ESTER
Depois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.
— Sabe dizer quem é?
— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.
— Vou atender. Obrigada.
Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.
A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de costas, sentada à frente da minha mesa. Pela estatura, o corte de cabelo e o modo de vestir, logo vi que era um homem.
— Pois não? — perguntei quando dava a volta na minha mesa para me sentar na cadeira.
— Não reconhece mais o seu irmão?
— Caio! — rapidamente fiquei de pé e me aproximei. — Que surpresa vê-lo por aqui.
Ele me envolveu num abraço apertado. Era tão bom poder ter meu irmão caçula de volta em casa, a presença dele fazia falta em minha vida. Quando Caio contou para a família que estava indo embora do país para seguir na carreira de jogador de basquete internacional, foi como se tivessem arrancado o tapete da minha mãe.
— Está na cidade a passeio?
— Na verdade, eu vim pra ficar de vez.
— Mamãe já está sabendo que você está na cidade?
— Ainda não. Vim direto do aeroporto para cá.
— Ela vai surtar quando te ver.
— Tenho certeza que sim.
— Vou almoçar com ela daqui a pouco, por que não aproveita para fazer a surpresa?
— Acho uma ótima ideia.
Ficamos conversando sobre as novidades de nossas vidas até o horário que tinha combinado de almoçar com a minha mãe. Fomos no meu carro, para não chamar muito atenção, Caio ficou sentado no balcão, de costas para a mesa onde eu estava e assim que minha mãe chegou, estava tão esbaforida, que nem notou nada ao seu redor.
O garçom trouxe dois copos de água e antes de fazermos o pedido, Caio se aproximou por detrás da minha mãe e tocou seu ombro, quando ela se virou para reclamar, quase caiu da cadeira quando percebeu que era seu filho. Depois do susto, ela foi só abraços e sorrisos.
— Quando você chegou?
— Faz alguns minutos, mas fui direto encontrar a Ester.
— Ester, você sabia que ele estava na cidade e nem me falou.
— Na verdade, eu também fui surpreendida, porque não esperava encontrá-lo na minha sala.
— Está feliz, mãe? — Caio perguntou com um largo sorriso no rosto.
— Claro!
— Eu ainda tenho uma dúvida — falei porque estava achando a volta dele meio estranha.
— Pode falar.
— Por que você decidiu voltar para ficar de vez?
— A verdade é que sofri uma lesão no joelho e isso meio que foi o responsável por eu me aposentar das quadras.
— Que horror, meu filho. Por que não falou nada com a gente?
— Eu não queria preocupar vocês, além do mais, fui muito bem cuidado e já estou bom de novo.
— Isso que é importante — tentei ficar do lado de Caio.
Passamos o almoço todo conversando, tínhamos muito assunto para colocar em dia, mas tive que deixar mãe e filho sozinhos, pois tive que voltar para a empresa, ainda tinha muito trabalho a ser feito até o fim do dia.
Quando saí do restaurante, estava concentrada no celular e, por isso, acabei esbarrando num pedestre, mas quando ergui a cabeça, vi que era Bruno. A probabilidade de encontrá-lo no meio de 711 mil pessoas que moram nessa cidade era quase nula, mas ainda sim, acabamos nos esbarrando.
— Você está bem, Ester?
— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.
— E o Caetano?
— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.
— Foi só um agrado, nada demais.
— Eu preciso ir, estou atrasada. — Dei um até logo e entrei no meu carro.
Respirei fundo e girei a chave na ignição. Eu queria saber o motivo de Bruno mexer tanto com os meus sentimentos. Era certo que eu não tinha me deitado com nenhum homem desde a morte do meu marido, mas não devia ser só isso. Tinha algo de especial em Bruno que me atraía.
Quando o relógio marcou quatro horas da tarde, deixei tudo para trás e fui buscar meu pequeno na escola, mal podia esperar para encontrar Nádia para podermos conversar, tinha tanta coisa para perguntar a ela, mas também não poderia ser tão descarada.
Assim que estacionei o carro numa vaga, desci e fui esperar Caetano no portão da escola, passei os olhos pelos pais e mães que esperavam por ali, mas não vi Nádia. Poucos segundos depois, meu pequeno pestinha saiu correndo portão a fora e se jogou os meus braços.
— Mamãe!
— Oi, meu filhotinho.
— O Miguel não veio na aula hoje, sabia?
— O que aconteceu com ele? Será que está doente?
— Eu não sei.
— O que acha da gente fazer uma visita para ele depois?
— Oba! Eu quero.
— Então depois vou ligar para a mãe dele para saber se a gente pode ir lá. Combinado?
— Combinado.
— Eu tenho uma surpresa para você lá em casa — falei enquanto o prendia na cadeirinha.
— E o que é?
— Você vai ver quando a gente chegar lá.
— É de comer?
— Não, não é de comer.
— É de brincar? — Sabia que ele perguntaria isso achando que poderia ser algum brinquedo.
— Também não.
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f
ESTERQuando chegamos em casa, fui dar uma olhada na agenda de Caetano e vi que tinha um bilhete sobre a apresentação de dia das mães marcada para o dia seguinte as quatro horas da tarde. Era óbvio que eu não poderia perder.— Mamãe!— Que foi, Caetano?— A gente vai poder ir na casa do Miguel?— Vou ligar para a mãe dele, tá bom?— Tá.Pegando o celular dentro da bolsa, disquei para o número de Nádia e no segundo toque, ela atendeu. Conversamos por um tempinho até que perguntei se Miguel estava bem já que ele nao tinha ido a aula e ela me tranquilizou dizendo que o filho só não tinha ido a aula porque eles voltaram tarde da casa da sogra dela.— Caetano estava querendo ir até a sua casa, mas acho melhor combinarmos no final de semana.— Por mim, está ótimo.— Vou fazer um lanche para a gente a você traz o Miguel.— Maravilha!— Amanhã tem a apresentação de dia das mães lá na escola, você vai?— Claro! Se eu não for, Miguel fica emburrado comigo.— Então nos vemos amanhã.— Ester!— S
BRUNOEu estava quase terminando a minha animação quando o meu telefone tocou, não reconheci o número, mas aida bem que atendi porque a voz feminina do outro lado da linha se identificou como sendo a secretária de Ester.— Senhor Bruno?— Sim, sou eu.— Estou te ligando para avisar que o seu horário marcado com a senhora Ester, foi remarcado para amanhã porque ela teve um compromisso e os compromissos da tarde foram cancelados.— Tudo bem. Obrigado por me avisar.Assim que encerrei a chamada, larguei o celular em cima da mesa e respirei mais aliviado por saber que teria mais tempo para terminar a minha animação e, com mais calma, tinha certeza de que sairia bem melhor e bem mais profissional.Deixando o computador em cima da mesa, fui até a cozinha preparar alguma coisa para comer já que meu estômago estava roncando. Dei uma olhada nos armários e me dei conta de que teria que ir ao supermercado para fazer compras e reabastecer meus armários e geladeira.Peguei minha carteira e as chav
ESTERDepois da apresentação de dia das mães na escola de Caetano, estávamos a caminho de casa quando meu celular começou a tocar, conectei o fone de ouvido sem fio e atendi a ligação. Era meu irmão Caio.— Ester! Está ocupada?— Estou no trânsito a caminho de casa.— Será que posso te encontrar lá?— Claro! Aconteceu alguma coisa?— Não! Está tudo bem.— Chego em cinco minutos.— Te encontro lá então.Assim que encerrei a ligação, ouvi a voz de Caetano vindo do banco de trás. Como o menino era curioso. Jesus amado.— Quem era, mamãe?— O tio Caio, querido.— Ele voltou?— Sim.— Quando eu vou poder ver ele?— Assim que a gente chegar em casa.— Oba!Mal tinha entrado com o carro na garagem quando Caio apareceu no portão, Caetano saiu correndo e abraçou as pernas do tio, de quem ele gostava muito. Meu irmão logo depois de se desvencilhar do meu pestinha, me abraçou e pude notar que ele estava preocupado, a ruga no meio de sua testa deixava evidente.— Oi, irmãzinha — falou enquanto me
BRUNODepois de colocar Miguel para dormir, fui me sentar no sofá para ver série, mas acabei pegando no sono. Acordei assustado com meu celular tocando, quando olhei a tela, descobri que era Lia, uma garota com quem eu saía as vezes.— Alô? — Minha voz saiu sonolenta.— Oi, Bruno.— Lia! Que surpresa receber uma ligação sua.— Você está em casa, bonitão?— Sim, mas...— Então abre a porta para mim.Meu Deus! Lia simplesmente resolveu aparecer na minha porta justamente quando eu estava tomando cuidando de uma criança. Como eu ia explicar para ela que eu estava trabalhando? Me levantei do sofá e fui fechar a porta do quarto para não correr o risco de Miguel acordar.Assim que abri a porta do meu apartamento, me deparei com Lia usando um vestido preto brilhoso que mal chegava até o meio de suas coxas torneadas, sandálias de salto alto, o cabelo estava solto e levemente bagunçado.— O que veio fazer aqui, Lia?— Eu estava com saudades de você. — O cheiro de bebida chegou ao meu nariz.— V
ESTERDepois da correria, deixei meu pequeno no colégio e me preparei psicologicamente para o longo dia que teria pela frente. Cumprimentei os funcionários que encontrei no caminho até a minha sala e ao passar pela minha secretária, ela já veio atrás de mim com um monte de papéis. Antes de entrar, notei um homem sentado em um dos bancos e quando ele levantou a cabeça, quase caí para trás.— Bruno?— Ah, oi. — O que está fazendo aqui?— Ele tem uma reunião marcada com a senhora agora de manhã.— Reunião?— Sim, era para ter sido ontem, mas como a senhora precisou desmarcar tudo, remarquei para hoje de manhã.— É que você tinha falado que era para te procurar e é isso que vim fazer. — Ele ficou de pé e passou a mão pelos cabelos, parecia envergonhado.— Pode levá-lo para a sala de reuniões enquanto eu assino esses documentos, Márcia?— Claro!Entrei na minha sala, deixando a bolsa pendurada no suporte, comecei a assinar os documentos e em poucos segundos já estava a caminho da sala de
BRUNOAssim que Lia foi embora do meu apartamento, tratei de me arrumar, decidindo vestir uma calça jeans e uma camisa social. Logo depois de guardar na mochila tudo o que eu ia precisar para a apresentação da minha animação para Ester e pedi um carro de aplicativo.Como já era esperado, cheguei mais cedo na empresa e a gentil mulher atrás do balcão me informou que Ester ainda não tinha chegado e decidi me sentar em uma das cadeiras para esperar e aproveitei para repassar tudo o que pretendia falar.A reunião foi muito mais tranquila do que imaginei que seria, Ester adorou a minha apreentação e só recebi elogios e, consequentemente, ela me ofereceu uma vaga de estagiário. Não ia ganhar muito, mas era o suficiente para complementar a renda que eu ganhava como babá. O clima mudou quando a secretária dela apareceu e disse que a escola de Caetano tinha ligado e parecia ter acontecido alguma coisa com o pequeno.Fui levado até o andar do RH, onde fui oficiliazado como um estagiário, nem pu
ESTERQuando cheguei em casa, já começava anoitecer, encontrei a casa silenciosa, no começo achei um pouco estranho, mas a medida que me aproximei do quarto do meu pequeno, ouvi a voz dele. Coloquei a cabeça para dentro do quarto para espiar e encontrei os dois jogando dominó, Caetano sentado na sua cadeirinha e Bruno sentado no chão para ficar na altura da mesinha.— Mamãe! — Meu pequeno veio correndo em minha direção quando me viu.— Ei, meu pequeno.— Ester! — Bruno rapidamente ficou de pé.— O tio Bruno estava me ensinando a jogar dominó.— E quem estava ganhando?— Eu!— Você é mesmo muito esperto, garoto. — Bruno terminou de juntar as peças do dominó e guardou na caixinha. — Agora eu preciso ir.— Muito obrigada por ter ficado com ele, Bruno.— É sempre um prazer.Ele saiu do quarto do meu pequeno e caminhou até a sala, onde pegou sua mochila e começou a ir em direção a porta.— Te vejo amanhã então.— As sete já estarei aqui para não te atrasar.Bruno se despediu e foi embora.