinco minutos depois, meu celular começou a tocar, era o número de Bruno então, rapidamente, tratei de atender.
— Mamãe!
— Oi, filhotinho.
— O tio Bruno falou que você queria falar comigo.
— Como foi o seu dia?
— Foi bom. Sabia que o tio Bruno ensinou eu e o Miguel a soltar pipa.
— É mesmo?
— Sim! Ele que fez as pipas.
— Mas esse tio Bruno não tem juízo, não?
Pude ouvir a risada gostosa da minha criança do outro lado da linha e meu peito se apertou com a saudade que estava sentindo dele.
— E o que mais vocês fizeram?
— A gente brincou de pique-pega e depois a gente voltou para casa para comer um almoço muito gostoso.
— Que legal, meu filho.
— Tô com saudades, mamãe.
— Eu também estou, meu pequeno.
— Você já tá vindo para casa?
— Vou chegar aí quando você já estiver dormindo.
— Tá bom.
— Por isso obedeça o tio Bruno e escova bem esses dentes antes de dormir.
— Eu sei.
BRUNODepois que pegamos Miguel na casa da Nádia, o menino veio correndo em minha direção, passando os braços ao redor do meu pescoço e deu um beijo na minha bochecha. Era tão bom poder revê-lo depois de tanto tempo.— Você conhece o tio Bruno? — ouvi Caetano perguntar para o amiguinho enquanto voltava para o banco do motorista.— Claro, né.— Legal!— Por que você não disse que conhecia o Miguel, tio Bruno?— Queria fazer surpresa para você.— Você me enganou. — Ele fingiu estar irritado e cruzou os braços na frente do corpo.— Preparados para aprender a soltar pipa?— Sim! — Eles disseram em uníssono.— Que cor você vai querer a sua pipa, Miguelito? — chamei-o pelo apelido carinhoso que tinha lhe dado no primeiro dia que tinha ficado com ele.— Vermelho.— Eu sabia!Levar os meninos para brincar fora de casa foi a melhor coisa que já fiz. Conhecendo Miguel, sabia que ele tinha muita energia acumulada para gastar, com Caetano não era diferente e os dois juntos era impensável. Depois
ESTERPegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.— Que susto, Bruno.— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.— A senhora tem certeza?— Sim!— Obrigado.Deixei a mala ao lado do sofá e
BRUNO Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa. Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças. Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta. — Que susto, Bruno. — Ester! — Fiquei de pé rapidamente. — Não esperava te encontrar acordado a essa hora. — Estava esperando a senhora c
ESTERDepois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.— Sabe dizer quem é?— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.— Vou atender. Obrigada.Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de cost
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f
ESTERQuando chegamos em casa, fui dar uma olhada na agenda de Caetano e vi que tinha um bilhete sobre a apresentação de dia das mães marcada para o dia seguinte as quatro horas da tarde. Era óbvio que eu não poderia perder.— Mamãe!— Que foi, Caetano?— A gente vai poder ir na casa do Miguel?— Vou ligar para a mãe dele, tá bom?— Tá.Pegando o celular dentro da bolsa, disquei para o número de Nádia e no segundo toque, ela atendeu. Conversamos por um tempinho até que perguntei se Miguel estava bem já que ele nao tinha ido a aula e ela me tranquilizou dizendo que o filho só não tinha ido a aula porque eles voltaram tarde da casa da sogra dela.— Caetano estava querendo ir até a sua casa, mas acho melhor combinarmos no final de semana.— Por mim, está ótimo.— Vou fazer um lanche para a gente a você traz o Miguel.— Maravilha!— Amanhã tem a apresentação de dia das mães lá na escola, você vai?— Claro! Se eu não for, Miguel fica emburrado comigo.— Então nos vemos amanhã.— Ester!— S
BRUNOEu estava quase terminando a minha animação quando o meu telefone tocou, não reconheci o número, mas aida bem que atendi porque a voz feminina do outro lado da linha se identificou como sendo a secretária de Ester.— Senhor Bruno?— Sim, sou eu.— Estou te ligando para avisar que o seu horário marcado com a senhora Ester, foi remarcado para amanhã porque ela teve um compromisso e os compromissos da tarde foram cancelados.— Tudo bem. Obrigado por me avisar.Assim que encerrei a chamada, larguei o celular em cima da mesa e respirei mais aliviado por saber que teria mais tempo para terminar a minha animação e, com mais calma, tinha certeza de que sairia bem melhor e bem mais profissional.Deixando o computador em cima da mesa, fui até a cozinha preparar alguma coisa para comer já que meu estômago estava roncando. Dei uma olhada nos armários e me dei conta de que teria que ir ao supermercado para fazer compras e reabastecer meus armários e geladeira.Peguei minha carteira e as chav
ESTERDepois da apresentação de dia das mães na escola de Caetano, estávamos a caminho de casa quando meu celular começou a tocar, conectei o fone de ouvido sem fio e atendi a ligação. Era meu irmão Caio.— Ester! Está ocupada?— Estou no trânsito a caminho de casa.— Será que posso te encontrar lá?— Claro! Aconteceu alguma coisa?— Não! Está tudo bem.— Chego em cinco minutos.— Te encontro lá então.Assim que encerrei a ligação, ouvi a voz de Caetano vindo do banco de trás. Como o menino era curioso. Jesus amado.— Quem era, mamãe?— O tio Caio, querido.— Ele voltou?— Sim.— Quando eu vou poder ver ele?— Assim que a gente chegar em casa.— Oba!Mal tinha entrado com o carro na garagem quando Caio apareceu no portão, Caetano saiu correndo e abraçou as pernas do tio, de quem ele gostava muito. Meu irmão logo depois de se desvencilhar do meu pestinha, me abraçou e pude notar que ele estava preocupado, a ruga no meio de sua testa deixava evidente.— Oi, irmãzinha — falou enquanto me