BRUNO
Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa.
Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças.
Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta.
— Que susto, Bruno.
— Ester! — Fiquei de pé rapidamente.
— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.
— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.
— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?
— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.
— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.
— A senhora tem certeza?
— Sim!
— Obrigado.
Quando ela deixou a mala ao lado do sofá, achei que fosse para o quarto, mas ela tomou o rumo da cozinha e a minha reação foi abaixar a tela do computador, não queria que ela visse o que eu estava fazendo.
— Se estiver com fome, guardei o que sobrou do jantar no forno e a salada está na geladeira.
— Estou morrendo de fome. — respondeu enquanto pegava a travessa no forno. — Nossa eu adoro salmão.
Fiquei parado ao lado da bancada da cozinha, vendo ela se servir e torcendo para que ela gostasse da minha comida. Talvez assim, eu tivesse a chance de subir um pouquinho no conceito dela.
— Nossa, está muito bom.
— Isso é Teppan de salmão, um prato da culinária japonesa — expliquei como se ela já não soubesse. — São pedaços do peixe acompanhados por shitake e legumes temperados.
— Onde você aprendeu cozinhar assim tão bem?
— Tive muitas experiências na vida.
Ela parecia interessada demais em saber sobre a minha vida, mas eu não me sentia muito a vontade de falar sobre esse assunto com ela. Não que Ester fosse uma má pessoa, mas eu não a conhecia bem o suficiente e ela nem fazia parte do meu círculo de amigos.
— O que você estava fazendo no computador? — Ela quis saber,vendo que eu não falaria mais nada.
— Só me divertindo um pouco.
— Posso ver?
Confesso que fiquei um pouco descofortável diante da pergunta dela, mas acabei vendo que poderia ser um bom momento para que ela pudesse ver e avaliar meu trabalho, e abri a tela do meu notebook.
— Nossa! Isso está... muito lindo, Bruno.
— Obrigado.
— Você fez algum curso?
— Na verdade, eu fui aprendendo com tutoriais na internet.
— Está falando sério?
— Sim.
— O nível das suas animações é quase profissional. — Ela falou voltando a olhar para a tela. — Por que não queria que eu visse?
— Porque eu sou seu fã e sei que você é a melhor.
— Já pensou em trabalhar com isso?
— Não acho que eu seja bom o suficiente para fazer disso a minha profissão. — Eu estava meio nervoso. — Posso te fazer uma pergunta, Ester?
— Mas é claro!
— Por que você está querendo me ajudar?
— Eu sei reconhecer quando a pessoa tem talento e você tem.
— Obrigado.
— Se quiser, posso te ajudar.
— Não quero me aproveitar da sua boa vontade.
— Eu faço questão. — Ela deslizou seu cartão de visitas em minha direção. — Você pode me procurar na empresa, se preferir.
Fiquei encarando aquele pequeno pedaço de papel enquanto ela terminava de comer. Depois que Ester foi para o quarto dela, salvei o meu projeto e desliguei o notebook antes de ir para o quarto de hóspedes. Queria dormir logo porque pretendia acordar cedo para sair antes que Ester e Caetano acordassem.
Pela manhã, acordei com os primeiros raios de sol entrando no quarto e já logo me pus de pé, arrumei o quarto, deixando-o impecavelmente. Depois de trocar de roupa, fui à cozinha e decidi preparar uma mesa de café da manhã para agradecer Ester por ter me deixado passar a noite aqui ao invés de me enxotar como um cachorro velho.
Satisfeito com o que tinha feito, escrevi um bilhete e deixei num lugar bem a vista juntamente com as chaves da casa. Com a mochila nos ombros, saí da casa sem fazer nenhum barulho. Tinha sido muito bom passar o final de semana e conhecer o pequeno Caetano, mas agora eu tinha que continuar minha vida.
Estava dentro do táxi, a caminho de casa, quando senti o celular vibrar no bolso da calça e assim que o peguei, vi uma notificação do meu banco. Logo que abri, vi que Ester já tinha passado para a minha conta o valor acertado pelo meu serviço durante o final de semana. Respirei mais aliviado por saber que poderia pagar mais uma mensalidade da casa de apoio onde minha mãe estava e também pagar o aluguel do meu apartamento. Pedi ao motorista para mudar a rota e me levar até a casa de apoio, eu precisava ver minha mãe e saber se ela estava bem, além de pagar a mensalidade.
Quando fui guardar o aparelho de volta no bolso, acabei encontrando o cartão de Ester. Fiquei pensando que eu poderia melhorar de vida se aceitasse a oportunidade que ela estava me oferecendo. Se eu parasse de ser egoísta e de pensar só em mim e passasse a pensar na minha mãe também, a condição dela melhoraria e muito se fosse para casa e tivesse alguém para cuidar exclusivamente dela.
ESTERDepois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.— Sabe dizer quem é?— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.— Vou atender. Obrigada.Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de cost
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f
ESTERQuando chegamos em casa, fui dar uma olhada na agenda de Caetano e vi que tinha um bilhete sobre a apresentação de dia das mães marcada para o dia seguinte as quatro horas da tarde. Era óbvio que eu não poderia perder.— Mamãe!— Que foi, Caetano?— A gente vai poder ir na casa do Miguel?— Vou ligar para a mãe dele, tá bom?— Tá.Pegando o celular dentro da bolsa, disquei para o número de Nádia e no segundo toque, ela atendeu. Conversamos por um tempinho até que perguntei se Miguel estava bem já que ele nao tinha ido a aula e ela me tranquilizou dizendo que o filho só não tinha ido a aula porque eles voltaram tarde da casa da sogra dela.— Caetano estava querendo ir até a sua casa, mas acho melhor combinarmos no final de semana.— Por mim, está ótimo.— Vou fazer um lanche para a gente a você traz o Miguel.— Maravilha!— Amanhã tem a apresentação de dia das mães lá na escola, você vai?— Claro! Se eu não for, Miguel fica emburrado comigo.— Então nos vemos amanhã.— Ester!— S
BRUNOEu estava quase terminando a minha animação quando o meu telefone tocou, não reconheci o número, mas aida bem que atendi porque a voz feminina do outro lado da linha se identificou como sendo a secretária de Ester.— Senhor Bruno?— Sim, sou eu.— Estou te ligando para avisar que o seu horário marcado com a senhora Ester, foi remarcado para amanhã porque ela teve um compromisso e os compromissos da tarde foram cancelados.— Tudo bem. Obrigado por me avisar.Assim que encerrei a chamada, larguei o celular em cima da mesa e respirei mais aliviado por saber que teria mais tempo para terminar a minha animação e, com mais calma, tinha certeza de que sairia bem melhor e bem mais profissional.Deixando o computador em cima da mesa, fui até a cozinha preparar alguma coisa para comer já que meu estômago estava roncando. Dei uma olhada nos armários e me dei conta de que teria que ir ao supermercado para fazer compras e reabastecer meus armários e geladeira.Peguei minha carteira e as chav
ESTERDepois da apresentação de dia das mães na escola de Caetano, estávamos a caminho de casa quando meu celular começou a tocar, conectei o fone de ouvido sem fio e atendi a ligação. Era meu irmão Caio.— Ester! Está ocupada?— Estou no trânsito a caminho de casa.— Será que posso te encontrar lá?— Claro! Aconteceu alguma coisa?— Não! Está tudo bem.— Chego em cinco minutos.— Te encontro lá então.Assim que encerrei a ligação, ouvi a voz de Caetano vindo do banco de trás. Como o menino era curioso. Jesus amado.— Quem era, mamãe?— O tio Caio, querido.— Ele voltou?— Sim.— Quando eu vou poder ver ele?— Assim que a gente chegar em casa.— Oba!Mal tinha entrado com o carro na garagem quando Caio apareceu no portão, Caetano saiu correndo e abraçou as pernas do tio, de quem ele gostava muito. Meu irmão logo depois de se desvencilhar do meu pestinha, me abraçou e pude notar que ele estava preocupado, a ruga no meio de sua testa deixava evidente.— Oi, irmãzinha — falou enquanto me
BRUNODepois de colocar Miguel para dormir, fui me sentar no sofá para ver série, mas acabei pegando no sono. Acordei assustado com meu celular tocando, quando olhei a tela, descobri que era Lia, uma garota com quem eu saía as vezes.— Alô? — Minha voz saiu sonolenta.— Oi, Bruno.— Lia! Que surpresa receber uma ligação sua.— Você está em casa, bonitão?— Sim, mas...— Então abre a porta para mim.Meu Deus! Lia simplesmente resolveu aparecer na minha porta justamente quando eu estava tomando cuidando de uma criança. Como eu ia explicar para ela que eu estava trabalhando? Me levantei do sofá e fui fechar a porta do quarto para não correr o risco de Miguel acordar.Assim que abri a porta do meu apartamento, me deparei com Lia usando um vestido preto brilhoso que mal chegava até o meio de suas coxas torneadas, sandálias de salto alto, o cabelo estava solto e levemente bagunçado.— O que veio fazer aqui, Lia?— Eu estava com saudades de você. — O cheiro de bebida chegou ao meu nariz.— V
ESTERDepois da correria, deixei meu pequeno no colégio e me preparei psicologicamente para o longo dia que teria pela frente. Cumprimentei os funcionários que encontrei no caminho até a minha sala e ao passar pela minha secretária, ela já veio atrás de mim com um monte de papéis. Antes de entrar, notei um homem sentado em um dos bancos e quando ele levantou a cabeça, quase caí para trás.— Bruno?— Ah, oi. — O que está fazendo aqui?— Ele tem uma reunião marcada com a senhora agora de manhã.— Reunião?— Sim, era para ter sido ontem, mas como a senhora precisou desmarcar tudo, remarquei para hoje de manhã.— É que você tinha falado que era para te procurar e é isso que vim fazer. — Ele ficou de pé e passou a mão pelos cabelos, parecia envergonhado.— Pode levá-lo para a sala de reuniões enquanto eu assino esses documentos, Márcia?— Claro!Entrei na minha sala, deixando a bolsa pendurada no suporte, comecei a assinar os documentos e em poucos segundos já estava a caminho da sala de
BRUNOAssim que Lia foi embora do meu apartamento, tratei de me arrumar, decidindo vestir uma calça jeans e uma camisa social. Logo depois de guardar na mochila tudo o que eu ia precisar para a apresentação da minha animação para Ester e pedi um carro de aplicativo.Como já era esperado, cheguei mais cedo na empresa e a gentil mulher atrás do balcão me informou que Ester ainda não tinha chegado e decidi me sentar em uma das cadeiras para esperar e aproveitei para repassar tudo o que pretendia falar.A reunião foi muito mais tranquila do que imaginei que seria, Ester adorou a minha apreentação e só recebi elogios e, consequentemente, ela me ofereceu uma vaga de estagiário. Não ia ganhar muito, mas era o suficiente para complementar a renda que eu ganhava como babá. O clima mudou quando a secretária dela apareceu e disse que a escola de Caetano tinha ligado e parecia ter acontecido alguma coisa com o pequeno.Fui levado até o andar do RH, onde fui oficiliazado como um estagiário, nem pu