ESTER
Pegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.
Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.
— Que susto, Bruno.
— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.
— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.
— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.
— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?
— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.
— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.
— A senhora tem certeza?
— Sim!
— Obrigado.
Deixei a mala ao lado do sofá e quando passei para ir a cozinha, tive um vislumbre da tela do notebook antes que Bruno corresse para abaixar. Decidi fingir que não tinha visto e abri a geladeira para pegar um copo de água.
— Se estiver com fome, guardei o que sobrou do jantar no forno e a salada está na geladeira.
— Estou morrendo de fome — respondi enquanto pegava a travessa no forno. — Nossa eu adoro salmão.
Só de servir um pouco de salmão no meu prato, minha boca já tinha começado a salivar. Quando provei, foi como se estivesse comendo em um restaurante cinco estrelas.
— Nossa, está muito bom.
— Isso é Teppan de salmão, um prato da culinária japonesa. São pedaços do peixe acompanhados por shitake e legumes temperados.
— Onde você aprendeu a cozinhar tão bem assim?
— Tive muitas experiências na vida.
De repente, senti vontande de saber um pouco mais sobre a vida dele, mas ele não parecia muito a vontade de falar sobre o assunto, pelo menos, não comigo. O jeito seria sondar Nádia e deixar ela me contar, porque ela parecia saber mais sobre ele.
— O que você estava fazendo no computador? — perguntei tentando não deixar que a conversa entre a gente morresse.
— Só me divertindo um pouco.
— Posso ver? — Eu sabia que estava sendo muito invasiva, mas pelo vislumbre que eu tinha tido, ele parecia estar mexendo com desenhos.
Bruno pareceu um pouco descofortável diante da minha pergunta, mas depois pareceu se decidir e abriu a tela de seu notebook. Minha dúvida deu lugar a certeza. Eu não estava errada, ele estava mesmo fazendo suas animações.
— Nossa! Isso está... muito lindo, Bruno.
— Obrigado. — Percebi quando ele ficou meio envergonhado e passou os dedos pelos cabelos.
— Você fez algum curso?
— Na verdade, eu fui aprendendo com tutoriais na internet.
— Está falando sério?
— Sim.
— O nível das suas animações é quase profissional — falei dando mais uma olhada para a tela. — Por que não queria que eu visse?
— Porque eu sou seu fã e sei que você é a melhor.
— Já pensou em trabalhar com isso?
— Não acho que eu seja bom o suficiente para fazer disso a minha profissão. Posso te fazer uma pergunta, Ester?
— Mas é claro!
— Por que você está querendo me ajudar?
— Eu sei reconhecer quando a pessoa tem talento e você tem.
— Obrigado.
— Se quiser, posso te ajudar.
— Não quero me aproveitar da sua boa vontade.
— Eu faço questão. — Lhe passei um cartão de visitas meu.
Terminei de comer o salmão e deixei o prato dentro da pia, peguei a minha mala e fui para o meu quarto, deixando Bruno pensar na minha oferta. Estava precisando descansar e não demorou muito para que eu pegasse no sono.
Pela manhã, acordei com Caetano pulando na minha cama, virei de repente e o peguei pelas pernas, derrubando-o sentado no chão. Não tinha nem como ficar brava com ele porque eu também estava morrendo de saudades.
— Vamos tomar café da manhã? — Ele perguntou animado.
— Vamos!
Peguei o robe de seda e o vesti, passando em frente ao quarto de hóspedes, notei que estava vazio e muito bem arrumado, nem parecia que alguém tinha dormido ali. Senti uma decepçãozinha, pois ainda tinha uma esperança de encontrar Bruno.
— O tio Bruno já foi embora, mãe. — Caetano comentou quando percebeu que eu estava olhando para dentro do quarto.
— Eu sei, querido — passei os dedos pelo seu cabelo, bagunçando-os.
— Mãe!
— Desculpa.
— Você vai me levar para a escola?
— Claro, meu amor.
Quando chegamos à cozinha, fiquei surpresa por me deparar com uma mesa já arrumada para nós dois e com fartura. Suco de laranja, café, torradas, geleia, leite com chocolate, frutas, ovos com bacon e cereal.
— Gostou, mãe?
— Sim!
— Isso foi ideia sua?
— Não, o tio Bruno que fez para a gente antes de ir embora.
— Ah tá. — Foi a única coisa que saiu da minha boca.
Nos sentamos e me servi de um xícara de café, uma banda de mamão com granola enquanto meu pequeno se serviu de leite com chocolate e biscoitos cookie caseiros. Não resisti e acabei provando o biscoito também, que estava delicioso, macio por dentro e com casquinha por fora, como devia ser. Percebi que tinha ficado preocupada a toa durante a viagem, porque, na verdade, tinha deixado meu filho em ótimas mãos.
— Não demore para comer para não chegar atrasado na escola.
— Tá bom, mamãe — respondeu entre um gole de leite e uma mordida do biscoito.
Quando terminei o café da manhã, voltei ao meu quarto e troquei a camisola por uma roupa decente, peguei a mochila e a lancheira enquanto Caetano terminava de colocar os tênis. Foi então que notei um bilhete pregado ao lado da lancheira. Quando passei os olhos, vi que era de Bruno. Guardei no bolso, leria com mais calma porque já estávamos atrasados.
BRUNO Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa. Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças. Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta. — Que susto, Bruno. — Ester! — Fiquei de pé rapidamente. — Não esperava te encontrar acordado a essa hora. — Estava esperando a senhora c
ESTERDepois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.— Sabe dizer quem é?— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.— Vou atender. Obrigada.Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de cost
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f
ESTERQuando chegamos em casa, fui dar uma olhada na agenda de Caetano e vi que tinha um bilhete sobre a apresentação de dia das mães marcada para o dia seguinte as quatro horas da tarde. Era óbvio que eu não poderia perder.— Mamãe!— Que foi, Caetano?— A gente vai poder ir na casa do Miguel?— Vou ligar para a mãe dele, tá bom?— Tá.Pegando o celular dentro da bolsa, disquei para o número de Nádia e no segundo toque, ela atendeu. Conversamos por um tempinho até que perguntei se Miguel estava bem já que ele nao tinha ido a aula e ela me tranquilizou dizendo que o filho só não tinha ido a aula porque eles voltaram tarde da casa da sogra dela.— Caetano estava querendo ir até a sua casa, mas acho melhor combinarmos no final de semana.— Por mim, está ótimo.— Vou fazer um lanche para a gente a você traz o Miguel.— Maravilha!— Amanhã tem a apresentação de dia das mães lá na escola, você vai?— Claro! Se eu não for, Miguel fica emburrado comigo.— Então nos vemos amanhã.— Ester!— S
BRUNOEu estava quase terminando a minha animação quando o meu telefone tocou, não reconheci o número, mas aida bem que atendi porque a voz feminina do outro lado da linha se identificou como sendo a secretária de Ester.— Senhor Bruno?— Sim, sou eu.— Estou te ligando para avisar que o seu horário marcado com a senhora Ester, foi remarcado para amanhã porque ela teve um compromisso e os compromissos da tarde foram cancelados.— Tudo bem. Obrigado por me avisar.Assim que encerrei a chamada, larguei o celular em cima da mesa e respirei mais aliviado por saber que teria mais tempo para terminar a minha animação e, com mais calma, tinha certeza de que sairia bem melhor e bem mais profissional.Deixando o computador em cima da mesa, fui até a cozinha preparar alguma coisa para comer já que meu estômago estava roncando. Dei uma olhada nos armários e me dei conta de que teria que ir ao supermercado para fazer compras e reabastecer meus armários e geladeira.Peguei minha carteira e as chav
ESTERDepois da apresentação de dia das mães na escola de Caetano, estávamos a caminho de casa quando meu celular começou a tocar, conectei o fone de ouvido sem fio e atendi a ligação. Era meu irmão Caio.— Ester! Está ocupada?— Estou no trânsito a caminho de casa.— Será que posso te encontrar lá?— Claro! Aconteceu alguma coisa?— Não! Está tudo bem.— Chego em cinco minutos.— Te encontro lá então.Assim que encerrei a ligação, ouvi a voz de Caetano vindo do banco de trás. Como o menino era curioso. Jesus amado.— Quem era, mamãe?— O tio Caio, querido.— Ele voltou?— Sim.— Quando eu vou poder ver ele?— Assim que a gente chegar em casa.— Oba!Mal tinha entrado com o carro na garagem quando Caio apareceu no portão, Caetano saiu correndo e abraçou as pernas do tio, de quem ele gostava muito. Meu irmão logo depois de se desvencilhar do meu pestinha, me abraçou e pude notar que ele estava preocupado, a ruga no meio de sua testa deixava evidente.— Oi, irmãzinha — falou enquanto me
BRUNODepois de colocar Miguel para dormir, fui me sentar no sofá para ver série, mas acabei pegando no sono. Acordei assustado com meu celular tocando, quando olhei a tela, descobri que era Lia, uma garota com quem eu saía as vezes.— Alô? — Minha voz saiu sonolenta.— Oi, Bruno.— Lia! Que surpresa receber uma ligação sua.— Você está em casa, bonitão?— Sim, mas...— Então abre a porta para mim.Meu Deus! Lia simplesmente resolveu aparecer na minha porta justamente quando eu estava tomando cuidando de uma criança. Como eu ia explicar para ela que eu estava trabalhando? Me levantei do sofá e fui fechar a porta do quarto para não correr o risco de Miguel acordar.Assim que abri a porta do meu apartamento, me deparei com Lia usando um vestido preto brilhoso que mal chegava até o meio de suas coxas torneadas, sandálias de salto alto, o cabelo estava solto e levemente bagunçado.— O que veio fazer aqui, Lia?— Eu estava com saudades de você. — O cheiro de bebida chegou ao meu nariz.— V
ESTERDepois da correria, deixei meu pequeno no colégio e me preparei psicologicamente para o longo dia que teria pela frente. Cumprimentei os funcionários que encontrei no caminho até a minha sala e ao passar pela minha secretária, ela já veio atrás de mim com um monte de papéis. Antes de entrar, notei um homem sentado em um dos bancos e quando ele levantou a cabeça, quase caí para trás.— Bruno?— Ah, oi. — O que está fazendo aqui?— Ele tem uma reunião marcada com a senhora agora de manhã.— Reunião?— Sim, era para ter sido ontem, mas como a senhora precisou desmarcar tudo, remarquei para hoje de manhã.— É que você tinha falado que era para te procurar e é isso que vim fazer. — Ele ficou de pé e passou a mão pelos cabelos, parecia envergonhado.— Pode levá-lo para a sala de reuniões enquanto eu assino esses documentos, Márcia?— Claro!Entrei na minha sala, deixando a bolsa pendurada no suporte, comecei a assinar os documentos e em poucos segundos já estava a caminho da sala de