Capítulo 11

ESTER

Depois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.

— Sabe dizer quem é?

— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.

— Vou atender. Obrigada.

Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.

A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de costas, sentada à frente da minha mesa. Pela estatura, o corte de cabelo e o modo de vestir, logo vi que era um homem.

— Pois não? — perguntei quando dava a volta na minha mesa para me sentar na cadeira.

— Não reconhece mais o seu irmão?

— Caio! — rapidamente fiquei de pé e me aproximei. — Que surpresa vê-lo por aqui.

Ele me envolveu num abraço apertado. Era tão bom poder ter meu irmão caçula de volta em casa, a presença dele fazia falta em minha vida. Quando Caio contou para a família que estava indo embora do país para seguir na carreira de jogador de basquete internacional, foi como se tivessem arrancado o tapete da minha mãe.

— Está na cidade a passeio?

— Na verdade, eu vim pra ficar de vez.

— Mamãe já está sabendo que você está na cidade?

— Ainda não. Vim direto do aeroporto para cá.

— Ela vai surtar quando te ver.

— Tenho certeza que sim.

— Vou almoçar com ela daqui a pouco, por que não aproveita para fazer a surpresa?

— Acho uma ótima ideia.

Ficamos conversando sobre as novidades de nossas vidas até o horário que tinha combinado de almoçar com a minha mãe. Fomos no meu carro, para não chamar muito atenção, Caio ficou sentado no balcão, de costas para a mesa onde eu estava e assim que minha mãe chegou, estava tão esbaforida, que nem notou nada ao seu redor.

O garçom trouxe dois copos de água e antes de fazermos o pedido, Caio se aproximou por detrás da minha mãe e tocou seu ombro, quando ela se virou para reclamar, quase caiu da cadeira quando percebeu que era seu filho. Depois do susto, ela foi só abraços e sorrisos.

— Quando você chegou?

— Faz alguns minutos, mas fui direto encontrar a Ester.

— Ester, você sabia que ele estava na cidade e nem me falou.

— Na verdade, eu também fui surpreendida, porque não esperava encontrá-lo na minha sala.

— Está feliz, mãe? — Caio perguntou com um largo sorriso no rosto.

— Claro!

— Eu ainda tenho uma dúvida — falei porque estava achando a volta dele meio estranha. 

— Pode falar.

— Por que você decidiu voltar para ficar de vez?

— A verdade é que sofri uma lesão no joelho e isso meio que foi o responsável por eu me aposentar das quadras.

— Que horror, meu filho. Por que não falou nada com a gente?

— Eu não queria preocupar vocês, além do mais, fui muito bem cuidado e já estou bom de novo.

— Isso que é importante — tentei ficar do lado de Caio.

Passamos o almoço todo conversando, tínhamos muito assunto para colocar em dia, mas tive que deixar mãe e filho sozinhos, pois tive que voltar para a empresa, ainda tinha muito trabalho a ser feito até o fim do dia.

Quando saí do restaurante, estava concentrada no celular e, por isso, acabei esbarrando num pedestre, mas quando ergui a cabeça, vi que era Bruno. A probabilidade de encontrá-lo no meio de 711 mil pessoas que moram nessa cidade era quase nula, mas ainda sim, acabamos nos esbarrando.

— Você está bem, Ester?

— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.

— E o Caetano?

— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.

— Foi só um agrado, nada demais.

— Eu preciso ir, estou atrasada. — Dei um até logo e entrei no meu carro.

Respirei fundo e girei a chave na ignição. Eu queria saber o motivo de Bruno mexer tanto com os meus sentimentos. Era certo que eu não tinha me deitado com nenhum homem desde a morte do meu marido, mas não devia ser só isso. Tinha algo de especial em Bruno que me atraía.

Quando o relógio marcou quatro horas da tarde, deixei tudo para trás e fui buscar meu pequeno na escola, mal podia esperar para encontrar Nádia para podermos conversar, tinha tanta coisa para perguntar a ela, mas também não poderia ser tão descarada.

Assim que estacionei o carro numa vaga, desci e fui esperar Caetano no portão da escola, passei os olhos pelos pais e mães que esperavam por ali, mas não vi Nádia. Poucos segundos depois, meu pequeno pestinha saiu correndo portão a fora e se jogou os meus braços.

— Mamãe!

— Oi, meu filhotinho.

— O Miguel não veio na aula hoje, sabia?

— O que aconteceu com ele? Será que está doente?

— Eu não sei.

— O que acha da gente fazer uma visita para ele depois?

— Oba! Eu quero.

— Então depois vou ligar para a mãe dele para saber se a gente pode ir lá. Combinado?

— Combinado.

— Eu tenho uma surpresa para você lá em casa — falei enquanto o prendia na cadeirinha.

— E o que é?

— Você vai ver quando a gente chegar lá.

— É de comer?

— Não, não é de comer.

— É de brincar? — Sabia que ele perguntaria isso achando que poderia ser algum brinquedo.

— Também não.

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