Capítulo 9

ESTER

Pegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.

Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.

— Que susto, Bruno.

— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.

— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.

— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.

— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?

— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.

— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.

— A senhora tem certeza?

— Sim!

— Obrigado.

Deixei a mala ao lado do sofá e quando passei para ir a cozinha, tive um vislumbre da tela do notebook antes que Bruno corresse para abaixar. Decidi fingir que não tinha visto e abri a geladeira para pegar um copo de água.

— Se estiver com fome, guardei o que sobrou do jantar no forno e a salada está na geladeira.

— Estou morrendo de fome — respondi enquanto pegava a travessa no forno. — Nossa eu adoro salmão.

Só de servir um pouco de salmão no meu prato, minha boca já tinha começado a salivar. Quando provei, foi como se estivesse comendo em um restaurante cinco estrelas.

— Nossa, está muito bom.

— Isso é Teppan de salmão, um prato da culinária japonesa. São pedaços do peixe acompanhados por shitake e legumes temperados.

— Onde você aprendeu a cozinhar tão bem assim?

— Tive muitas experiências na vida.

De repente, senti vontande de saber um pouco mais sobre a vida dele, mas ele não parecia muito a vontade de falar sobre o assunto, pelo menos, não comigo. O jeito seria sondar Nádia e deixar ela me contar, porque ela parecia saber mais sobre ele.

— O que você estava fazendo no computador? — perguntei tentando não deixar que a conversa entre a gente morresse.

— Só me divertindo um pouco.

— Posso ver? — Eu sabia que estava sendo muito invasiva, mas pelo vislumbre que eu tinha tido, ele parecia estar mexendo com desenhos.

Bruno pareceu um pouco descofortável diante da minha pergunta, mas depois pareceu se decidir e abriu a tela de seu notebook. Minha dúvida deu lugar a certeza. Eu não estava errada, ele estava mesmo fazendo suas animações.

— Nossa! Isso está... muito lindo, Bruno.

— Obrigado. — Percebi quando ele ficou meio envergonhado e passou os dedos pelos cabelos.

— Você fez algum curso?

— Na verdade, eu fui aprendendo com tutoriais na internet.

— Está falando sério?

— Sim.

— O nível das suas animações é quase profissional — falei dando mais uma olhada para a tela. — Por que não queria que eu visse?

— Porque eu sou seu fã e sei que você é a melhor.

— Já pensou em trabalhar com isso?

— Não acho que eu seja bom o suficiente para fazer disso a minha profissão. Posso te fazer uma pergunta, Ester?

— Mas é claro!

— Por que você está querendo me ajudar?

— Eu sei reconhecer quando a pessoa tem talento e você tem.

— Obrigado.

— Se quiser, posso te ajudar.

— Não quero me aproveitar da sua boa vontade.

— Eu faço questão. — Lhe passei um cartão de visitas meu.

Terminei de comer o salmão e deixei o prato dentro da pia, peguei a minha mala e fui para o meu quarto, deixando Bruno pensar na minha oferta. Estava precisando descansar e não demorou muito para que eu pegasse no sono.

Pela manhã, acordei com Caetano pulando na minha cama, virei de repente e o peguei pelas pernas, derrubando-o sentado no chão. Não tinha nem como ficar brava com ele porque eu também estava morrendo de saudades.

— Vamos tomar café da manhã? — Ele perguntou animado.

— Vamos! 

Peguei o robe de seda e o vesti, passando em frente ao quarto de hóspedes, notei que estava vazio e muito bem arrumado, nem parecia que alguém tinha dormido ali. Senti uma decepçãozinha, pois ainda tinha uma esperança de encontrar Bruno.

— O tio Bruno já foi embora, mãe. — Caetano comentou quando percebeu que eu estava olhando para dentro do quarto.

— Eu sei, querido — passei os dedos pelo seu cabelo, bagunçando-os.

— Mãe!

— Desculpa.

— Você vai me levar para a escola?

— Claro, meu amor.

Quando chegamos à cozinha, fiquei surpresa por me deparar com uma mesa já arrumada para nós dois e com fartura. Suco de laranja, café, torradas, geleia, leite com chocolate, frutas, ovos com bacon e cereal.

— Gostou, mãe?

— Sim!

— Isso foi ideia sua?

— Não, o tio Bruno que fez para a gente antes de ir embora.

— Ah tá. — Foi a única coisa que saiu da minha boca.

Nos sentamos e me servi de um xícara de café, uma banda de mamão com granola enquanto meu pequeno se serviu de leite com chocolate e biscoitos cookie caseiros. Não resisti e acabei provando o biscoito também, que estava delicioso, macio por dentro e com casquinha por fora, como devia ser. Percebi que tinha ficado preocupada a toa durante a viagem, porque, na verdade, tinha deixado meu filho em ótimas mãos.

— Não demore para comer para não chegar atrasado na escola.

bom, mamãe — respondeu entre um gole de leite e uma mordida do biscoito.

Quando terminei o café da manhã, voltei ao meu quarto e troquei a camisola por uma roupa decente, peguei a mochila e a lancheira enquanto Caetano terminava de colocar os tênis. Foi então que notei um bilhete pregado ao lado da lancheira. Quando passei os olhos, vi que era de Bruno. Guardei no bolso, leria com mais calma porque já estávamos atrasados.

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