Capítulo 10

BRUNO

Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa.

Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças.

Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta.

— Que susto, Bruno.

— Ester! — Fiquei de pé rapidamente.

— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.

— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.

— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?

— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.

— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.

— A senhora tem certeza?

— Sim!

— Obrigado.

Quando ela deixou a mala ao lado do sofá, achei que fosse para o quarto, mas ela tomou o rumo da cozinha e a minha reação foi abaixar a tela do computador, não queria que ela visse o que eu estava fazendo.

— Se estiver com fome, guardei o que sobrou do jantar no forno e a salada está na geladeira.

— Estou morrendo de fome. — respondeu enquanto pegava a travessa no forno. — Nossa eu adoro salmão.

Fiquei parado ao lado da bancada da cozinha, vendo ela se servir e torcendo para que ela gostasse da minha comida. Talvez assim, eu tivesse a chance de subir um pouquinho no conceito dela.

— Nossa, está muito bom.

— Isso é Teppan de salmão, um prato da culinária japonesa — expliquei como se ela já não soubesse. — São pedaços do peixe acompanhados por shitake e legumes temperados.

— Onde você aprendeu cozinhar assim tão bem?

— Tive muitas experiências na vida.

Ela parecia interessada demais em saber sobre a minha vida, mas eu não me sentia muito a vontade de falar sobre esse assunto com ela. Não que Ester fosse uma má pessoa, mas eu não a conhecia bem o suficiente e ela nem fazia parte do meu círculo de amigos. 

— O que você estava fazendo no computador? — Ela quis saber,vendo que eu não falaria mais nada.

— Só me divertindo um pouco.

— Posso ver?

Confesso que fiquei um pouco descofortável diante da pergunta dela, mas acabei vendo que poderia ser um bom momento para que ela pudesse ver e avaliar meu trabalho, e abri a tela do meu notebook.

— Nossa! Isso está... muito lindo, Bruno.

— Obrigado.

— Você fez algum curso?

— Na verdade, eu fui aprendendo com tutoriais na internet.

— Está falando sério?

— Sim.

— O nível das suas animações é quase profissional. — Ela falou voltando a olhar para a tela. — Por que não queria que eu visse?

— Porque eu sou seu fã e sei que você é a melhor.

— Já pensou em trabalhar com isso?

— Não acho que eu seja bom o suficiente para fazer disso a minha profissão. — Eu estava meio nervoso. — Posso te fazer uma pergunta, Ester?

— Mas é claro!

— Por que você está querendo me ajudar?

— Eu sei reconhecer quando a pessoa tem talento e você tem.

— Obrigado.

— Se quiser, posso te ajudar.

— Não quero me aproveitar da sua boa vontade.

— Eu faço questão. — Ela deslizou seu cartão de visitas em minha direção. — Você pode me procurar na empresa, se preferir.

Fiquei encarando aquele pequeno pedaço de papel enquanto ela terminava de comer. Depois que Ester foi para o quarto dela, salvei o meu projeto e desliguei o notebook antes de ir para o quarto de hóspedes. Queria dormir logo porque pretendia acordar cedo para sair antes que Ester e Caetano acordassem.

Pela manhã, acordei com os primeiros raios de sol entrando no quarto e já logo me pus de pé, arrumei o quarto, deixando-o impecavelmente. Depois de trocar de roupa, fui à cozinha e decidi preparar uma mesa de café da manhã para agradecer Ester por ter me deixado passar a noite aqui ao invés de me enxotar como um cachorro velho.

Satisfeito com o que tinha feito, escrevi um bilhete e deixei num lugar bem a vista juntamente com as chaves da casa. Com a mochila nos ombros, saí da casa sem fazer nenhum barulho. Tinha sido muito bom passar o final de semana e conhecer o pequeno Caetano, mas agora eu tinha que continuar minha vida.

Estava dentro do táxi, a caminho de casa, quando senti o celular vibrar no bolso da calça e assim que o peguei, vi uma notificação do meu banco. Logo que abri, vi que Ester já tinha passado para a minha conta o valor acertado pelo meu serviço durante o final de semana. Respirei mais aliviado por saber que poderia pagar mais uma mensalidade da casa de apoio onde minha mãe estava e também pagar o aluguel do meu apartamento. Pedi ao motorista para mudar a rota e me levar até a casa de apoio, eu precisava ver minha mãe e saber se ela estava bem, além de pagar a mensalidade.

Quando fui guardar o aparelho de volta no bolso, acabei encontrando o cartão de Ester. Fiquei pensando que eu poderia melhorar de vida se aceitasse a oportunidade que ela estava me oferecendo. Se eu parasse de ser egoísta e de pensar só em mim e passasse a pensar na minha mãe também, a condição dela melhoraria e muito se fosse para casa e tivesse alguém para cuidar exclusivamente dela.

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