ESTER Deu certo. Eram essas duas palavras que eu mais desejava ouvir quando me arrumei para ir ao consultório médico pela manhã. Já fazia quase duas semanas que tinha passado pelo procedimento e estava ansiosa para saber se tinha dado tudo certo. Um exame de sangue tinha sido feito e agora eu estava ansiosa para saber o resultado. Fiquei sozinha na sala esperando a médica voltar trazendo o resultado e cada minuto de espera que passava era como uma tortura. Quando ouvi a porta ser aberta, notei que a médica trazia o envelope com o resultado do teste de Beta HCG e comecei a ficar nervosa, já sentindo as mãos suadas. — E qual foi o resultado, doutora? — A inseminação foi um sucesso e você está grávida. Eu tinha certeza de que naquele momento eu tinha me tornado a pessoa mais feliz do mundo. Eu, finalmente, realizaria o sonho de todo casal: gerar o próprio filho. A diferença era que eu estaria sozinha durante esse processo. — E está tudo bem com o... meu bebê? — tentei não soar mui
ESTER Seis anos depois... Enquanto esperava Caetano na frente da escolinha, aproveitei para abrir meu e-mail pelo celular só para dar uma última conferida no dia e quase desmaiei quando vi o convite para participar Pixel Show, um festival internacional da criatividade, pois uma das minhas animações tinha sido escolhida como a melhor do ano. Agora vinha a pior parte, porque eu precisaria desesperadamente arrumar alguém que pudesse ficar com meu pequeno no final de semana para que eu pudesse fazer a viagem tranquila para São Paulo. Sem pensar duas vezes, disquei para minha mãe, mas a resposta que recebi foi desanimadora, ela tinha um retiro da igreja. Tentei minha irmã, mas ela tinha uma viagem marcada com o namorado. — Meu jesus amado! O que eu vou fazer agora? Tentei não me desesperar, eu encontraria uma solução. Quando desci do carro e me juntei as outras mães, encontrei Nádia, mãe do melhor amiguinho do meu filho e que também tinha se tornado minha amiga. — Ester, como você es
ESTER A noite de sexta-feira chegou mais rápido do que esperava. Já estava próximo do horário de sair para o aeroporto quando ouvi a campainha tocar e, instintivamente, corri para abrir a porta, mesmo estando descalça. Sabia que devia ser a babá, mas para minha surpresa, dei de cara com um homem, muito bonito por sinal.— Senhora Ester? — Sim, sou eu. — Estranhei ele saber meu nome e estar na minha porta. — Quem é você? — Meu nome é Bruno. Fui enviado pelo My nany para ficar com o seu filho durante o final de semana. — Deve haver algum engano, pois eu solicitei uma babá. — Não há engano algum, senhora. Eu sou o babá que vai ficar com o seu filho. — Mas você... Você é um homem. — Isso é um problema para a senhora? — Não. Quero dizer, sim, porque não tenho certeza se conseguirá lidar com um garotinho de 6 anos. — Não tem motivo para se preocupar porque eu fui muito bem treinado para ficar com crianças de qualquer idade, senhora. — Como poderei ter certeza disso? — perguntei de
BRUNO Eu só comecei a trabalhar de babá no My Nany porque uma amiga me indicou a empresa e eu precisava de um emprego que pudesse me ajudar a terminar de pagar a minha faculdade. O que eu não esperava era que fosse ter tantos clientes fiéis. Eu estava fazendo minha corrida matinal na beira da praia quando meu celular começou a tocar. Parei e desconectei os fones de ouvido e levei o aparelho ao ouvido. — Bom dia, Bruno. — A voz da velha recrutadora soou do outro lado da linha. — Bom dia, Paulina. — Você está disposto a trabalhar no final de semana? — Ela foi direto ao assunto. — Sim. — Então eu tenho o trabalho perfeito para você. O menino tem seis anos e a mãe precisa de alguém que possa cuidar dele durante o final de semana porque ela tem uma viagem de trabalho. — Mas e o pai? — Ao que tudo indica não existe ou simplesmente não faz parte da vida do garoto. — Posso te passar as informações por e-mail? — Fico no aguardo! Depois que encerrei a ligação, reconectei os fones e
ESTER Se eu tinha achado estranho um homem como babá? Achei muito estranho, mas não tinha nada que eu pudesse fazer e meu pequeno parecia estar gostando de ter um homem como babá. Pensando pelo lado do meu filho, era mais fácil se identificar com um homem do que com uma babá. Depois que consegui descansar um pouco, comecei a me arrumar para ir até o evento, queria dar uma volta, por lá, conhecer o ambiente e até fazer networking com outras pessoas do ramo de animações, era a oportunidade perfeita para divulgar a minha empresa e recrutar novos talentos. Estava andando em meio a multidão quando senti meu celular vibrar no bolso de trás da calça e quando o peguei, vi que tinha recebido uma mensagem de Bruno, rapidamente abri porque sabia que eram notícias do meu pestinha. Quando deslizei o dedo pela tela, uma foto abriu, Caetano estava brincando com Heitor, filho da vizinha, e um sorriso surgiu em meu rosto. — Desculpa interromper, mas você é Ester Aguilar? — Alguém perguntou atrás d
ESTER Eu tinha passado o restante do dia sem notícias do meu filho, por estar tão ocupada e envolvida com o evento, acabei nem tendo tempo de ligar para Bruno. Só quando voltei para o hotel foi que consegui ligar o babá, mas para minha infelicidade, ele não atendeu. Tentei de novo por mais umas quatro vezes, mas sem sucesso e isso me fez começar a pensar que algo de ruim tinha acontecido. Quando tentei mais uma vez, ele atendeu, eu estava pronta para soltar os cachorros em cima dele, mas a voz do outro lado da linha soou tão calma que entendi que estava tudo bem e a única pessoa neurótica ali, era eu. — Bruno, aconteceu alguma coisa com o Caetano? — Foi a primeira coisa que saiu da minh boca. — Não, ele está muito bem. — E por que não atendeu as minhas ligações? — Eu estava ocupado e não tinha escutado o celular tocar. — Posso falar com o meu filho? — Claro, só um instante que vou entregar o celular a ele. Deu para ouvir quando ele afastou o celular do rosto porque o som da s
BRUNO Depois de colocar Caetano na cama novamente, tive que ler uma história e me certificar de que ele estava mesmo dormindo, saí do quarto dele e fui até a sala. Fechei o meu caderno de desenhos e o levei para o quarto onde eu ficaria. Só o quarto de hóspedes juntamente com o banheiro era maior do que o meu pequeno apartamento. Deitado na cama, não consegui dormir quase nada, acho que estava estranhando a cama, o colchão até mesmo o ambiente. Fiquei ali, olhando para o teto enquanto esperava o sono aparecer. Peguei o meu leitor digital e continuei a leitura de um livro. Quando acordei, apurei os ouvidos e tudo ainda estava silencioso, o que era um sinal de que o pestinha ainda estava dormindo e não tinha colocado fogo na casa. Depois de lavar o rosto no banheiro, saí do quarto e fui ao quarto de Caetano. Para minha surpresa, a cama estava vazia então fui até a sala e o encontrei vendo televisão. — Caetano, o que você está fazendo acordado a essa hora? — Eu estava vendo televisã
ESTER O dia tinha começado tão bem, nada era melhor do que poder dormir confortavelmente e acordar sem precisar me preocupar com horário e nem com criança. Aproveitei para descer e desfrutar do farto café da manhã oferecido pelo hotel e depois fui curtir a piscina e um pouco da sauna. Assim que voltei ao meu quarto, já comecei a me arrumar para ir ao evento, estava enrolando meu cabelo na toalha quando meu celular começou a tocar, peguei o aparelho em cima da cama e deslizei o dedo pela tela sem nem ver quem estava ligando. — Oi, mamãe. — Oi, meu amorzinho. Como você está? — Eu tô bem. — Dormiu direitinho? — Sim e nem tive pesadelo. — Mas que notícia boa. — Eu tô com saudades, mamãe. — Eu também estou, filhotinho. — Quando você vai voltar? — Amanhã quando você acordar, já vou estar aí com você. — Tá bom. Eu te amo, mãe. — Eu também te amo, filho. Assim que encerrei a ligação, voltei a me arrumar, pois sabia que um carro passaria para me buscar por volta das dez e meia.